Sociedade de estudos espíritas
1938
Alguns companheiros do Evangelho, em Minas Gerais, solicitam a minha opinião com respeito à fundação de uma sociedade de estudos espíritas, que desdobrará as suas atividades junto dos elevados programas da União Espírita Mineira, cooperando na realização de sua tarefa junto das coletividades.
Certamente que os estudos da Doutrina, em seus variados aspectos, constituem pontos essenciais do estatuto que estabelece as suas diretrizes, mas julgamos de muita oportunidade e bom desejo de quantos se aproximam do labor doutrinário ávidos de luz e de conhecimentos, possuídos dos ideais unitivos, de cuja concretização nascerá a energia concentrada de todos, a fim de que se forme a consciência espírita no Brasil, junto dos indivíduos e das sociedades, energia essa da qual se deve esperar a renovação das atividades do homem comum, à base da filosofia cristã.
Uma iniciativa dessa natureza merece a aprovação de todos os Espíritos de boa vontade. Os tempos que correm são assinalados pelos mais estranhos fenômenos de ordem política e social, no seio de todos os povos. Uma onda reacionária parece dominar o pensamento moderno, fazendo-o regredir muitos séculos. Medidas draconianas são aventadas pela política administrativa, com o fim de coibir-se os voos da liberdade espiritual. As místicas sociais se recolhem nos pólos antagônicos e irreconciliáveis do extremismo, digladiando-se improficuamente.
Quase todos os religiosos das igrejas diversas, na atualidade, na sua posição de indolência intelectual; tendem para o materialismo e para o nihilismo do século. E diante dos quadros dolorosos que caracterizam a época, qual deve ser a atitude mental de quantos se interessam pela solução dos graves problemas da vida? Alguns pensadores opinam pela doutrina da não-violência, mas, considerando-se a necessidade da ação regeneradora, apelamos para a atitude desassombrada de todos os batalhadores, dentro da suprema resistência.
E essa resistência calma e ativa, no setor do Espiritismo, deverá traduzir-se em movimentos renovadores, em luta contra a cristalização dos princípios regeneradores, a fim de que se verifique a sua aplicação plena à vida social, em combate contra o analfabetismo, contra o espírito sectário e separativista e em estudos, enfim, que objetivem o benefício e o esclarecimento de todos.
Nessa obra, porém, são necessárias, acima de tudo, as armas da fraternidade e da tolerância. Vemos, pois, com carinho, essa iniciativa que se forma na mente dos bons trabalhadores da seara cristã, concitando-os à realização desses labores fecundos.
O Espiritismo necessita da multiplicação de suas atividades junto de todos os núcleos das atividades humanas e, no Brasil, onde a semeadura evangélica é das mais abundantes e das mais promissoras, é preciso que se afine a mente geral nos profundos princípios da lógica e da moral cristã, sendo aconselhável que todos os elementos da Doutrina se unifiquem, em uma larga iniciativa de educação geral na codificação dos ensinamentos revelados, sem discussões esterilizadoras e sem exclusivismos dissolventes.
Há necessidade de que se organize uma consciência espírita, na base da filosofia simples do Evangelho, apta a orientar os sentimentos coletivos num sentido de direção, dentro dos sagrados objetivos da paz e da fraternidade. É em virtude da ausência dessas diretrizes que muitas obras de benemerência social, filhas do esforço e da abnegação dos espiritistas, se têm perdido no confusionismo da época.
Aos brasileiros generosos e pacifistas, por índole, cabe a grande tarefa de evangelizar, mas é preciso que os companheiros da causa da luz e da verdade se atirem, com desassombro e renúncia pessoal, ao trabalho de elucidação das massas, afastando-as do fanatismo, dos fetiches e do espírito de seita.
Na Europa, onde o Espiritismo está mais ou menos encarcerado nas bibliotecas e nos laboratórios das convenções de toda ordem, o preconceito representa o mais sério obstáculo à formação de uma consciência coletiva dentro da filosofia de Jesus.
Foi atendendo a essa situação, criada pelos preconceitos nas terras do Velho Mundo, que Charles Richet organizou a ciência metapsíquica, receoso de que os estudiosos europeus relegassem, a priori, os estudos do Espiritismo, desprezando-os como criminosa impertinência.
A obra do sábio francês constitui o seu tato psicológico, em despertando a curiosidade indagadora dos seus contemporâneos, criando uma linha avançada para as suas pesquisas científicas, além dos métodos e das análises positivas. Os estudos de Richet, portanto, apesar de sua complicada terminologia, não representam outra coisa senão a obra aferidora da codificação kardequiana.
Que se forme, pois, a mentalidade cristã na oficina da solidariedade e do conhecimento e que, nesse trabalho, cheio de atividades renovadoras, possa cada discípulo trazer a sua coragem e o seu bom desejo para, na luta abençoada pela aquisição do esclarecimento, aprender a temperar devidamente o aço do caráter e o ouro do coração.
A Doutrina precisa de obreiros e de colaboradores devotados e nunca como agora houve tanta necessidade da iniciativa própria em favor do progresso geral.
Se voltamos dos mistérios da morte falando aos homens da beleza dos Planos divinos não é para que as criaturas se mergulhem num sonho beatífico e sim para que transformem os caminhos espinhosos e escuros da Terra em estradas de sabedoria e de felicidade real, com os seus esforços e com a sua operosidade.
A movimentação dos estudos espíritas levará a efeito a dilatação da síntese e a simplificação de todos os princípios da filosofia cristã. Nesse campo vasto, onde se realizará a semeadura dos pensamentos esclarecidos e livres, através do intercâmbio de ideias, se bem dirigido pela tolerância e pela fraternidade de seus cultivadores muita luz há de brilhar para que se ilumine a paisagem ensombrada da face da Terra, a fim de que nos tornemos verdadeiros discípulos do único Mestre, que foi Jesus Cristo.
Que todos estejam a postos e nos momentos oportunos não faltarão as vozes e as mãos amigas do Alto, a fim de prestarem auxílio aos bons trabalhadores. As possibilidades dos Espíritos são também relativas, mas dentro da esperança imortal na Misericórdia Divina, não esqueçamos, encarnados e desencarnados, da promessa de Jesus, que dá sempre de acréscimo àqueles a quem não faltam o esforço e a boa vontade.
Emmanuel
Nota do Editor: Mensagem em resposta a uma solicitação de Eugênio Carlos Monteiro e José Rodrigues Lellis. Ao pé da mensagem havia a seguinte nota: “Tentando realizar o pensamento esclarecido de Emmanuel, realiza-se às quartas-feiras, na sede da União Espírita Mineira, interessantes reuniões de estudo que ora versam sobre O Livro dos Espíritos. Nestas reuniões, visa-se, sobretudo preparar trabalhadores eficazes para a grande tarefa que nos espera, porque os homens deverão ser as células vivas da Doutrina em ação.”
Fonte: Bíblia do Caminho † Testamento Xavieriano
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