Antenor - Livro Enxugando Lágrimas - Familiares Diversos / Chico Xavier - Cap. 9
Rememorando os dias terrestres
Querida Lélia, minha querida filha. Deus nos ampare sempre.
Não sei porque seria eu quem devesse escrever nesta manhã de paz e luz. Talvez isso ocorra por haver demonstrado o desejo imenso e ardente de falar a você, na condição de pai.
Confesso. Chorei na oração, suplicando esta hora; entretanto, diante deste momento, quis recuar.
Vejo tantos corações na doce expectativa de recolher a palavra da Espiritualidade que, sinceramente, me envergonho de usufruir a dádiva de conversar com o seu coração filial.
Ainda assim, querida filha, escuto a leitura de hoje e observo que o texto encerra o clarão da misericórdia, e o Natal, minha filha, é compaixão divina.
Sou o irmão acolhido pelo amor de todos os que se reúnem aqui, buscando paz e reconforto. Eles me perdoarão se falo, se me imponho a eles, dirigindo-me a você.
Seu pai, no Natal, será um amigo que volta de longe, pelos caminhos do tempo… Revejo os dias primeiros de nossa experiência no lar, e penso que tantos pais e mães aqui enlaçados espiritualmente conosco se reconhecerão qual me vejo, entre agradecimentos e lágrimas.
Regressamos todos daquelas paredes abençoadas do princípio em que nos identificamos reunidos na Terra, à feição de pássaros em abençoado ninho de amor.
Nossos amigos que me recebem com tanto carinho nestes dois lados da experiência em que nos reconhecemos aqui, também se sentirão emocionados quanto nós mesmos, em nossas lembranças dos dias que se foram no espaço, e que permanecem conosco no templo da memória pelo milagre do amor que nunca desaparece.
Feliz Natal a todos!
Digamos isso, querida Lélia, nós dois juntos. Nossas palavras são a mensagem de nosso reconhecimento. E de minha parte, guarde, querida filha, toda a gratidão de seu pai, hoje, companheiro e irmão, numa Vida Maior.
Agradeço a você o carinho com que escorou a transferência de nossa querida Nayá para o clima de seu coração.
Sua mãe é mais que uma benfeitora para nós. É uma estrela, cuja luz devemos acalentar neste mundo, juntamente a vocês, tanto quanto se nos faça possível.
Não preciso dizer dos sacrifícios que lhe marcaram a vida. Baste-nos, filha, rememorar os dias terrestres, em que me via por vezes tão distante espiritualmente do lar, sem perceber que fazia isso. Baste-nos recordar aquela abnegação com que procurava nossa querida Nayá substituir-me.
Hoje tenho você em meu próprio lugar a fim de resguardá-la no caminho que nos merece. Diga-lhe, filha querida, que nós estamos juntos, que a vida nos reuniu para sempre e que o tempo e a morte não existem onde o amor se eleva por luz incessantemente acalentada no coração. Não nos perdemos uns dos outros. Continuo ao pé de todos os corações queridos.
Nosso Leônidas é objeto de minha atenção constante e cada uma de vocês, as filhas abençoadas, é um laço de amor a reter-me nas vizinhanças da Terra.
Nesse sentido, posso dizer a você que o mesmo sucede ao nosso Alvicto. A desencarnação não lhe alterou os sentimentos de esposo e pai. Vela pelos filhos e por você, e preocupa-se pela felicidade de nossa querida Simone com o mesmo carinho com que me entrego ao trabalho pela felicidade de nossa Lelé. Cito-a em particular porquanto, de todas vocês, ela é a filha que, presentemente, mais luta e problemas encontra para afirmar-se no próprio reajustamento.
Caminharemos, Lélia, sempre mais juntos. Agradeço as tarefas que você me proporciona ao lado de nossos irmão, considerados velhinhos em nossa mansão de paz.
Recebo os seus pensamentos e lembranças, quando você imagina ver-me e ver o nosso Alvicto em nossos irmãos, por vezes, mais abatidos e mais doentes.
Querida Lélia, continue; a felicidade vem à nossa vida por ação reflexa, porque é a felicidade que criamos para os outros que se transforma em nossa alegria.
Você não será desamparada em seus ideais e nunca estará sozinha. Aqueles amigos e irmãos de nossas preces e de nossos cuidados são também nossos filhos.
Enterneço-me ao verificar que em suas mãos permanece hoje o serviço que sempre desejei, depois de voltar para a morada em que todos nos reuniremos um dia.
Seja o nosso esforço singelo, aquele esforço de quem procura um Natal permanente.
Não permita que tristeza ou desânimo se lhes insinuem no coração. A Vida é bela — é caminho de luz para uma vida melhor e maior. Abençoe os obstáculos, as dificuldades, os problemas, as lutas…
Amando e servindo, venceremos, vencendo a nós mesmos de modo a nos integrarmos, uns aos outros, em Cristo.
Um dia, minha querida filha, você e a nossa Nayá com todos os nossos entes amados, reconheceremos juntos que só o bem — o bem aos outros — se nos fará sempre a verdadeira fortuna.
Quanto desejaria falar ainda mais, entretanto, quando as lágrimas querem tomar a posição das palavras, as palavras desfalecem na mente.
Receba, filha querida, o coração de seu pai, neste Natal de bênçãos. Não é o coração que desejava oferecer como sendo o relicário de lembranças queridas, pois sei que nem sempre lhe deixei motivos para reminiscências de paz e luz, no entanto, ainda é o coração de um pai que ama sempre.
Nossa irmã Luzía Seabra recomenda-me pedir a sua intervenção amiga junto da filha, nossa estimada Maria, que lhe vem recebendo toda a assistência materna. Rogue a nossa Maria coragem e fé. Com a bênção do trabalho a que se dedica, em nosso campo evangélico a favor dos necessitados, nossa querida irmã vencerá.
Querida Lélia, conduza a nossa Nayá e a todos os nossos os meus melhores pensamentos, e guarde em suas preces o coração reconhecido do papai reconhecido de sempre,
Antenor
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