Joanna de Ângelis - Livro Constelação Familiar - Divaldo P. Franco - Cap. 14
Educação para a coragem
A coragem é a intrepidez que se desenvolve no ser humano, a fim de poder realizar os enfrentamentos com decisão e altruísmo, mantendo a firmeza de espírito em qualquer circunstância, entre outras definições.
Resultado de uma boa orientação espiritual, a coragem dignifica e eleva o espírito, trabalhando as suas necessidades e desenvolvendo os atributos que necessitam de expansão.
Difere da impetuosidade que caracteriza a predominância do instinto, demonstrando a grandeza dos sentimentos que não temem, que não recuam diante da dificuldade.
Essa característica é a marca primorosa dos heróis em todos os campos do comportamento humano, não apenas daqueles que se fizeram combatentes conhecidos pelas batalhas travadas contra os invasores da pátria, do lar, do seu campo de ação... Mas também, e principalmente, dos que descobriram terras, que inventaram os instrumentos propiciadores do crescimento da sociedade, que perseveraram nos laboratórios e no silêncio das suas oficinas, buscando soluções para os problemas que dificultavam a marcha do progresso humano.
Não foram poucos os portadores da coragem, da paciência e do esforço, que souberam esperar o momento hábil para a realização dos empreendimentos enobrecedores, e que inscreveram os seus nomes nos anais da História.
A coragem é uma virtude no conceito aristotélico, que a igualava a outras conquistas logradas pelos valores éticos.
O ser de coragem arrosta as consequências das suas decisões sem temor da injúria e da perfídia dos outros, confiando nas possibilidades de que dispõe para atingir a meta que estabelece.
A coragem deve ser desenvolvida no lar, desde os primeiros fenômenos reativos da personalidade infantil, a fim de selecionar dentre os impulsos do primarismo os sentimentos de afirmação, orientando os de elevação ético-moral, de forma a constituírem uma couraça protetora em torno da existência.
O medo, muitas vezes, propele o indivíduo para determinadas atitudes que podem confundir-se com a coragem, quando são apenas mecanismos de defesa da vida e impulsos destrutivos.
A coragem alia a razão á emoção e trabalha sem precipitação nem alarde, produzindo fenômenos de alegria e de paz.
Em face do processo da evolução, o espírito transfere de uma para outra reencarnação as marcas das ocorrências que foram enfrentadas, assinalando-o com culpa, medo e necessidade de fuga, diante de qualquer iminente perigo, real ou imaginário.
A educação para a coragem fortalece as fibras mais íntimas do ser, estimulando à superação, etapa a etapa, dessas heranças perturbadoras.
O desenvolvimento da autoconfiança e da determinação em ralação aos compromissos para com a existência, facultam a manifestação da coragem, que se fortalece aos estímulos interiores da oração e da confiança irrestrita em Deus.
Pelo caminho existencial sempre surgirão ameaças e desafios, que constituem oportunidade de crescimento moral e emocional, devendo ser enfrentados com naturalidade e decisão.
A coragem nasce de um específico sentimento de amor àquilo em que se crê, que se deseja e pelo qual se luta.
Mediante a presença do amor a coragem faz-se mais decisiva e, portanto, com melhores possibilidades de alcançar o triunfo na luta a que se entrega.
É muito comum na educação do lar, cuidar-se da prudência, da humildade, da submissão, poupando-se constrangimentos e decepções, amarguras e dissabores. Embora seja uma conduta correta, não se pode prescindir da coragem para manter-se prudente, quando as circunstâncias favorecerem reações precipitadas. Da mesma forma, a humildade necessita da coragem para preservar-se digna, fugindo da situação do medo que submete o indivíduo àquilo que detesta, exclusivamente porque não deseja experienciar incômodos nem mal-estares.
A coragem supera essas situações complexas, que impõem decisão firme e ação contínua.
O medo paralisa, impede o crescimento moral e intelectual, arruinando as possibilidades de elevação que surgem no processo da evolução. Embora decorra de um sentimento humano cauto, deve ser circunscrito numa fronteira em que a prudência recomenda equilíbrio, recuo, recomposição de forças, evitando a afoiteza irresponsável.
Tudo aquilo quanto é desconhecido gera um certo sentimento de medo, de precaução, por gerar incerteza e produzir desconfiança.
O excesso, porém, de cuidados, em face das ocorrências não esperadas, daquilo que se constitui novidade e desconhecimento, pode favorecer a estagnação e dar lugar a transtornos de conduta.
Na educação doméstica para a coragem, torna-se necessário desenvolver as aspirações da beleza, da verdade, da conquista moral, de forma que as intempéries, as vicissitudes que se apresentem sejam devidamente enfrentadas com decisão e disposição para vencê-las.
Quem receia voar além dos limites não consegue alcançar os próprios limites, definhando e amofinando-se diante do maravilhoso projeto viver.
A coragem necessita, no ninho doméstico, do combustível dos exemplos que devem ser dados pelos pais diligentes e trabalhadores, que não se queixam, nem se entregam a lamentações, sabendo referir-se aos acontecimentos negativos com naturalidade, como pertencentes ao processo de realizações.
Nenhuma ascensão pode ser conseguida sem a vitória sobre os percalços da trajetória.
Os acumes são difíceis de alcançados, mas quando conquistados premiam com a visão deslumbrante da paisagem em volta.
A existência humana pode ser considerada como uma aventura evolutiva. Enfrentá-la com altivez e coragem é conseguir-se o triunfo em toda a sua generosidade e significação.
Cada situação vencida retribui com momentos encorajadores e mais belos, dando significados estimulantes para novas lutas.
Somente com a coragem se pode combater o mal e suas expressões inferiores, que se encontram ínsitos nos sentimentos torpes, que defluem do egoísmo, da presunção e da equivocada visão em torno dos valores nobres que se não têm.
É indispensável coragem para autoanalisar-se, para descobrir as anfractuosidades morais, as imperfeições em predomínio, as mesquinhezas do caráter e da conduta.
Foi a coragem que deu oportunidade aos artistas, aos estetas, aos santos, aos cientistas, aos heróis de todo tipo, aos conquistadores, aos pensadores éticos e aos lutadores nobres, de realizarem os seus sonhos, de construírem as suas aspirações, tornando-as realidade no mundo objetivo.
Jesus-Cristo, com muita justiça, denominado o Herói da cruz, viveu corajosamente, arrostando todas as consequências do Seu ministério, sem submeter-se aos dominadores de mentira, aos poderosos de coisa nenhuma, demonstrando que o amor é a força mais grandiosa que existe no Universo, porque nascida em Deus, sustenta a Criação.
Seu exemplo de coragem permanece como estímulo e lição viva para todas as criaturas que desejam a iluminação e o encontro com Ele.
Joanna de Ângelis
Fonte: Constelação Familiar-pdf
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