quarta-feira, 22 de julho de 2020

André Luiz - Livro Os Mensageiros - Chico Xavier - Cap. 15 - A viagem



André Luiz - Livro Os Mensageiros - Chico Xavier - Cap. 15


A viagem
(Sumário)


Depois de empregarmos o processo de condução rápida, atravessando imensas distâncias, surgiu uma região menos bela. O firmamento cobrira-se de nuvens espessas e alguma coisa que eu não podia compreender impedia-nos a volitação com facilidade. Creio que o mesmo não acontecia ao nosso instrutor, mas Vicente e eu fazíamos enorme esforço para acompanhá-lo.

Aniceto percebeu, de pronto, nossos obstáculos e considerou:

— Será conveniente utilizarmos a locomoção. A atmosfera começa a pesar muitíssimo e não devemos andar muito distante de Campo da Paz. Não precisaremos ir até lá; todavia, descansaremos no Posto de Socorro. Encontraremos, ali, os recursos indispensáveis.

— Mas, que é isto? — perguntei, admirado da profunda modificação ambiente.

— Estamos penetrando a Esfera de vibrações mais fortes da mente humana. Achamo-nos a grande distância da Crosta; entretanto, já podemos identificar, desde logo, a influenciação mental da Humanidade encarnada. Grandes lutas desenrolam-se nestes Planos e milhares de irmãos abnegados aqui se votam à missão de ensinar e consolar os que sofrem. Em parte alguma escasseia o amparo divino.

Nesse instante, chegáramos ao cume de grande montanha, envolvida em sombra fumarenta. No solo, desenhavam-se trilhas diversas, à maneira de labirintos bem formados. Observando-nos a estranheza, Aniceto falou com otimismo:

— Sigamos!

Nesse momento, ó Deus de Bondade! alguma coisa imprevista me felicitava o coração. Contrastando as sombras, raios de luz desprendiam-se intensamente de nossos corpos. Extraordinária comoção apossou-se-me d’alma. Vicente e eu ajoelhamo-nos a um só tempo, banhados em lágrimas, enviando ao Eterno os nossos profundos agradecimentos, em votos de júbilo fervoroso. Estávamos embriagados de ventura. Era a primeira vez que me vestia de luz, luz que se irradiava de todas as células do meu corpo espiritual. Aniceto, que se mantinha de pé, a contemplar-nos com expressão de alegria, falou comovidamente:

— Muito bem, meus amigos! Agradeçamos a Deus os dons de amor, sabedoria e misericórdia. Saibamos manifestar ao Pai o nosso reconhecimento. Quem não sabe agradecer, não sabe receber e, muito menos, pedir.

Durante muito tempo, Vicente e eu mantivemo-nos em prece repleta de alegrias e de lágrimas… Em seguida, retomamos a marcha, como se estivéssemos vestidos em sublime luminosidade.

As surpresas, no entanto, sucediam-se ininterruptamente.

Aquelas vias de comunicação eram muito diversas das que conhecia até ali. Mergulhávamos num clima estranho, onde predominavam o frio e a ausência de luz solar. A topografia era um conjunto de paisagens misteriosas, lembrando filmes fantásticos da cinematografia terrestre. Picos altíssimos semelhavam vigorosas agulhas de treva, desafiando a vastidão. Descíamos sempre, como viajores ladeando escuros precipícios, em país de exotismo ameaçador. Esquisita vegetação subia do solo, de espaço a espaço, entre os grandes abismos. Aves de horripilante aspecto surgiam, medrosas, de quando em quando, enchendo o silêncio de pios angustiados. Rija ventania soprava em todas as direções.

Fundamente assombrado, cobrei ânimo e perguntei ao nosso instrutor:

— Que dizeis de tudo isto? Ignorava que houvesse tais regiões entre a Crosta e nossa cidade espiritual. À nossa frente, sinto um mundo novo, que me é totalmente desconhecido… Por quem sois, nobre Aniceto, nada vos pergunto por ociosidade, mas estas terras me surpreendem profundamente.

Aniceto, sempre amável, sorriu docemente e respondeu:

— Todo este mundo que vemos é continuação de nossa Terra. Os olhos humanos veem apenas algumas expressões do vale em que se exercitam para a verdadeira visão espiritual, como nós outros que, observando agora alguma coisa, não estamos igualmente vendo tudo.

Este, André, é um domínio diferente. A percepção humana não consegue apreender senão determinado número de vibrações. Comparando as restritas possibilidades humanas com as grandezas do Universo Infinito, os sentidos físicos são muitíssimo limitados. O homem recebe reduzido noticiário do mundo que lhe é moradia. É verdade que tem devassado com a sua ciência problemas profundos. A astronomia terrena conhece que o Sol, por medidas aproximadas, é 1.300.000 vezes maior que a Terra e que a estrela Capela é 5.800 vezes maior que o nosso Sol; sabe que Arcturo equivale a milhares de sóis, iguais ao que nos ilumina; está informada de que Canópus corresponde a 8.760 sóis idênticos ao nosso, reunidos; mediu as distâncias entre o nosso planeta e a Lua; acompanha certos fenômenos em Marte, Saturno, Vênus e Júpiter; sonda os milhões de sóis aglomerados na Via-Láctea; conhece as estrelas variáveis, as nebulosas espirais e difusas. E não param as observações humanas na grandeza ilimitada do Macrocosmo. A Ciência vai, igualmente, aos círculos atômicos; analisa a materialização da energia, o movimento dos elétrons, estuda o bombardeio de átomos e esquadrinha corpúsculos diversos. Mas todo esse trabalho, com a colaboração das lunetas de alta potência e dos geradores de milhões de volts, ainda é serviço que apenas identifica os aspectos exteriores da vida. Há, porém, André, outros mundos sutis, dentro dos mundos grosseiros, maravilhosas Esferas que se interpenetram. O olho humano sofre variadas limitações e todas as lentes físicas reunidas não conseguiriam surpreender o campo da alma, que exige o desenvolvimento das faculdades espirituais para tornar-se perceptível. A eletricidade e o magnetismo são duas correntes poderosas que começam a descortinar aos nossos irmãos encarnados alguma coisa dos infinitos potenciais do Invisível, mas ainda é cedo para cogitarmos de êxito completo. Somente ao homem de sentidos espirituais desenvolvidos é possível revelar alguns pormenores das paisagens sob nossos olhos. A maioria das criaturas ligadas à Crosta não entende estas verdades, senão após perderem os laços físicos mais grosseiros. É da lei, que não devemos ver senão o que possamos observar com proveito.

Nessa altura, Aniceto calou-se.

Comovido com as instruções, guardei religioso silêncio.

Agora, em meio das sombras, divisava alguns vultos negros, que pareciam fugir apressados, confundindo-se na treva das furnas próximas. Nosso orientador avisou, cauteloso:

— Procuremos interromper os efeitos luminosos do nosso corpo espiritual. Bastará que pensem com vigor na necessidade dessa providência. Estamos atravessando extensa zona, a que se acolhem muitos desventurados, e não é justo humilhar os que sofrem com a exibição de nossos bens.

Obedecendo ao conselho, verifiquei o efeito imediato. Os fios de luz que me irradiavam do corpo apagaram-se como por encanto. A excursão tornou-se menos agradável. Descíamos, milagrosamente, através dos despenhadeiros de longa extensão. A sombra fizera-se mais densa, a ventania mais lamentosa e impressionante.

Após algum tempo de marcha em silêncio, divisamos ao longe um grande castelo iluminado. Aniceto fez um gesto significativo com o indicador e explicou:

— É um dos Postos de Socorro de Campo da Paz.


André Luiz




Fonte: Bíblia do Caminho † Testamento Xavieriano



VÍDEO:

Os Mensageiros - Cap. 15 - A Viagem
O Espírito da Letra


Apresentação: André Luiz Ruiz





O Espírito da Letra - Os Mensageiros - Analisando a obra de André Luiz psicografia de Chico Xavier.

Nenhum comentário:

Postar um comentário