sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

Yvonne do Amaral Pereira - Livro Devassando o Invisível - Cap. 2 - Pág. 37 - Como se trajam os Espíritos...



Yvonne do Amaral Pereira - Livro Devassando o Invisível - Cap. 2 - Pág. 37


Como se trajam os Espíritos...


Alguns adeptos do Espiritismo, talvez demasiadamente ortodoxos, talvez pouco observadores, dogmatizando um ensino que, sabemos, ainda não foi completamente revelado, pois o próprio Codificador afirmou seria evolutivo, alguns adeptos, dizemos, combatem tais relatórios mediúnicos, afirmando que assim não deverá ser, porque Espíritos não precisam vestir-se.

Ora, se os próprios Espíritos afirmaram a Allan Kardec que o perispírito é semimaterial, que é a forma, o modelo onde se esboça o corpo carnal, e, portanto, é um corpo, seria o caso de relembrarmos a impertinência astuciosa do Senhor de Beauvais para com a donzela de Orleães:

- "São Miguel te aparece desnudo?... - ou seja: Eles, os Espíritos, com os seus perispíritos semimateriais, como são, e, portanto, tratando-se de um corpo, aparecerão desnudos aos médiuns?.

Teríamos que responder, visto que o dever de um médium é revelar com sinceridade, com a consciência voltada para Deus, o realismo do mundo invisível.

- Sim, há Espíritos desencarnados, aqueles que foram homens ou mulheres de baixa condição moral, que se arrastaram em existências consagradas aos excessos carnais, à devassidão dos costumes, que podem, com efeito, aparecer desnudos aos médiuns, revelando mesmo, em cenas degradantes, que lhes foram habituais no estado humano, a degradação mental em que ainda permanecem. E o vidente, cujo compromisso é exatamente esse, de se tornar intermediário entre os dois planos da Vida, há de contemplar e revelar, embora estarrecido e contrafeito, o realismo que seus instrutores espirituais lhe permitem surpreender no Além-Túmulo, para satisfazer àqueles que desejarem informações sobre o palpitante assunto. Todavia, o comum é se apresentarem os desencarnados sob as aparências que mais lhes agradem. Os fatos mais antigos aí estão, espalhados pelos séculos, atestando que, seja de fluido cósmico universal, de éter sublimado ou de fluido espiritual, de matérias quintessenciadas, de gases ou de vaporizações, ou simplesmente como decorrência de força mental projetada sobre as fibras supersensíveis do perispírito, o certo é que a maioria dos habitantes do Além se deixa ver com roupagens que variam do belo esplendoroso ao miserável e ao horrível.

Também os médiuns espíritas supunham que os desencarnados não se vestissem. Mas, diante do que a sua própria visão constata, que deverão eles afirmar senão o que lhes dão a ver do mundo invisível? Isto é, que veem os Espíritos "trajados" de vários modelos, e que isso é o comum no plano espiritual? E, por vezes, até muito artística e suntuosamente trajados? Lembremo-nos, então, da admirável resposta de Joana d'Are aos seus juízes, tratando de São Miguel, compreendendo que ela, há cinco séculos, não ignorava o que hoje a Doutrina Espírita expõe:

- "Pensas que Deus não tem com que vesti-lo?...” 

Ou seja: 

Sim! Os Espíritos podem vestir-se, servindo-se dos ricos elementos esparsos pelo Universo, aos quais acionam voluntária ou insensivelmente, valendo-se das forças do pensamento e da própria vontade! 

Ora, de tudo o que acabamos de observar, e atentos ao que expõem Allan Kardec, Léon Denis, Ernesto Bozzano, William Crookes, e outros, bem ao que os próprios desencarnados são incansáveis em confirmar, extrairemos as seguintes deduções:

1º - Que a mente do Espírito desencarnado cria para a sua configuração individual a indumentária que deseja, valendo-se da própria vontade, segundo o próprio gosto artístico, a necessidade, a singeleza dos hábitos, a humildade do caráter e o grau de elevação moral-mental-espiritual, pois o Espírito possui liberdade e aptidões naturais para assim se conduzir.

2º - Que a mente do desencarnado também poderá evocar os hábitos e usos passados, conservar as imagens dos trajes que preferiu, mesmo em existência remota, e imprimi-las na sensibilidade plástica do perispírito, e assim se apresentar aos seus iguais de Além-Túmulo, como aos médiuns, em materializações espontâneas e individuais, ou provocadas para visão coletiva.

3° - Que o Espírito do recém-desencarnado poderá padecer o fenômeno de repercussão vibratória dos acontecimentos verificados no corpo carnal, durante a crise do lento desligamento das energias fluídicas que o prendiam àquele, por ocasião do desenlace, sobressaindo no dito fenômeno o detalhe assaz impressionante da natureza da indumentária com a qual o sepultaram, fenômeno este, no entanto, geralmente ocorrido com as entidades muito arraigadas à matéria.

4º - Que o perispírito, cujas essências e propriedades são impressionáveis e, portanto, amoldáveis à ação plástica do pensamento, com uma sutileza indescritível; sendo expansível e contrátil; e exercendo a energia mental, sobre as mesmas propriedades, uma ascendência irresistível, dá-lhe aquela forma que desejar ou que puder, mesmo inconscientemente, mesmo à sua revelia, pois que esse poder mental é natural no ser psíquico, um atributo do Espírito, ainda que este o ignore, tal como a inspiração e a expiração são atributos irresistíveis e quase imperceptíveis da organização físico-material.

5º - Que, possuindo propriedades plásticas tão sutis e melindrosas, e sendo o Espírito arraigado à matéria, não obstante já desencarnado, repercutirão, por isso mesmo, em sua mente, ou no seu perispírito, as impressões mais fortes, ou acontecimentos, que afetem o próprio cadáver, dado que poderosas, transcendentes atrações magnéticas ligam ao corpo carnal o ser espiritual, para a boa marcha da encarnação terrestre, e que, em muitos casos, tais afinidades se prolongam por algum tempo ainda após a morte do envoltório carnal, e até mesmo após a sua total decomposição. 

 6° - Finalmente, que, a par de tal fenomenologia da mente e da vontade, existem no mundo espiritual elementos, fluidos, essências, gases, energias, matérias mui transcendentais, desconhecidas dos homens e das entidades inferiores e medíocres, as quais, acionadas pela vontade do desencarnado de elevada categoria moral-intelectual, se poderão transfundir em formosas aparências de indumentárias variadas, que ao vidente pareceriam muito concretas (como realmente o são para o mundo espiritual),estruturadas em raios luminosos ou em vaporizações cintilantes. 

Os homens, por sua vez, não se trajam, igualmente, com os produtos da propriamente? Porventura a lavoura do linho e do algodão, como a produção da seda; a maquinaria das fábricas que tecem os seus fios, transformando-os em vistosos brocados e rendas custosas, não foram antes criações mentais para, em seguida, se concretizarem em vestuários ricos e suntuosos? Quando o homem deseja alindar-se, não é a sua mente a primeira a criar aquilo que ele desejou, para depois ele próprio concretizar esse desejo, na matéria de que dispõe no plano terreno?... E o Universo Infinito, concreto, estável, eterno, não é o produto da Mente Divina? E não herda a Humanidade, do seu Criador, parcelas da Sua Superioridade?...

Trabalhemos, pois, e vigiemos, para que um dia os produtos da nossa força mental nos possam glorificar em vestes de luz, na realidade da vida espiritual


Yvonne do Amaral Pereira













Nenhum comentário:

Postar um comentário