quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Joanna de Ângelis - Livro Encontro com a Paz e a Saúde - Divaldo P. Franco - Cap. 5 - Relacionamentos Afetivos Angustiantes




Joanna de Ângelis - Livro Encontro com a Paz e a Saúde - Divaldo P. Franco - Cap. 5


Relacionamentos Afetivos Angustiantes

  • Separações litigiosas masculinas
  • Separações litigiosas femininas
  • Separações harmônicas

O ser humano, em face da sua estrutura emocional, é compelido a viver em sociedade. A herança proporcionada pelo instinto gregário leva-o à constituição do grupo familiar, que decorre de relacionamentos afetivos que devem ser cultivados com equilíbrio e sensatez.

Confundindo, muitas vezes, por imaturidade psicológica ou pouco discernimento, as sensações com as emoções, deixa-se arrastar pelos impulsos dos desejos infrenes, estabelecendo compromissos graves mediante relações apressadas, que se transformam em desastres comportamentais.

O despertar da sexualidade com toda a força dos seus hormônios, gerando necessidades aflitivas, responde pela precipitação com que se busca a satisfação imediata, sem a observância das naturais consequências do gesto impensado.

Os impulsos do desejo tornam-se confundidos com as mais sutis manifestações do sentimento do amor, quando a paixão assume o lugar do equilíbrio, instalando-se com vigor na conduta especialmente do jovem.

Não é, no entanto, esse comportamento exclusivo do período juvenil, podendo manifestar-se com o mesmo poder na fase pré ou pós-climatério feminino, na andropausa masculina, ou também repontar no adulto num período de frustração e de ansiedade, gerador de solidão e de incompletude.

Nessa fase, quando se encontram dois indivíduos que se sentem solitários e insatisfeitos com a existência, resultante da convivência não realizadora no lar ou no trabalho, são levados à permuta de confidências, descobrindo ser portadores de grande afinidade nos gostos, nas aspirações, nos ideais, quando o que existe em verdade é somente fuga da realidade.

Precipitam-se em uniões ansiosas, cujos desastres logo se apresentam, passadas as primeiras sensações assinaladas pelos ingredientes da fantasia.

Nesse sentido, os relacionamentos virtuais através da Internet, quando, cada qual oculta os conflitos e transfere-os para a responsabilidade de outrem, ensejam encantamentos paradisíacos, despertam paixões vulcânicas, resultantes todos das insatisfações acumuladas, instalando perigosos transtornos neuróticos de consequências lamentáveis.

Na adolescência, e mesmo depois, a realidade e a fantasia confundem-se, proporcionando à imaginação soluções de fácil ocorrência para qualquer desafio, particularmente no que diz respeito aos relacionamentos afetivos. Entretanto, à medida que o amadurecimento resultante das experiências premia o ser com a satisfação e melhor discernimento em torno da vida, diminuem os ardores que passam ao controle do equilíbrio e da percepção do significado existencial.

E comum, no entanto, prosseguir-se no crescimento somático e intelectual sem um correspondente desenvolvimento emocional, detendo-se na fase lúdica e inconsequente, que se encarrega de criar situações embaraçosas, quando não muito graves.

Se, nessa fase inicial da puberdade, ou logo após, os relacionamentos se agravam, transformando-se em convivência sexual, por certo, o amadurecimento das emoções demonstrará o erro da escolha, a dor interna do desencanto, a angústia que decorre da eleição feita por precipitação, o transtorno da depressão...

Observando agora com uma diferente óptica em volta o imenso campo de experiências ao alcance de um passo, o indivíduo lamenta a pressa com que procurou atender aos impulsos, dando margem ao surgimento de ojeriza pelo parceiro que lhe tolhe a liberdade de outras opções que no momento lhe parecem ideais e felicitadoras.

Havendo filhos, como resultado da afetividade desgovernada, mais complexo torna-se o quadro da convivência que, infelizmente, termina em separação litigiosa, com acusações pesadas de parte a parte, assinalando profundamente a psique da prole, quando cada um dos litigantes não se escuda nos filhos para melhor ferir o outro, a quem atribui a culpa do insucesso...

A predominância dos impulsos sexuais na fase juvenil do ser humano está a merecer expressiva contribuição psicológica e educacional, a fim de que se possam evitar os desastres que decorrem da insensatez e da precipitação.

A herança da abstinência forçada por motivos religiosos ou decorrentes da ignorância ainda mais agrava a situação dos jovens em desenvolvimento, por não saberem como canalizar o excesso de energias de que se sentem possuidores.

O preconceito, assim como a vulgaridade com que são abordados os fenômenos fisiológicos do sexo e as suas funções, castram ou liberam os adolescentes que lhes temem o uso ou se entregam às licenças morais perniciosas, que se transformam em vícios sociais e morais com prejuízos graves para a sua estabilidade comportamental.

O sexo merece ser estudado desde muito cedo, na vida infantil, com os mesmos direitos de esclarecimento que se concedem aos demais órgãos do corpo, no que diz respeito à higiene, ao uso, à finalidade.

Deixar-se para serem feitas essas abordagens posteriormente ao seu uso, é como tentar-se aplicar terapêutica em processos enfermiços quando já se encontram instalados, dispondo-se, no entanto, dos recursos preventivos.

Desportos e estudos, disciplinas sem rigidez e com amizade, relacionamentos afetivos com significados fraternais, intercâmbio de idéias e convivência saudável, podem contribuir valiosamente para facilitar o trânsito no período juvenil sem traumas nem compromissos precipitados de efeitos danosos.

Entretanto, para que esses objetivos sejam alcançados, fazem-se necessárias a harmonia doméstica, a convivência com a prole por parte dos genitores, as conversações esclarecedoras, a confiança recíproca, a amizade sem submissão nem temor...

Nesse campo de experiências equilibradas o amadurecimento psicológico estabelece-se, produzindo percepções seletivas entre paixão e amor, desejo e afeto, uso e abuso das funções geradoras da vida.


Separações litigiosas masculinas 


Como decorrência da conduta mais liberal sempre concedida ao homem, o matrimônio ou a parceria afetiva nem sempre logra insculpir-se-lhe como um compromisso relevante, no qual a fidelidade é fator de primeira grandeza para o sucesso do relacionamento.

Logo passadas as emoções da convivência anelada, porque ainda não experienciada, surgem a realidade e o dever, derrubando as máscaras da conquista pessoal de cada um, assim desnudando a individualidade que passa a ocupar o lugar da personalidade.

Observam-se melhor os hábitos e costumes, o significado do compromisso familiar, surgindo os medos, a insegurança em relação ao sucesso da eleição feita. O que antes apresentava-se com certa dose de encantamento, pelo repetir-se, adquire a monótona condição de falta de criatividade, produzindo cansaço e certo mal-estar. As queixas, que começam a surgir, resultado inevitável de pequenas insatisfações que fazem parte do cotidiano, empurram para a saturação da convivência, e a perda dos temas de conversação abre espaço para o perigo em torno do relacionamento.

O que antes representava liberdade de movimentação e de ação, agora expressa-se com menos poder, porque a convivência a dois impõe responsabilidade na conduta, já não sendo lícita a atividade individual, sem que haja o necessário esclarecimento ao outro, a justificação e o pedido de apoio.

Normalmente, a princípio, um parceiro afetivo demonstra confiança em relação ao outro. No entanto, à medida que se repetem os momentos de independência de um deles, o que fica passa a ter idéia de que está sendo marginalizado, que a sua não é mais a companhia desejada, desconfiança que se instala facultando conflitos futuros.

Acostumando-se a estar juntos no período de encantamento, quando surge alguma distância, a atenção é liberada para a nova atitude, que desperta ciúme e exige explicações.

O ser psicológico é muito complexo, em face das heranças evolutivas que carrega no Self, misturando ansiedade e insegurança emocional com prazer e acomodação afetiva.

Não se trata de perda de liberdade no sentido literal, mas de diminuição de independência de movimentos, de aspirações, de realizações. As questões devem ser agora, quando surge e se instala a parceria, debatidas por ambos os membros, os deveres e responsabilidades divididos e assumidos, os planos trabalhados em conjunto com o melhor empenho.

Os conflitos que estão acumulados no inconsciente ressumam e não são aceitos pela consciência que os escamoteia, transferindo a responsabilidade para o outro, a fim de ficar-se bem consigo mesmo.

Inevitavelmente, porém, passam a fazer parte das reflexões, tanto no homem como na mulher, os conflitos do lar de onde cada um procede, as experiências infantis menos felizes, as imposições injustas a que foram submetidos, produzindo-lhes sensações de desamparo e de desconforto.

Se o homem é de temperamento introvertido, mais difícil torna-se a convivência, porque ele evita falar sobre o assunto, assumindo atitude enigmática, transtornando a companheira que passa a ter dificuldade de entendê-lo. Nenhum relacionamento de qualquer natureza e especialmente o afetivo pode sobreviver quando o mutismo toma conta de algum dos envolvidos.

Se é extrovertido e a tudo se submete de maneira superficial, torna-se explosivo, é imprevisível e de difícil controle.

Em ambos os casos, surge uma fissura na afeição que, se não admitida e corrigida transforma-se em espaço que se amplia, afastando os afetos e levando-os a idéias perturbadoras que não correspondem à realidade.

O diálogo é o método eficaz para dirimir incompreensões, porém feito no alto nível do respeito em torno da opinião do outro, sem qualquer tipo de imposição, que resultaria num impedimento para a compreensão que se deseja.

É impraticável esperar-se que a união de dois indivíduos que se amam seja sempre tranquila, sem sinuosidade ou sem desafios emocionais.

Cada pessoa é uma construção psicológica específica que se encontra com outra, a fim de produzir uma harmonia e não uma fusão, no que resultaria em perda de identidade em alguém, conforme ocorria no passado com a mulher submissa, que não tinha o direito de pensar, de sentir, de viver, somente o de submeter-se...

Não havendo a oportunidade da discussão em torno das dificuldades que devem ser sanadas, um ou outro podem fugir para o passado, quando não enfrentavam problemas dessa natureza, acreditando que aquele foi o período real de sua felicidade...

O homem, com mais frequência, refugia-se nas lembranças, apega-se-lhes e recusa-se a aceitar novos direcionamentos, porque somente vê o problema na companheira que o não entende, que deseja impor-se sem a menor consideração.

A vida, porém, são fenômenos que se repetem, mas também acontecimentos novos, sucessivos, que impõem crescimento moral e intelectual, ampliando a capacidade de entender o processo de evolução.

Os eventos passados, queira-se ou não, influenciam o presente, especialmente porque não foram liberados nem esclarecidos, continuando como arquivos semimortos pesando no inconsciente.

E porque normalmente se teme aquilo que se desconhece, há uma reação inconsciente para equacionar-se os enigmas interiores, deixando-se que eles permaneçam com a sua dominação arbitrária.

Com o passar do tempo surgem os mecanismos de transferência afetiva e se manifestam as insatisfações que impõem procedimentos estranhos, que irão culminar nas separações litigiosas, impostas pelo parceiro que pretende ignorar as próprias dificuldades, transferindo-as para a mulher.

Quase sempre, nesse período, surgem terceiras pessoas que passam a influenciar a conduta daquele que se encontra incompleto, nascendo as aparentes afinidades, culminando em complicadas ligações extraconjugais, que irão influenciar fortemente a separação da parceira anterior.

Essa solução imprópria irá culminar em futuros conflitos, quando surgirão acusações mútuas, porque o problema não se encontra noutrem, mas no íntimo de cada qual.

Em alguns casos, a problemática no homem é resultado do seu crescimento no trabalho ou na empresa em que se encontra, fascinando-se pela conquista de patamares sociais e econômicos, políticos ou artísticos elevados que persegue, deixando a parceira na incômoda situação de segundo lugar. Esfalfa-se no labor empresarial e está sempre cansado no lar, sentindo-se incompreendido por não ser acompanhado na sua ambição, sem dar-se conta de que o ser ao lado igualmente desfruta do mesmo direito de anelar por viver bem, em parceria, sem impedimento de qualquer outra natureza.

Instalando-se a antipatia, surgindo interferências externas, desaparece o interesse sexual, esfria-se a afetividade e o antigo encanto cede lugar à indiferença que culmina em separação complicada.

Havendo filhos e bens a repartir, os sentimentos perturbam-se mais, as mágoas acentuam-se e a animosidade substitui a confiança antiga, produzindo atitudes de violência, de desconsideração e de ressentimentos que serão discutidos em tribunais, a prejuízo da família em particular e da sociedade como um todo.

Será sempre ideal a preservação do respeito pelo parceiro, notadamente quando genitor masculino ou feminino da prole, de modo a não produzir conflitos psicológicos nos filhos, tanto quanto neles mesmos.

A imaturidade emocional, no entanto, prefere as atitudes agressivas, porque a afetividade não teve significado profundo, sendo superficial em decorrência dos desejos malcontidos e das necessidades de união precipitada.

Os danos psicológicos marcam significativamente mesmo aqueles que se creem vitoriosos quando saem desses relacionamentos tumultuados.


Separações litigiosas femininas


Em face do atavismo em torno da fragilidade da mulher, remanesce, ainda na atualidade, no inconsciente feminino, a marca da discriminação multimilenar de que foi vítima, gerando-lhe insegurança e timidez.

Tradicionalmente, o casamento constituía-lhe um mecanismo de fuga do despotismo doméstico, a busca da autorrealização, o anelo pela maternidade, a realização do próprio lar. Para consegui-lo, não poucas vezes, a mulher transferia-se de uma situação arbitrária de dependência para outra, submetendo-se a circunstâncias vexatórias, desde que pudesse manter uma aparência de segurança, em face da proteção masculina que recebia.

O estado de solteira constituía-lhe um sinal de desprezo e de inferioridade social e pessoal, valendo, por isso mesmo, o esforço para conseguir um matrimônio, embora sob injunções aflitivas.

O despotismo machista só raramente concedia-lhe o direito à própria identidade, tornando-a parceira nas resoluções domésticas e sociais, embora a carga das responsabilidades e tarefas sempre lhe pesasse sobre os ombros.

Por natural efeito dessa herança mórbida, muitas mulheres ainda acreditam que o casamento representa uma conquista autorrealizadora, empenhando-se por consegui-lo, mesmo quando não se encontram emocionalmente amadurecidas para as responsabilidades e as injunções penosas.

Não experientes em relação às sensações decorrentes dos relacionamentos sexuais, facilmente deixam-se arrastar pelas ilusões e estímulos que recebem, comprometendo-se inadvertidamente, e buscando, no matrimônio, a regularização da situação instável.

Quando se permitem as licenças morais contemporâneas, acreditam na ilusão do prazer em detrimento das graves posturas que lhes dizem respeito.

No primeiro caso, à medida que transcorre o tempo e os sentimentos amadurecem, os conflitos se sucedem, as experiências de união já não proporcionam o mesmo impacto inicial, sentem-se traídas, quando não o estão sendo realmente, ou frustradas na busca de independência, vivendo solitárias, embora a companhia, e desejando a liberdade a qualquer preço.

Descobrindo, a pouco e pouco, o caráter e o comportamento dos maridos ou companheiros, passam a exigir mais atenção, a reclamar os direitos que lhes dizem respeito, iniciando-se os litígios de breve ou longo curso, que culminam em situações delicadas, quando não agravadas pelas inesperadas reações de agressividade e grosseria do outro.

Mediante fenômenos de transferência de conflitos, passam a ver no marido, como a figura detestada dos genitores que as molestaram ou afligiram com a sua indiferença ou com a sua prepotência, surgindo o anseio de vencer o adversário que permanece na sua perseguição hedionda, deixando-se consumir pelo sentimento de vingança e de ódio.

Inevitavelmente, esfria-lhes o interesse afetivo e sexual, atormentando-se diante do hábito mantido, direcionando os interesses para outrem que lhes parece oferecer maior soma de prazeres e de compreensão, o que, não raro, se trata de uma ilusão, de um mecanismo de fuga da realidade aflitiva.

Outras vezes, cansadas das incompreensões, da indiferença do parceiro ou da sua prepotência, das exigências no tálamo conjugal, que as amesquinham, permitem-se dominar pela ojeriza que se transforma em cólera, sentindo-se desprestigiadas ou feridas nos seus brios.

As discussões sucedem-se, a animosidade recíproca aumenta e os conflitos terminam em lamentáveis separações com prejuízos emocionais muito graves, especialmente aqueles que se derivam do ódio que tem sede de vingança e de destruição do outro.

É certo que muitos fatores conspiram para tal situação. Descobrindo, posteriormente, a necessidade emocional da autorrealização, do destaque na sociedade, na conquista de um lugar ao sol, não apenas a posição de dona de casa, a mulher passa a competir consciente ou inconscientemente com o parceiro, a fim de mostrar-lhe o alto valor que se atribui, utilizando-se das armas da insolência, da falsa superioridade, da inteligência e da emoção...

Confundindo os sentimentos da maternidade com os de liderança que lhe são inatos, aturde-se, optando pelo desamor, quando poderia experienciar a convivência pacífica, os diálogos honestos, as compensações afetivas.

Nos dias atuais, em razão das conquistas femininas, deixa-se consumir por uma surda rebelião contra o homem a quem se vincula, trabalhando para ultrapassá-lo, submetendo-o ao talante do seu capricho, utilizando-se mesmo dos seus hábitos insalubres como o tabagismo, o alcoolismo, a liberação sexual, a fim de afrontá-lo, em tentativas bem urdidas de feri-lo.

Algumas vezes consegue o intento, por estar diante de indivíduos psicologicamente infantis, também inseguros e instáveis, gerando situações deploráveis, nas quais ambos descem a níveis inferiores de conduta, com agressões recíprocas de consequências imprevisíveis.

É perfeitamente natural que um consórcio de qualquer natureza, não atingindo os fins para os quais foi estabelecido seja desfeito com perfeita compreensão dos parceiros, especialmente no que diz respeito aos de relacionamentos afetivo e sexual. Nada obstante, o ego dominador de cada membro sempre se refugia num tipo de autocompaixão falsa, apresentando-se como vítima do outro, nunca assumindo parte da responsabilidade pelo insucesso do empreendimento.

A união afetiva é também uma empresa das mais complexas, pelo fato de a convivência contínua ser de natureza íntima, intransferível, interpessoal, exigindo responsabilidade e compreensão de ambos os membros.

Os melindres, as inseguranças, os conflitos devem ser analisados em conjunto, ao invés de escamoteados no inconsciente, de modo a aparentar-se uma harmonia que não existe, dando lugar a processos neuróticos de fixações e de receios que se transformam em problemas de difícil solução, caso não se recorra à psicoterapia cuidadosa.

A mulher, portanto, despreparada para a união sexual e a convivência afetiva em longo prazo, logo se manifestam as dificuldades que deveria enfrentar com a mente e o sentimento abertos para a regularização, opta pela separação, impondo condições ou defendendo-se das exigências do companheiro, a fim de sentir-se compensada dos sofrimentos e do tempo que foi desperdiçado na experiência de que se deseja libertar.

O tempo, no entanto, somente é desperdiçado, quando passa em vão, na futilidade dourada, no jogo dos interesses mesquinhos, porquanto dele nada se obtém de útil, senão o tédio e o desencanto.

As experiências constituem um patrimônio de alto valor, especialmente aquelas que ensinam como não mais se devem repetir, facultando o crescimento interior do indivíduo e o seu amadurecimento psicológico.

Optando, desse modo, pela separação litigiosa, desgasta-se, também a mulher, que passa a vivenciar conflitos profundos em relação ao homem, amargurando-se e armando-se contra futuras uniões que passa a anelar e a temer.

As criaturas humanas são espíritos eternos, possuindo a divina presença no imo, a fim de que se possam conduzir com sabedoria e amor, no entanto, as heranças ancestrais do processo de evolução antropológica em predomínio, levam-nas a reações de autodefesa, de agressividade, dando ao ego primazia em detrimento do Self.


Separações harmônicas


A afetividade é indispensável para a saúde emocional, quando se apresenta de maneira tranquila e enriquecedora.

Nenhuma criatura humana pode viver sem o calor da sua presença.

Graças à sua influência, os indivíduos alcançam os patamares mais elevados da glória, na santificação, nos ministérios sociais, políticos e artísticos pelos quais transitem.

Facilitadora da dedicação extrema, ela apresenta-se num elenco de manifestações que alcançam variadas expressões de vida.

A afetividade que une dois indivíduos na conjunção dos sentimentos nobres para a constituição do lar, é fonte de benefícios que se podem transformar em conquistas valiosas de iluminação e de harmonia.

No entanto, não é assim que ocorrem as suas expressões iniciais, sendo mais impulsos de posse, de desejos luxuriosos do que de sentimentos de equilíbrio e de fusão transcendental. Isto porque, a predominância do primarismo nos refolhos da psique fazem jazer armazenadas as experiências iniciais, abrindo pequenas brechas para as vivências da razão e do sentimento.

As uniões pela afetividade, quase sempre expressam necessidades de relacionamento sexual, em detrimento de companheirismo, de convivência com outrem, de compartilhamento de emoções.

Vivendo-se breves momentos de prazer no cotidiano, os instintos açulam-se com facilidade, impedindo que as emoções se expressem com harmonia, de forma a produzir vinculações profundas e significativas.

O ego insaciável, irrequieto, impede as manifestações equilibradas do Self, mantendo o jogo dos gozos rápidos e sem significação, a prejuízo das satisfações profundas que se expressam em realização interpessoal.

Em decorrência, surgem o egocentrismo e o egoísmo responsáveis pelas atitudes infelizes nos relacionamentos de qualquer natureza, em particular, naqueles de caráter afetivo, nos quais, o seu portador somente espera fruir sem dar, acreditando-se especialmente constituído de valores que o credenciam a direitos especiais.

Aí surge o fator de desequilíbrio, levando à separação litigiosa. No entanto, quando existem sentimentos de nobreza, os parceiros dão-se conta das dificuldades que enfrentam e tentam restabelecer a união, cada qual, de sua parte, envidando esforços para preservar a conquista realizada.

Lentas modificações operam-se no comportamento, de modo que resultam na descoberta de valores esquecidos que volvem à consciência, contribuindo para o bom entendimento.

Muitas vezes, porém, torna-se difícil ou irrealizável a reconstrução do relacionamento afetivo, chegando-se à conclusão de que o melhor caminho é a separação física, mantendo o respeito e o entendimento, particularmente quando existem filhos, cuja saúde emocional deve ser preservada a qualquer custo.

Nos rompimentos litigiosos surgem os distúrbios psicológicos como outros psicopatológicos, que se alongam durante a existência, transformando-se em ódios e cânceres morais de erradicação improvável.

No entanto, quando existem saúde emocional e amadurecimento psicológico em ambos os parceiros, as soluções harmônicas cicatrizam as chagas dos desentendimentos, eliminam as acusações recíprocas e restabelecem a saúde nos seus diversos aspectos.

As pessoas, embora tristes com a ocorrência da separação, encontram-se amadurecidas para futuras uniões, sem os erros da experiência encerrada.

Com o tempo nasce um sentimento de gratidão pelo parceiro gentil — masculino ou feminino — que soube preservar a amizade, embora o insucesso da relação afetiva.

Assim devem ser os comportamentos maduros de pessoas que anelam pela felicidade, sem a participação preponderante do egoísmo e seus derivados.

Por isso mesmo, Jesus referiu-se à questão do escândalo, mais no sentido de um tropeço, de uma dificuldade, do que propriamente de uma aberração, de um fato imoral, de um escarcéu...

Ele ocorre por imprevidência, por imaturidade, sendo pesada a carga na consciência daquele que o comete, caso a sua seja a intenção de ferir, de perturbar, gerando situações deploráveis.

Nesse caso, ai daquele que assim procede, porque adquire conflitos na consciência atual ou transfere-os para a futura, de que não se liberará facilmente, incidindo em tormento de culpa...

Todo relacionamento afetivo é feliz, quando existe respeito entre os parceiros, resultando ou não em prolongada união.

Dele sempre defluem benefícios que podem ser armazenados a favor de ambas as partes.

Pessoas adultas, psicologicamente amadurecidas, agem, portanto, com equilíbrio, sem precipitação, tanto no que diz respeito aos relacionamentos que se iniciam após reflexões e análises cuidadosas, quanto às separações de natureza harmoniosa, como gratidão pelas horas felizes que experienciaram juntos.

Com atitudes desse porte, a sociedade preservará sempre os laços de família, havendo ou não prole, como recurso básico para a constituição de grupos felizes, que aprendem a amar-se e a respeitar-se dentro dos parâmetros da liberdade de escolhas afetivas.

Redescobre-se que o amor é livre sem ser libertino e que as criaturas podem e devem unir-se através dos seus vínculos, respeitando as leis constituídas dos diversos países, porém com direito de separar-se legalmente, sem que as uniões sejam para toda a existência, o que viola o direito de felicidade, tendo em vista os processos normais de crescimento intelecto-moral, de desenvolvimento da consciência, de experiências evolutivas, de necessidades emocionais e espirituais.

A vida é rica de bênçãos e os impositivos para fruí-la, as castrações impostas são decorrência de transtornos de conduta e de visão estreita de indivíduos conflitivos e infelizes.


Joanna de Ângelis




Temas para reflexão:

755 - Qual seria para a sociedade o resultado do relaxamento dos laços de família?

“Uma recrudescência do egoísmo.” (O Livro dos Espíritos)

“É impossível que não haja escândalos, mas ai daquele por quem vierem!” (Lucas: 17-1)





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