quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Joanna de Ângelis - Livro Psicologia da Gratidão - Divaldo P. Franco - Cap. 4 - A conquista da plenitude pela gratidão - Pág. 83 - Exercício da gratidão




Joanna de Ângelis - Livro Psicologia da Gratidão - Divaldo P. Franco - Cap. 4 - A conquista da plenitude pela gratidão - Pág. 83


Exercício da gratidão


Todas as conquistas do conhecimento e da experiência de vida resultam do treinamento, do exercício.

Quando o Self se encontra em desenvolvimento, as emoções ainda se fazem caracterizar pelas heranças do instinto, que se vão modificando lentamente, até alcançar os nobres patamares do amor e da gratidão. 

Não seja de estranhar que as condutas humanas durante esse processo apresentem-se afetadas pelo egotismo gerador da ingratidão. O indivíduo atribui-se méritos que não possui, e tudo quanto recebe considera como em consequência do seu valor. A permanência da sombra dificulta-lhe o discernimento, impondo-lhe situações embaraçosas e mesmo perversas. Esse trânsito de curso demorado vai se modificando à medida que as experiências edificantes vão se acumulando como resultado do treinamento, proporcionando lucidez para a compreensão da felicidade após a descoberta do significado existencial.

O único sentido, portanto, de ser humano propõe como foco primordial a emoção do amor que será alcançada. No oceano do amor, tudo se confunde em plenitude, logo, em superação do ego e dos arquétipos perturbadores.

Há necessidade imediata e inadiável de reservar-se espaço e tempo para o treinamento do perdão, tanto quanto das outras expressões do amor, a fim de se descobrir a alegria que, resultante de qualquer satisfação, seja um efeito do ato de amar.

Para que se possa alcançar esse desiderato, torna-se urgente o dever de mergulhar no Separa o encontro com a consciência, a princípio num monólogo e, depois, num diálogo edificante e iluminativo.

Jung estabeleceu cinco etapas no que diz respeito à aquisição da consciência, seu desenvolvimento no rumo da vitória plena.

A primeira etapa, que ele denomina como participation mystique, diz respeito à conquista da identificação entre a consciência do ser e tudo quanto se lhe refere, no entorno da sua existência. Acontece que se torna difícil existir no mundo sem que ocorra esse fenômeno de interdependência entre ele e o que se encontra à sua volta.

Nesse sentido, a identificação é muito variada, considerando-se aqueles que, ainda vitimados pelas sensações, permanecem vinculados aos objetos e vivenciam-nos, sorrindo ou sofrendo. Alguém se identifica e se apaixona pela casa em que mora, pelo instrumento de arte a que se dedica, pelo automóvel ou outro veículo qualquer, e passa a experimentar os sentimentos do Si-mesmo em relação a cada objeto. Outros se vinculam às suas famílias de igual maneira e experimentam sentimentos de introjeção e projeção, além da própria identificação.

Na segunda etapa, já se expressa a consciência que distingue o Eu e o outro. Ao alcançar esse período em que se pode diferenciar o sujeito do objeto, o Self que se é em relação ao do outro ser, passa a descobrir, a identificar as diversidades de que cada qual se constitui. Nessa fase, ainda permanecem os resquícios fortes da projeção no outro, mas que se vai diluindo e favorecendo a identidade.

Na terceira etapa, as projeções transferem-se para símbolos, lições, princípios éticos, facultando a compreensão do abstrato, como a realidade de Deus em alguma parte... O conceito vigente desse deus, quando punitivo ou compensador, representa a projeção transferida dos pais para algo mais transcendente ou até mesmo mitológico.

Na quarta etapa, tem lugar a superação das projeções, mesmo que assinaladas pela transcendência do abstrato e das ideias. Surge, então, o centro vazio, que poderíamos denominar como o homem moderno em busca da sua alma.

O utilitarismo e o interesse imediato tomam conta do indivíduo, como substitutos das anteriores projeções. Nesse comenos, há predominância do prazer e os desejos de fácil controle, podendo ocorrer, se não se permitem essas sensações emoções, a queda em transtornos depressivos. Nesse mundo novo não existem conteúdos psíquicos, fazendo que cada qual se sinta realista. Esse é o momento em que o ego se sente como o próprio deus, capaz de fazer e concluir sempre de maneira pessoal a respeito de tudo quanto lhe concerne, selecionando o que é verdadeiro ou não, aquilo que merece consideração ou desprezo... Com tal comportamento egoico, não é difícil cometer equívocos lamentáveis, derivados da auto presunção, dos julgamentos precipitados a respeito dos demais, podendo tornar-se megalomaníaco. Perde-se o anterior controle das convenções sociais em relação aos demais indivíduos e aos padrões de comportamento aceitos e convencionados. Nem todas as pessoas, no entanto, no desenvolvimento da sua consciência, atingem essa etapa, permanecendo somente nas iniciais.

Por fim, na quinta etapa, quando já se encontra amadurecido psicologicamente, o indivíduo passa à reintegração da consciência com a inconsciência, descobrindo os próprios limites - do ego -, alcançando o que poderíamos denominar como uma fase de atualidade, conseguindo a função transcendente e o símbolo unificador. Livre dos arquétipos em  imagens que caracterizam o outro, conforme a experiência da etapa anterior, a quarta, identifica os gloriosos poderes do inconsciente. Nessa fase de modernidade ou de atualidade, a consciência identifica a vida psíquica nas projeções, não mais compostas dos substratos materiais ou mesmo deles formadas, e sim a realidade de si mesma. O insigne mestre, no entanto, não se detém aí, e há momentos em que ele parece propor mais outras etapas, cabendo-nos deter nessas, mais compatíveis com os objetivos do nosso trabalho.

Nessa fase em que a consciência identifica o inconsciente e fundem-se, surgem as aspirações do belo, do ideal, do uno, da individuação.

A fim de que seja lograda essa plenitude, o sentimento de gratidão à vida, a todos que contribuíram e contribuem para que o mundo seja melhor e as dificuldades sejam sanadas, que ofereceram sua ajuda no transcurso do desenvolvimento intelecto moral, transforma-se num impulso para o estado numinoso, em que já não há sombra. Nada obstante, para culminar nesse desiderato, faz-se indispensável o treinamento constante, o exercício da gratidão.

A princípio, pode mesmo apresentar-se como um ato de dever, o de retribuição por tudo quanto desfruta, sem que haja a presença do sentimento por falta de maturidade psicológica interior. O hábito, porém, que se formará irá estimular ao prosseguimento da valorização de todos os acontecimentos assim como das pessoas com as quais se convive, alargando a percepção de que esse sentido de fraternidade gentil e retributiva proporciona inefável alegria de viver.

Criado o estímulo gratulatório, tudo assume significado relevante, ensejando melhor entendimento a respeito dos acontecimentos existenciais, mesmo aqueles que se apresentam em forma de sofrimento, isto é, que têm momentâneo caráter afligente ou desagradável, que pode ser superado pelo empenho de ser útil, de compreender o esforço dos demais na construção do mundo melhor, entender-lhes os fracassos e os insistentes sacrifícios para corrigir-se...

Habitualmente, o julgamento a respeito da conduta dos outros, em especial análise quando se trata de questões perturbadoras contra alguém, logo se conclui de maneira equivocada, por certo a manifestação da conduta do outro, do que se lhe fez inamistoso, realizando uma projeção inconsciente dos seus próprios conflitos... Todos os indivíduos tem dificuldades de vencer as questões perturbadoras, especialmente quando procedem dos atavismos que se organizaram no passado por onde jornadearam. A tolerância, que é uma expressão de amizade inicial, facultará entender-se que não sendo fácil para si mesmo a mudança para melhor, não deve ser de maneira diferente quando se trata de outrem.

Tentando-se, embora com erros e acertos, o exercício da gratidão, momento chega em que o ser se enriquece de júbilo de ser gentil e agradecido, não apenas por palavras, mas principalmente por atitudes, tornando a existência agradável e, dessa maneira, ampliando o círculo de bem-estar em sua volta, mudando as paisagens emocionais desorganizadas.

A gratidão possui esse maravilhoso mister de tornar o mundo e as pessoas mais belas e mais queridas.


Joanna de Ângelis 







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