Sonnez - Revista Espírita - Allan Kardec, Ano X, Fevereiro de 1867 - Jornal de estudos psicológicos - Dissertações espíritas
A clareza
(Sociedade de Paris, 5 de janeiro de 1866 - Médium: Sr. Leymarie)
Conceder-me-eis hospitalidade para a vossa primeira sessão de 1866? Eu desejo, com o abraço fraterno, vos apresentar votos amigos; que possais ter muitas satisfações morais, muita vontade e caridade perseverante. Neste século de luz, o que mais falta é clareza! Os meio sábios, os papões da imprensa, fizeram valentemente o trabalho da aranha para obscurecer, por meio de um tecido supostamente liberal, tudo o que é claro, tudo o que aclara.
Caros espíritas, encontrastes em todas as camadas sociais esta força de raciocínio que é a marca inteligente dos seres realizados? Não tendes, pelo contrário, a certeza de que a grande maioria de vossos irmãos se atola numa ignorância malsã? Por toda parte as heresias e as más ações! As boas intenções, viciadas em seu princípio, caem uma a uma, semelhantes a esses belos frutos cujo âmago um verme rói e o vento joga por terra. A clareza nos argumentos, no saber, acaso teria escolhido domicílio nas academias, entre os filósofos, os jornalistas e os panfletários?... Parece-me que poderíamos duvidar, vendo-os, a exemplo de Diógenes, com a lanterna na mão, procurar uma verdade em pleno sol.
Luz, claridade, vós sois a essência de todo movimento inteligente! Em breve inundareis com os vossos raios benfazejos os mais obscuros recantos desta pobre Humanidade; sois vós que tirareis do lodaçal tantos terrícolas pasmados, embrutecidos, espíritos infelizes que devem ser lavados pela instrução, pela liberdade, sobretudo pela consciência de seu valor espiritual. A luz expulsará as lágrimas, as penas, os desesperos sombrios, a negação das coisas divinas, todas as más vontades! Cercando o materialismo, ela o forçará a não mais abrigar-se atrás dessa barreira fictícia, carcomida, de onde arremessa desajeitadamente suas setas sobre tudo quanto não é obra sua.
Mas as máscaras serão arrancadas e então saberemos se os prazeres, a fortuna e o sensualismo, são mesmo os emblemas da vida e da liberdade. A clareza é útil em tudo e a todos; no embrião, como no homem, é necessária a luz! Sem ela tudo caminha tateando, e tateando, a alma busca a alma.
Que se faça uma noite eterna! Logo as cores harmoniosas desaparecerão do vosso globo; as flores estiolar-se-ão; as grandes árvores serão destruídas; os insetos, a Natureza inteira não mais emitirão esses mil sons, a eterna canção de Deus! Os regatos banharão as regiões desoladas; o frio terá tudo mumificado; a vida terá desaparecido!...
O mesmo acontece com o Espírito. Se fizerdes noite em seu redor, ele ficará doente; o frio petrificará suas tendências divinas; como na Idade Média, o homem embotar-se-á, assemelhando sua alma às solidões selvagens e desoladas das regiões boreais!
É por isto, espíritas, que vos deveis a todas as clarezas. Mas antes de aconselhar e ensinar, começai logo por iluminar os menores refolhos de vossa alma. Quando suficientemente depurados para nada temer, podereis elevar a voz, o olhar, o gesto; fareis uma guerra implacável à sombra, à tristeza, à ausência de vida. Ensinareis as grandes leis espíritas aos irmãos que nada sabem do papel que Deus lhes confere.
1866, possas tu, para os anos seguintes, ser a estrela luminosa que conduzia os reis magos para o berço de uma humilde criança do povo. Eles vinham render homenagem à encarnação que devia representar, no mais largo sentido, o Espírito de Verdade, essa luz benfazeja que transformou a Humanidade. Por esse menino, tudo foi realizado! É ele que eterniza a graça e a simplicidade, a caridade, a benevolência, o amor e a liberdade.
O Espiritismo, também ele uma estrela luminosa, deve, como aquela que há dezoito séculos rasgou o véu sombrio dos séculos de ferro, conduzir os terrícolas à conquista das verdades prometidas. Saberá ele desvencilhar-se das tempestades que nos prometem as evoluções humanas e as resistências desesperadas da Ciência em apuros? É o que vós todos, meus amigos, e nós, vossos irmãos da erraticidade, somos chamados a melhor assinalar, inundando este ano com as claridades adquiridas.
Trabalhar com este objetivo é ser adepto do Menino de Belém, é ser filho de Deus, de que emanam toda a luz e toda a clareza.
Sonnez
Fonte: Kardecpedia
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