domingo, 27 de dezembro de 2020

Allan Kardec - O Livro dos Espíritos - 3ª Parte - Das leis morais - Cap. 7 - Da perfeição moral - Questão 895 (Miramez)




Allan Kardec - O Livro dos Espíritos - 3ª Parte - Das leis morais - Cap. 7


Da perfeição moral


895. Postos de lado os defeitos e os vícios acerca dos quais ninguém se pode equivocar, qual o sinal mais característico da imperfeição?

“O interesse pessoal. Frequentemente, as qualidades morais são como, num objeto de cobre, a douradura que não resiste à pedra de toque. Pode um homem possuir qualidades reais, que levem o mundo a considerá-lo homem de bem. Mas essas qualidades, conquanto assinalem um progresso, nem sempre suportam certas provas, e às vezes basta que se fira a corda do interesse pessoal para que o fundo fique a descoberto. O verdadeiro desinteresse é coisa ainda tão rara na Terra que, quando se patenteia, todos o admiram como se fora um fenômeno.

“O apego às coisas materiais constitui sinal notório de inferioridade, porque, quanto mais se aferra aos bens deste mundo, tanto menos compreende o homem o seu destino. Pelo desinteresse, ao contrário, demonstra que encara de um ponto mais elevado o futuro.”


Allan Kardec 




O Livro dos Espíritos comentado pelo Espírito Miramez

Questão 895 comentada


A marca mais visível da inferioridade da alma é o interesse pessoal, gesto este nascido do egoísmo e, por vezes, do orgulho. Quando o Espírito descobre que tudo pertence a Deus, que todos somos Seus filhos e herdeiros dos bens, e que os bens, quando os possuímos, são de duração efêmera, passa ao desprendimento, e desprendimento com Jesus não é desperdício, é saber usar o que Deus colocou em nossas mãos.

Se queres melhorar espiritualmente, passa a combater o egoísmo, reação da ignorância, que costuma ter durabilidade infindável nos caminhos dos homens. Os bens materiais te prenderão cada vez mais, fazendo a alma esquecer dos bens imperecíveis do Espírito. é justo que cuides dos teus bens, se os tens, mas não com apego, de maneira a esquecer dos bens da vida eterna. Podes transformar o ouro em coisas santas e dignas de louvor, usá-lo em favor dos que padecem, servires dele para matar a fome e vestir os nus, dar teto aos desabrigados e amparar aos que choram em duras provas.

Sabendo que a reencarnação no amanhã te colocará em posição diferente da de hoje, deves saber o que fazer com as sobras. Elas são sementes que podes passar a semear. A inteligência nos convida a distribuir no serviço da caridade, pois somente ela salva e desapega os nossos corações do peso das inferioridades.

O verdadeiro desinteresse é muito raro na Terra e é encarado como fenômeno quando o encontramos. No mundo superior, ele é comum a todas as criaturas. Na Terra, é uma raridade encontrar homens que já se desprenderam, e desconhecem o egoísmo e o orgulho. Quando queremos as coisas para nós apenas, as paixões se alteram, buscando outras mais complicadas no certame da vida.

Certamente que o apego às coisas materiais, bem como às paixões, turba os corpos espirituais que a alma usa; eles entram em desarmonia e levam inquietação ao Espírito. O interesse pessoal por vezes surge até mesmo no meio religioso. Muitos fazem das casas de oração ponto comercial, usando a casa de Deus, visando ao ouro fácil. Busquemos em Lucas o capítulo dezenove, versículo quarenta e seis:

Dizendo-lhes:

Está escrito: A minha casa será casa de oração; mas vós a transformastes em covil de salteadores.

Vender as coisas santas, vender a palavra evangélica e cobrar pelo intercâmbio dos Espíritos com os homens, é o egoísmo na mais alta esfera das sombras. É a ignorância que se transforma em cegueira espiritual, é comércio dos mais ilícitos. é esquecer por completo da palavra santa e sábia de Jesus, quando ele disse: "Dai de graça o que de graça recebeste." Quem assim procede, está apagando a luz do seu próprio caminho.

O Evangelho de Jesus, em síntese, é o desprendimento. Ele nos ensina a usar os bens materiais e conquistar a luz espiritual pelo amor. Devemos lembrar que é dando que recebemos, é semeando que colhemos.

A Doutrina dos Espíritos chegou à Terra por misericórdia de Jesus, para mostrar à humanidade, que devemos usar e não abusar do ouro, dos bens terrenos. Eles poderão ser muito úteis, mas desde quando venham a servir para enxugar lágrimas e confortar corações em desespero. Todos os vícios devem ser combatidos, todavia, o interesse pessoal não pode existir no coração que deseja amar, servir, compreender e perdoar.

Se estás a serviço do Cristo, no momento em que fores permutar as coisas santas, convida-O para participar e te aconselhar sobre como deve ser feita essa transação. Se a consciência não te deixar fazer esse convite pelo peso que nela existe, abre pelo menos o Evangelho e pede a ele opinião. Se já estás familiarizado com os livros espíritas, não precisas dessas consultas; oferta de graça o que de graça Deus está te dando, que o sol da paz começa a despontar em teu coração.


Miramez


Filosofia Espírita – Volume XVIII - João Nunes Maia
Cap. 28 - Interesse pessoal





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