A importância das intenções
(…) Ora, não credes que basta pronunciar algumas palavras para afastar os maus Espíritos; guardai-vos, sobretudo, de vos servirdes de uma dessas fórmulas banais, que se recita para desencargo de consciência; sua eficácia está na sinceridade do sentimento que a dita; está, sobretudo, na unanimidade da intenção (…)”. (Livro dos Médiuns - 2ª Parte. - Cap. XXXI, dissertação n° XVI.)
Abu Hamid Mohamed al-Ghazali, filósofo e teólogo muçulmano, nascido na Pérsia no século XI, escreveu: “Presta atenção, filho meu, e medita sobre as minhas palavras. Se soubesses que hoje viria visitar-te o soberano, que farias? Certamente te dedicarias ao requinte e à elegância, a fim de receberes com dignidade sua augusta presença. Usarias teu melhor vestuário, reorganizarias teus mais preciosos mobiliários, para que o soberano tudo observasse. Neste momento, ouve-me, meu filho, pois te considero suficientemente inteligente para interpretar minhas palavras: Deus não olha para os teus atos nem para a tua imagem externa. Deus apenas observa o teu coração e as tuas intenções“.
Somos vistos pela Divina Providência pelos “olhos do amor” e avaliados conforme nossas características distintivas, ou seja, nossa singularidade. O presente não é, simplesmente, uma cópia carbonada de fatos passados, e sim uma doação de novos aspectos a serem por nós incorporados. Cada dia nos concede uma visão ampliada da realidade. Somos, portanto, expressões individualizadas da Infinita Sabedoria. Ninguém é hoje a criatura que foi ontem.
O Poder da Vida, para julgar-nos, avalia o “nível de consciência” em que estamos estagiando no momento. Analisa a síntese das mensagens ou experiências que acumulamos através das diversas etapas evolutivas por onde transitamos em nossa jornada de almas imortais em busca de crescimento.
O grau de intencionalidade é um fator imprescindível na medição do nosso merecimento, principalmente em se tratando de auxílio ou socorro espiritual. Não podemos falar de forma efetiva em eficácia da prece, sem levarmos em conta a sinceridade e a intenção com que envolvemos nossos atos e atitudes
A Vida Providencial é sábia e justa e age em cada criatura de maneira dessemelhante, levando em conta sua individualidade. O agravamento das faltas ou dos erros é sempre proporcional ao conhecimento que se possui. Tanto é verdade que levou Paulo de Tarso a endereçar uma carta a Timóteo, na qual afirma: “(…) nosso Senhor, que me julgou fiel, tomando-me para o seu serviço, a mim que outrora era blasfemo, perseguidor e insolente. Mas obtive misericórdia, porque agi por ignorância, na incredulidade (…).”(1)
Como posso orar a Deus? De que maneira devo colocar-me diante do Senhor rogando proteção?
Descartando “(…) fórmulas banais, que se recita para desencargo de consciência (…)“, pois a eficácia da prece “(…) está na sinceridade do sentimento que a dita; está, sobretudo, na unanimidade da intenção (…)“.
Ora, a “sinceridade do sentimento” e a “unanimidade da intenção” têm tudo a ver com o grau de “maturidade da alma” ou de seu “estágio evolutivo”.
O amparo divino advém de nossa integridade. De nossa sinceridade ou honestidade para com nós mesmos. Da percepção de nossas intenções.
Em várias ocasiões, abrimos mão de nossa integridade, por diversos motivos. Na realidade, ser íntegro é viver a inteireza do Espírito, sem falsidade ou vergonha, jamais querendo mostrar aos outros algo que não somos. Nosso jeito de ser, muitas vezes, não condizia com os pontos de vista ou com os valores comuns de nossa família ou da sociedade a qual pertencíamos. Muitos de nós, durante grande parte da vida, podemos ter ocultado tudo aquilo que denominamos “nossos defeitos”.
Fizemos um julgamento precipitado sobre nós mesmos, sufocando nossa força vital, nossa sinceridade e naturalidade.
Mas, com o transcorrer dos anos, esses autojulgamentos inadequados podem ser corrigidos. Uma das graças que o tempo nos proporciona é a descoberta de que muitas das coisas que antes acreditávamos ser nossos pontos frágeis oportunamente se transformaram em pontos fortes, e outras tantas coisas que guardávamos como sendo valiosas acabaram por revelar-se pontos fracos. Sentimentos que durante anos não aceitávamos em nós, hoje são esteio e amparo para o nosso futuro. Se formos francos e honestos com nós mesmos, conseguiremos exalar uma “aura de integridade”, pois o crescimento espiritual acontece quando reconhecemos nossa realidade e os valores só nossos. “Quem vive de modo íntegro será salvo, mas quem se entorta em dois caminhos, num deles cairá“.(2)
Devemos ser fiéis ao que é importante para nós e sempre nos lembrar de como é ser inteiro. Como é sentir e chorar, tomar iniciativa e ter opinião própria. Não devemos deixar ninguém abalar nossas convicções, como também não tentar convencer outras pessoas a aceitarem nossos valores. O correto é respeitarmos a nossa realidade, bem como a dos outros; assim viveremos na paz que a integridade proporciona.
Amadurecer na generalidade pode significar reconhecer ou aceitar que todos nós temos os dois lados de todas as coisas. Temos atitudes de medo e coragem, de raiva e determinação, de egoísmo e generosidade, de fragilidade e consistência. Todas essas atitudes não se anulam mutuamente ou por si mesmas. Na verdade, elas nos exercitam a alcançar equilíbrio e respostas diante das dificuldades de nossa vida, dentro e fora de nós mesmos. Às vezes, a vulnerabilidade é o nosso poder: nossa raiva transforma-se em determinação e nosso estado depressivo pode ser o caminho para o reencontro com nossa integridade. Talvez esse modo de ver tenha levado Paulo de Tarso a dizer: “(…) Por conseguinte, com todo ânimo prefiro gloriar-me das minhas fraquezas, para que pouse sobre mim a força do Cristo. (…) Pois quando sou fraco, então é que eu sou forte”.(3)
“(…) Ora, não credes que basta pronunciar algumas palavras para afastar os maus Espíritos (…)“. O que atrairá vibrações positivas ou uma “aura de defesa” para todos nós será a sinceridade de nossas intenções.
A Misericórdia Divina jamais nega proteção a suas criaturas, mas esse amparo é sempre equivalente à expansão de nossa consciência, quer dizer, corresponde à nossa capacidade de discernir, avaliar e entender as leis naturais, dentro e fora de nós.
Hammed
(1) Timóteo, 1:12 e 13.
(2) Provérbios, 28:18
(3) II Coríntio, 12:9 e 10
Fonte: A imensidão dos sentidos -pdf
Nenhum comentário:
Postar um comentário