Joanna de Ângelis - Livro Psicologia da Gratidão - Divaldo P. Franco - Cap. 3 - Compromissos da Gratidão
Gratidão na família
Acreditava-se que, em razão do grande desenvolvimento das ciências aliadas ao contributo tecnológico, o ser humano conseguiria, por fim, a harmonia e o crescimento moral. Nunca houve tantas conquistas intelectuais e atividades de natureza cultural, com ampla gama de recreação como acontece hodiernamente.
O conforto e as facilidades oferecidas pelos instrumentos eletroeletrônicos facilitam a vida de bilhões de seres humanos, embora, lamentavelmente, grande fatia da humanidade ainda se encontre mergulhada na miséria, ou abaixo da linha da pobreza, conforme se estabeleceu, padecendo escassez de pão, de vestuário, de medicamento, de trabalho, de educação, de dignidade...
Jamais houve tantos divertimentos e técnicas de lazer, assim como facilidades para os relacionamentos, para a fraternidade, para a harmonia entre as pessoas. No entanto, não é o que ocorre na sociedade terrestre, na qual campeiam a solidão, a ansiedade e o medo em caráter pandêmico. As enfermidades, resultantes das somatizações dos distúrbios psicológicos, desgastam incontáveis números de vítimas que se lhes tombam inermes nas malhas constritoras. É assustador o número dos transtornos de comportamento na área da afetividade, das doenças cardiovasculares, do câncer, apenas para citar algumas doenças mais assustadoras.
Desconfiado, em razão do medo que se lhe instala na emoção, o novo ser humano superconfortado refugia-se na solidão, mantendo comunicação com as demais pessoas por intermédio dos recursos virtuais evitando o saudável contato corporal enriquecedor.
Os padrões ético-morais, em consequência, alteraram completamente as suas formulações e o vale-tudo assumiu-lhes o lugar, no qual tem prioridade o cinismo, o deboche, o despudor, a astúcia. A ânsia pela aquisição da fama amesquinha esse indivíduo intelectualizado mas não moralizado, e inspira-o à assunção de qualquer conduta que o conduza ao estrelato, à posição top, conforme os infelizes conceitos estabelecidos por outros líderes não menos atormentados.
A moral, a dignidade, o bem proceder tornaram-se condutas esdruxulas, ultrapassados pelos expertos das fantasias do erotismo e da insensatez.
É necessário destacar-se no grupo social, ser motivo de admiração e de inveja, planar nas alturas, ser inacessível, estar cercado de admiradores e uma corte de bajuladores que detestam os ídolos que parecem admirar, lamentando não estarem no lugar deles, que os tratam com desdém e enfado...
No início, submetem-se a todas as exigências da futilidade para chamarem a atenção, e quando se tornam conhecidos, ocultam-se atrás de óculos escuros, perucas, fogem pelas portas dos fundos dos hotéis, a fim de se livrarem dos fanáticos que os aplaudem até o momento em que surgem outros mais alucinados e exóticos...
A anorexia e a bulimia instala-se na juventude ansiosa que se submete aos absurdos programas de emagrecimento para conquistar a beleza física, recorrendo aos anabolizantes, aos implantes, às cirurgias perigosas, numa luta intérmina para alcançar as metas estabelecidas.
Nesse báratro, a família esfacelou-se, a comunhão doméstica transtornou-se, a sombra coletiva passou a dominar o santuário do lar e a desagregação substituiu a união.
Mães emocionalmente enfermas e imaturas disputam com as filhas os namorados, repetindo a tragédia de Electra, e pais saturados de gozo entregam-se ao adultério como forma de destaque no grupo social que os elege como dignos de admiração.
O desrespeito campeia, originando-se nos genitores que consideram a prole uma carga que lhes dificulta a mobilidade nas áreas insensatas do prazer ou como forma narcisista de exibição, aguardando que deem continuidade aos seus disparates ou expondo-a, desde muito cedo, em caricaturas de adultos nos programas de TV e de rádio, de teatro e de cinema, em lamentáveis processos de transferência frustrante dos próprios fracassos.
O ego destaca-se, perverso em todos os cometimentos, e a ingratidão assinala a maneira de ser de cada um. Pensa-se exclusivamente no interesse pessoal, embora a prejuízo dos outros, e a competição desleal esfacela os relacionamentos, que se assinalam, com raríssimas exceções, trabalhados pela hipocrisia e pela animosidade mal disfarçada.
Nesse comenos, a traição, o descaso por aqueles que auxiliaram no começo da jornada, a ingratidão manifestam-se em escala assustadora.
A ingratidão, porém, é doença da alma que necessita de urgente tratamento nas suas nascentes.
O ingrato é alguém que perdeu o endereço da felicidade e, aturdido, deambula por caminhos equivocados.
Ninguém nasce grato, nem consegue a gratidão de um salto.
Aprende-se gratidão mediante a prática, que deve ser iniciada na família, essa sociedade em miniatura, onde a afetividade manifesta-se com naturalidade.
A família não é apenas o grupamento doméstico, mas a reunião de Espíritos reencarnados com programa de evolução espiritual adrede estabelecido.
Perante a condição imposta pelas leis da vida, quase sempre não se possui a família na qual muito se gostaria de estar incluso, aquela constituída por pessoas afáveis e generosas, mas o renascimento dá-se ao lado dos Espíritos que se necessitam uns aos outros para o mister da evolução.
Muitas vezes, alguns núcleos familiares transformam--se em praças de guerra em contínuos combates, nos quais cada um reage contra o outro ou detesta-o, longe do compromisso de reabilitação e de identificação pessoal.
Certamente, é nesse difícil reduto que o Espírito deverá desenvolver-se, transformar os maus em bons sentimentos, exercitando a fraternidade e a gratidão.
Conseguir a prática da gratidão em relação aos familiares hostis constitui um desafio à sombra pessoal dominante no clã...
Nem sempre se conseguirá o melhor resultado, no entanto, criado o hábito de compreender o outro, tendo-o na condição de enfermo ou necessitado, transforma-se em método eficaz para o desiderato.
Quando se enfrentam obstáculos mais graves, mais amplas conquistas se assinalam, após vencidos.
No lar, essas dificuldades devem facultar o sentimento de gratidão pela oportunidade de ressarcir débitos anteriormente adquiridos, desenvolver a paciência, exercitar a tolerância e a compaixão, aprimorando o Self.
Do lar, os sentimentos de amizade e de compreensão distendem-se na direção da sociedade, que é a grande família na qual todos deverão unir-se para a construção da felicidade coletiva.
Quando, por acaso, os desafios apresentem-se quase insuportáveis, um poema de alegria deve ser entoado no íntimo daquele que se empenha pelo triunfo, aceitando as circunstâncias, às vezes perversas, alterando-as, uma a uma, para melhor.
Lutas desse porte elevam o ser humano à condição enobrecida de criatura integral, ajudando-a a desenvolver o deus interno, que necessita dos estímulos fortes, tanto interiores quanto externos para romper o casulo do ego e insculpir-se no Self.
Para o sucesso do empreendimento, o amor e a gratidão constituem as forças dinâmicas ao alcance do lutador.
Não existe ninguém que seja impermeável ao amor, a um gesto de bondade, à gratidão sincera.
Uma família gentil e harmônica, e existem incontáveis que o são, já é, em si mesma, um hino de louvor, de gratidão à vida. Mas aquela que é turbulenta e trabalhosa transforma-se no teste de resistência ao mal e a porta que se abre ao bem, aproveitando os inestimáveis valores oferecidos pela ciência assim como as bênçãos da tecnologia para instaurar na Terra, desde hoje, os pródromos do mundo melhor de amanhã.
Nenhuma sombra individual e coletiva que foi construída ao longo do processo evolutivo sobrevive antes se integra mediante a gratidão no eixo do Self em equilíbrio.
Os resultados inevitáveis dessa conquista logo se manifestam: cura dos desajustes e das doenças, surgimento da saúde integral, da alegria de viver, do bem-estar, conquista do numinoso. A gratidão no lar anula o individualismo egoico, preservando a individualidade que alcançará a individuação.
Joanna de Ângelis
Fonte: Psicologia da Gratidão-pdf
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