Espírito Gabriel - Livro Gabriel - Mensagens familiares - Chico Xavier / Elias Barbosa - Cap. 1
Chorar, sim, mas de alegria
Meu querido pai, minha querida mãe, renovo minhas preces a Deus, rogando para que a bênção da paz esteja conosco.
Estou aqui tentando manifestar-me. Não é fácil. Pelo menos por agora, não tenho recursos para exprimir-me com o desenvolvimento que desejava.
Muitas vezes, li mensagens de amigos desencarnados que se declaravam auxiliados na grafia das notícias enviadas para os entes queridos e hoje estou na mesma situação.
Não sei se posso exteriorizar o que sinto. As palavras são feitas para imagens já positivamente conhecidas e aceitas pelo senso geral.
E agora o mundo em que me vejo, a dentro de mim, está renovado na base de emoções e sensações que os conceitos terrestres não conseguem definir.
Perdoem-me se escrevo de maneira insatisfatória. Não há outra saída. E preciso rogar-lhes serenidade no íntimo da alma, tanto quanto já conseguimos aparentar calma por fora.
Compreendo, pais queridos, somos como somos, caminhando para o que nos cabe ser. (1) Venho pedir-lhes me auxiliem com os pensamentos de real aceitação.
As lágrimas que ocultam de um para o outro, as indagações que formulam a sós, com o receio de se ferirem na fé que nos alimenta chegam a mim, de modo claro e indescritível.
Existe um fio mental entre os que se amam profundamente, ligando os assuntos da vida, tanto quanto a se estenderem para o Além, sobre as barreiras da morte.
Sei quanto interpelam os poderes que nos governam sobre a nossa inesperada separação e ouço-lhes as perguntas e as observações, quando se isolam um do outro para buscar-me a lembrança, seja numa foto ou numa página escrita, nesse ou naquele contato, nessa ou naquela recordação.
Agradeço o apoio que me oferecem, porque sem meus pais queridos ignoro o que teria sido de mim, entretanto, rogo-lhes paciência e coragem.
Não admitiam pudesse alguém evitar aquele assalto violento das forças enfermiças que me separaram do corpo. Aquela indisposição que parecia ligeira tomou vulto de repente.
Quando papai se esforçou para que me expressasse ou dialogasse com mais ânimo, notei que esmorecia. Minhas sensações por dentro de mim estavam intactas. Ouvia tudo o que se falava em derredor de meu leito.
Reconheci que me transportavam para socorro no rumo do amparo hospitalar, no entanto, a pouco e pouco, entrei num sono profundo de que não podia me desvencilhar. Quanto tempo estive assim, não sei ainda.
Minha memória abrange apenas a metade das horas claras do dia, naquela quinta-feira de luta… O resto ainda não sei, a não ser que acordei numa sala de tratamento com a cabeça enfaixada.
Chamei por meu pai, por minha mãe, pedi o apoio de alguém que me esclarecesse sobre as ocorrências de que não tinha consciência, mas um enfermeiro me advertiu que fora cirurgiado por um médico, o doutor Mário Gatti. (2) Lembrei-me de que esse benfeitor já não era da Terra e asserenei-me quanto pude.
Um pouco mais tarde, tomei contato com o amigo da medicina que me amparava, além do outro benfeitor que se identificou como sendo outro médico, o doutor Guilherme da Silva. (3)
Aconselharam-me. Esclareceram-me que a meningite fora patente em meu caso, com todo o seu impacto fulminativo, entretanto, além disso, trazia em meu cérebro estruturas complexas que haviam exigido trabalho operatório.
Melhorei, gradativamente, no entanto, à medida que me normalizava passei a escutar mamãe a chorar e chamar-me…
Com os dias, ouvi mais e escutei meu querido pai articulando ideias e frases tristes. Peço-lhes. Quanto possível, lembrem-me trabalhando e estudando a vida.
Não há morte. A existência na Terra é uma internação em estabelecimento de ensino. Somos aí professores e alunos uns dos outros. O horário da escola é igual para todos no mesmo universo de minutos para cada um, e o corpo, obedecendo às mesmas leis de formação nos vários climas do mundo, é uma espécie de uniforme identificando a condição temporária de todas as criaturas.
Papai, alegre-se e recorde-me aprendendo ao seu lado.
Mamãe, regozije-se e memorize a nossa união e a nossa felicidade no lar.
Quanto puderem, ajudem-me com pensamentos de fé e segurança, otimismo e elevação. Chorar, sim, mas de alegria, para agradecer a Deus o que temos recebido.
Estou apenas em outro educandário, onde vou retomando o meu curso de conhecimento superior, no qual progrido dificilmente, porque as emoções me prendem às aflições em casa.
Amigos daqui, como sejam Marcondes, Servílio, Souza (4) e tantos outros me abrem portas abençoadas às novas lições em que vou tomando maiores contatos com a vida e comigo mesmo.
Digam à Therezinha, ao João Batista, ao Doutor Wilson, ao Nicolau, ao Alcides, ao Tamassía (5) e aos nossos companheiros de estudo que eles todos estão no caminho certo. É preciso estudar mais para servir melhor. Aqui, a luta construtiva é sempre mais bela. E com essa luta desejo preparar-me a fim de ser útil.
Dos familiares queridos, duas irmãs me visitam e me auxiliam sempre que podem, nossa irmã Josefa e nossa irmã Isabel. (6)
Espero melhorar faculdades e recuperar sentidos obliterados pelas recordações mais intensas do corpo, a fim de elevar o meu singelo campo de ação.
Peco-lhes. Não creiam fossem meus queridos pais talvez exigentes comigo nos processos de educação. Sou feliz, buscando a felicidade que me doaram pelos exemplos, pelo carinho, pelo apoio e pela dedicação.
A saudade é um espinho a ferir-me, mas com a bênção de nossa união e paz em família, melhorarei cada vez mais, a fim de sermos cada vez mais felizes.
Papai querido e querida mamãe, a força termina no lápis, assim como se apaga um engenho não mais sustentado pelo mesmo padrão de energia.
Não estou cansado, mas o tempo e os recursos do intercâmbio estão para mim esgotados.
Continuem orando por mim. (7) A prece por nós, que estamos deste outro lado é uma luz que nos clareia e um calor abençoado que nos reaquece. Por ela sabemos com mais certeza que o nosso amor nunca morre.
Beijo-lhes as mãos queridas e despeço-me no papel de modo a continuar em nosso diálogo, de coração a coração.
Pais queridos, recebam o abraço iluminado de carinho e saudade, de devotamento e gratidão, com todo o amor do filho reconhecido, sempre é cada vez mais reconhecido,
Gabrielzinho
Gabriel Casemiro Espejo
(1) “Compreendo, pais queridos, somos como somos, caminhando para o que nos cabe ser.” Poderosa síntese do que se encontra na resposta à questão 540 de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec.
(2) “…um enfermeiro me advertiu que fora cirurgiado por um médico, o doutor Mário Gatti.” Trata-se do médico cirurgião, benfeitor sem precedentes, com larga folha de serviços profissionais em prol das classes economicamente menos favorecidas. Nasceu na Itália, a 1º fevereiro de 1879, e desencarnou em Campinas (SP), a 3 de março de 1964.
(3) “…outro benfeitor que se identificou como sendo outro médico, o doutor Guilherme da Silva.” Eminente médico sanitarista, verdadeiro luminar da ciência médica pelos serviços que prestou durante as epidemias de febre amarela que assaltaram Campinas, pelos idos de 1889. Em sua homenagem, há uma rua em Campinas (SP), com o seu nome. Nasceu no Rio de Janeiro, a 2 de dezembro de 1855, e desencarnou em Campinas, aos 14 de julho de 1912.
(4) “Amigos daqui, como sejam Marcondes, Servílio, Souza e tantos outros me abrem portas abençoadas às novas lições em que vou tomando maiores contatos com a vida e comigo mesmo.”
a) Marcondes: Gustavo Zanardine Marcondes nasceu em Palmeiras, Estado do Paraná, a 7 de dezembro de 1900 e desencarnou em Campinas (SP), a 26 de agosto de 1968. Batalhador, idealizador e orientador incansável da Causa Espírita. Desenvolveu durante toda a sua vida, um trabalho de renúncia e amor, deixando à posteridade um lastro de obras assistenciais. Gabrielzinho não o conheceu, pessoalmente.
b) Servílio: Servílio Marrone nasceu em Campinas, a 26 de abril de 1912, aí desencarnando a 4 de janeiro de 1955. Espírita dedicadíssimo, ministrava aulas de Evangelho aos jovens da Mocidade Espírita Allan Kardec e se entregava com devotamento e abnegação ao trabalho de passes nas casas das pessoas enfermas. Foi, juntamente com Gustavo Marcondes, um dos fundadores do Centro Espírita Allan Kardec, no qual ocupava o cargo de Secretário, até o dia de sua desencarnação. Colaborou, também, na construção do prédio próprio do Centro. Mais adiante, no Capítulo 5, o leitor encontrará mais informes sobre esses dois seareiros do Espiritismo Cristão.
c) Souza: Doutor Joaquim de Souza Ribeiro nasceu em Caetetê, Estado da Bahia, a 9 de janeiro de 1884, desencarnando em Campinas, a 18 de janeiro de 1956. Poeta, Médico homeopata e Dentista. Espírita combativo, de convicções profundas. Sua vida foi inteiramente dedicada à difusão da Doutrina Espírita.
(5) “Digam à Therezinha, ao João Batista, ao Doutor Wilson, ao Nicolau, ao Alcides, ao Tamassía e aos nossos companheiros de estudo que eles todos estão no caminho certo.”
a) Therezinha: Therezinha de Oliveira. Oradora e Conferencista espírita. Diretora do Centro Espírita Allan Kardec de Campinas, com sede na Rua Irmã Serafina, nº 674, e membro da Comissão Diretora do jornal Alavanca, de propriedade da U.M.E. de Campinas. Reside na Rua Marechal Deodoro, nº 865 — Campinas — SP.
b) João Batista: João Batista de Sá. Radialista, Jornalista e Historiador, utilizando-se do pseudônimo de Jolumá Brito. É o redator responsável do jornal Alavanca. Residente em Campinas, na Rua Maria Monteiro, nº 596. Gabrielzinho não o conheceu, pessoalmente.
c) Doutor Wilson: Doutor Wilson Ferreira de Mello. Médico Clínico e Psiquiatra. Orador e Conferencista espírita de renome nacional. Residente em Campinas, na Rua Antônio Lapa, nº 27. Gabrielzinho gostava de assistir às suas palestras evangélicas.
d) Nicolau: Nicolau Consôli. Assíduo colaborador e membro da Comissão Diretora do jornal Alavanca. Residente na cidade de Amparo (SP), na Rua General Câmara, nº 92.
e) Alcides: Alcides Hortêncio. Colaborador e membro da Comissão Diretora do jornal Alavanca. Residente em Mogi Mirim (SP), na Rua 13 de Maio, nº 89.
f) Tamassía: Doutor Mário Boari Tamassía. Jornalista e Escritor. Profundo conhecedor da literatura espírita e autor de diversos livros. Colaborador do jornal Correio Popular, com artigos de índole filosófica. Residente em Campinas, na Avenida José S. Campos, nº 116.
g) Nossos companheiros de estudo: Na residência do casal José Roberto Checchia/Julieta — Rua Assis, nº 40 — Campinas (SP), além de outros casais amigos, constituíram um grupo de estudos espíritas, onde quinzenalmente, aos sábados, se reuniam.
(6) “Dos familiares queridos, duas irmãs me visitam e me auxiliam sempre que podem, nossa irmã Josefa e nossa irmã Isabel.”
a) Josefa: Josefa Balançoela Espejo. Parentesco distante, tia por parte do pai. Desencarnou em Estrela D’Oeste (SP), em 1968. Gabrielzinho não a conheceu, pessoalmente.
b) Isabel: Isabel Gualda Mancilla. Parente distante, tia por parte da genitora. Desencarnou em Neves Paulista (SP), em 1971. Gabrielzinho chegou, pessoalmente, a conhece-la.
(7) “Continuem orando por mim. / A prece por nós, que estamos deste outro lado é uma luz que nos clareia e um calor abençoado que nos reaquece.” Trecho absolutamente concorde com toda a obra de Allan Kardec e as duas centenas de livros recebidos pelo médium Francisco Cândido Xavier.
Depois de tantas evidências da Imortalidade da Alma, resta-nos, por agora, elevarmos o pensamento a Deus e agradecer-Lhe por nos ter permitido descesse, um dia, Jesus à Terra, e ao Divino Mestre, por nos enviar, depois, através de Allan Kardec, o Espiritismo, doutrina abençoada que conosco ficará para sempre, junto de todos nós, os filhos de Deus, co-criadores a colaborar com o Pai de Misericórdia e Justiça, na Grande Obra da Criação Infinita.
Nenhum comentário:
Postar um comentário