Miramez - Livro Francisco de Assis - João Nunes Maia - Cap. 8
Simbiose Divina
"O amor cobre todas as transgressões". Provérbios, 10:12.
"O amor cobre a multidão de pecados ". I Pedro, 4:8.
Deus, a Suprema Inteligência do Universo, periodicamente fracciona Seu magnânimo Amor, enviando para a paz dos Seus filhos, qualificados mensageiros. Desta feita, enviou aquele que fez parte do colégio apostolar de Jesus: João, aquele que na ilha de Patmos mapeou os últimos acontecimentos do planeta, no mais profundo simbolismo jamais visto no mundo, como sendo os fins dos tempos da decadência.
O espírito João Evangelista, em alta madrugada, adentrou a nave de descanso dos Bernardone. Sua futura mãe dormia serenamente, qual um Anjo, viajando nos espaços infinitos. Ele desceu suavemente no clima sagrado do templo do sono, contemplou a rica senhora e beijou a sua fronte com respeito e carinho. O corpo da senhora Bernardone estremeceu e em um átimo de segundo, a elegante mulher apressou-se em tomar o corpo, no que logo foi impedida pelas circunstâncias.
Jarla, a companheira inseparável da senhora, quis entrar no recinto: todavia, desnorteou-se, sem que encontrasse a mansão, e ficou perambulando por Assis, sem entender o porquê da sua perturbação. Maria Picallini, ao avistar aquela esplêndida figura espiritual dentro do seu quarto, não teve dúvidas de que se tratava daquele com o qual havia sonhado muitas vezes. Tomou-lhe as mãos delicadas e fartas de luz, beijando-as com toda a amabilidade. Quis ajoelhar-se, porém, João não consentiu fazendo com que se levantasse à meia quebra dos joelhos. Segurou-lhe mãos entre as suas, e assentaram-se os dois na forma oriental, por sobre um tapete persa que enfeitava o quarto. João falou com doçura:
- Minha irmã, que a paz de Jesus Cristo seja em teu coração, e te faça dentre mulheres uma mãe, e que seja minha, por graça da vida! A minha gratidão nunca faltará, por esse teu gesto de amor; agradeceria poder nascer por teu intermédio. Não sou Anjo como pensas, nem santo, como divagas em pensamento. Sou, sim, teu irmão em Jesus, querendo acertar naquilo com que me comprometi com os maiores da espiritualidade.
Lágrimas brotavam nos grandes olhos da mulher escolhida e o ímpeto de falar era tanto, que quis, em brados, agradecer a Deus; nisso, dois dedos selaram seus rubros lábios, dizendo:
- Espera um pouco e ouve a quem precisa te falar... Se aceitares a minha chegada pelos canais da vida, selarás um compromisso com alguém maior do que nós na Terra, e talvez por isso sofras vexames, desprezo, maledicência, pois virás a ser instrumento de grandes acontecimentos; todavia, se souberes, encontrarás consolo na força do perdão, na tolerância e no amor. Quando atormentada, procura o Cristo no silêncio da prece. Estimula a fé, e nunca te esqueças de que Deus não abandona a ninguém, principalmente a quem serve de meio para iluminação da humanidade. Procura lembrar do Sermão da Montanha, de Jesus Cristo, recorda as bem-aventuranças, e vive dentro destes preceitos, que serás livre de todo o mal e consolada em todos os transes difíceis...
O teu consentimento significa o selo da nossa união, em nome de Deus e do nosso Mestre. João silenciou-se, esperando que a senhora Bernardone ordenasse seus pensamentos, e decidisse, por ela mesma, o compromisso apresentado. Ela, chorando de alegria, fitou os olhos do seu futuro filho e disse com dignidade:
- Não sou dona de mim mesma, quando se trata da vontade do Mestre. E bom que se cumpra a vontade dos céus e não a minha, e, se isso depende do meu sim, já está dado pelo coração. A felicidade e a honra são toda nossa. Saberei, emissário dos céus, ficar imune a todos os ataques das ordens inferiores, e creio que a tua ajuda não vai me faltar. O coração não me enganou, pois por inspiração já sei de quem se trata. Que Deus me ajude a compreender os meus deveres diante de tão relevante tarefa no mundo! Sim, serás meu filho!
O ambiente estava perfumado, e a cada suave estalo de flor diferente que surgia, um aroma embriagador recendia no quarto espiritual da mansão... Pedro Bernardone chegou tarde da noite, e antes de dormir deu-se, com uma ligeira ginástica e com um banho frio, um susto nos nervos, para que o sono não tivesse interrupção. Deitou-se e, em poucos minutos, conciliava o sono. Nesse estado, passou ao plano espiritual, onde os dois Espíritos, que dialogavam, invisíveis para ele, estavam a sua espera. João Evangelista abriu mentalmente o véu espiritual que separa um plano do outro, e eles surgiram sorrindo aos olhos de Pedro Bernardone.
Maria Picallini aproximou-se como o anjo da casa, para que ele pudesse entender. Ainda confuso, deixava transparecer pela sua aura estriada por coloração cinza e vermelho terra, o ciúme, fazendo despontar o ódio no seu coração. A muito usto e a contragosto, estendeu a mão, que João segurou com amabilidade, dizendo com alegria.
- Meu senhor, que Deus e Jesus Cristo façam do teu coração um tesouro do bem, que a riqueza espiritual do teu lar acompanhe a da Terra! Eu tenho muito prazer em vê-lo junto à tua esposa, cujas qualidades nos enriquecem os argumentos, em se falando do nosso Mestre. Não nos leves a mal por estarmos neste recinto sagrado às tuas aspirações, mas queremos falar-te ao coração, nesta noite que marcará o nosso destino na Terra. Esperamos que sejas bastante compreensivo ante o que vamos apresentar. Pedro permaneceu mudo, sem que pudesse articular uma só palavra, pois nada estava entendendo do assunto de que falava aquele senhor mais ou menos vestido de suave luz. Sua esposa, entendendo a gravidade do momento, aproximou-se mais dele, enlaçou o braço em sua cintura um tanto volumosa, falando com gentileza:
- Querido, este venerando senhor é um deus de prosperidade, aguardando nossa decisão, para que possamos nos enriquecer para Deus, na luz de Nosso Senhor Jesus Cristo! Bernardone mudou o semblante, caindo aos pés do apóstolo, beijando suas vestes, pedindo desculpas. E falou embaraçado:
- Não sei se é verdade, porém, penso que deve ser esse o Anjo de quem me falaste... e olhando a jovem senhora, que aprovara com um gesto, levantou-se e disse:
- Que queres de nós, que porventura não estejamos dispostos a fazer? Diz, venerando deus, que faremos o impossível! Nada há na Terra que o dinheiro não compre, e a nossa bolsa está constantemente recheada.
O teu pedido é uma ordem! Imponho, porém uma ressalva: se tratar-se de assunto de ordem moral ou doutrinária, teremos de consultar o vigário, que por certo não vai interpor-se, pois como ele, falas também em nome de Deus. O representante dos céus na Terra Precisa ser consultado, tu bem o sabes mais do que eu. Pedro lembrou-se logo do sacerdote de Espoleto, que mancomunava com suas ideias, esquecendo-se que ele já falecera num desastre. Nisto, o ambiente fê-lo silenciar. O apóstolo olhou serenamente para a senhora Bernardone, e esta, como Por encanto, surgiu com o seu Evangelho entre os dedos, dádiva primorosa do seu Padrinho. João imprimiu nele o olhar dotado de consciência, quando suas delicada s mãos o abriram, por força da necessidade, em Lucas, capítulo seis, versículos de trinta e nove a quarenta e cinco:
Propôs-lhes também uma parábola: Pode porventura um cego guiar outro cego? Não cairão ambos no barranco? O discípulo não está acima do seu mestre. Todo aquele, porém, que for bem instruído será como seu mestre. Por que vês o argueiro no olho do teu irmão, e não reparas a trave que está no teu próprio? Como poderás dizer a teu irmão, deixa irmão, que eu tire o argueiro do teu olho, não vendo tu mesmo a trave que está no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho e então verás claramente, para tirar o argueiro que está no olho do teu irmão. Não há árvore boa que dê mau fruto, nem tampouco árvore má que dê bom fruto. Porquanto cada árvore é conhecida pelo seu próprio fruto. Porque não se colhem figos de espinheiros, nem dos abrolhos se vindimam uvas. O homem bom, do bom tesouro do coração tira o bem, e o mau, do mau tesouro tira o mal. Porque a boca fala do que está cheio o coração.
Terminada a leitura, Pedro, antes afogado pela depressão, começou a sentir-se bem. Para não lhe ferir a susceptibilidade, não se fizeram comentários do trecho lido; contudo, ele ficou plantado na consciência do comerciante, para depois aparecer gradativamente no seu consciente, no estímulo de cada dia. Já alegre, perguntou ao discípulo do Cristo:
- Que queres de mim? Ao que João amavelmente respondeu:
- Que sejas meu pai! Desejo nascer neste lar; não obstante, sem a tua aquiescência, terei que procurar outro.
Pedro, sensibilizado, olhou para a esposa, que não retinha o pranto, e por incrível que pareça, chorou também, falando emocionado:
- Se depende de mim, meu Deus, faça-se a tua vontade, que seremos os teus escravos. Pelo que vejo, a minha esposa já aceitou, e eu o aceito igualmente. Desculpa-me pelo que pensei antes de ti; deves lembrar que sou homem, e como alma do mundo não consigo pureza, que só existe no céu. Perdoa-me, Senhor!... Perdoa-me! João, por força da condição espiritual do rico comerciante, não falou ainda das dificuldades que poderiam surgir com o seu ingresso na família. Bernardone aconchegava sua linda esposa nos seus fortes braços, dizendo-lhe:
- Sinto-me feliz quando encontro segurança na nossa união e que a paz de todos os deuses a mantenha para sempre! Tu és minha! Eu sou a árvore, tu és a flor e os frutos virão de nós!
E no afago do amor de Pedro Bernardone, João emitiu seu pensamento em busca de Jarla que, ainda confusa, procurava sua filha de leite e que, envolvida pela luz emitida por aquele pensamento, viu através dela, a mansão dos Bernardone e, rapidamente, chegou ao recinto. Assustada, colocava em ordem seus pensamentos, e as boas maneiras fizeram com que ela humedecesse. Nisto, a dona da mansão desprendeu-se dos braços do marido, e buscou-a dizendo:
- Jarla!... Jarla!... Por que demoraste tanto? Sabe quem é este? Antes de responder, a serva pediu licença e beijou as mãos do emissário do Amor dizendo:
- Sei... É o nosso Anjo, que será o filho amado deste lar, ao qual pertenço por misericórdia divina. Mesmo na condição em que me encontro, se Deus permitir, quero ter participação na vinda desta Alma de Assis, para a felicidade do nosso povo, para fazer florescer em cada alma a esperança de uma vida melhor!
As duas mulheres derramavam copiosas lágrimas, nascidas da fonte mais profunda do ser, que a alegria pura fazia brotar. O Vidente de Patmos, dando alguns passos no amplo salão, lembrava um sol de primeira grandeza, fazendo girar um turbilhão de estrelas menores, pela estupenda quantidade de fluidos interligados em sua magnânima personalidade. Cada fracção fluídica brilhava como que provida de inteligência, e o colorido desnorteava qualquer raciocínio.
João, naquela hora, sentiu amor mais profundo pela humanidade, e um prazer imenso pela abertura da sua tarefa na Terra, por intermédio dos Bernardone. Se quisesse, poderia nascer por imposição; todavia, queria entrar na argamassa da carne pelo Amor que não impõe, que não oprime, que não desrespeita, que não invade. O próprio Amor exalta a justiça, e se era um enviado das qualidades evangélicas, se era uma carta de Jesus à humanidade, no envelope do corpo físico, como proceder para entrar naquela casa? Bater suavemente na porta, pedindo licença para entrar, com humildade, fazendo-se o menor de todos, para exaltação dos valores imortais dos preceitos do Cristo.
Parou um pouco seu lúcido argumento mental, olhou para Jarla, transfigurada de contentamento, e disse-lhe:
- Minha filha, preciso também da uma aquiescência, pois será para todos nós, uma peça valiosa no esquema do Amor que não tem fronteira, do Amor que cobre todas as transgressões, como afirma o provérbio, do Amor que cobre a multidão de Pecados, como exalta Pedro. A nossa missão, a ser iniciada nesta casa, terá como base este Amor, que Cristo nos ensinou com o exemplo, através do qual vamos dar a nossa cota em favor da paz na Terra.
Jarla bebeu o néctar da palavra do discípulo do Messias, e este aguardou a resposta.
Decidida, ela falou com entusiasmo:
- O meu sim, digno ancião, já foi dado pelos meus senhores. Sou serva, e o sou mais ainda da vontade de Deus, nosso Criador incriado. Para mim, será o maior prazer servir-te, ainda que seja apenas de companhia, nos primeiros dias de juventude. No mais, o que poderás tirar desta que nada tem para dar? Sim!... que meu peito possa ser o coxim, em que possas repousar a cabecinha divina, no que sentirei o maior prazer. Permita-me beijar teus pés, reconhecida que estou pela honraria concedida a quem ainda não se encontrou!
Dobrou a cerviz com humildade, o que João não aceitou: erguendo-a, tocou com os lábios a sua fronte, com profundo respeito e carinho, chancelando, assim, mais um compromisso de luz para espancar as trevas da Terra.
Pedro Bernardone acordou assustado, meio confuso, sem que pudesse recordar na íntegra o sonho que tivera, e naquele embaraço chamou a sua mulher insistentemente.
Ela, abrindo os olhos como se fossem dois faróis brilhando de contentamento, trouxe à sua retina a quase perfeita reprodução do ocorrido no plano espiritual; acordou feliz, lembrando-se de quase todos os detalhes. Ainda confuso, Pedro falou:
- Mulher, queira Deus que seja verdade, parece-me que fui ao céu. Será que foi o vigário que morreu, que veio me buscar? Ele era um santo, as suas ideias eram iguaizinhas às minhas. Entendia as coisas como deveriam ser... Que pena ter morrido naquele desastre! Mas, foi para o céu, e pareceu-me ter conversado comigo em sonho; e, se não me falha a memória, tu e a Jarla também estavam lá. Que coisa linda... Que beleza!... Graças a Deus eu fui bom para ele e com certeza este encontro foi a retribuição, gratidão de um coração muito mais que bom, pois era compreensivo e justo.
Sorrindo, a jovem senhora disse com ênfase:
- Pedro, meu querido, eu também me lembro deste sonho, do qual felizmente participei. No entanto, te enganas com referência ao vigário de Espoleto; não era ele.
Pedro assustou-se, e retorquiu:
- Quem era então?
Pica falou com uma clareza indelével sobre o encontro no plano espiritual, e o marido começou a lembrar-se com mais detalhes, inclusive da figura respeitável do Apóstolo.
- Ah!... Ah!... Admira-se o senhor. Então foi o deus da prosperidade! E mesmo, foi o deus da prosperidade que veio nos visitar, o que quer dizer que tudo para nós correrá às mil maravilhas. Graças!... graças!... que sejam muitas as graças!
E a senhora Bernardone continuou, com vivacidade e encanto, nas suas descrições:
- E ainda tem mais, Pedro; vê se lembras que ele nos pediu o lar, para nele pudesse nascer. E nós aceitamos, para que a nossa alegria seja completa!
Pedro tomou a palavra, argumentando:
- Minha querida, como pode um deus nascer no mundo, sem que as profecias antes o anunciem? Ela se apressou em responder:
- As profecias servem, meu querido, para remover as dúvidas de quem as tem. No caso deste Anjo que já compartilha conosco esta casa, a sua missão também é outra; não é a de revelar o desconhecido, e sim, a de reviver a maravilha de que o povo já certificou a eficácia: ensinar e viver o Amor, a Humildade, o Perdão, a Obediência...
Com suas emoções já modificadas, Pedro deu um sorriso. Invadido por uma sensação de amor sublimado, envolveu nos braços sua linda senhora, não deixou que ela falasse mais nada, selando seus lábios, e fazendo com que seus olhos fechassem os dela, na mais elevada troca de valores entre os dois planos, divino e humano.
O diretor espiritual de Assis, juntamente com o de Roma, e demais outras caravanas, se postaram ao derredor da mansão, limpando o ambiente e policiando a região em que o figurante principal, João Evangelista, se preparava para ligar os primeiros laços na microvida dos gametas...
João, sozinho enquanto espírito, acionou com respeito sua poderosa mente, aproveitando as emoções físicas da sua futura mãe. Fez desprender um tipo de fluido que, pelo género, denotava o poder energético de higienização, que se transfundiu nas auras dos seus futuros progenitores. Escutaram-se pequenos estalos, como se algo invisível estivesse se queimando, mais acentuadamente no campo áurico de Pedro. Intuitivamente, João buscou algo nos ares com as mãos que esparziam luzes, acomodando entre os dedos uma massa inquieta, porém dócil ao seu comando mental! Fez com que o sistema nervoso da jovem senhora crescesse a seus olhos, pelo poder do pensamento, e intrometo aquela força vital no trajeto neuropsíquico, e essa energia singular rompeu as estruturas das células, sem obedecer às suas diversidades morfológicas. O prolongamento dos neurónios também foram visitados com a mesma complacência daquela bênção ordenadora, rodopiando essa profusão de fluidos nos axónios, dando a eles mais essa responsabilidade, a da devida irrigação automática, em conexão com outros prolongamentos, para que os endritos conseguissem plasmar nos núcleos, o agente intromissor.
Esperou um pouco, e viu toda a unidade celular enriquecer-se vivamente, pelo fenómeno do metabolismo. Com muito cuidado, procurou observar a irrigação sanguínea da senhora Bernardone. Seus olhos eram como poderoso microscópio, que cavam o cérebro, parando demoradamente no córtex, dando alguns toques neste O espiritual da alma. Ampliava as glândulas pineal e pituitária, revestindo-as de um tipo de protoplasma que foge à nossa análise. Concentrava-se nas células motoras da medula. Estas se apresentavam como pratos vivos e disformes, conexas umas com milhões de outras, por filetes luminosos, que se espraiavam por todo o cérebro. Deu os últimos retoques nos centros de força e, aliviado, respirou profundamente, sem que o ato físico do casal passasse pela sua lúcida mente.
Fazia-se necessário que o Apóstolo tomasse cuidado com o sistema neuropsíquico espiritual de Maria Picallini. A mulher grávida passa a viver o mundo mental do reencarnante, e vice-versa; todavia, o que for mais evoluído pode se defender dos pensamentos e emoções que não se coadunem com a sua formação já alcançada. Mesmo assim, quando se trata da mãe colocada em esfera bem inferior à do futuro filho, os grandes enlevos mentais a colocarão em depressão, danificando, com a alta corrente de energia oriunda do filho, a rede nervosa, constituída de filamentos quase invisíveis. Perturbar-se-iam as grandes células motoras da medula, sendo atingidas até as que chegam a medir quatro micras, no seu volume aparentemente invisível, por lhes faltar a cromatina com mais abundância na capital celular.
Foram preparados com muito cuidado o córtex e as duas glândulas principais da cabeça da futura mãe, ocorrendo assim a adequação espiritual nos centros de força, por merecimento daquela mulher, que ia ser mãe de um grande astro espiritual, com liberdade de ação no campo da Terra. Neste caso, o carma de dona Maria não interviria, por tratar-se de um benefício em favor de toda a humanidade.
João Evangelista fixou seu olhar na matriz feminina, viu o campo sagrado regurgitado de milhões de microgametas, que avançavam como numa batalha em busca do mesmo ideal. O centro de formação da vida física, com suas protuberâncias, movimentava-se na forma do automatismo orgânico, dificultando assim aos agentes da vida, que procuravam sobreviver em lutas individuais, na conquista de seu objetivo, como os próprios homens o fazem, instintivamente!... Luzes circundavam cada um em particular, de acordo com a sua formação congénita, na unidade dos genes, com traços e pontos da hereditariedade. Mudava-se o que poderia ser mudado, pela alta posição da alma reencarnante; porém, muita coisa não é lícita mudar. A herança no campo biológico é um facto que, muitas vezes, atinge até o mundo emocional do espírito. Tudo isso obedece a uma grande área, na qual a relatividade domina. Este assunto ainda está por se completar, em se falando da Tena, porquanto, tanto a ciência quanto as cogitações filosóficas e religiosas são deficientes, nas suas abençoadas explicações.
A luz azul celeste predominava como aura de cada espermatozoide, estando a diferença em algumas aberturas, de onde o núcleo atingia as estrias áuricas, permitindo ao mentor espiritual escolher, com a sua alta sensibilidade, parte do centro de sua vida física. E o óvulo feminino, desprendido pelas correntes emocionais, encontrava seu par na mais completa afinidade morfológica, e se ajustavam dentro dos moldes planejados pela Lei e pela Justiça, pela Paz e pelo Amor. Eis porque todo homem tem algo de feminino e toda mulher carrega consigo muita coisa de masculino; tanto num como noutro afloram essas qualidades intrínsecas ao ser, por natureza congenital e pelo ambiente das circunstâncias. João ampliou o campo de disputa, de maneira exuberante. O espermatozoide tinha como campo de vida uma gelatina grossa, que dificultava a corrida dos bastonetes, cada um buscando ser o escolhido da princesa, que se encontrava à disposição do óvulo. Tocou-o e ele se motivou, ganhando a liderança. A sua luz ofuscou os outros que ainda não tinham perdido a esperança se do óvulo que se encontrava inundado de luz vermelha, já esmaecendo, para ganhar-lhe a gema na formação do ovo, parecendo um Sol a fundir-se com outro astro! Ao encontro dos dois agentes de vida física, deu-se uma pequena abertura do óvulo, pelas emoções conexas de forças que se completaram, e se esconderam um no outro, por bênção da vida, por bênção de Deus. E foi nesta hora suprema que se unificaram todos os valores dos genes da vida física, partindo sete tenuíssimos fios da alma iluminada de João Evangelista, atando-se em pontos quase invisíveis - mesmo aos grandes olhos espirituais - atingindo a unidade nuclear que podemos chamar de Pai, Filho e Espírito Santo, três forças que se dividem na formação de uma que se eterniza, para o esplendor da consciência. O discípulo de Jesus já estava ligado ao seu futuro corpo, em nome d'Aquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida.
A linda jovem Picallini acordou quando o Sol já se mostrava alto. Olhou para o lado, acostumada a cumprimentar seu esposo, mas este já tinha se levantado, e se encontrava na luta diária de seu comércio, animado e estourando de alegria, porque encontrara o deus da prosperidade, sendo essas as bênçãos que lhe faltavam, para que seu ouro bulisse com a inveja dos nobres. Cantarolando, ia aqui e ali, mas a sua mente não perdia a sequência dos detalhes do sonho, seu e da sua encantadora mulher. Jarla bateu à porta.
- Minha filha!... Posso?...
E uma voz grave, que parecia interligada em outras esferas, respondeu:
- Entra, Jarla... Bem-vinda sejas; temos muito o que falar! A serviçal, humilde e prestativa, interrogou:
- Que aconteceu? Até a essas horas no leito!... Não é esse o costume do meu coração, dormir demais...
Falava assim, devido à intimidade que tinha com a sua ama, que sorria com o gesto da grega, que tanto amava.
-Jarla!.. Puxa a banqueta e senta juntinho de mim, para que eu possa servir-me da tua companhia e escrever no teu coração um assunto de luz, que sobe à minha mente e começa a derramar-se em tomo de mim, como se fossem ideias subtis ou meditações imponderáveis. O que passou com você eu não sei, mas quero saber... Sonhaste esta noite?
Jarla, compreendendo, deu um largo sorriso - daqueles intermináveis, que quando os lábios voltam ao estado natural, a natureza interna dá prosseguimento à alegria - e falou com a voz trémula:
- Minha querida Pica, será que os deuses te abençoaram esta noite com a felicidade para nós, de que a humanidade vai desfrutar?
Nisto, as mãos das duas mulheres já se apertavam nervosamente, sentindo uma e outra o desenrolar do assunto, que mesmo invisível, explodia como realidade nos corações de quem tem olhos para ver. E a aia grega passou a narrar:
- Eu sonhei que estava perdida numa grande floresta, mas o interessante é que no meio dela havia muitas casas, que pareciam com as construções de Assis. Aproximei-me delas; nas ruas era aquele vai-e-vem de criaturas, que não pressentiam a minha presença. Eu gritava, gesticulava, pedia informação, mas não adiantava. E comecei a perambular, procurando a mansão, sem contudo encontrar, em um esforço vão. Depois de tanto andar, não me recordo o tempo, elevei-me nos espaços, pela vontade que tinha de ver as estrelas mais de perto e fiquei encantada com as belezas do infinito. Isto ficou muito gravado na minha mente. As estrelas não piscavam como as vemos cá da Terra, não obstante, pareciam-me grandes olhos com encantos indescritíveis que, intimamente, temia pensar que não fosse realidade. Naquela contemplação, derramava-se dentro do meu peito algo invisível, que meu coração agradecia com muitas lágrimas, antes que o raciocínio analisasse. Chorei, Pica, tanto de emoção quanto pela tua falta, para presenciar comigo as riquezas da criação de Deus, pelo que os homens, infelizmente, não se interessam.
Depois, por imposição de alguma força interior, ajoelhei-me, agradecendo a Deus, à Vida e ao Cristo. Mesmo em sonho, queria acordar para contar-te a aventura espiritual - em que a carne não se fez barreira - que palpitava viva dentro do meu coração. E, no transe da prece, fui banhada com uma luz encantadora e aconteceu um milagre: vi de pertinho o Anjo do teu coração e do nosso convívio a me chamar. Atraiu-me junto dele, acariciando-me como se fosse minha própria mãe, e o mais interessante é que estava dentro do teu quarto, onde conversava contigo e com o senhor Pedro. Quis beijar-lhe os pés, por sentir nele a paternidade: e ele, mansamente, acolheu-me com um sorriso de que não me esqueço até o momento, traduzindo todo o seu amor, e ainda mais, toda a sua missão junto a nós. Que os Céus me desculpem, mas esse é o verdadeiro Deus, que premiou Assis, e que o destino fez pousar na mansão dos Bernardone.
Interessante também é que ele, não sei porque, pediu-me para nascer com a minha ajuda!
Mas... que ajuda? Velha e serva, que condições tenho para ajudar a um deus?...
Abraçaram-se as duas mulheres, sufocadas de contentamento. E, com alegria, constataram ter sido aquela a noite que antecedeu ao dia vinte e cinco de dezembro, data festejada em todo o mundo cristão, como a do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo. Foi esta data que João Evangelista escolheu para atar seus laços na vida física, como Francisco Bernardone, sob as bênçãos do Mundo Maior!
O Natal de Jesus!... Quando fazia 1.181 anos que o Cristo se fizera visível na Terra, o Seu Discípulo do Amor crucificava-se na carne com sete amarras, que somente a morte física poderia desatar, quando o destino indicasse o tempo marcado pela Divindade, para que o Espírito voltasse à Pátria Espiritual. Enquanto o mundo cristão cantava hosanas, relembrando o momento histórico da vinda do Messias à Terra, o profeta de Patmos aproveitava o ambiente sublimado de paz, para ingressar na carne por intermédio da lei da reencarnação. E os duzentos discípulos adestrados nos mais requintados conceitos evangélicos, desciam igualmente das altas esferas em direção a vários pontos do globo, para também renascerem, com fidelidade total ao seu mestre.
Pedro Bernardone, certa noite, teve um sonho que ficou gravado com absoluta nitidez em sua consciência. Em estado sonambúlico e com ajuda espiritual, regrediu no tempo e no espaço, e relembrou sua reencarnação em Éfeso, na época em que João Evangelista mudara de nome, por conselho dos soldados romanos, por ter sido salvo da tacha de azeite quente. Naquela última noite em que falara na Igreja de Éfeso, despedindo-se da vida física, curou uma multidão de doentes, inclusive leprosos. Pedro Bernardone era um dos leprosos curados por Pai Francisco, e, eternamente agradecido, tomou-o por um deus ingressado na carne para salvação dos homens. O fato assinalou sobremaneira sua gratidão por esse Espírito e os mentores espirituais que o fizeram regredir, deixaram bem aflorada na sua consciência esta dívida para com João, de sorte que ele sentisse, por direito e justiça, o dever de abrir os braços àquele que viria ao mundo pelos canais físicos da família Bernardone.
Pedro Bernardone não se esquecia de Pai Francisco depois deste sonho, guardado em segredo por medo, pois se sentiu no corpo chagoso e fétido pela morfeia. No entanto, o nome de seu benfeitor ficara gravado no coração, com o maior respeito. E sempre dizia de si para consigo:
- Se porventura alguém vier a me chamar de pai, este alguém se chamará Francisco. E uma promessa que faço aos deuses que me ouvem! E, se eu pudesse escolher seu destino, queria que fosse um grande guerreiro, para conquistar terras, atravessar mares, ser famoso e ficar na história dentre os grandes da nossa querida Pátria!
Guardarei silêncio, que somente quebrarei no dia em que for pai!
Maria Picailini, durante a gravidez, como ocorre com quase todas as mulheres nesse período sagrado, teve vários sonhos com aquele que haveria de ser seu filho unigénito.
Durante um deles, percebeu com muita nitidez que seu futuro filho era o mesmo espírito vidente de Patmos, um daqueles figurantes do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, que ela amava enternecidamente: era João Evangelista. Quando acordou, narrou o sonho para sua aia de confiança, e as duas, em colóquio santo, tiveram a mesma ideia, falando Jarla em primeiro lugar:
- Patroa, por que não dar a esse Anjo que vai nascer o nome de João? Ele merece o nome do discípulo porque vai continuar o apostolado do Cristo, já que não temos mais dúvidas da sua grandiosa missão na Terra!
A mulher do rico comerciante sorriu e continuou:
- Tive o mesmo pensamento. Será João o seu nome. Todavia, quero que guardes segredo absoluto, pois o Evangelho nos adverte para não darmos coisas sagradas aos cães... E o que tem de mais sagrado para nós nesta casa, do que esse emissário de Deus, e o seu nome?
Jarla, contente, conclamou com entusiasmo:
- Que ele nasça com o Evangelho do Nazareno no coração! Que os seus pés andem em nome da paz e da caridade, e que sua cabeça viva, mesmo na Terra, em permanente céu de pureza!
O assunto das duas mulheres era sempre a criança que haveria de nascer. Dona Picallini, certo dia, buscando lembranças escondidas na consciência, acentuou:
- Jarla, minha filha, parece-nos que fomos contempladas com a graça de Deus, e presumo igualmente, que essa grande alegria seja prenúncio de desgraças eminentes. E necessário fortalecermos os corações e eu preciso muito de ti, pois tenho pressentimentos de testemunhos que não me cabem no coração e que a razão não suporta sem fé... A inspiração me fala que essa fé, sem a ajuda de um coração como o teu, formado em duras experiências e vivido em fecundas lutas, pode fraquejar em momentos de desespero! Tu já conseguiste muito crédito e a esperança, em ti, é fruto mais aflorado na árvore do teu ser. Talvez a ajuda que ele te pediu na memorável noite da decisão do seu nascimento fosse essa. Aliás, não tenho mais dúvidas sobre isso. Somente tu poderás ajudar-me no que preciso: carregar a minha cruz, quando esta pesar demais, ou, como fez o cireneu com Jesus, ajudar-me a carregá-la. Peço-te, em nome do teu amor para com os Céus, que não me abandones, pois que já pressinto fortes tempestades das trevas contra este - diz colocando as mãos no ventre - que é filho da luz.
A serva grega aproximou-se mais da senhora. Ajoelhou-se, pegou as suas mãos e as beijou ternamente, molhando-as de lágrimas, dizendo com a voz vibrante de alegria, de fé e de esperança:
- Confia em Deus, que fez o dia e a noite, o sol e a luz, as estrelas e o infinito. Confia, senhora, na Inteligência Suprema que criou a harmonia das coisas, que deu penas aos pássaros e o mundo das águas aos peixes; que faz crescer as ervas para alimento dos animais e que nos deu por misericórdia o ar, que, sobremodo, é vida para toda a Sua criação. Confia, senhora, n'Aquele que é o Senhor de todas as coisas, que ampara a criança e o velho, o santo e o sábio, os mendigos, os doentes, e até os assassinos e os ladrões. A Sua justiça magnânima nunca faltará dentro da grande casa universal!.
Dizia um grande filósofo grego: Conhece-te a ti mesmo. E Platão, nas ruas de Atenas, junto a um lago onde o mestre Sócrates confirmou que ele era seu verdadeiro discípulo, quando viu um cisne nadando, lembrou-se de um sonho e completou a máxima do seu preceptor, dizendo para sessenta jovens, seus alunos: "Quem conhece a si mesmo não tem medo, não alimenta raiva, não perde tempo em revides aos ofensores, não costuma mentir, não faz coleções de preocupações passageiras, não acaricia o ódio, não se enerva por simples notícias e não fala mal da vida alheia!... Para tudo e todos tem o mesmo estar, tem o mesmo amor."
Que queres mais, minha querida, em teu favor? A lei divina favorece muito mais os justos e os bons. Além do mais, esse que vai ser teu filho é um sol, e por onde passar não haverá sombras. Em plantio como esse que ele tomou para efetuar no mundo, o sofrimento que dele decorre toma-se bênçãos dos céus. Queira Deus que eu, em qualquer circunstância, possa dar a vida para que ele cresça cada vez mais, para a paz da humanidade. Dá graças aos Céus por teres sido escolhida dentre as mulheres de Assis, senão do mundo, para ser a mãe, por excelência, de um discípulo do Cristo, que por certo virá visitá-lo de vez em quando nos teus braços, e abençoar-te-á todo o ser, porque aceitaste a tarefa sem murmurar... Sou tua serva e o serei também dele, eternidade afora, sentindo o maior prazer em servi-lo. Aquilo que eu puder, darei com amor.
Pica conhecia os dotes de Jarla no tocante à fé e, por vezes, sabedoria, mas não pensava que eram tantos quanto demonstrou naquela conversação. Pensou um pouco e pediu à aia com brandura:
- Jarla, de hoje em diante não sou mais tua senhora; sou sim, a tua companheira. Sou também, e nisso tenho o maior prazer, a tua filha de leite e tu, minha mãe do coração, pois, além do alimento sagrado que verteu dos teus seios fecundos para alimentar o meu corpo, dá-me, depois que cresci, o leite do amor que Verte da tua alma iluminada para a minha, necessitada e faminta do pão da vida.
Aquele pão que foi enviado do céu e estará conosco para a eternidade, alimentando a quem o encontrar como tu, que descobriste o maior suprimento de todos os tempos, que é o Amor, a Fé e a Confiança em alguém que tudo pode, que tudo faz e que tudo governa. De hoje em diante, da minha parte considera-te livre, pois que te devo o que nunca poderei pagar.
De olhos húmidos, uma e outra compreenderam a necessidade de se fazerem companheiras, e que, no centro de tudo, haveria de nascer o Amor mais puro que os corações podiam sentir. As duas mulheres estavam conscientes da sublime missão do Anjo que iria tomar forma física na família Bernardone.
João tinha já selado o compromisso com a carne, passando a viver mais perto de sua futura mãe. Sentia as emoções de Maria Picallini, como se estivesse lendo em uma página escrita por ela, as suas próprias ideias, por intermédio daqueles fios tenuíssimos que os ligavam: ele, no início formativo do seu futuro corpo, e a mãe, que por leis invisíveis que escapam à natureza humana, também estava vivendo parte da sua vida, envolvida nos pensamentos e ideias do apóstolo, prestes a reingressar na argamassa da carne.
Contudo, o quilate espiritual de João dava-lhe enorme campo de liberdade, dado as suas condições espirituais de isolar determinadas formas mentais da mulher que seria a sua progenitora.
Aproveitando o período de gestação de seu aparelho fisiológico, o vidente de Patmos, juntamente com o diretor espiritual da cidade, idealizava trabalhos a serem desenvolvidos em Assis e nas regiões adjacentes. João orientaria um grupo de trabalhadores, para que pudessem operar com eficiência no território italiano, para esclarecimento de entidades ignorantes, de Espíritos endurecidos que comandavam as sombras e estimulavam o desespero na massa humana.
O Espírito responsável por Assis sabia da existência de uma falange das trevas, situada nas margens do Mar Adriático, e que tinha em suas listas negras várias cidades litorâneas, sendo Veneza um posto avançado das suas perturbações. No entanto, não tinha meios para combatê-los de imediato. Sabia que para combater certos tipos de inimigos eram indispensáveis armas à altura, ciência suficiente, e, acima de tudo, Amor em alta dose. Encontrara o Apóstolo de Éfeso, dotado de Amor no coração, na quantidade capaz de transpor todas as dificuldades, de remover todas as transgressões, de estimular o perdão e fazer reviver o Cristo no mais endurecido coração. O Amor de João concentrado na alma, transformava o Mal no verdadeiro Bem.
Miramez
Fonte: Francisco de Assis -pdf
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