segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

Ermance Dufaux - Livro Emoções que Curam: Culpa, raiva e medo como forças de libertação - Wanderley Oliveira - Cap. 17 - O amadurecimento emocional dos médiuns




Ermance Dufaux - Livro Emoções que Curam: Culpa, raiva e medo como forças de libertação - Wanderley Oliveira - Cap. 17


O amadurecimento emocional dos médiuns


"A mediunidade não implica necessariamente relações habituais com os Espíritos superiores. E' apenas uma aptidão para servir de instrumento mais ou menos dúctil aos Espíritos, em geral. O bom médium, pois, não é aquele que comunica facilmente, mas aquele que é simpático aos bons Espíritos e somente deles tem assistência. Unicamente neste sentido é que a excelência das qualidades morais se torna onipotente sobre a mediunidade. (O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. 24, Item 12).


O aeroporto estava repleto. Alexandre, médium e palestrante, esperava um voo que o levaria a uma cidade do Sul do país para uma apresentação.

Em dado momento, em meio a tanta agitação externa, ele foi sendo tomado por um nível acentuado de concentração, fechou os olhos e foi se abstraindo do ambiente até que ouviu uma voz rouca dizendo:

— Essa moça com vestes amarelas à sua frente é minha sobrinha. Meu nome é Humberto e queria lhe dizer algumas palavras. Será que posso contar com você?

Alexandre, que já estava em estado de transe profundo, abriu os olhos, procurou e viu a moça de seus quinze anos aproximadamente, que trazia um olhar triste e introspectivo. Fechando os olhos novamente, ele dirigiu-se ao espírito dizendo:

— Posso saber do que se trata, Humberto?

— Essa moça foi tremendamente prejudicada por mim. Eu me suicidei há quatro meses, depois de usar de forma indevida as economias de uma herança que pertencia a ela até chegar à falência. Não suportei a culpa e os desastres materiais. Deixei minha esposa, dois filhos e ela com problemas graves para resolver. Diante de tantas perdas, ela está pensando em tomar a mesma atitude e vir ao meu encontro. Quer suicidar-se.

Você a enganou?

Não, não se trata disso. Diante da morte de meu irmão, e ela sendo menor de idade, fui nomeado como seu tutor e, portanto, administrador de seus bens. Não fiz nada com más intenções, mas, agindo com imprevidência, qual criança inexperiente, me embaracei com o usufruto da fortuna deixada pelo pai dela. Administrei mal, fui perdendo dinheiro, envolvendo-me com ganhos ilícitos e acabei mal.

0 que você gostaria de dizer a ela?

Ela se chama Sara. Apenas escreva essa pequena frase em um papel: "A vida sempre tem caminhos que desconhecemos, e Deus jamais deixará de nos apresentar aquele que será o melhor para nós." Era um mantra que ensinei a ela e por várias vezes nós o repetimos em nossas conversas no lar. Chegamos a pintar juntos essa frase em uma pequena tábua, que hoje se encontra na sala de minha casa, a pedido dela. Depois de ler, por caridade diga a ela que infelizmente o caminho que escolhi não é um desses caminhos de Deus.

— Só isso?

— Agradeço. Não posso dizer mais nada segundo o senhor que me trouxe até aqui.

— Posso saber quem lhe trouxe?

— 0 nome dele é Cornélius.

Alexandre rogou ajuda espiritual e não vacilou. Sentindo um pouco de mal estar devido à aproximação daquele espírito ainda tão enfermo, resolveu verificar o que podia ser feito. Por acaso, havia um lugar vago ao lado de Sara que parecia destinado ao médium, considerando a aglomeração naquele local. Em clima de profunda convicção e ligando seu coração com a fé, chegou perto da moça e disse:

— Seu nome é Sara?

— Sim. Você me conhece?

— Não, Sara, não conheço. Eu peço sua licença para lhe relatar um fato, com todo respeito. Não peço que acredite, apenas que me ouça, pode ser?

— Sobre o quê?

— Eu sou médium e percebi que você perdeu uma pessoa querida recentemente, não foi?

— Sim, meu tio. Mas já tem quatro meses. Por quê? -perguntou curiosa.

— Eu o percebi aqui no aeroporto e ele lhe mandou essa frase por escrito. Faz algum sentido para você?

Alexandre apresentou a frase escrita às pressas em um pedaço de papel. A moça leu a frase e seus olhos se encheram de lágrimas. Passado algum tempo, perguntou:

— Ele está aqui? Quem é você?

— Meu nome é Alexandre. Seu tio esteve comigo há alguns minutos e já se foi para o além. Ele pediu o favor de lhe enviar essa frase e que eu afirmasse para você que o caminho que ele escolheu não é um desses caminhos de Deus que o mantra de vocês indica.

Repitamos um trecho da frase de apoio anterior: "Unicamente neste sentido é que a excelência das qualidades morais se torna onipotente sobre a mediunidade.".

Não é a mediunidade que qualifica o médium, e sim suas qualidades morais e emocionais.

Os médiuns com Jesus são chamados a todo instante para o serviço do bem incondicional. Não há lugar, não há hora, não há circunstância na qual esse bem não possa ser feito. Uma singela oração em qualquer instante ou ambiente é um facho de luz abrindo frestas para que a bondade celeste penetre espalhando bênçãos.

Com relação à disponibilidade de servir junto aos amigos espirituais, Allan Kardec nos diz:

"Acrescentemos, todavia, que, se bem os Espíritos prefiram a regularidade, os de ordem verdadeiramente superior não se mostram meticulosos a esse extremo. [...] Mesmo fora das horas predeterminadas, podem eles, sem dúvida, comparecer e se apresentam de boa vontade, se é útil o fim objetivado."11 O livro dos médiuns, capítulo 29, item 333.

Os chamados do mundo espiritual para fins úteis obedecem a uma lógica distinta à dos homens que se encontram reencarnados. Os médiuns afeiçoados ao serviço iluminativo com Jesus, conscientes dessa verdade, se propõem a apresentar as condições morais que lhes permitam ser canais de paz e orientação, amor e consolo.

O desejo de servir, sem dúvida, é a qualidade moral indispensável a essa realização superior nas lições sagradas da mediunidade. E o desejo de servir consiste em ter o coração aberto à dor e às necessidades, facultando, por efeito, o estado de disponibilidade psíquica, que podemos comparar à antena emissora e receptora possibilitando ao médium uma contínua interação com o mundo astral que o rodeia.

Nos Atos dos Apóstolos, capítulo nove, versículo dez, encontramos esse exemplo de prontidão em Ananias ao dizer: "E havia em Damasco um certo discípulo chamado Ananias; e disse-lhe o Senhor em visão: Ananias! E ele respondeu: Eis-me aqui, Senhor."

"Eis-me aqui, Senhor" é a disponibilidade para ser útil. Médiuns em estado íntimo de quietude interior oferecem esse solo mental fértil sobre o qual são plantadas as sementes enriquecedoras que multiplicarão os frutos dos planos superiores. Sem quietude não existe disponibilidade mental, sem disponibilidade mental, não existe sintonia, e sem sintonia, não há plantação mediúnica.

Essa quietude na vida mental é o resultado do amadurecimento psíquico e emocional dos medianeiros. Ela não pode ser atingida apenas com conhecimento e atividade doutrinária, mas, à medida que o servidor da mediunidade avança na solução de suas lutas interiores, adquirindo a habilidade de manter seu foco espiritual na luz, da qual todos somos portadores como filhos de Deus, seu poder de percepção e sua força de atuação na vida que o rodeia se dilatam, sem lhe causar danos ou alterações prejudiciais.

A exemplo do samaritano narrado na parábola evangélica, ele, o médium, desce a estrada de Jerusalém para Jericó sem ser assaltado por suas próprias mazelas. Desce, como diz o texto, "em viagem", com propósitos definidos de voltar ao seu lugar de origem, Jerusalém, que representa a cidade dos valores nobres, ao contrário de Jericó, a cidade do comércio e dos bens perecíveis. 0 samaritano foi em viagem, enquanto o homem assaltado, o Levita, e também o Sacerdote "desciam", ou seja, perdiam sua condição interior na derrapada para os interesses sombrios.

Para que os médiuns consigam essa condição de descida "em viagem", com propósitos elevados e sincronizados com as esferas da luz e da libertação, torna-se indispensável os cuidados com sua jornada de amadurecimento emocional. Esta pode ser resumida em três etapas distintas e que se integram entre si formando o estado interior de quietude:

1 – Autoconhecimento,

2 - Autotransformação 

3 – Autoamor.

Pelo autoconhecimento, o médium descobre e examina o mapa de suas sombras interiores e da sua luz ofuscada à espera de uma abertura para irradiar paz, cura e libertação.

Pela autotransformação, o médium se aplica a explorar o território de seu próprio aprimoramento, escalando novos hábitos, desbravando os terrenos da riqueza emocional e aplainando novas conquistas na direção de sua consciência.

Pelo autoamor, o médium encontra-se consigo próprio, preenchendo-se de estima, alegria, entusiasmo e discernimento, o que lhe permite um novo olhar sobre a vida e sobre as pessoas que o rodeiam seja onde for.


Ermance Dufaux








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