sábado, 13 de fevereiro de 2021

Joanna de Ângelis - Livro O Homem Integral - Divaldo P. Franco - 6.ª Parte - Maturidade psicológica - Cap. 22 - Mecanismos de evasão




Joanna de Ângelis - Livro O Homem Integral - Divaldo P. Franco - 6.ª Parte - Maturidade psicológica - Cap. 22


Mecanismos de evasão
 

A larga infância psicológica das criaturas é dos mais graves problemas na área do comportamento humano.

Habituada, a criança, a ter as suas necessidades e anseios resolvidos, imaturamente, pelos adultos - pais, educadores, familiares, amigos - ou atendidos pela violência do clã e da sociedade, nega-se a crescer, evitando as responsabilidades que enfrentará.

No primeiro caso, porque tudo lhe chega às mãos de forma fácil, dilata o período infantil, acreditando que a vida não passa de um joguete e o seu estágio egocêntrico deva permanecer, embora a mudança de identidade biológica, de que mal se dá conta.

Mimada, acomoda-se a exigir e ter, recusando-se o esforço bem dirigido para a construção de uma personalidade equilibrada, capaz de enfrentar os desafios da vida, que lhe chegam a pouco e pouco.

Acreditando-se credora de todos os direitos, cria mecanismos inconscientes de evasão dos deveres, reagindo a eles. pelas mais variadas como ridículas formas de atitude, nas quais demonstra a prevalência do período infantil.

No segundo caso, sentindo-se defraudada pelo que lhe foi oferecido com má vontade e azedume, ou sistematicamente negado, a criança se transfere de uma para outra faixa etária, sem abandonar as sequelas da sua castração, buscando realizar os desejos sufocados, mas vivos, quando lhe surja a oportunidade.

Em ambos os acontecimentos, o desenvolvimento emocional não corresponde ao físico e ao intelectual, que não são afetados pelos fenómenos psicológicos da imaturidade.

Excepcionalmente, pode suceder que o alargamento do período infantil, por privação dos sentimentos e pelas angústias, produza distúrbios na saúde física como na mental, gerando dilacerações profundas, difíceis de serem sanadas.

Na generalidade, porém, o que sucede são as apresentações de adulto susceptível, medroso, instável, ciumento, que não superou a crise da infância, nela permanecendo sob conflitos lastimáveis.

As figuras domésticas, representadas pelo pai e pela mãe, permanecem em atividade emocional, no inconsciente, resolvendo os problemas ou atemorizando o indivíduo, que se refugia em mecanismos desculpistas para não lutar, mantendo-se distantes de tudo quanto possa gerar decisão, envolvimento responsável, enfrentamento.

Fugindo das situações que exigem definição, parte para as formulações e comportamentos parasitas, buscando nas pessoas que considera fortes e são eleitas como seus heróis ou seus superiores, porquanto tudo que elas empreendem se apresenta coroado de êxito.

Não se dá conta da luta que travam, das renúncias e sacrifícios que se impõem. Esta parte não lhe interessa, ficando propositadamente ignorada.

Como efeito, cresce-lhe a área dos conflitos da personalidade, com predominância da autocompaixão, num esforço egoísta de receber carinho e assistência, sem a consciência da necessidade de retribuição.

Não lhe amadurecendo os sentimentos da solidariedade e do dever, crê-se merecedor de tudo, em detrimento do esforço de ser útil ao próximo e à comunidade, esquecendo-se das falsas necessidades para tornar-se elemento de produção em favor do bem geral.

Instável emocionalmente, ama como fuga, buscando apoio, e transfere para a pessoa querida as responsabilidades e preocupações que lhe são pertinentes, tornando o vínculo afetivo insuportável para o eleito.

Outras vezes, a imaturidade psicológica reage pela forma de violência, de agressividade, decorrentes dos caprichos infantis que a vida, no relacionamento social, não pode atender.

Uma peculiar insensibilidade emocional domina o indivíduo, que se desloca, por evasão psicológica, do ambiente e das pessoas com quem convive, poupando-se a aflições e somente considerando os próprios problemas, que o comovem, ante a frieza que exterioriza quando em relação aos sofrimentos do próximo.

O homem nasceu para a autorrealização, e faz parte do grupo social no qual se encontra, a fim de promovê-lo, crescendo com ele. Os problemas devem constituir-lhe meio de desenvolvimento, em razão de serem-lhe estímulos-desafios, sem os quais o tédio se lhe instalaria nos painéis da atividade, desmotivando-o para a luta.

Desse modo, são parte integrante da estruturação mental e emocional, responsáveis pelos esforços do próximo e do grupo em conjunto, para a sobrevivência de todos.

O solitário é prejuízo e dano na economia social, perturbando a coletividade.

Fatores que precedem ao berço, presentes na historiografia do homem, decorrentes das suas existências anteriores, situam-no, no curso dos renascimentos, em lares e junto aos pais de quem necessita, a fim de superar as dívidas, desenvolver os recursos que lhe são inerentes e lhe estão adormecidos, dando campo à fraternidade que deve viger em todos os seus atos.

Assim, cumpre-lhe libertar-se da infância psicológica, mediante as terapias competentes, que o desalgemam dos condicionamentos perniciosos, ao mesmo tempo trabalhando-lhe a vontade, para assumir as responsabilidades que fazem parte de cada período do desenvolvimento físico e intelectual da vida.

Partindo de decisões mais simples, o exercício de ações responsáveis, nas quais o insucesso faz parte dos empreendimentos, o homem deve evitar os mecanismos de evasão, assim como as justificativas sem sentido, tais: não tenho culpa, não estou acostumado, nada comigo dá certo, aí ocultando a sua realidade de aprendiz, para evitar as outras tentativas, que certamente se farão coroar de êxitos.

A experiência do triunfo é lograda através de sucessivos erros. O acerto, nos primeiros tentames, não significa a segurança de continuados resultados positivos.

Em todas as áreas do comportamento estão presentes a glória e o fracasso, como expressões do mesmo empreendimento.

A fixação de qualquer aprendizagem dá-se mediante as tentativas, frustradas ou não. Assim, vencer o desafio é esforço que resulta da perseverança, da repetição, sem enfado nem cansaço.

Toda fuga psicológica contribui para a manutenção do medo da realidade, não levando a lugar algum. Mediante sua usança, aumentam os receios de luta, complicam-se os mecanismos de subestima pessoal e desconsideração pelos próprios valores.

O homem, no entanto, possui recursos inesgotáveis que estão ao alcance do esforço pessoal.

Aquele que se demora somente na contemplação do que deve fazer, porém, não se anima a realizá-lo, perde excelente oportunidade de desvendar-se, desenvolvendo as capacidades adormecidas que o podem brindar com segurança e realização interior.

Todo o esforço a ser envidado em favor da libertação dos mecanismos de fuga contribui para apressar o equilíbrio emocional, o amadurecimento psicológico, de modo a assumir a sua humanidade, que é a característica definidora do indivíduo: sua memória, seus valores, seus atos, seu pensamento.

A fuga, portanto, consciente ou não, no comportamento psicológico, deve ser abolida, por incondizente com a lei do progresso, sob a qual todas as pessoas se encontram submetidas pela fatalidade da evolução.


Joanna de Ângelis







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