Miramez - Livro Francisco de Assis - João Nunes Maia - Cap. 18 - A Comunidade Franciscana - Pág. 282
O que é a fé?
- Pai Francisco, o que é a fé?
O filho de Assis ponderou nos grandes feitos dos mais abalizados Santos, buscou a Jesus na Sua mais alta expressão de Santidade e afirmou:
- Frei Morico, a fé é a substância das coisas pensadas, nos ensina o grande convertido de Damasco. Essa fé avança em todos os sentidos e sustenta a vida em todas as demandas dos homens e dos Anjos. Onde não existe fé, não pode existir vida; O produto da fé é o milagre da vida. A própria felicidade depende da fé, da sua presença marcante e sutil. Não poderíamos estar aqui reunidos, com os objetivos que nos animam a todos, se não fossem alguns traços da fé.
A fé é, pois, uma força do coração que atrai aquilo que firmemente queremos, sendo infinito o seu campo de ação. Assim como cultivamos na lavoura tudo aquilo que deveremos colher, é nobre e justo que devamos cultivar as virtudes no solo dos corações, que, se bem cuidado, os frutos não se farão esperar. O ser humano é o que a sua fé determina.
Devemos unir os nossos pensamentos, buscando a retidão dos sentimentos, para que na flor das ideias surja a fé, na glória de Deus e no reino de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Se estás triste, busca de novo o teu íntimo e verás que escapuliu, sorrateiramente, a tua fé.
Se sentes, por momentos que seja, ódio de alguém, certamente que a tua fé faltou.
Se falas mal de alguém, é certo que a fé não se fez presente em teu coração.
Se esqueces o amor ao próximo é, pois, a fé que te faltou nas entranhas do ser.
Se foste enredado pela ignorância, desfazendo-se das qualidades alheias, podes verificar que a tua fé está escondida nas dobras do ciúme.
Se não respeitas os direitos alheios, certo é que esqueceste a fé.
Se tu deixas passar despercebida a caridade, o que dizer da fé?
Se não te lembraste do Amor, nessas feições mais simples da vida, é porque te faltou a presença da fé.
E por isso, meu filho, que a fé é verdadeiramente a substância das coisas pensadas, e essas coisas pensadas, para representarem a fé, haverão de ser selecionadas pela presença do Evangelho, porque somente ele sabe dar rumos à fé pura, a fé cristã, à fé de que tanto falava Jesus e que repetiam todos os Seus discípulos.
O Próprio Evangelho é obra da fé.
Qualquer um de nós que a esquecermos, bem como as obras que a complementam, será um irmão que, mesmo andando, está morto, porque ensina a Boa Nova que a fé, sem obras, é morta.
É através dela que chegaremos ao Reino da Esperança.
Miramez
Fonte: Francisco de Assis-pdf
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