Conveniência
“... Quando derdes um jantar ou uma ceia, não convideis, nem vossos amigos, nem vossos irmãos, nem vossos parentes, nem vossos vizinhos que forem ricos, de modo que eles vos convidem em seguida, a seu turno, e que, assim, retribuam o que haviam recebido de vós...” (Capítulo 13, item 7.)
Fazer o bem pelo único prazer de fazê-lo, amar sinceramente dando o melhor de nós mesmos sem pensar em retribuições - eis a base do amor incondicional.
A sinceridade é o melhor antídoto para afastar falsas amizades.
Convidar à mesa os pobres, os estropiados, os coxos e os cegos - na recomendação de Jesus - é angariar relacionamentos satisfatórios, leais, estimulantes, sem segundas intenções.
Talvez por querermos levar vantagens e proveito em tudo, tenhamos atraído para o nosso círculo afetivo amizades vazias, distorcidas, que representam verdadeiros parasitas de nossas energias.
Por isso nos sentimos, algumas vezes, inadaptados ao meio em que vivemos.
Mas se amarmos por amar, encontraremos criaturas que não se preocuparão com as escalas hierárquicas e nos aceitarão como somos.
Não esperarão de nós toda a sabedoria para todas as respostas, apenas compartilharão connosco o carinho de bons amigos.
O refrão da conveniência é:
“vou te amar se...
Se me recompensares, serei teu amigo.
Se me convidares, eu te prestigiarei.
Se ficares sempre a meu lado, eu te amarei.
Se concordares comigo, concordarei contigo.
Jesus nos pede desinteresse nas relações, e não imposições de conformidade com as nossas paixões.
Ele nos ensina a lição de não manipularmos ocasiões, porque toda cobrança fragiliza relacionamentos, e em verdade é uma questão de tempo para que tudo venha a ruínas.
Os sentimentos verdadeiros não são mercadorias permutáveis, mas alimentos nutrientes das almas, os quais nos dão fortalecimento durante as provas e reerguimento perante as lutas expiatórias.
Quando esperamos que os outros supram nossas carências e nos façam felizes gratuitamente, não estamos de facto amando, mas explorando-os.
Ao identificarmos jogos de manipulação, procuremos relembrar nossa verdadeira missão na Terra, pois sabemos que não viemos a este mundo a fim de agradar os outros ou viver à moda deles, mas para aprender a amar a nós mesmos e aos outros, sem condições.
Em muitas ocasiões, fundimos nossos sentimentos com os de outros seres - cônjuge, pais, filhos, amigos, irmãos - e perdemos nossas fronteiras individuais, por ser momentaneamente conveniente e cômodo.
A partir daí, esperamos sempre retribuições deles, nossos amados, e sofreremos se eles não fizerem tudo como desejamos.
Esquecemos de abrir o círculo da afetividade para outros seres e não percebemos o quanto é saudável e imensamente vitalizante essa postura.
Continuamos a convidar à mesa somente aqueles com quem fazemos questão de compartilhar mútuos interesses.
Embora, de início, não avaliemos o mal que essa atitude nos causa, é provável que soframos a solidão num amanhã bem próximo, pois os laços afetivos podem ser desfeitos pela morte física ou por separações outras.
Por termos restringido esses vínculos afetivos, sentiremos certamente a tristeza de quem se acha só e abandonado como se tivesse perdido o “chão”.
A observação dos jogos sociais dar-nos-á sempre uma real percepção de onde e quando existem encontros unicamente realizados para a busca de vantagens pessoais.
E para que possamos promover autênticos encontros, providos de sinceridade e boas intenções, é preciso sejamos primeiramente honestos com nós mesmos, para atrairmos as legítimas aproximações, através de nossos pensamentos e propósitos de franqueza.
A vantagem dos relacionamentos sinceros é uma abertura de nossa afetividade em círculos cada vez maiores, que, por sua vez, edificarão uma atmosfera de carinho e lealdade em torno de nós mesmos, atraindo e induzindo criaturas francas e maduras a partilhar connosco toda uma existência no Amor.
Hammed
Fonte: Renovando Atitudes -pdf
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