quinta-feira, 2 de julho de 2020

Léon Denis - Livro O Problema do Ser e do Destino - Cap. 25 - O Amor



Léon Denis - Livro O Problema do Ser e do Destino - Cap. 25


O Amor


O amor, como comumente se entende na Terra, é um sentimento, um impulso do ser, que o leva para outro ser com o desejo de unir-se a ele. Mas, na realidade, o amor reveste formas infinitas, desde as mais vulgares até as mais sublimes. Princípio da vida universal, proporciona à alma, em suas manifestações mais elevadas e puras, a intensidade de radiação que aquece e vivifica tudo em roda de si; é por ele que ela se sente estreitamente ligada ao Poder divino, foco ardente de toda a vida, de todo o amor.

Acima de tudo, Deus é amor. Por amor, criou os seres para associá-los às suas alegrias, à sua obra. O amor é um sacrifício; Deus hauriu nele a vida para dá-la às almas. Ao mesmo tempo que a efusão vital, elas receberiam o princípio afetivo destinado a germinar e expandir- se pela provação dos séculos, até que tenham aprendido a dar-se por sua vez, isto é, a dedicar-se, a sacrificar-se pelas outras. Com este sacrifício, em vez de se amesquinharem, mais se engrandecem, enobrecem e aproximam do Foco supremo.

O amor é uma força inexaurível, renova-se sem cessar e enriquece ao mesmo tempo aquele que dá e aquele que recebe. É pelo amor, sol das almas, que Deus mais eficazmente atua no mundo. Por ele atrai para si todos os pobres seres retardados nos antros da paixão, os Espíritos cativos na matéria; eleva-os e arrasta-os na espiral da ascensão infinita para os esplendores da luz e da liberdade.

O amor conjugal, o amor materno, o amor filial ou fraterno, o amor da pátria, da raça, da humanidade, são refrações, raios refratados do amor divino, que abrange, penetra todos os seres, e, difundindo-se neles, faz rebentar e desabrochar mil formas variadas, mil esplêndidas florescências de amor.

Até as profundidades do abismo da vida, infiltram-se as radiações do amor divino e vão acender nos seres rudimentares, pela afeição à companheira e aos filhos, as primeiras claridades que, nesse meio de egoísmo feroz, serão como a aurora indecisa e a promessa de uma vida mais elevada.

É o apelo do ser ao ser, é o amor que provocará, no fundo das almas embrionárias, os primeiros rebentos do altruísmo, da piedade, da bondade. Mais acima, na escala evolutiva, entreverá o ser humano, nas primeiras felicidades, nas únicas sensações de ventura perfeita que lhe é dado gozar na Terra, sensações mais fortes e suaves que todas as alegrias físicas e conhecidas somente das almas que sabem verdadeiramente amar.

Assim, de grau em grau, sob a influência e irradiação do amor, a alma desenvolver-se-á e engrandecerá, verá alargar-se o círculo de suas sensações. Lentamente, o que nela não era senão paixão, desejo carnal, ir-se- -á depurando, transformando num sentimento nobre e desinteressado; a afeição a um só ou a alguns converter-se-á na afeição a todos, à família, à pátria, à humanidade. E a alma adquirirá a plenitude de seu desenvolvimento quando for capaz de compreender a vida celeste, que é todo amor, e a participar dela.

O amor é mais forte do que o ódio, mais poderoso do que a morte. Se o Cristo foi o maior dos missionários e dos profetas, se tanto império teve sobre os homens, foi porque trazia em si um reflexo mais poderoso do Amor divino. Jesus passou pouco tempo na Terra; foram bastantes três anos de evangelização para que o seu domínio se estendesse a todas as nações. Não foi pela Ciência nem pela arte oratória que ele seduziu e cativou as multidões, foi pelo amor! Desde sua morte, seu amor ficou no mundo como um foco sempre vivo, sempre ardente. Por isso, apesar dos erros e faltas de seus representantes, apesar de tanto sangue derramado por eles, de tantas fogueiras acesas, de tantos véus estendidos sobre seu ensino, o Cristianismo continuou a ser a maior das religiões; disciplinou, moldou a alma humana, amansou a índole feroz dos bárbaros, arrancou raças inteiras à sensualidade ou à bestialidade.

Todo o poder da alma resume-se em três palavras: querer, saber, amar!

Querer, isto é, fazer convergir toda a atividade, toda a energia, para o alvo que se tem de atingir, desenvolver a vontade e aprender a dirigi-la.

Saber, porque sem o estudo profundo, sem o conhecimento das coisas e das leis, o pensamento e a vontade podem transviar-se no meio das forças que procuram conquistar e dos elementos a quem aspiram governar.

Acima, porém, de tudo, é preciso amar, porque, sem amor, a vontade e a ciência seriam incompletas e muitas vezes estéreis. O amor ilumina-as, fecunda-as, centuplica-lhes os recursos. Não se trata aqui do amor que contempla sem agir, mas do que se aplica a espalhar o bem e a verdade pelo mundo. A vida terrestre é um conflito entre as forças do mal e as do bem. O dever de toda alma viril é tomar parte no combate, trazer-lhe todos os seus impulsos, todos os seus meios de ação, lutar pelos outros, por todos aqueles que se agitam ainda na via escura.

A todas as interrogações do homem, a suas hesitações, a seus temores, a suas blasfêmias, uma voz grande, poderosa e misteriosa, responde: Aprende a amar! O amor é o resumo de tudo, o fim de tudo. Dessa maneira, estende-se e desdobra-se sem cessar sobre o universo a imensa rede de amor tecida de luz e ouro. Amar é o segredo da felicidade. Com uma só palavra o amor resolve todos os problemas, dissipa todas as obscuridades. O amor salvará o mundo; seu calor fará derreter os gelos da dúvida, do egoísmo, do ódio; enternecerá os corações mais duros, mais refratários.

Amemos, pois, com todo o poder do nosso coração; amemos até ao sacrifício, como Joana d’Arc amou a França, como o Cristo amou a humanidade, e todos aqueles que nos rodeiam receberão nossa influência, sentir-se-ão nascer para nova vida.

Homem, procure ao seu redor as chagas sobre as quais pensar, os males a curar, as aflições a consolar. Alargue as inteligências; guie os corações transviados; associe as forças e as almas. Trabalhe para construir a alta cidade de paz e de harmonia que será a cidade de amor, a cidade de Deus! Ilumine, levante, purifique! Que importa se rirem de você; que importa se a ingratidão e a maldade se levantarem no seu caminho? Aquele que ama não recua por tão pouco; mesmo que colha apenas espinhos e pedras, continue sua obra, porque seu dever está aí. Ele sabe que a abnegação nos engrandece. 

E depois, o sacrifício também tem suas alegrias; feito com amor, transforma as lágrimas em sorriso, faz nascer em nós alegrias desconhecidas do egoísta e do mau. Para aquele que sabe amar, as coisas mais banais são de interesse: tudo parece se iluminar; mil sensações novas despertam nele.

São necessárias à sabedoria e à ciência longos esforços, uma lenta e difícil ascensão para nos conduzir às altitudes do pensamento. O amor e o sacrifício nos fazem chegar lá de um pulo só, com um único bater de asas. Em seu ímpeto, conquistam a paciência, a coragem, a benevolência, todas as virtudes fortes e doces. O amor purifica a inteligência, engrandece o coração, e é pela soma de amor acumulado em nós que podemos avaliar o caminho que temos percorrido para Deus.

A todas as interrogações do homem, a suas hesitações, a seus temores, a suas blasfêmias, uma grande voz, poderosa e misteriosa, responde: Aprende a amar! O amor é a síntese de tudo, o objetivo de tudo, o final de tudo. Dessa maneira, estende-se e desdobra-se sem cessar, no universo, a imensa rede de amor, tecida de ouro e de luz. Amar é o segredo da felicidade. Com uma só palavra, o amor resolve todos os problemas, dissipa todas as obscuridades. O amor salvará o mundo; seu calor fará derreter os gelos da dúvida, do egoísmo, do ódio; enternecerá os corações mais duros, os mais refratários.

Em todas as suas magníficas variantes, o amor é sempre um esforço para a beleza. Nem mesmo o amor sexual, do homem e da mulher, deixa, por mais material que pareça, de poder aureolar-se de ideal e de poesia, de perder todo caráter vulgar, se nele houver um sentimento de estética e um pensamento superior. E isso depende principalmente da mulher. Aquela que ama sente e vê coisas que o homem não pode conhecer. Possui em seu coração inesgotáveis reservas de amor, uma espécie de intuição que pode dar uma ideia do amor eterno.

A mulher é sempre, de algum modo, irmã do mistério, e a parte de seu ser que toca o infinito parece ter mais extensão do que nos homens. Quando o homem responde como a mulher aos apelos do invisível, quando seu amor é isento de todo desejo brutal, se o sentem mais pelo Espírito que pelo corpo, então, no abraço desses dois seres que se penetram, se completam para transmitir a vida, passará como um relâmpago, como uma chama, o reflexo das mais altas felicidades que se podem sentir. Todavia, as alegrias do amor terrestre são fugitivas e misturadas de amarguras. Não existem sem decepções, sem recuos e sem quedas. Apenas Deus é o amor em sua plenitude. É o braseiro ardente e, ao mesmo tempo, o abismo do pensamento e da luz, de onde saem e para quem remontam, eternamente, a quente emanação de todos os astros, a ternura apaixonada de todos os corações das mulheres, mães, esposas, e as afeições vigorosas de todos os corações dos homens. Deus gera e chama o amor, pois é a beleza infinita, perfeita, e é próprio da beleza provocar o amor.

Quem é que, num dia de verão, quando o sol brilha, quando a imensa cúpula azulada se desenrola sobre nossas cabeças e, dos prados e bosques, dos montes e do mar sobem a adoração, a prece muda dos seres e das coisas, não sentiu essas radiações de amor enchendo o infinito?

É preciso nunca ter aberto sua alma a essas influências para ignorá-las ou negá-las. Muitas almas terrestres, é verdade, permanecem hermeticamente* fechadas às coisas divinas. Ou então, se sentem sua harmonia e beleza, escondem cuidadosamente o segredo em si mesmas. Elas parecem ter vergonha de confessar o que conhecem ou o que experimentam de maior e de melhor.

Mas tentai a experiência! Abri o vosso ser interior, abri as janelas da prisão da alma às vibrações da vida universal e, de repente, essa prisão se encherá de claridade, de melodia; todo um mundo de luz penetrará em vós. Vossa alma arrebatada conhecerá êxtases, felicidades que não podem ser descritas; compreenderá que há ao seu redor um oceano de amor, de força e de vida divina, no qual pode penetrar, e que lhe basta querer para ser banhada por suas águas regeneradoras. Sentirá no universo um poder soberano e maravilhoso que nos ama, nos envolve, nos sustenta, que vela sobre nós como um avarento sobre a joia preciosa, e invocando-o, ao lhe dirigir um ardente apelo, será logo envolvida por sua presença e seu amor. Essas coisas se sentem, mas se exprimem dificilmente; só as podem compreender os que as saboreiam. Entretanto, todos podem chegar a conhecê-las, a possuí-las, ao despertar o que há de divino em si; não há homem tão tenebroso, tão mau que, na hora de abandono e de sofrimento, não veja abrir-se uma fresta, por onde um pouco da claridade das coisas superiores, um pouco de amor se filtrem até ele.

Basta ter experimentado uma única vez essas impressões para não mais as esquecer. E quando chega o declínio da vida com seus desencantos, quando as sombras crepusculares se acumulam sobre nós, então essas sensações poderosas se revelam com a memória de todas as alegrias sentidas. E essa lembrança das horas em que amamos verdadeiramente cai como delicioso orvalho sobre nossas almas dissecadas pelo vento áspero das provas e da dor.



Léon Denis










Fonte: O Problema do Ser e do Destino-pdf

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