sexta-feira, 12 de junho de 2020

Léon Denis - Livro Depois da Morte - Cap. 52 - Trabalho, Sobriedade, Continência



Léon Denis - Livro Depois da Morte - Cap. 52

Trabalho, Sobriedade, Continência


A primeira condição para se conservar a alma livre, a inteligência sã, a razão lúcida é a de ser sóbrio e casto. Os excessos de alimentação perturbam-nos o organismo e as faculdades; a embriaguez faz-nos perder toda a dignidade e toda a moderação. O seu uso contínuo produz uma série de moléstias, de enfermidades, que acarretam uma velhice miserável.

Dar ao corpo o que lhe é necessário, a fim de torná-lo servidor útil e não tirano, tal é a regra do homem criterioso. Reduzir a soma das necessidades materiais, comprimir os sentidos, domar os apetites vis é libertar-se do jugo das forças inferiores, é preparar a emancipação do Espírito. Ter poucas necessidades é também uma das formas da riqueza.

A sobriedade e a continência caminham juntas. Os prazeres da carne enfraquecem-nos, enervam-nos, deviam-nos da sabedoria. A volúpia é como um abismo onde o homem vê soçobrar todas as suas qualidades morais. Longe de nos satisfazer, atiça os nossos desejos. Desde que a deixamos penetrar em nosso seio, ela invade-nos, absorve-nos e, como uma vaga, extingue tudo quanto há de bom e generoso em nós. Modesta visitante ao principio, acaba por dominar-nos, por se apossar de nós completamente.

Evitai os prazeres corruptores em que a juventude se estiola, em que a vida se desseca e altera. Escolhei um momento oportuno uma companheira e sede-lhe fiel. Constituis uma família. A família é o estado natural de uma existência honesta e regular. O amor da esposa, a afeição dos filhos, a sã atmosfera do lar são preservativos soberanos contra as paixões. No meio dessas criaturas que nos são caras e vêem em nós seu principal arrimo, o sentimento de nossa responsabilidade se engrandece; nossa dignidade e nossa circunspecção acentuam-se; compreendemos melhor os nossos deveres e, nas alegrias que essa vida nos concede, colhemos as forças que nos tornam suave o seu cumprimento. Como ousar cometer atos que fariam envergonhar-nos sob o olhar da esposa e dos filhos? Aprender a dirigir os outros é aprender a dirigir-se a si próprio, a tornar-se prudente e criterioso, a afastar tudo o que pode manchar-nos a existência.

É condenável o viver insulado. Dar, porém, nossa vida aos outros, sentirmo-nos reviver em criaturas de quem soubemos fazer pessoas úteis, servidores zelosos para a causa do bem e da verdade, morrermos depois de deixar cimentado um sentimento profundo do dever, um conhecimento amplo dos destinos é uma nobre tarefa.

Se há uma exceção a essa regra, esta será em favor daqueles que, acima da família, colocam a Humanidade e que, para melhor servi-la, para executar em seu proveito alguma missão maior ainda, quiseram afrontar sozinhos os perigos da vida, galgar solitários a vereda árdua, consagrar todos os seus instantes, todas as suas faculdades, toda a sua alma a uma causa que muitos ignoram, mas que eles jamais perderam de vista.

A sobriedade, a continência, a luta contra as seduções dos sentidos não são, como pretendem os mundanos, uma infração às leis morais, um amesquinhamento da vida; ao contrário, elas despertam em quem as observa e executa uma percepção profunda das leis superiores, uma intuição precisa do futuro. O voluptuoso, separado pela morte de tudo que amava, consome-se em vãos desejos. Frequenta as casas de deboche, busca os lugares que lhe recordam o modo de vida na Terra e, assim, prende-se cada vez mais a cadeiras materiais, afasta-se da fonte dos puros gozos e vota-se à bestialidade, às trevas.

Atirar-se as volúpias carnais é privar-se por muito tempo da paz que usufruem os Espíritos elevados. Essa paz somente pode ser adquirida pela pureza. Não se observa isso desde a vida presente? As nossas paixões e os nossos desejos produzem imagens, fantasmas que nos perseguem até no sono e perturbam as nossas reflexões. Mas, longe dos prazeres enganosos, o Espírito bom concentra-se, retempera-se e abre às sensações delicadas. Os seus pensamentos elevam-se ao infinito. Desligado com antecedência das concupiscências ínfimas, abandona sem pesar o seu corpo exausto.

Meditemos muitas vezes e ponhamos em prática o provérbio oriental. Sê puro para seres feliz e para seres forte!


Léon Denis








Fonte: Depois da Morte-pdf

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