Hammed - Livro A Imensidão dos Sentidos - Francisco do Espírito Santo Neto - Pág. 51 - Capacidade Ignorada

Hammed - Livro A Imensidão dos Sentidos - Francisco do Espírito Santo Neto - Pág. 51

Capacidade Ignorada

"Há corpos celestes e há corpos terrestres. São, porém, diversos o brilho dos celestes e o brilho dos terrestres. Um é o brilho do sol, outro o brilho da lua, e outro o brilho das estrelas. E até de estrela pra estrela há diferença de brilho."(1). Nesta passagem, o grande apóstolo do Cristianismo nascente refere-se ao perispírito, que ele denomina de corpo celeste. 

O perispírito é um corpo organizado, uma espécie de modelo energético, um molde fundamental para o organismo humano. Ele é o centro de forças que aglutina e dá consistência à vestimenta carnal, mantendo-a  em pleno funcionamento. Podemos assim dizer que o corpo material é a condensação do corpo astral. É considerado o mediador plástico entre o Espírito e o corpo físico.

Organismo sutil, com extremo poder de plasticidade sob o comando do pensamento e da vontade. Impulsos, sentimentos, emoções, traumas, repressões nele se expressam com fidelidade; por sua vez, ele se altera gradativamente, de acordo com a ação vibratória das criaturas.

O corpo astral "(...) é o fio elétrico condutor que serve para a recepção e a transmissão do pensamento; é, enfim, esse agente misterioso, inacessível, designado sob o nome de fluido nervoso, que desempenha um grande papel na economia orgânica e do qual não se dá bastante conta nos fenômenos fisiológicos e patológicos (...)"(2)

Os desequilíbrios da mente fazem com que ele perca, temporariamente, o governo de si mesma, permitindo que os tênues tecidos do corpo espiritual se perturbem, desorganizem-se, moldando-se em condições anormais. A verdadeira localização dos distúrbios mentais raramente se encontra no vaso fisiológico, mas quase sempre no corpo perispiritual, em virtude das deficiências mentais e/ou emocionais cultivadas a longo prazo pela criatura em desalinho. Portanto é no corpo astral que se encontra a mente, onde tudo se imprime e se fixa incondicionalmente.

A força do pensamento influencia o próprio destino humano. O ato de pensar é um dos mais poderosos recursos do indivíduo; é a própria capacidade da mente de transformar ondas energéticas, dando-lhes solidez, forma e sentido. A matéria mental é o instrumento sutil da vontade, atuando na manutenção e na estrutura do corpo físico.

Em virtude disso, estando o corpo material intimamente ligado à alma, suas células são constituídas conforme as disposições perispirituais das criaturas; por isso que o organismo enfermo, na verdade, reflete atos e atitudes em desarmonia. A insanidade está orientada por elementos sensíveis, de determinação espiritual.

A anomalia ou debilidade é uma expressão do desajuste da nossa consciência, que se materializa em forma física. Por conseguinte, precisamos de "novos olhos" para transformar a nossa forma de ver, observar e interpretar nossas doenças.

Precisamos perceber nossas sensações interiores. Dar importância a uma sensação é, simplesmente, perceber o que ela está nos querendo dizer sobre tudo aquilo que necessitamos aprender ou mudar.

Nossos sentimentos nos dão conhecimento de nós mesmos, de como somos, no momento exato em que os vivenciamos. Eles revelam-nos, com detalhes minuciosos, como as coisas estão acontecendo conosco; por isso a importância de saber interpretá-los convenientemente.

Nosso modo de viver e de administrar nossas emoções faz com que nossos corpos (físico e astral) se organizem em padrões específicos tanto no meio interno como no espaço que ocupamos externamente. Nossas emoções se corporificam, desorganizando ou reorganizando nossos tecidos interiores. "(...) a matéria sutil do perispírito não tem a tenacidade nem a rigidez da matéria compacta do corpo; se podemos nos exprimir assim, ela é flexível e expansível (...)".(2a)

Nossa mentalidade é a "escultora" de nosso corpo físico; em razão da maleabilidade do perispírito, ela comanda as funções internas e externas, esculpindo em grande parte o organismo humano.

O medo nos dá uma sensação que aprisiona, o pranto nos alivia, o perdão nos liberta, a mágoa nos adoece, o amor nos cura, a rigidez nos inibe, a culpa nos constrange, a ilusão nos entorpece, o orgulho nos martiriza, a crueldade nos agride, a preocupação nos paralisa, a ansiedade nos enfraquece, a insegurança nos desmotiva.

Crenças são pensamentos ou ideias que aceitamos como verdade e que criam harmonia ou deformidades em nosso veículo fisiológico. A saúde e a enfermidade nada mais são do que a consolidação de uma constante atitude mental. 

A face e o corpo dos indivíduos revelam claramente os padrões de crenças e de pensamentos que cultivam em seu dia-a-dia. Cada estrutura celular, ou cada órgão interno, reage a cada emoção que sentimos ou cada expressão que verbalizamos.

Tensionamos nossa postura corporal, paralisando, inflando, desviando, esticando, contraindo nossos músculos. Organizamos nossos espaços interno e externo de acordo com nossas relações emocionais com os outros e com nós mesmos.

Nossos corpos (material ou espiritual) podem tecer novas formas ou desmanchar velhas estruturas energéticas, conforme a persistência de nossos ideais ou a força de nossa vontade. Aqui estão prováveis exemplos, os quais porém, devem ser vistos e analisados com certa relatividade;

atitudes controladoras e dominadoras podem provocar inflamações na espinha dorsal; atitudes de ansiedade e preocupações geralmente se manifestam em forma de gastrite, úlceras, azia e outros problemas digestivos; 

atitudes de apego ou dependência afetiva podem causar intensos movimentos peristálticos e tensão na área muscular abdominal; 

atitudes de temor ou pânico refletem sobre as vísceras, ocasionando paradas intestinais ou diarreias que não cessam; 

atitudes de perfeccionismo criam enrijecimento ou deformações ósseas, podendo causar artrites ou artroses; 

atitudes de submissão e passividade desenvolvem arqueamento das costas - cifose - decorrente da contenção de energia bloqueada nessa área; 

atitudes de culpa e ressentimento podem originar nódulos, cistos ou gânglios no corpo, resultantes de estados crônicos de tristeza ou mágoa mal resolvida.

A estrutura e o desenvolvimento corporal são guiados por um conjunto de crenças e regras interiores, algumas delas distorcidas por ambientes sociais ou familiares impróprios. Pensamentos negativos ou preconceituosos agem nas zonas energéticas do perispírito, inibindo ou desarranjando funções orgânicas, excitando ou retardando os complexos celulares e lesando ossos e músculos. Repressões enfraquecem as atividades imunológicas e agridem a autoimagem saudável. 

Léon Denis, notável divulgador do Espiritismo, afirmou: "O corpo fluídico, que possui o homem, é o transmissor de nossas impressões, sensações e lembranças. Anterior à vida atual, inacessível à destruição pela morte, é o admirável instrumento que para si a alma constrói e que aperfeiçoa através dos tempos; é o resultado de seu longo passado"(3)

Os benfeitores e guias da Terra, ou de qualquer dimensão do Invisível, não tentarão nos transformar em androides ou fantoches, curando-nos, sem que percebamos o que ocasionou as nossas doenças, ou seja, impedindo-nos de perceber quais as atitudes ou emoções que nos levaram à insanidade. Na realidade, os mentores não são “favorecedores ilimitados”, mas, sim, nos conscientizam para que nós mesmos possamos transformar a insanidade em sanidade. Dão-nos uma nova visão para que façamos uma transmutação do mal em bem. A postura superprotetora de solucionar, indiscriminadamente, nossos desafios ou conquistas existenciais nos furta os instrumentos básicos da jornada evolutiva. Nenhuma entidade sábia deseja fazer-nos dependentes ou indivíduos inconscientes do processo da vida.

A plasticidade não é somente um atributo do corpo fluídico, mas também do organismo físico, resguardando a relativa proporcionalidade.

Tomar consciência dessa nossa capacidade ignorada é descobrir o autocurador que há em nós mesmos. Com o pensamento e a vontade poderemos restaurar e aperfeiçoar nossas estruturas celulares lesadas, inicialmente saneando nossa anatomia perispiritual, para, depois, reestruturar tecidos e órgãos físicos em desarmonia. Hoje, mais do que nunca, podemos entender perfeitamente a razão pela qual Jesus Cristo enunciava as mesmas palavras no ato de cura: “A tua fé te salvou”.(4)

Hammed





(1) I Coríntios, 15:40 e 41. 
(2) O Livro dos Médiuns - 2 Parte - Cap. I, Item 54. 
(2a) O Livro dos Médiuns - 2 Parte - Cap. I, Item 56.
(3) No Invisível - III - O Espírito e sua forma, p. 46. 
(4) Lucas, 17:19


Fonte: A Imensidão dos Sentidos -pdf