Joanna de Ângelis - Livro Em Busca da Verdade - Divaldo P. Franco - Prefácio
Em busca da verdade
"Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará." Jesus (João 8:32)
Plotino, o nobre filósofo pai da doutrina neoplatônica, discípulo de Amónio Sacas, nascido em Licópolis, no Egito, elucidou com sabedoria, conforme se encontra nas Enéadas, volume VI: ... o conhecimento do Uno não vem por meio da ciência e do pensamento... mas através de uma presença imediata, superior à ciência.
Esse conceito sábio conduz o pesquisador ao encontro da intuição, veículo sutil para fazê-lo compreender a verdade universal, a Causalidade de tudo e de todos, desde que, através dos métodos convencionais, racionais, no conceito junguiano mediante as outras funções psicológicas — sensação, sentimento e intelecto — não consegue a identificação perfeita com a Realidade.
É através do processo de maturidade psicológica, que o Self se vai libertando das camadas que lhe dificultam o conhecimento, desde que, vitimado pelo ego com todas as suas heranças do primitivismo, especialmente na área dos instintos, mantém-se adormecido, sem a possibilidade de libertar a essência divina de que se constitui.
No largo processo da evolução, em algumas ocasiões esse fenômeno dá-se naturalmente, vezes outras, no entanto, é através da intuição, do insight que se logra o apercebimento da Unidade, da origem da vida e da sua fatalidade de retorno à mesma, mantendo, no entanto, a individuação, conquistada a longos esforços.
Em face da grandiosidade e infinitude do conhecimento, uma existência corporal é insuficiente, em tempo e em oportunidade, para abarcar-se as leis e informações que dizem respeito à grandeza da vida, sendo indispensável o mergulho na esfera carnal, inúmeras vezes, de modo que se desenvolvam os seus germes em latência no cerne do Self, depositário dos sublimes recursos de que se faz herdeiro.
Essa intuição, no entanto, é resultado da conquista do superconsciente antenado com as Fontes geradoras da vida, após a superação da sombra e dos outros arquétipos que trabalham pela preservação dos conflitos, da lógica apenas advinda do intelecto, libertados do inconsciente coletivo e integrados no eixo ego-Self.
A função da psicologia analítica é atender ás necessidades profundas do ser humano, procurando despertá-lo para a sua realidade transcendental, trabalhando-lhe os valores nobres adormecidos, mediante os quais consegue identificar-se realmente com a vida, libertando-se de todas e quaisquer manifestações do sofrimento sob qual disfarce se apresente.
A busca da saúde é essencial ao ser humano, em razão do anseio pelo bem-estar que lhe amplia os horizontes do entendimento em torno dos objetivos que lhe dizem respeito e das possibilidades de tornar a existência terrestre apetecida e rica de bênçãos.
Nesse sentido, o equilíbrio mente-corpo-emoção é essencial, favorecendo-o com a harmonia defluente das aquisições diárias sobre os conflitos e diluição deles mediante a aquiescência dos sentimentos em perfeita identificação com o Self.
A verdade a que nos referimos não tem conotação religiosa ancestral, mística ou castradora, que impede a vivência das funções orgânicas da vida humana sob justificações sofistas e propostas masoquistas.
O ser humano, na sua constituição tríplice — Espírito, perispírito e matéria — é um conjunto eletrônico sob o comando da consciência, que é emanação do Divino Pensamento, na qual se encontram arquivadas as leis de Deus, de acordo com o seu nível de evolução, facultando que as experiências sejam realizadas e assimiladas, de forma que se transformem em conhecimento e sentimento, servindo sempre de base para realizações outras no futuro.
Referimo-nos, desse modo, a verdade que, filosoficamente, tem um caráter universal, não dependendo de circunstâncias, nem de locais, que flui do Uno, conforme o multimilenário conceito hinduísta.
Deus, desse modo, na visão moderna do Espiritismo, desumanizado e transcendente quanto imanente, é a verdade absoluta que atrai o Espírito na sua contínua ascensão moral.
Por outro lado, a Sua representação psicológica é facilmente detectada como a plenitude, a harmonia, o estado numinoso integral.
Se, no entanto, esse indivíduo humano não conseguir a perfeita identificação dos elementos de que se constitui, por meio do equilíbrio fisiopsíquico, permanecerá em lutas contínuas internas e externas, do si-mesmo deslocado, vencido pela sombra que o amarfanha e que lhe retira os ideais de enobrecimento e de libertação dos atavismos infelizes.
Intuitivamente, todos sentem que algo transpessoal existe e os arrasta na sua direção num verdadeiro Deotropismo.
O nobre Jung entregou a preciosa existência ao estudo da Realidade, utilizando-se da que se denomina objetiva para penetrar naquela que vai além dos sentidos, legando à Humanidade a inapreciável contribuição das suas reflexões, observações e práticas, num estudo de transcendência do ser, da sua constituição, da sua origem e do seu destino...
Realizando investigações científicas com Pauly, o célebre físico quântico, penetrou também a sua sonda investigadora nas doutrinas orientais, especialmente no Budismo, nas mandalas, para identificar o ser real, compreender o sempre complexo e fugidio Self...
O ser humano é um conjunto em transição contínua, em processo de aprimoramento incessante sob todos os aspectos considerados.
Nessa ebulição transformadora ininterrupta, surgem complexidades umas e desaparecem outras, que vão ficando, as últimas, na sua história antropológica ancestral, e diversas como perspectivas de apreensão e de conquista que deve ser lograda.
Seguido pelo sofrimento, à medida que realiza o autodescobrimento diminui a carga de aflição e alarga as percepções em torno da existência, podendo trabalhar para que seja cada vez menos angustiosa, concedendo-lhe mais ampla liberdade de pensamento, de movimento e de ação.
De início, a libertação do sofrimento apresenta-se como de urgência, pelas aflições que propiciam a dor, a angústia, os conflitos emocionais, as frustrações, as ansiedades e as perdas...
Logo depois de lograda a compreensão do mesmo, o ego desarma-se e contribui em favor da solidariedade e da compaixão, passos que denotam a presença do amor na psique e na emoção, favorecendo o Self com a legítima compreensão da Realidade.
É nesse momento que se encontra predisposto à intuição, aos flashes dos insights, campos admiráveis extrafísicos da percepção que leva à individuação.
Nascer, viver, morrer, nascer de novo — é a Lei, no entanto, é essencial descortinar algo mais profundo, que é a prática da caridade como processo de salvação, de autoiluminação.
Não a caridade convencional, por cuja prática espera-se a realização do negócio fraudulento entre as doações mesquinhas das coisas terrenas em comércio com as conquistas espirituais.
Entenda-se salvação como libertação da ignorância, do mal que existe no íntimo de cada pessoa, ausência da crueldade e do mal, em vez do desgastado conceito de retribuição na espiritualidade.
Quando o Self identifica a necessidade de ser gentil, caridoso e afável, portador de compaixão e humanitarismo, desloca-se da função convencional para externar o divino que nele existe, reaproximando-o de Deus.
É graças a esse processo lento e contínuo que o transforma no fulcro real do ser, de onde promanam as mais belas expressões de vida e de realização, insuflando ânimo e alegria de viver, mesmo quando as circunstâncias se apresentam difíceis ou assinaladas por sofrimentos que fazem parte da agenda responsável pela autoiluminação.
Todos os seres estão fadados à plenitude para a qual foram criados, atravessando os períodos diferenciados da escala evolutiva, desde as expressões primárias que imprimem conteúdos perturbadores no seu cerne, necessitando de passar pelas transformações libertadoras, que facultam à essência espiritual o seu total desabrochar.
Em razão dos milhões de anos em que se ergástula o psiquismo na matéria densa, o impositivo de desimpregnação torna-se penoso na razão direta em que desperta a consciência e a sensibilidade se norteia na direção do transcendental.
O fascículo de luz emboscado na forma grotesca vai-se desenvolvendo e logrando aptidões mediante as quais as várias formas se aprimoram, tornando-se mais complexas e mais perfeitas, em um fenômeno progressivo de fatalidade biológica no rumo da Grande Luz.
Transferindo-se de uma para outra etapa, as experiências apresentam-se carregadas das heranças ancestrais, exigindo esforço para as alterações compatíveis com o novo nível de despertamento até atingir o período soberano da razão, quando a sensibilidade e as percepções fazem-se mais aguçadas, abrindo o espaço para a compreensão do sentido da vida e a conquista legítima da Realidade.
Nessa trajetória, o binômio saúde-doença apresenta-se assinalado por muitas dificuldades de ordem fisiológica, psicológica e mental, que devem desaguar na harmonia propiciatória do equilíbrio pleno.
Graças às conquistas das ciências, especialmente aquelas que estudam a psique, existem inúmeros mecanismos e recursos que contribuem eficazmente para esse desiderato, proporcionando a existência saudável na Terra e a individuação que permanece além da esfera física...
O presente livro é mais uma tentativa de nossa parte, buscando contribuir com os estudiosos de si mesmos, interessados na libertação real das aflições e não somente na solução dos sintomas, de modo que possam fruir de bem-estar durante a vilegiatura carnal, entendendo as suas causas, ao mesmo tempo encontrando os recursos especializados para impedir-lhes o surgimento dos efeitos, e quando esses ocorrerem diluí-los de maneira sábia, resultando em alegria de viver, de pensar e de agir.
Utilizamo-nos, mais de uma vez, da excelência terapêutica de algumas das excepcionais parábolas de Jesus, em cujo bojo se encontram as lições psicoterapêuticas valiosas para a conquista do si-mesmo, para a integração do ego-Self.
De grande atualidade, produzem um efeito saudável em todo aquele que as lê com seriedade e interesse, procurando entendê-las no seu significado legítimo, arrancando da letra que mata o espírito que vivifica.
Ao mesmo tempo, apoiando-nos nos incomparáveis ensinamentos propiciados pelos Mentores da Humanidade a Allan Kardec, que deram surgimento ao Espiritismo, buscamos fazer uma ponte de perfeita identificação com a psicologia analítica, apresentada pelo admirável neurologista e psiquiatra suíço Carl Gustav Jung.
Confiamos que a nossa tentativa de servir encontre ressonância nos estudiosos da psique humana e contribua de alguma forma para tornar a existência terrestre mais saudável, ensejando, por antecipação, as alegrias que estão reservadas a todo aquele que for fiel ao bem até o fim como preconizou Jesus.
Joanna de Ângelis
Fonte: Em Busca da Verdade-pdf
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