sexta-feira, 4 de junho de 2021

Allan Kardec - Revista Espírita - Ano VII, Fevereiro de 1864 - Dissertações espíritas - Estudos sobre a reencarnação - A reencarnação e as aspirações do homem




Allan Kardec - Revista Espírita - Ano VII, Fevereiro de 1864 - Dissertações espíritas - Estudos sobre a reencarnação


A reencarnação e as aspirações do homem
 

As aspirações da alma arrastam à sua realização, e essa realização é conseguida na reencarnação, enquanto o Espírito está no trabalho material. Explico-me. Tomemos o Espírito em seu início na carreira humana. Estúpido e bruto, ele sente, contudo, a centelha divina em si, pois adora um Deus que ele materializa conforme a sua materialidade. Nesse ser ainda vizinho do animal há uma aspiração instintiva, quase inconsciente, para um estado menos inferior. Ele começa por desejar satisfazer seus apetites materiais e inveja os que vê num estado melhor que o seu. Assim, numa encarnação seguinte, escolhe ele mesmo, ou antes, é arrastado a um corpo mais aperfeiçoado, e sempre, em cada uma de suas existências, deseja um melhoramento material. Jamais se sentindo satisfeito, quer subir sempre, porque a aspiração à felicidade é a grande alavanca do progresso.

À medida que suas sensações corporais se tornam maiores, mais requintadas, suas sensações espirituais também despertam e crescem. Então começa o trabalho moral, e a depuração da alma se une à aspiração do corpo para chegar ao estado superior.

Esse estado de igualdade de aspirações materiais e espirituais não é de longa duração, porque em breve o Espírito eleva-se acima da matéria, e suas sensações não mais podem ser por ela satisfeitas. Ele necessita mais; precisa de coisa melhor; mas aí, tendo o corpo sido levado à sua perfeição sensitiva, não pode acompanhar o Espírito, que agora o domina e dele se destaca cada vez mais, como de um instrumento inútil. Ele direciona todos os seus desejos, todas as suas aspirações para um estado superior; sente que as aspirações materiais que lhe eram um motivo de felicidade em suas satisfações, não são mais que um aborrecimento, uma degradação, uma triste necessidade da qual ele aspira libertar-se para gozar, sem entraves, de todas as venturas espirituais que pressente.


Allan Kardec


Sociedade Espírita de Paris - Médium Srta. A. C.





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