quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

Manoel Philomeno de Miranda - Livro Sexo e Obsessão - Divaldo P. Franco - Cap. 20 - A ruidosa debandada




Manoel Philomeno de Miranda - Livro Sexo e Obsessão - Divaldo P. Franco - Cap. 20


A ruidosa debandada


Enquanto diligentes cooperadores socorriam os Espíritos que anelavam pela própria renovação e os Benfeitores tomavam outras providências, o grupo socorrista e Philomeno ouviram, de repente, uma atroada, em gritaria infrene e ruidosa movimentação, enquanto clarins e fanfarras emitiam ruídos estranhos, produzindo verdadeiro pandemônio na parte externa da Instituição. 

Percebendo-lhes a surpresa, o irmão Anacleto aproximou-se, e, com a sua habitual gentileza, informou, tranquilo e feliz: 

“Trata-se do retorno daqueles que não tiveram ensejo de participar das nossas atividades, assim como daqueloutros que se recusaram a autolibertação. 

“Desorientados, sem o comando a que se acostumaram, volvem, aturdidos uns e amedrontados outros, temendo-nos e acreditando que somos representantes da Divina Justiça e os ameaçamos com sortilégios e mágicas, para impedir-lhes o prosseguimento nos prazeres animalizantes a que se entregam. 

De certo modo, têm razão. Embora não nos consideremos como embaixadores da Corte Celeste, estamos a serviço do Bem, utilizando-nos dos sublimes sortilégios do amor para libertar aqueles que ainda se encontram escravizados às paixões dissolventes. 

“Já havíamos previsto esse efeito, perfeitamente natural, em se considerando o estado de profunda ignorância e primitivismo no qual estacionam alguns dos nossos irmãos que, embora infelizes, ainda não se dão conta da própria realidade. Inspiram-nos, por isso mesmo, mais compaixão e solidariedade, aguardando o momento próprio, quando lhes luzirá a ocasião para o recomeço e a busca de Deus”.

O generoso Mentor calou-se por um pouco, como a coordenar ideias, e logo prosseguiu: “A cidade perversa é comandada por célebre imperador romano, que se entregou a excessos de toda natureza, enquanto deambulou pelo corpo. Renascendo em situações deploráveis, que lhe eram impostas pela necessidade da evolução, manteve-se acumpliciado com alguns algozes da Humanidade, ele próprio, um impenitente tirano, sempre insaciável de sangue, que se permitia toda sorte de hediondez, inclusive nos desvarios sexuais. Foi, nesse período, que a sociedade do Império declinou, em razão do abastardamento dos valores éticos, abrindo espaço para a decadência e a desagregação dos costumes. Através dos séculos ergueu com outros infelizes perturbadores da paz da sociedade os alicerces da infeliz cidade que ora governa, tornando-a núcleo de punição para aqueles que lhes caem na sedução ou de reduto de prolongadas bacanais, que a matéria não mais permite realizar-se. Condensando sempre o pensamento servil nas expressões da animalidade primitiva, conseguiu realizar um símile em deboche e ultraje do que vivenciara quando governava Roma. Dali têm partido em direção da Terra inúmeros verdugos da Humanidade, que se encarregaram de perverter os costumes e disseminar a licenciosidade, ora sob o disfarce da hipocrisia, noutras vezes em deboche público, de que se tornaram célebres muitas cortes e culturas através da História. Antro de perdição, ali não luzem a liberdade nem a esperança, conforme a mitológica informação de Dante Alighieri, na entrada do seu Inferno. Não obstante, o amor de Jesus em nome do Soberano Pai, periodicamente favorece os seus residentes com a oportunidade de libertação, qual ocorre neste momento que atravessamos”.

Interrompendo, momentaneamente, os esclarecimentos, logo prosseguiu: 

– A cidade perversa é comandada por célebre imperador romano, que se entregou a excessos de toda natureza, enquanto deambulou pelo corpo. Renascendo em situações deploráveis, que lhe eram impostas pela necessidade da evolução, manteve-se acumpliciado com alguns algozes da Humanidade, ele próprio, um impenitente tirano, sempre insaciável de sangue, que se permitia toda sorte de hediondez, inclusive nos desvarios sexuais. Foi, nesse período, que a sociedade do Império declinou, em razão do abastardamento dos valores éticos, abrindo espaço para a decadência e a desagregação dos costumes. Através dos séculos ergueu com outros infelizes perturbadores da paz da sociedade os alicerces da infeliz cidade que ora governa, tornando-a núcleo de punição para aqueles que lhes caem na sedução ou de reduto de prolongadas bacanais, que a matéria não mais permite realizar-se. Condensando sempre o pensamento servil nas expressões da animalidade primitiva, conseguiu realizar um símile em deboche e ultraje do que vivenciara quando governava Roma. Dali têm partido em direção da Terra inúmeros verdugos da Humanidade, que se encarregaram de perverter os costumes e disseminar a licenciosidade, ora sob o disfarce da hipocrisia, noutras vezes em deboche público, de que se tornaram célebres muitas cortes e culturas através da História. Antro de perdição, ali não luzem a liberdade nem a esperança, conforme a mitológica informação de Dante Alighieri (1), na entrada do seu Inferno. Não obstante, o amor de Jesus em nome do Soberano Pai, periodicamente favorece os seus residentes com a oportunidade de libertação, qual ocorre neste momento que
atravessamos.

Interrompendo, momentaneamente, os esclarecimentos, logo deu curso:

“Com a libertação do marquês de Sade, começa uma fase nova para a cidade perversa, já que o seu governante irá tomar providências, que consideramos graves, especialmente contra aqueles que mourejam nas fileiras de O Consolador, que deverão experimentar o látego do desforço e da crueldade. Estamos em campo aberto de batalha, no qual a Treva se empenha por manter os seus domínios, ante a mirífica luz do amor que dilui toda sombra e abre espaço para o desenvolvimento dos seres humanos, por largo tempo retido na impulsividade e na ignorância. Não padecem quaisquer dúvidas que a vitória do Bem é inapelável, cabendo-nos a todos a desincumbência dos compromissos abraçados, com o pensamento vinculado ao Pai, que não cessa de ajudar-nos. 

“Desse modo, firmados nos objetivos elevados que nos unem, avancemos confiantes, trabalhando sem cessar e amando sempre, porque o reino de Deus está dentro de nós, aguardando poder exteriorizar-se em favor de todos os seres”. 

Com ordem, o salão foi sendo esvaziado, e as Entidades encaminhadas aos vários setores de socorro da Instituição Espírita, enquanto os Mentores ministravam as orientações finais. Logo após, o apóstolo Dr. Bezerra de Menezes despediu-se, havendo-se desincumbido da atividade que lhe competia, ficando ali somente aqueles que faziam parte do socorro a padre Mauro, agora acompanhados por madre Clara de Jesus, diretora do Núcleo socorrista que hospedava Manoel Philomeno. 

A Alva abria o seu suave manto de cor e de luz, arrancando da noite aqueles que se encontravam acobertados pelo seu véu de sombras. 

Assim, enquanto o irmão Anacleto prosseguia dando curso aos seus labores, Dilermando e Philomeno buscaram o necessário repouso, a fim de encetarem futuros compromissos na esteira da aprendizagem infinita.

Transcorreram poucas horas, quando eles foram despertados para ruidosa e intempestiva manifestação espiritual que se situava nas imediações da Casa Espírita. Dirigindo-se à entrada, foram colhidos pela estranha presença de alguns milhares de Entidades grosseiras, mascaradas umas, outras apresentando aspectos ferozes, evocando as hostes bárbaras que, no passado, invadiram a Europa, usando exóticos animais e preparadas para aguerrido combate que, certamente, por motivos óbvios, não teria curso. 

Apresentando toda a miséria espiritual do primarismo em que chafurdavam, aqueles Espíritos eram comandados por alguns conhecidos conquistadores do pretérito, que se mantinham nas mesmas condições de atraso e de inferioridade característicos dos seus dias transatos. Era como se o tempo não houvesse transcorrido, mantendo-os na mesma época e nas mesmas circunstâncias da sua infeliz celebridade. 

Belicosos e atrevidos, cercaram as dependências externas da Casa cristã, como se pudessem impedir-lhe o acesso. Instrumentos rudes, tambores e outros veículos de percussão soavam em perturbadora musicalidade, facultando aos desocupados observar o fluir da estranha agitação. Utilizando-se de aparelhos de projeção da voz, gritavam ameaças grosseiras e impertinentes, como se estivessem dispostos à destruição do conjunto de edifícios nos quais se realizavam os labores espíritas. 

Concomitantemente, as defesas foram reforçadas por Espíritos bem preparados com equipamentos especiais, que podiam emitir ondas eletromagnéticas, que, atingindo-os, produziam sensações semelhantes aos choques elétricos. E porque o atraso moral dos militantes fosse muito grande, guardavam as sensações da existência física, tornando-se alvo muito fácil para a preservação do ambiente

Alguns dos seus comandantes conheciam o efeito desses recursos, havendo-se decidido por manter uma distância especial, não obstante procurassem impedir que as vias de entrada para o Edifício central ficassem interditadas.

Aproximando-se do imenso portão material, madre Clara de Jesus abriu os braços em atitude de súplica e exorou o socorro divino. A sua voz, doce e vibrante, assinalada pela compaixão em favor dos agressores, exteriorizava-se em música de amor, suplicando o auxílio do Mestre Inconfundível e das Suas falanges abnegadas.

Ainda não terminara a exortação, quando um volumoso jato de luz, mais iridescente que a claridade do amanhecer, desceu de Regiões Elevadas, e, dentro dele, numerosos Espíritos de semblante grave chegaram, respondendo ao apelo da diretora preocupada. Lentamente avançaram na direção dos visitantes perturbadores, que lhes percebendo a superioridade moral e a força espiritual que irradiavam, em gritaria infrene debandaram novamente, atropelando-se uns aos outros, enquanto as animálias desorientadas tombavam umas sobre as outras, e a sombra densa que os acompanhava era clareada pela exteriorização dos recém-chegados.

À medida que se afastavam em desordem, qual ocorre nas batalhas terrestres com a retirada dos vencidos, eram estabelecidos limites bem guardados em torno da Casa de ação cristã, e voluntários espirituais se postavam, defendendo o acesso, que continuou sem qualquer problema. A sábia administradora entreteceu considerações oportunas, esclarecendo-nos a ignorância em torno de questão tão delicada, pertinente às Organizações espirituais inferiores.

– As tenazes do mal – começou, informando – são de perversa constituição. Quando os seus áulicos se percebem em confronto com os legionários da Verdade, equipam-se de recursos odientos e passam a ameaçar e agir, de forma que voltem ao poder, sem quaisquer prejuízos em torno das prerrogativas que se permitem na sua profunda estupidez ante as Leis da Vida, que pensam manter violadas por tempo indefinido. Especialmente, aqueles que são os inspiradores das desordens sexuais, por nutrirem-se das energias das suas vítimas de ambos os planos da existência, tornam-se furiosos e investem com toda audácia contra os que pensam poder vencer, firmados na alucinação do seu falso poder. Inúmeras vezes têm investido contra a Humanidade, utilizando-se da fraqueza moral dos seres humanos para envolvê-los em seduções nefastas, contagiando-os com os seus fluidos degenerados e levando-os, não poucas vezes, ao paul das orgias e loucuras onde chafurdam. Enfrentaram religiosos que, de início, se ofereceram à fé que abraçam forrados  por sentimentos nobres, mas que não resistiram às tentações, em razão do passado sombrio que ainda os governava e face às situações em que se viram colocados. Outras vezes, cidadãos portadores de reto proceder, quando amadurecem e se encontram próximos de concluírem a lide, à sua instância infeliz têm os apetites açulados e estimulados por outras pessoas devassas que servem de instrumento aos interesses inferiores dessas Entidades, que são atraídas, perturbando o programa de vida a que se vinculavam e impossibilitando-os de concluir os compromissos que lhes são essenciais à vitória sobre si mesmos.

“Não podemos negociar com o Mal nem imiscuir-nos com os maus. Por essa razão, o sábio Nazareno que lhes conhecia as urdiduras e o abismo de impiedade em que se atiraram, ensinou-nos a solicitar ao Pai amoroso que nos livre do mal, porque ainda não possuímos a necessária condição para enfrentá-lo com equilíbrio, sem o perigo de contágio. Porque os maus se utilizam de quaisquer recursos impróprios e os nossos são os do amor, levam momentânea vantagem, em se considerando que não nos permitimos competir mediante os mesmos escusos processos, contando invariavelmente com a bênção do tempo e a resolução da própria criatura a quem nos dispomos ajudar.”

Manteve-se em recolhimento rápido, e logo após deu prosseguimento aos seus lúcidos esclarecimentos:

– Seremos convocados a graves situações, nas quais o testemunho será o nosso sinal cristão, resistindo às forças cruéis da perseguição inclemente e ampliando os horizontes da lídima fraternidade que deve viger entre os indivíduos. Voltar-se-ão, esses irmãos enfermos, contra os bons trabalhadores da Seara de Jesus, criando situações embaraçosas e atirando pessoas sem escrúpulos, fáceis de conduzir, nos seus braços, a fim de os envolverem na urdidura das suas tramas, para depois os arrebanharem nas suas implacáveis proposições. Toda a vigilância e misericórdia que nos estejam ao alcance serão necessárias para uma boa aplicação, gerando recursos defensivos em caráter de prevenção, como também vitalizadores para romper com as ciladas que se apresentarão com frequência. Contaremos, todavia, sempre e sem cessar, com o auxílio do Mestre Jesus, que experimentou a crueza da hediondez humana, em sucessivas conspirações para colherem-NO impiedosamente. Ele sempre esteve em sintonia com o Pai, vencendo os Seus inimigos, que são os incontáveis e contumazes adversários da Humanidade que se liberta lentamente da animalidade, buscando a espiritualização.

“O sexo tem sido um espinho cravado nas carnes da alma humana, dilacerador e contundente espiculo que gera muito sofrimento. Gerações sucessivas de seres predispostos ao progresso têm experimentado derrocada,  face às exigências mal compreendidas do desejo e da utilização sexual. Perturbado, vezes sem conta, nas suas funções, responde por inúmeros destrambelhes da emoção, da mente e do organismo, gerando consequências afligentes ao largo das sucessivas reencarnações. Todavia, é o veículo da perpetuidade da espécie, gerador e estimulante de ideais de beleza, na Arte, no pensamento, na Ciência, na Tecnologia, como fonte de estímulos que impulsionam para a conquista do progresso. Deve, portanto, ser transformado em flor e fruto de bênçãos, sempre que direcionado para as magnas finalidades a que se destina, ficando, à margem, a brutalidade e o primitivismo que lhe deram origem nos recuados tempos das primeiras manifestações... Na Terra dos nossos dias, tem-se tornado trator vigoroso, utilizado de forma indevida quase sempre, por isso mesmo arrastando multidões que se bestializam intoxicadas pelos seus vapores e pelas promessas enganosas de gozo infindo.”

A longânime Benfeitora reflexionou por um pouco, e concluiu: 

– Hipnotizadas pela alucinação do prazer, centenas de milhões de criaturas humanas, ainda vivenciando as faixas da sensação sexual, deixam-se escravizar pelos impulsos mal direcionados e tornam-se vítimas de carrascos da sua paz, que as seviciam com os seus instrumentos de perversão, exercendo domínio sobre suas mentes e sentimentos. Reencarnam e desencarnam num vaivém que parece interminável, até quando expiações pungentes e martirizantes interrompem o ciclo do ir-e-vir quase sem proveito. É o que ocorrerá nos próximos anos com os irmãos ora recolhidos pelo amor de Jesus Cristo e dos Seus mensageiros que os recambiam ao corpo anatematizado pelas aflições, de modo a reajustarem o perispírito e volverem aos ideais de vida e de harmonia. Entretanto, legiões voluptuosas renascerão no mundo das criaturas terrestres, procurando retratar e repetir os excessos que se têm permitido e as estruturas sórdidas quão nefastas da cidade impiedosa, com que seduzirão os indecisos, dominarão os semelhantes e ameaçarão a estabilidade de muitos combatentes do Bem e do progresso.

“Cuidemos para não lhes cair nas ciladas nem nos deixarmos arrastar por seus encantos mentirosos e seduções venenosas, seguindo pela porta estreita, enquanto os nossos espinhos se arrebentarão em flores de caridade e de amor, de ação benemérita e de dever, como filhos biológicos, ideais de dignificação humana, realizações edificantes e de sabor eterno. Jesus é Vida, e com Ele a luta é honra que não podemos descurar.”

Concluídas as sábias informações, ficamos a considerar os volumosos desafios que estavam destinados aos bons trabalhadores do Evangelho, de forma que pudessem permanecer fiéis aos postulados do dever, vivenciando-os, de maneira a confirmar-lhes a excelência, recurso único eficaz para desbaratar as construções do Mal e dos seus pugnadores.
 
Podia considerar que durante muito tempo a nobre Instituição iria sofrer as investidas da crueldade e da astúcia, utilizando-se da fragilidade dos seus membros. Não ignorava, no entanto, conforme acabara de presenciar, que os recursos valiosos do Alto desceriam sempre quando necessários, a fim de que não faltassem o pão de luz nos seus celeiros de amor, nem as valiosas bênçãos da coragem e dos valores morais para os enfrentamentos inevitáveis. Podia também considerar que as reencarnações em massa iriam trazer aqueles infelizes ao proscênio terrestre, a fim de que tivessem chance de evoluir, arrastando, com as suas paixões, verdadeiras multidões afins, de cuja maneira sairiam das regiões do vandalismo para novos tentames que os conduziriam a outras Estâncias, onde dariam curso ao progresso. No momento da grande transição do planeta travar-se-ia a luta final em sucessivas batalhas, conforme a Lei de destruição, facultando a renovação inevitável.

Com a chegada do Sol e a movimentação de pessoas na via pública, as atividades convencionais da Casa Espírita se iniciavam e as orações que assinalavam os labores mantinham os vínculos com as Esferas elevadas. Em torno, no entanto, das fronteiras limítrofes do Refúgio educativo, os desordeiros se movimentavam, dando curso à programação de desforço e tentativas de invasão, que se prolongariam indefinidamente...

Era comovedor notar as sábias diretrizes da Mentora madre Clara de Jesus que, tomada pela consciência do dever, prosseguia no ministério como se nada houvesse acontecido digno de nota ou de preocupação.


Manoel Philomeno de Miranda





(1) Conforme lemos no clássico “DIVINA COMÉDIA” – N. D.



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