sábado, 4 de julho de 2020

Allan Kardec - O Livro dos Espíritos - 3ª Parte - Das leis morais - Cap. I - Da lei divina ou natural - O bem e o mal - Questão 637 (Miramez)



Allan Kardec - O Livro dos Espíritos - 3ª Parte - Das leis morais - Cap. I - Da lei divina ou natural - O bem e o mal


Questão 637


Será culpado o selvagem que, cedendo ao seu instinto, se nutre de carne humana?

“Eu disse que o mal depende da vontade. Pois bem: tanto mais culpado é o homem, quanto melhor sabe o que faz.”

As circunstâncias dão relativa gravidade ao bem e ao mal. Muitas vezes, comete o homem faltas que, nem por serem conseqüência da posição em que a sociedade o colocou, se tornam menos repreensíveis. Mas a sua responsabilidade é proporcional aos meios de que ele dispõe para compreender o bem e o mal. Assim, mais culpado é, aos olhos de Deus, o homem esclarecido que pratica uma simples injustiça, do que o selvagem ignorante que se entrega aos seus instintos.


Allan Kardec



O Livro dos Espíritos comentado pelo Espírito Miramez

Questão 637 comentada


O saber acarreta mais responsabilidade ao ser humano, porque a criatura mais intelectualizada sabe mais que o homem primitivo; por conseguinte, o homem civilizado tem mais culpa quando pratica o mal. Mas, mesmo assim, Deus ainda vê atenuantes para os civilizados, devido ao meio ambiente em que vivem, cheio de paixões inferiores que, em se somando tudo, constitui processos de despertamento das almas.

O homem primitivo, como o indígena, carrega gravadas na consciência as leis de Deus e, visto viver em um ambiente de simplicidade, tem mais razão de conceber essas leis pelos instintos, tanto assim que nas suas tabas existem leis feitas por eles, para manter ali uma certa moral, estabelecendo ordem entre as famílias. Na vida dos selvagens é de se notar um senso de justiça bem acentuado; quem erra é punido, seja ignorante ou sábio, no sentido de levar a marca da corrigenda e sustar outras investidas em faltas.

Devemos prestar bem atenção à resposta dada em "O Livro dos Espíritos", para daí deduzirmos os meios usados pela natureza na corrigenda aos que erram. Ei-la: "Eu disse que o mal depende da vontade. Pois bem! Tanto mais culpado é o homem, quanto melhor sabe o que faz."

Isso, porém, é muito sutil para o pesquisador interessado em aprender os aspectos da lei. Em certas circunstâncias, o selvagem sabe mais que o civilizado, principalmente no que diz respeito aos que dirigem a tribo; o seu instinto é tão forte que em sua mente vem às claras o que deve ou não fazer. Se ele teima, por orgulho ou mesmo por egoísmo, errando o que não deveria errar, é mais punido que o intelectual, conforme as circunstâncias.

Também pode acontecer inversamente; anotemos bem a fala dos Espíritos: "- Tanto mais culpado é o homem, quanto melhor sabe o que faz".

Neste caso, valem muito as intenções de cada alma. Vejamos o que disse Jesus, anotado por Marcos:

Disse ainda: O reino de Deus é assim como se um homem lançasse a semente à terra. (Marcos, 4:26)

Neste caso, a semente é a intenção. Pelos sentimentos, a semente tem vida e o pensamento cria o que deve ser feito e cresce, de sorte que quem semeou é responsável pelo seu plantio. Aí, então, será ele culpado. A culpa é variável: nunca há dois casos iguais. As mudanças diversificam-se umas com as outras, de acordo com os sentimentos de quem semeou. Tudo isso, "porque o reino de Deus", disse Jesus, "está dentro de nós".

No dia em que tivermos pureza de coração, no dia em que a nossa consciência tiver uma paz imperturbável, nossa alma estará no céu, mesmo que estagiar nas sombras; de dentro dela irradiará a suavidade da vida. Nós seremos julgados pela consciência, e não pelo falar dos homens. A consciência registra tudo o que pensamos, tudo o que sentimos na criação de imagens, e é ela que nos absolve ou condena. Ela não vende informações e nem compra, porque é a voz de Deus dentro de nós.

A Doutrina Espírita retira mais um véu que empanava a nossa visão, nos ajudando a caminhar em direção à luz. Se o céu está dentro de nós, o maior interesse do Espírito é viver e trabalhar no interno eterno, onde se encontram Deus, o Céu e os próprios anjos. Vencer a nós mesmos deve ser a nossa meta.


Miramez



Filosofia Espírita – Volume XIII (João Nunes Maia)
Cap. 25 - Responsabilidade e Culpa




Fontes: Ipeak - Instituto de Pesquisas Espíritas Allan KardecO Livro dos Espíritos comentado pelo Espírito Miramez

Nenhum comentário:

Postar um comentário