Hammed - Livro Renovando Atitudes - Francisco do Espírito Santo Neto - Cap. 47
Estado mental
“…O egoísmo é, pois, o objetivo para o qual todos os verdadeiros crentes devem dirigir suas armas, suas forças e sua coragem; digo coragem porque é preciso mais coragem para vencer a si mesmo do que para vencer os outros…”(E.S.E - Cap. XI, Item 11.)
Para que atinja a espiritualidade, já afirmavam as antigas religiões do Oriente, seria preciso que o homem se apartasse do “maya”, que são as ilusões da existência, do nascimento e da morte.
Para que pudesse conquistar o “nirvana”, diziam que seria imperativo extinguir todo o desejo de ser, aniquilando assim o “ego”, que é a individualidade exaltada e distraída pelas fantasias do mundo.
Ao mesmo tempo, encontraremos o Mestre Jesus Cristo instruindo-nos que, para alcançarmos o “Reino de Deus”, é preciso nos despojarmos do “egoísmo”, o terrível adversário do progresso espiritual.
As Bem aventuranças do Mestre nada mais são do que vias para se conseguir atingir a iluminação, ou seja, elevar-se através da mansuetude, humildade e simplicidade, abandonando todo sentimento de personalismo.
A moderna psicologia tem toda a atenção voltada para que as pessoas entrem em contato com a realidade e terminem com suas ilusões, que são as causas da distorção de sua visão e percepção de si mesmas para com as outras.
O “maya” das religiões orientais era tudo que impedia as almas de atingir o estado de “bem aventurados”, também conceituado como “nirvana” ou “reino dos céus”, conforme as diferentes denominações e crenças religiosas.
É realmente a ilusão de satisfazermos os próprios interesses em detrimento dos interesses dos outros que caracteriza o estado de egoísmo- um conjunto enorme de ilusões, que nos tira do senso de realidade e de uma compreensão mais acurada de tudo e de todos.
“Não devo ser contrariado”, “Preciso controlar os outros”, “Sou dono da verdade”, “Nunca poderia ter acontecido comigo” são atitudes ilusórias herdadas por nós de crenças despóticas e prepotentes, filhas da egolatria, ou seja, do “culto ao eu”.
As ilusões de “tudo para mim” ou de “tudo girar em torno de mim” vem do interesse individualista, resquício da animalidade por onde transitamos, em contato com os reinos menores da natureza, em priscas eras.
A caça no mundo animal nada mais é do que o uso dos instintos de preservação e conservação: felinos de grande ou pequeno porte como, por exemplo, o leão e o gato, matam seres indefesos e cordiais, como o antílope e o beija-flor, para alimentarem unicamente a si próprios e suas crias. Não devem, porém, ser considerados como egoístas e cruéis, pois somente colocam em prática os mecanismos atávicos de sua criação, frutos da própria Natureza.
”O egoísmo e o orgulho têm a sua fonte num sentimento natural: o instinto de conservação. Todos os instintos têm sua razão de ser e sua utilidade, porque Deus nada pode fazer de inútil” (1)
Em quase todas as crianças é perceptível a necessidade exclusivista de atenção dos pais em torno delas, como centro de tudo, com a simples presença de um segundo filho do casal. É natural e compreensível o aparecimento do impulso egoico.
O medo de perder suas satisfações, cuidados e compensações psicoemocionais, faz com que a criança nessas condições use o “instinto de preservação”, a fim de “conservar” o carinho, o afago e o amor, antes somente voltados para ela, e agora divididos com o novo irmão.
O denominado ciúme ou egocentrismo infantil não poderá ser considerado anormal, desde que não tome proporções alarmantes. É uma reação natural diante de situações verdadeiras ou imaginadas, de perda de afeto, podendo existir sutilmente disfarçada ou claramente demonstrada.
Nas criaturas que desenvolvem seus primeiros passos no aperfeiçoamento ético-moral, a tendência egoística é um estado instintivo, próprio do seu grau evolutivo, e não um defeito de caráter incompreensível, nem uma imperfeição inexplicável da índole humana.
“Esse sentimento, encerrado em seus justos limites, é bom em si; é o exagero que o torna mau e pernicioso…”(2). Como o feto necessita, por determinado tempo, do cordão umbilical ou mesmo da placenta para sua manutenção, assim também a humanidade transformará gradativamente esse impulso inato e ancestral, adquirido através dos séculos e séculos, na luta pela sobrevivência nos estágios primitivos da vida.
Essa mesma humanidade absorverá no futuro atitudes mais equilibradas e coerentes com seu patamar evolutivo, aprendendo a usar cada vez melhor seus sentimentos, antes somente instintos.
Dessa forma, entendemos que o egoísmo, esse agrupamento de ilusões de supremacia, existirá por determinado período de tempo nas criaturas, até que elas consigam se conscientizar de que a atitude de “lavar as mãos”, de Pôncio Pilatos, isto é, consideração excessiva aos seus interesses pessoais, agindo arbitrariamente, trará sempre desilusões e obstrução na percepção do mundo em que vivemos. Já o exemplo do Cristo nos transfere a uma ampla realidade de que o amor é a única força capaz de nos trazer lucidez e equilíbrio no relacionamento conosco e com os outros.
Eis o antídoto contra o egoísmo: ”Não fazer aos outros o que não gostaríamos que os outros nos fizessem”
Hammed
(1) e (2) Obras Póstumas – Allan Kardec, Capítulo O egoísmo e o orgulho.
Fonte: Renovando Atitudes-pdf
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