Hammed - Livro As Dores da Alma - Francisco do Espírito Santo Neto - Pág 8
Crueldade
De todas as violências que padecemos, as que fazemos contra nós mesmos são as que mais nos fazem sofrer. Nessa crueldade não se derrama sangue; somente se constroem cercas e muros, que passam a sufocar e a nos afligir por dentro.
Montaigne, célebre filósofo francês do século XVI, escreveu: “A covardia é mãe da crueldade”. Realmente, é assim que se inicia nossa auto-agressão. Em razão de nossa fragilidade interior e de nossos sentimentos de inferioridade, aparece o temor, que nos impede de expressar nossas mais íntimas convicções, dificultando-nos falar, pensar e agir com espontaneidade ou descontração.
A autocrueldade é, sem dúvida, a mais dissimulada de todas as opressões. Além de vir adornada de fictícias virtudes, recebe também os aplausos e as considerações de muitas pessoas, mas, mesmo assim, continua delimitando e esmagando brutalmente. Essa atmosfera virtuosa que envolve os que buscam ser sempre admirados e aceitos deve-se ao papel que representam incessantemente de satisfazer e de contentar a todos, em quaisquer circunstâncias. Buscam contínuos elogios, colecionando reverências e sorrisos forçados, mas pagam por isso um preço muito alto: vivem distantes de si mesmos..
A causa básica do “autotormento” consiste em algo muito simples: viver a própria vida nos termos estabelecidos pela aprovação alheia.
A timidez pode ser considerada uma autocrueldade. O acanhado vigia-se e, ao mesmo tempo, vigia os outros, vivendo numa autopsiarão. Em razão de ser aceito por todos, ele não defende sua vontade, mas sim a vontade das pessoas. Pensa que há algo de errado com ele, não desenvolve a autoconfiança e, continuamente, se esconde por inibição.
Pensar e agir, defendendo nosso íntimo e nossos direitos inatos e, definindo nossas perspectivas pessoais, sem subtrair os direitos dos outros, é a imunização contra a autocrueldade.
Para vivermos bem com nós mesmos, é preciso estabelecermos padrões de auto-respeito, aprendendo a dizer “não sei”, “não compreendo”, “não concordo” e “não me importo”.
As criaturas que procuram bajulação e exaltação martirizam-se para não cometer erros, pois a censura, a depreciação e a desestima é o que mais as atemorizam. Esquecem-se de que os erros são significativas formas de aprendizagem das coisas. É muito compreensível faltarmos à lógica numa tomada de decisão, ou mudamos de ideia no meio do caminho; no entanto, quando errarmos, será preciso que assumamos a responsabilidade pelos nossos desencontros e desacertos e apreendamos o ensinamento da lição vivenciada.
Quem busca consenso, crédito e popularidade não julga seus comportamentos por si mesmo, mas procura, ansiosamente, as palmas dos outros, oferecendo inúmeras razões para que suas atitudes sejam totalmente consideradas.
Vivendo e seguindo seus próprios passos, poderá inicialmente encontrar dificuldades momentâneas, mas, com o tempo, será recompensado com um enorme bem-estar e uma integral segurança de alma.
Estar alheio ou sair de si mesmo, na ânsia de ser amado por todos aqueles que considera modelos importantes, será uma meta alienada e inatingível. O único modo de alcançar a felicidade é viver, particularmente, a própria vida.
A fixação que temos de olhar o que os outros acham ou acreditam, sem possuirmos a real consciência do que queremos, podemos, sentimos, pensamos e almejamos, é o que promove a destruição em nossa vida interior, ou seja, o esfacelamento da própria unidade como seres humanos e, por conseqüência, nossa unidade com a vida que está em tudo e em todos.
Consultam Kardec os Obreiros do Bem: “A obrigação de respeitar os direitos alheios tira ao homem o de pertencer-se a si mesmo?” E eles responderam: “De modo algum, porquanto este é um direito que lhe vem da Natureza”.(1)
“Pertencer-se a si mesmo”, conforme nos asseveram os Espíritos, é exercer a liberdade de não precisar conciliar as opiniões dos homens e de livrar-se das amarras da tirania social, da escravidão do convencionalismo religioso, das vulgaridades do consumismo, da constrição de ser dependente, enfim, do medo do que dirão os outros.
A solução para a auto-crueldade será a nossa tomada de consciência de que temos a liberdade por “direito que vem da Natureza”. Contudo, de quase nada nos servirá a liberdade exterior, se não cultivarmos uma autonomia interior, porque quem está internamente entre grilhões e amarras jamais poderá pensar e agir livremente.
A crueldade, como pena de morte, já se achava estabelecida em quase todos os povos da Antiguidade. Em Atenas, dava-se ao sentenciado à morte opções de escolha: o estrangulamento, que era considerado por todos humilhante; o corte de cabeça através do cutelo, o que era muito doloroso; e o envenenamento, o preferido pela maioria dos condenados.
Aqueles que buscam incessantemente satisfazer e agradar a todos, recebem os aplausos e as considerações de muitas pessoas, mas vivem esmagados por uma falsa atmosfera, onde demonstram virtudes que, na realidade, não possuem. Por buscarem elogios constantes, colecionando reverências e sorrisos forçados, acabam pagando um preço muito alto por isso: passam a viver distantes de si mesmos.
A causa básica do “autotormento”, consiste em algo muito simples: viver a própria vida nos termos estabelecidos pela aprovação alheia.
Para vivermos bem conosco mesmos, é preciso estabelecer padrões de auto-respeito, aprendendo a dizer: “não”, “não sei”, “não compreendo”, “não concordo” e “não me importo”.
As criaturas que procuram bajulação e exaltação martirizam-se para não cometer erros, pois a censura e a depreciação são o que mais a atemorizam. Esquecem-se de que os erros são formas muito significativas de aprendizagem, fazendo com que tenhamos a oportunidade de assumir a responsabilidade pelos nossos desencontros e desacertos, assimilando os ensinamentos das lições vivenciadas.
Quem busca crédito e popularidade, não julga seus comportamentos por si mesmo, mas procura, ansiosamente, as palmas dos outros esquecendo que se optar por viver e seguir seus próprios passos, poderá até encontrar dificuldades momentâneas, mas, com o tempo, será recompensado com um enorme bem-estar e uma integral segurança de espírito.
Estar alheio ou sair de si mesmo, na ânsia de ser amado e aceito por todos aqueles que considera modelos importantes, será uma meta alienável e inatingível. O único modo de alcançar a felicidade é viver, particularmente, a própria vida.
A fixação que temos que olhar o que os outros acham ou acreditam, sem possuirmos a real consciência do que queremos, podemos, sentimos e almejamos, é o que promove a destruição de nossa vida interior, ou seja, o esfacelamento da própria unidade como seres humanos e, por consequência, nossa unidade com a vida que está em tudo e em todos.
A solução para a autocrueldade, será a nossa tomada de consciência de que temos a liberdade por “direito que vem da natureza”. Contudo, de quase nada nos servirá a liberdade exterior, porque quem está internamente entre grilhões e amarras jamais poderá pensar e agir livremente.
A crueldade, como pena de morte, já se achava estabelecida em quase todos os povos da Antiguidade. Em Atenas, dava-se ao sentenciado à morte opções de escolha: o estrangulamento, que era considerado por todos humilhante; o corte de cabeça através do cutelo, o que era muito doloroso; e o envenenamento, o preferido pela maioria dos condenados.
Na Roma Antiga, em época anterior a Júlio César, o enforcamento e a decapitação eram as sentenças mais generalizadas. Porém, ao homicida de pais e irmãos era aplicada uma pena invulgar: ser cozido vivo e depois atirado ao mar. A condenação dos incendiários eram as chamas da fogueira. Os hebreus preferiam o apedrejamento, ou a decapitação, pois atribuíam estar na cabeça a localização dos delitos. Na China, havia um processo de deixar cair gotas d’água na testa do condenado, sempre no mesmo lugar, até conduzi-lo à completa loucura. No Japão, os sentenciados à morte tinham a permissão dos juízes para rasgar o próprio ventre com o sabre.
Impossível descrever aqui, nestas rápidas reflexões, os atos terríveis de personalidade da história da humildade, ou analisar sua natureza primitiva e rudimentar, inata nas almas em seus primeiros passos de ascensão espiritual. Nomearemos apenas algumas criaturas que tiveram comportamentos degenerados; como Nero, Calígula, Caracala, Gêngis-Cã, Ivã – o Terrível, Tamerlão, e outras, sem nos determos nas atitudes dessas figuras do passado ou do presente, nem nas incontáveis condutas cruéis de homens que passaram anonimamente pela Terra. Todavia, não poderíamos deixar de registrar o fanatismo e o autoritarismo da “Santa Inquisição” – também conhecida como o “Santo Ofício”, criada em 1233 pelo papa Gregório IX -, que entrou para a História como uma das mais brutais demonstrações de ferocidade e violência contra os direitos humanos.
Não saberemos avaliar com precisão quais os atos mais perversos e sanguinários: os realizados pelos executores, ou os praticados pelos executados. Aliás, pessoas lutam e matam até hoje “em nome de Deus”, para justificar e proteger suas crenças religiosas.
A atrocidade, o sadismo, a perversidade e a desumanidade são características provenientes da insensibilidade ou enrijecimento da psique humana, em processo inicial de desenvolvimento espiritual. A Espiritualidade, na terceira parte, capítulo VI, de “O Livro dos Espíritos”, expõe: “(…) o senso moral existe, como princípio, em todos os homens (…) dos seres cruéis fará mais tarde seres bons e humanos (…)”(2)
As faculdades do homem estão em estado latente, “como o princípio do perfume no germe da flor, que ainda não desabrochou”, assim, também, em essência somos todos unos com a Perfeição Divina que habita em nós.
Todo processo de aprendizagem resulta em uma expansão da consciência, o que nos possibilita, gradativamente, abandonar os gestos bárbaros. Quando a criatura integrar na sua mentalidade o senso moral, que nela reside em estado embrionário, converterá os atos agressivos em atitudes sensatas e humanas.
Um traço comum em toda a Natureza é a evolução. Evoluir é o grande objetivo da Vida, pois, quanto mais progredirmos, mais resolveremos nossos problemas com harmonia e sensatez. A maioria dos indivíduos se comporto como se os problemas existissem por s“ sós ” exige que o mundo exterior os resolva. Mas as dificuldades não existem fora, e sim dentro de nós mesmos. Nesse caso, quanto mais percebemos essa realidade, mais aprenderemos como solucioná-las sem brutalidade.
Cada ato de agressividade que ocorre neste mundo tem como origem básica uma criatura que ainda não aprendeu a amar. Naturalmente, todos nós ficamos indignados com a rudeza ou a maldade, mas devemos entender que isso é um processo natural da humanidade em amadurecimento e crescimento espirituais.
Por trás de todo ato de crueldade, sempre existe um pedido de socorro. Precisamos escutar esse apelo inarticulado e dissolver a violência com nossos gestos de amor.
Os atos e a vida do Cristo apresentam, sob muitos aspectos, sempre algo de novo a ser interpretado em seu significado mais profundo. A História da humanidade nunca registrou nem registrará fato tão cruel e violento na vida de um ser humano com aquele ocorrido há quase dois mil anos.
Os judeus tinham, nas redondezas de Jerusalém, uma colina que se destinava à execução dos condenados da época.
Era um terreno de acentuado declive, aspecto pesado e sombrio, onde crucificavam assassinos e ladrões. Os gregos deram-lhe o nome de Gólgota, do hebraico “gulgoleth” (crânio”, os romanos chamavam de Calvário, do latim “calvarium” (“lugar das caveiras”). Esse sítio tinha uma formação rochosa que se assemelhava a uma caveira, além de nele se encontrarem, por todos os lados, crânios em decomposição, expostos ao tempo.
Nesse tétrico lugar, um ser extraordinário, que queria simplesmente despertar nos homens sua “dimensão esquecida”, ou ligar esse “elo perdido” ao Poder da Vida, foi crucificado penosamente.
“E, quando chegaram a um lugar chamado a Caveira, ali o crucificaram, juntamente com dois malfeitores, um à direita e outro à esquerda. Mesmo diante do sofrimento, Jesus dizia: Pai perdoe-lhes, porque não sabem o que fazem.”(3)
O grande número de pessoas ali presente representava a violência humana; para elas não havia sequer um laivo de maldade em suas ações, e se ofenderiam, certamente, se fossem acusadas de perversas. Jesus, no entanto, as entendia em sua infância espiritual.
Todos nós, na atualidade, preocupados em saber como lidar com a violência, que explode de tempos em tempos no seio da sociedade terrena, devemos sempre fazer uma busca interior para compreender integralmente o significado majestoso dessa atitude de entendimento, perdão e amor que Jesus Cristo legou para toda a humanidade.
Hammed
(1) Questão 827 – A obrigação de respeitar os direitos alheios tira ao homem o de pertencer-se a si mesmo?
“De modo algum, porquanto este é um direito que lhe vem da Natureza.”
(2) Questão 754 – A crueldade não derivará da carência de senso moral?
“Dize – da falta de desenvolvimento do senso moral; não digas da carência, porquanto o senso moral existe, como princípio, em todos os homens. É esse senso moral que dos seres cruéis fará mais tarde seres bons e humanos. Ele, pois, existe no selvagem, mas como o princípio do perfume no gérmen da flor que ainda não desabrochou.”
Nota – Em estado rudimentar ou latente, todas as faculdades existem no homem. Desenvolvem-se, conforme lhes sejam mais ou menos favoráveis as circunstâncias. O desenvolvimento excessivo de umas detém ou neutraliza o das outras. A sobre-excitação dos instintos materiais abafa, por assim dizer, o senso moral, como o desenvolvimento do senso moral enfraquece pouco a pouco as faculdades puramente animais.
(3) Lucas 23:33 e 34
Fonte: As Dores da Alma-pdf
ÁUDIO:
Crueldade
Pingos de Amor
Vídeo baseado no livro "As Dores da Alma", do escritor Francisco do Espírito Santo Neto e fundamentado pelo espírito Hammed.
Este é o primeiro de uma série de 21 vídeos quer será seguidos nessa play list.
Crueldade é, sem dúvida, a mais dissimulada de todas as opressões.
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