Hammed - Livro A Imensidão dos Sentidos - Francisco do Espírito Santo Neto - Pág. 83
Ilusão e Realidade
Hammed
Fonte: A Imensidão dos Sentidos -pdf
Ilusão e Realidade
"...Como não há pior cego do que aquele que não quer ver, quando se reconhece a inutilidade de toda tentativa para descerrar os olhos do fascinado, o que há de melhor a fazer é deixá-lo com suas ilusões. Não se pode curar um enfermo que se obstina em manter seu mal e nele se compraz". (2ª Parte - Cap. XXIII, item 250.)
Cada indivíduo é um microcosmo, parcialmente ciente de si mesmo; um complexo de forças inconscientes a serem ainda descobertas.
Demóstenes, um dos mais célebres oradores atenienses, dizia: “É extremamente fácil enganar a si mesmo; pois o homem geralmente acredita no que deseja”.
O ser vê as coisas e o mundo tal como ele é. Quando se vive em equilíbrio interior, até mesmo nos fatos e ocorrências que aparentam enormes desajustes se pode encontrar uma harmonia oculta. À medida que nos transformamos, vamos mudando nossa visão da Criação e das criaturas.
O termo “Samsara”, nas diversas religiões orientalistas, tem como significado o “mundo das ilusões”. Elas afirmam que a maioria dos seres humanos vive neste universo fictício, razão pela qual está presa ao círculo dos renascimentos, e que todo sofrimento provém de não sabermos distinguir a ilusão da realidade. Asseguram ainda que, para atingirmos a espiritualidade, seria necessário extinguirmos as fantasias do mundo físico, aniquilando assim o “ego” – conjunto de ilusões que nos afastam do senso de realidade.
O orgulho é a inquietação de viver para uma imagem efêmera e egocêntrica. Alimentar a aparência requer viver em função da imaginação que se faz de si mesmo e das pessoas. A busca existencial dos orgulhosos não repousa nas experiências do “ser” e, sim, nas expectativas de “ter” ou de agradar os outros.
A fascinação está intimamente ligada ao orgulho e ambos têm como raízes a necessidade de triunfar a qualquer preço, uma arrogância competitiva, subproduto de um complexo de inferioridade ou baixa estima.
Os “olhos do fascinado” trazem gravados, em sua retina espiritual, clichês psíquicos – desta ou de outras vidas – de imagens idealizadas de onipotência.
Por exemplo, na infância pode ter sido uma criança elogiada em demasia ou supervalorizada pelos familiares e amigos. Daí desenvolveu uma convicção de supremacia e orgulho, uma tendência adquirida de que nada existe que ele não faça bem e de que não há ninguém que faça melhor que ele.
Esse indivíduo acredita não ter dúvidas (conscientemente), se julga um doador benemérito, uma pessoa admirável, possuidora de qualidades extraordinárias. Tudo isso pode até conter uma partícula de verdade, mas esse excesso de admiração e elogios que recebeu quando criança pode ser a chave para que possamos compreender melhor suas atitudes de auto ilusão.
Não é que ele não queira ver, está momentaneamente impossibilitado de enxergar a realidade. Aliás, só podemos modificar aquilo que conseguimos ou queremos ver.
Há casos de auto ilusão em que não se pode afirmar, de forma categórica, que o fascinado “se obstina em conservar seu mal e nele se compraz”, de propósito, ou mesmo que ele negue o fato real, por ser teimoso ou turrão. O fascinado não consegue “descerrar os olhos”, porque vive subjugado pela irrealidade do seu ego tacanho, individualista e míope.
Em muitas ocasiões, recusar a verdade ou não se permitir reconhecer a realidade se prende a um mecanismo de defesa inconsciente usado para bloquear a consciência às coisas que ameaçam os valores mais íntimos do indivíduo.
Neste caso, sempre que ele perceber que seu fictício prestígio ou sua autoestima inadequada estiverem sendo ameaçados acionará inconscientemente seu sistema ilusório, para proteger-se. Sua técnica de defesa será: “estou sempre certo”. Haverá um esforço enorme para resguardar sua suposta superioridade. Em muitas circunstâncias, pensamos que a máscara que utilizamos é a nossa verdadeira essência.
Forçá-lo ou obriga-lo a enxergar a realidade negada pode ser uma medida precipitada e perigosa. Importante lembrar que, conforme o Livro do Eclesiastes, “Há um momento para tudo e um tempo para todo propósito debaixo do céu... Tempo de plantar e um tempo de arrancar a planta”. (Ec. 3.1-2).
Ele confere a seu trabalho mediúnico e a seus objetivos brilhantes qualidades. Não suporta sugestões, observações ou qualquer questionamento sobre si mesmo ou de suas obras. Quando lisonjeado, presta favores e retribui a devoção recebida, mas nunca admite ser seriamente contestado.
A fascinação é uma forma de autoengano. É uma atração dominadora que esconde sob um manto opaco e invisível nossa visão clara e crítica dos valores naturais que regem nossa existência de Espíritos imortais.
Nossos pontos fracos nos tornam vulneráveis à ascendência dos Espíritos ignorantes. O obsessor não causa a fascinação. Apenas se aproveita dos núcleos mal elaborados da psique humana, agravando o desajuste já ali instalado.
Nós é quem abrimos a aura, permitindo a intromissão de elementos negativos, que manipulam e dominam nossas energias.
Quando um médium inicia seu processo de autoconhecimento, desperta e vê o que ele é realmente em sua natureza profunda e sente que, para conviver em harmonia, necessita perceber de forma lúcida como funciona a “instrumentalidade psíquica” entre a vida consciente e a inconsciente.
Os indivíduos que procuram criar e manter uma imagem de falso prestígio se tornam alvo do assédio não só dos Espíritos desencarnados como de todos os encarnados que estão em seu redor.
Para nos desfazermos da fascinação ou da auto ilusão seria preciso apenas nos desvencilharmos da escravidão da ideia pressuposta que temos ou desejamos ter acerca de nós mesmos. Quando abandonarmos nossa identidade real, tentando constituir como eixo central de nosso cotidiano uma imagem distorcida e fantasiosa, viveremos inadaptados socialmente e com uma série de transtornos psíquicos.
Seria muito simples ser aquilo que somos, tomar posse de nossos verdadeiros dons divinos, evitando desse modo todo sofrimento e esforço para aparentarmos aquilo que não somos.
Não nos esqueçamos, porém, que a sabedoria vem da prática; quando mais experiências, mais discernimento e bom senso possuiremos.
“[...] Como não há pior cego do que aquele que não quer ver...”. é bom recordar que não podemos modificar as pessoas, mas apenas oferecer-lhes mãos amigas, propor-lhes os ensinos da Boa Nova, compartilhando estudos, orações, experiências e compreensão.
Aprendendo a ser pacientes com nossas dificuldades, aprenderemos, do mesmo modo, a ser tolerantes com as dos outros. Somente tomaremos soluções sensatas diante de situações enganosas quando já tivermos adquirido a capacidade de enxergar os fatos e acontecimentos tais quais são na realidade.
Hammed
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