domingo, 27 de setembro de 2020

Manoel Philomeno de Miranda - Livro Perturbações Espirituais - Divaldo P. Franco - Cap. 9 - Amplia-se a área de trabalho



Manoel Philomeno de Miranda - Livro Perturbações Espirituais - Divaldo P. Franco - Cap. 9


Amplia-se a área de trabalho


Aquela havia sido uma reunião especial, em que as duas Instituições dedicadas ao Bem uniram-se para firmar propósitos de fidelidade a Jesus, desarmar os emaranhados fios da intolerância e dos desplantes em referência à pulcritude do Espiritismo.

A doutrina que Jesus nos oferece diz respeito à Vida Imortal, não se trata, portanto, de um código de ética transitório, para acomodações e conforto durante a vilegiatura carnal. Sobretudo tem a ver com a realidade do ser indestrutível, não somente com os seus desequilíbrios, não sendo uma nova caixa de Pandora para solução de problemas como vem sendo utilizada pelo desconhecimento de alguns membros que nela mourejam.

A existência física é bênção incomparável, mediante a qual a consciência do Si desperta e faculta o entendimento de valores que jazem adormecidos nos refolhos do ser. 

Longa ou breve, é sempre transitória, e tem por objetivo alertar o ser humano para a sua realidade transcendental, especialmente ante os sofrimentos que irrompem de todo lado e a impermanência material.

Quando se conhecer profundamente o significado da revelação imortalista, alterar-se-á a conduta moral, e os objetivos essenciais da existência passarão a um plano de maior relevância, por abrangerem mais do que o breve período carnal, alongando-se em direção à imortalidade.

Henrique, por exemplo, o irmão caído na estrada, que fazia recordar a vítima do assalto narrado por Jesus, na Parábola do Bom Samaritano, à medida que despertou da hipnose do mal e conheceu alguns dos princípios espíritas, operou uma revolução interna digna de louvor.

Havia sido, na juventude, advogado promissor com uma brilhante carreira, vivência social invejável, mas sem resistência para as reparações que lhe estavam no programa evolutivo, em decorrência do comportamento soberbo de existência próxima passada.

Envolveu-se nas armadilhas do sexo e do álcool nas altas rodas da ilusão, apaixonando-se por jovem leviana e exploradora, que o desnorteou completamente, após exaurir-lhe os recursos econômicos, e logo o abandonou quando se lhe apresentaram alguns sintomas de tuberculose pulmonar. 

Sem uma fé religiosa racional que o ajudasse a compreender as vicissitudes, mergulhou mais fundo no álcool e na drogadição, quando foi conduzido por amigos apiedados a uma Clínica de Tisiologia, na qual, após um ano de sofrimentos, teve o mal estagnado, conseguindo a cura clínica, não, porém, a saúde real.

Deixou-se consumir pela paixão doentia e, descendo os degraus do infortúnio, terminou na rua, à semelhança de outros tantos sofredores que se perderam a si mesmos. 

A bondade cristã de Cenira ergueu-o vagarosamente, apresentou-lhe novo rumo e diferente significado existencial, no qual poderia autoencontrar-se e tornar-se credor de uma vida harmônica.

Nesse momento, mesmo em recuperação difícil dos vícios que se permitira, descobriu na arte de ajudar o sentido psicológico para a sua existência despedaçada. 

A sua proposta para um núcleo de socorro em bairro modesto passou a preencher-lhe os espaços mentais, a aproximar-se mais da Instituição de amor, que lhe ensejava a recuperação interior.

As dificuldades que assaltavam a Sociedade haviam criado situações conflitantes, uma rede bem tecida de intrigas e maledicências, grupos hostis uns aos outros, enquanto se ensinava cordialidade e amor. 

A partir da libertação do adversário espiritual, mudar-se-iam os comportamentos, porque Carolina, ao despertar para a sua realidade pessoal, começou a elaborar um plano de edificação moral interna e a trabalhar em favor do próximo em qualquer situação em que ele se apresentasse. 

As Instituições de qualquer porte devem manter relacionamentos fraternais de sustentação, a fim de se ampararem nos momentos difíceis, sempre preocupadas em fazer o melhor conforme os ensinamentos do Mestre, sem as infelizes competições muito do agrado do ego doentio daqueles que as constituem.

Enquanto os benfeitores exultavam ante os primeiros resultados promissores, as criaturas experimentavam alterações significativas na emoção e no prazer de estarem juntas a serviço do Bem.

Fazia algum tempo que uma veneranda Sociedade Espírita com digna Folha de serviços ao Senhor e à Humanidade estava sendo sitiada por inimigos soezes da Verdade. Sob a sua inspiração, lentamente se infiltraram nas suas fileiras pessoas inescrupulosas e de boa aparência, loquazes e de projeção social, com propósitos exibicionistas de poder e de grandeza, ao considerarem o imenso patrimônio material que a tornava muito bem situada entre as demais, suas correligionárias.

Com excelente programa de divulgação doutrinária, houve um grande progresso social, e passou a desfrutar de respeito e consideração na comunidade em que se encontrava fixada. 

No entanto, é normal que a grande árvore, quando tomba, produza muito ruído, enquanto que, ao crescer, o fenômeno dá- se em silencio.

Sitiada pelos adversários desencarnados do Cristo, começaram a surgir as disputas mesquinhas pelos cargos de projeção, formando-se grupos que se antagonizavam, embora mantendo a aparência jovial que lhes disfarçava os sentimentos.

As suas atividades mediúnicas, nada obstante os cuidados dos mentores espirituais, passaram a apresentar excentricidades, adoção de teorias absurdas, falsamente rotuladas como científicas, sem qualquer estrutura dessa natureza, diminuindo- se o atendimento aos sofredores desencarnados, por "serem experiências do passado, já ultrapassadas". Concomitantemente, como sempre ocorre, surgiu um grupo falsamente intelectualizado, para combater os denominados serviços de desobsessão, que passaram a ser transferidos para programas psicoterapêuticos, chegando-se a substituir, para uma linguagem técnica, os demônios referidos no Evangelho pelos conflitos que seriam os demônios reais a afligirem as pessoas.

O desfile das vaidades, num crescendo contínuo, praticamente expulsou os Espíritos nobres da Sociedade Espírita, tornando-a paradoxal agrupamento de espíritas sem Espíritos. 

Nesse crescendo de presunção em alto desenvolvimento, surgiram os descontentes com os administradores fiéis que desejavam preservar o patrimônio que lhes fora confiado, e logo as calúnias e disputas encarregaram-se do trabalho interno de destruição, quais cupins que invadiram madeira nobre e não foram percebidos, mantendo a aparência brilhante, mas internamente em decomposição.

No passado, os desafios aos espíritas procediam do mundo exterior, sendo fáceis de percebidos e mesmo superados; na atualidade, porém, a crueza da perseguição é de natureza interna, na intimidade das próprias Instituições, por invigilância de alguns adeptos que não se permitem penetrar pelo conhecimento verdadeiro da doutrina.

Adicionando-se a essa fragilidade moral, as perturbações provocadas pelos inimigos invisíveis, que se comprazem em gerar conflitos, sobretudo, trabalhando as imperfeições morais daqueles que lhes tombam como vítimas.

O Espiritismo é doutrina eminentemente cristã, fixada nos postulados exarados pelo Mestre Jesus, devendo os seus adeptos estar vigilantes, a fim de que os pruridos da vaidade, da presunção, do orgulho não os dominem. Toda edificação que tenha deficiência na sua base está sempre ameaçada de ruir. Assim, devem ser considerados os labores espirituais que deverão reger as consciências humanas no porvir, construídos na lealdade de princípios e de conduta, com os seus membros profundamente vinculados à oração, à vivência dos pensamentos saudáveis, não dando campo mental à futilidade nem às cruezas deste momento aflitivo.

A Sociedade Espírita são os membros que a constituem, não a aparência material, as suas estruturas físicas, mas os serviços iluminativos que nela se operam, a paciência e a compaixão para os desnorteados que a buscam, onde vibre a lição ímpar da caridade, que deve sempre ser praticada conforme as circunstâncias e o momento, jamais adiada sob justificativas organizacionais, porque, quando é muito discutida, o socorro emergencial chega tardiamente. 

Indispensável que os espíritas se conscientizem de que o Evangelho é muito mais do que um dos belos livros de que a Humanidade tem conhecimento, sendo um tratado de conduta e um tesouro para ser aplicado em todos os momentos da existência humana. 

Naquela mesma madrugada, após as atividades de amparo à nobre Casa do irmão Astolfo, nosso grupo dirigiu-se à Entidade que padecia a constrição das Trevas e se encontrava em verdadeiras batalhas, nas quais o ódio contorcia as relações antes amistosas e a violência das paixões descera a nível insuportável.

Ao invés de serem estudados os problemas em conjunto fraternal, como recomenda o dever cristão, alcançavam as páginas dos jornais, em escandalosas acusações de peculato, de abusos de poder, de apadrinhamentos e desvios de verbas, desmoralizando na opinião pública o trabalho de muitos decênios de abnegação e de luta. Igualmente pairavam ameaças de processos por parte de alguns dos seus diretores, de intervenção judicial e até mesmo policial.

A situação estava insustentável. De nada valiam as admoestações dos guias espirituais que sofriam a ingratidão dos seus pupilos e também eram acusados de mistificadores a serviço dos companheiros denominados corruptos, quando não anuíam às suas condutas perversas. 

O escândalo sempre encontra ressonância nas mentes ociosas, e os conflitos pessoais, nesses momentos, tornam-se armas de acusação e de vingança imprevisível. 

Quando se atinge esse estado de ânimo, é quase inútil qualquer tentativa de reconciliação, porque cada oponente se oculta no bastião escuro do seu interesse e desloca-se emocionalmente da realidade para sintonizar com os objetivos inditosos que, no momento, acalenta.

Nada obstante, os serviços edificantes ali realizados na sucessão dos anos haviam feito a Instituição granjear grande número de Espíritos reconhecidos que velavam pelo seu progresso, lutavam pela preservação do seu patrimônio moral e espiritual, insistiam na ação do compromisso cristão iluminativo. 

Foram esses beneficiários, desde criancinhas, amparadas em momento próprio, enfermos e desvalidos do passado, necessitados do presente e trabalhadores amorosos que formavam a muralha de resistência ao mal, embora sofrendo a infrene agressividade de todos os lados, fiéis, porém, à obra de caridade e de libertação de consciência. 

A Instituição, por muitos títulos, rica de méritos, estava inscrita no "livro do Reino dos Céus" pela obra de construção do amor e da verdade na Terra.

Seus fundadores e antigos cooperadores, agora desencarnados, embora lamentando profundamente a situação de que muitos não se davam conta - que dizia respeito à interferência das forças das Trevas, que tentaram em Seu tempo enfrentar o próprio Mestre, e agora operavam com maldade, buscavam preservar a psicosfera de harmonia entre os que permaneciam fiéis ao programa de amor, ao mesmo tempo fortalecendo-os, a fim de que se mantivessem em silêncio, sem defesas injustificáveis, quais Jesus no pretório, porque a verdade não necessita de palavras e sempre triunfa. 

Nesse amálgama de sentimentos vários de amor e de gratidão, reuniram-se e rogaram ao Senhor da Vida a Sua interferência pessoal, a fim de que os danos já causados não desanimassem os lidadores fiéis e a obra pudesse sobreviver à tempestade voluptuosa.

Como consequência, o nosso grupo de ação deslocou-se para a sede da veneranda sociedade, a fim de serem tomadas providências mais radicais, com o propósito de modificar-se a paisagem danosa e ameaçadora. 

Os mentores da sociedade haviam programado um encontro espiritual entre as duas alas em dissidência, em tentativa de atenuar a gravidade da situação, demonstrando a interferência das Trevas no delicado processo de agressividade. 

Cooperadores das primeiras horas, que mourejavam do nosso lado, foram adredemente convidados, e especialistas em desobsessão que, desde há muito serviam na Instituição, encontravam-se convocados, bem como dedicados médiuns e assistentes fiéis aos postulados de união e de entendimento para a magna reunião, que logo mais deveria ter lugar.

Quando chegamos ao edifício, encontramo-lo envolto em densas vibrações negativas, embora, vez que outra, brilhassem relampados que tinham a finalidade de diluir as construções deletérias acumuladas nos últimos meses.

Entidades de baixa condição moral rodeavam o prédio ou acotovelavam-se, curiosas umas, zombeteiras outras, e pronunciavam epítetos degradantes em relação aos servidores dedicados ao dever. 

Igualmente, Espíritos generosos que participavam dos compromissos iluminativos adentravam-se, e dirigiam-se para as atividades a que se vinculavam, embora a avançada hora da madrugada, quando atendiam aos mais necessitados surpreendidos pelas injunções penosas da existência. 

Fomos recebidos, à porta de entrada, pelo fundador da Instituição e o nobre dirigente espiritual que se destacava pela beleza refletida na face e a tranquilidade que exteriorizava, fruto da sua perfeita comunhão com as Esferas mais elevadas.

Alguns  dos  convidados  reencarnados  já  se  encontravam  no recinto  dedicado  às  conferências,  numa  das  salas  menores, enquanto  os  diretores  e  os  divergentes  eram  conduzidos  aos lugares reservados antecipadamente.  

As 2h da madrugada, com o recinto repleto, onde se respirava um clima de expectativa, embora as expressões de desagrado de alguns companheiros que reencontravam aqueles contra os quais se voltaram dominados por transtornos graves. 

Não pude  evitar a reflexão de que todos éramos irmãos  que compartilhávamos  dos  mesmos  ideais  cristãos,  apresentando-se alguns  como  inimigos  figadais  que  se  combatiam  com  certa ferocidade, chegando ao extremo de tal comportamento ameaçar os alicerces espíritas da nobre sociedade.

Recordei-me, então, de como somos frágeis e nos deixamos intoxicar pelas emanações morbíficas das Trevas, evocando a cena da Jerusalém transformada, muito diferente do dia em que o Filho do Homem a penetrara montando o jumentinho, sem qualquer arma de triunfo ou ambição guerreira, mas pacificador por excelência. Rememorei o povo simples em saudação festiva, erguendo palmas e atirando flores, para logo passar à cena hedionda do julgamento no pretório... Mesmo Pilatos, pusilânime e insensato, perverso e desumano, não Lhe vê culpa e deseja libertá-Lo, enquanto a mesma multidão, açulada pelos perversos representantes do Sinédrio e tomada pelos Espíritos do Mal, pediam a Sua crucificação, mesmo sabendo que Ele era justo e bom.

Os inimigos desencarnados constituem pesada carga psíquica sobre a humanidade física, por serem as almas despojadas da organização fisiológica ainda aprisionadas nas paixões inferiores, em vãs tentativas de lutar contra as Soberanas Leis da Vida. 

De alguma forma, representam o mito de Lúcifer, que se teria rebelado contra Deus e fora expulso do Paraíso para as Geenas infernais. 

Desencarnando sob o fardo do ódio e dos anseios de vingança contra os seus irmãos, reúnem-se em bandos e cidades onde se acreditam livres da interferência divina, e lutam com ferocidade contra o amor e a solidariedade, os formosos comportamentos saudáveis e promotores da felicidade terrestre, sempre relativa.

Por verem nos espíritas, os discípulos de Jesus, ora devotados à instalação do Reino dos Céus entre as criaturas humanas, têm-nos como adversários e investem contra os seus compromissos de fidelidade ao Bem. Recorrem, sem dúvida, às Leis de Causa e Efeito, e se utilizam das brechas morais para se conectarem, iniciando os lamentáveis processos de obsessão. Não apenas contra os discípulos da Terceira Revelação, como é óbvio, porém contra todos aqueles que se afadigam pelo Bem. Portadores de grande crueldade uns, outros enganados sob a indução de hipnose profunda, acreditam, irresponsáveis e alucinados, que poderão aumentar o caos moral no planeta, enquanto se locupletam nos tremendos fenômenos de vampirismo e de obsessões inomináveis.

Não poucos males que vitimam a sociedade têm as suas matrizes na erraticidade inferior, onde pululam em conúbios morbíficos com os seus chefes arrogantes e prepotentes que se atrevem ignorar a Divindade.

Neste momento, quando se opera a grande transformação do mundo de sofrimentos em direção de melhores condições espirituais e morais, reforçam os seus propósitos maléficos por perceberam que a luz do Calvário é via de libertação. 

Naturalmente, as Instituições que abrigam os servidores da verdade de todo matiz, seres humanos ainda imperfeitos que são, fazem-se vítimas das suas induções destrutivas, por utilizarem das mazelas derivadas do egoísmo e do orgulho ainda predominantes em a natureza humana. 

Chegara a época das eleições regimentais para administração da emérita Entidade.

Iniciaram-se os propósitos perversos vagarosamente, em silêncio, através da urdidura da maledicência disfarçada com lamentos, censuras veladas ou claras, tomando vulto, na razão direta em que acusações legítimas ou não tomavam forma e avançavam no rumo do escândalo. Esqueceram-se os bons e laboriosos amigos de que o escândalo, que é necessário, ocorrerá, mas é necessário muito cuidado, a fim de que se não torne o detonador dele. Nada passa despercebido do Divino Administrador, que dispõe de recursos inimagináveis para disciplinar a rebeldia, corrigir os erros, advertir e orientar todos aqueles que se equivocam. Não se trata de covardia moral ou anuência com as irregularidades, mas de confiança irrestrita em Deus, sempre fazendo o melhor que lhe esteja ao alcance, tirando a trave do olho, esquecendo-se do argueiro no seu próximo.

Os impulsos do ego, os estímulos em favor das competições infelizes, as revoltas surdas, abafados pelas mágoas e rancores acalentados, irrompem em forma de defesa do Bem e dão lugar às interferências realmente infelizes que destroem edificações planejadas no Mais-além em todos os tempos. 

Nos primórdios do Cristianismo nascente, as heresias tornaram-se tão volumosas que destruíram as bases do amor que deve viger entre os discípulos de Jesus, dando lugar a Sínodos, Concílios, extravagantes reuniões de caráter político e econômico, com total esquecimento do bem e da fraternidade, conforme ensinara e vivera Jesus.

Simultaneamente, as perseguições do Império Romano tomaram vulto, porém, ao invés de anularem ou diminuírem o fervor dos mártires, deram-lhe vitalidade para que fosse perpetuada a mensagem em forma de renúncia, abnegação e sacrifício. No entanto, as divisões, filhas do orgulho e da presunção de alguns teólogos que passaram à História como pais da Igreja, dividiram-na em grupelhos de discípulos discrepantes, excomungados uns, abençoados outros, distantes da humildade do Homem de Nazaré, que pôs o amor acima de toda e qualquer injunção ou acontecimento. 

Na atualidade, os maiores desafios e testemunhos já não são fora das fronteiras dos Núcleos de iluminação, porém, dentro delas, repetimos, pelo olvido da simplicidade, da pobreza, da ternura entre todos, da abnegação junto aos filhos do Calvário, que vêm sendo substituídos pelos poderosos do mundo, enganados em si mesmos e enganadores dos seus amigos.

É, portanto, favorável o campo para as dissensões, porque cada indivíduo se acha no direito de criticar, de impor suas ideias e opiniões nem sempre corretas, de transformação lenta, mas segura, de modificar o Celeiro de luz em clube de frivolidade, de clínica em favor de várias terapias sem apoio evangélico, de disputas por projeção e destaque, pela rudeza no trato, pela autopromoção, devaneios que ficam e se decompõem com os despojos materiais, após a morte física.

Quando, pois, se fale sobre obsessões e perseguições espirituais de nível inferior, tenha-se o cuidado de tentar descobrir as fontes de onde procedem, as circunstâncias em que se dão, as tomadas  para ligação dos plugues, identificando a faixa vibratória na qual se encontram antenados... 

É sempre muito fácil diagnosticar-se o mal nos outros, apontar-se aqueles que se extraviam e se encontram em processos perturbadores, sem valores morais para auxiliar sem censura, para contribuir em favor da sua recuperação, considerando-se que o grupo é importante e, numa corrente, quando um elo se enfraquece, toda a segurança periclita.

Havia-se instalado terrível perturbação na Casa de amor, agora sob os camartelos dos rancores e das censuras incessantes, das inimizades que substituíram as antigas afeições, ameaçando as construções respeitáveis que sido realizadas com o sacrifício de mulheres e homens abnegados do passado assim como do presente. 

Naquela madrugada, portanto, adredemente preparada, encontravam-se os litigantes encarnados trazidos pelos mentores, as suas vítimas e também os algozes desencarnados que as telecomandavam espiritualmente. 

O ambiente respirava diversificadas vibrações. Alguns dos convidados ao despertarem e notarem a presença daqueles aos quais acusavam, não podiam ocultar os sentimentos de antipatia e ressentimento, enquanto outros, comovidos, dando-se conta do que estava acontecendo, deixavam-se dominar pela oração e súplica a Deus em favor próprio, assim como do conjunto.

Preparado o ambiente, após esclarecimentos do venerando médico dos pobres, uma diáfana claridade em tonalidade azul suave fez-se no ambiente e ouvimos delicada música com efeitos terapêuticos, à semelhança de um bálsamo sobre superfície ardente e dolorosa. 

Nesse comenos, vimos entrar venerando mártir do Cristianismo primitivo, acompanhado por iluminados benfeitores que conseguiram transformar com a sua presença o ambiente, diluindo as construções mentais de antipatia e as vibrações de mal-estar em clima de harmonia e de esperança.

Os médiuns da Instituição convidados encontravam-se ao redor da mesa de atividades espirituais, como ocorre no dia a dia das Casas Espíritas para o bendito ministério de socorro. O visitante especial acercou-se do dirigente do trabalho, nosso irmão Augusto, inspirou-o a levantar-se e com uma voz harmoniosa exarou a proteção do Mestre inolvidável para as realizações que iriam ter lugar. 

Sua dúlcida voz evocava os dias do martírio, quando a fidelidade dos discípulos era superior e a sua abnegação, acompanhada pela morte, iluminava as noites terríveis dos espetáculos circenses em louvor ao Sublime Crucificado. 

Pétalas de luz diáfana caíam sobre todos nós, como resposta dos Céus esplendorosos às súplicas angustiosas dos novos discípulos de Jesus.


Manoel Philomeno de Miranda




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