segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

Joanna de Ângelis - Livro O Homem Integral - Divaldo P. Franco - 6ª Parte - Maturidade Psicológica - Cap. 24 - A reconquista da identidade



Joanna de Ângelis - Livro O Homem Integral - Divaldo P. Franco - 6ª Parte - Maturidade Psicológica - Cap. 24


A reconquista da identidade


A imaturidade psicológica do homem leva-o a anular a própria identidade, face aos receios em relação às lutas e ao mundo nas suas características agressivas. A timidez confunde-o, fazendo que os complexos de inferioridade lhe aflorem, afastando-o do grupo social ou propelindo-o à tomada de posições que lhe permitam impor-se aos demais. A violência latente se lhe desvela, disfarçando os medos que lhe são habituais.
 
Ocultando a identidade, mascara-se com personalidades temporárias que considera ideais — cada uma a seu turno — e que são copiadas dos comportamentos de pessoas que lhe parecem bem, que triunfaram, que são tidas como modelares, na ação positiva ou negativa, aquelas que quebraram a rotina e que, de alguma forma, fizeram-se amadas ou temidas.
 
Gestos e maneirismos, trajes e ideologias são copiados, assumindo-lhes o comportamento, no qual se exibe e consome, até passar a outros modelos em voga que lhe despertem o interesse.
 
Na superficialidade da encenação, asfixia-se, mais se conflitando em razão da postura insustentável que se vê obrigado a manter.
 
Como efeito do desequilíbrio, passa a fingir em outras áreas, evitando a atitude leal e aberta, mas, sempre sinuosa, que lhe constitui o artificialismo com que se reveste.
 
Vulnerável aos acontecimentos do cotidiano, sem identidade, é pessoa de difícil relacionamento, vez que tem a preocupação de agradar, não sendo coerente com a sua realidade interior e, mutilando-se psicologicamente, abandona, sem escrúpulos, os compromissos, as situações e as amizades que, de momento, lhe pareçam desinteressantes ou perturbadoras...
 
A falta de identidade cria o indivíduo sem face, dissimulador, com loquacidade que obscurece as suas reais impressões, sustentando condicionamentos cínicos para a sobrevivência da representação.
 
Cada criatura é a soma das próprias experiências culturais, sociais, intelectuais, morais e religiosas. O seu arquétipo é caracterizado pelas suas vivências, não sendo igual ao de outrem. A sua identidade é, portanto, a individualidade real, modeladora da sua vida, usufrutuária dos seus atos e realizações.

No variado caleidoscópio das individualidades, surge o grupo social das afinidades e interesses, das aspirações e trocas, da convivência compartilhada.

Os destaques são aquelas de temperamento mais vigoroso de que o grupo necessita, na condição de líderes naturais, de expressões mais elevadas, que servem de meta para os que se encontram na retaguarda. Nenhum contrassenso ou prejuízo em tal exceção.

A generalidade é o resultado dos biótipos de nível equivalente, sem que sejam pessoas iguais, que não as existem, porém, com uma boa média de realizações semelhantes.

Em razão do processo reencarnatório, alguns indivíduos recomeçam a existência física sob injunções conflitantes, que devem enfrentar, sem fugir aos objetivos que a Vida a todos destina.

Como cada um é a sua realidade, ninguém melhor ou pior, face à sua tipologia. Existem os mais e os menos dotados, com maior ou menor soma de títulos, de valores, porém, nenhum sem os equipamentos hábeis para o crescimento, para alcançar o ideal desafiador que luz à frente.

É um dever emocional assumir a sua identidade, conhecer-se e deixar-se conhecer.

Certamente, não nos referimos à necessidade de o indivíduo viver as suas deficiências, impondo-as ao grupo social no que se encontra... Porém, não escamotear os próprios limites e anseios ainda não logrados, mantendo falsas posturas de sustentação impossível, é o compromisso existencial que leva a um equilibrado amadurecimento emocional.

Afinal, todos os indivíduos se encontram, na Terra, em processo de evolução. Conseguida uma etapa, outra se lhe apresenta como o próximo passo. A satisfação, a parada no patamar conquistado leva ao tédio, ao cansaço da vida.

Aventurar-se, no bom e profundo sentido da palavra, é a estimulação de valores, revelação dos conteúdos íntimos, proposta de experiência nova. A ansiedade e a incerteza decorrentes do tentame fazem parte dos projetos da futura estabilidade psicológica, do armazenamento dos dados que cooperam para uma vida estável, realizadora e feliz.

Os insucessos e preocupações durante a empresa tornam-se inevitáveis e são eles que dão a verdadeira dimensão do que significa lutar, competir, estar vivo, ter uma identidade a sustentar.

Deste modo, o indivíduo tem o dever de enfrentar-se, de descobrir qual é a sua identidade e, acima de tudo, aceitar-se. A aceitação faz parte do amadurecimento íntimo, no qual os inestimáveis bens da vida assomam à consciência, que passa a utilizá-los com sabedoria, engrandecendo-se na razão direta que os multiplica.

A sociedade é constituída por pessoas de gostos e ideais diferentes, de estruturas psicológicas diversas, que se harmonizam em favor do todo. Das aparentes divergências surge o equilíbrio possível para uma vida saudável em grupo, no qual uns aos outros se ajudam, favorecendo o progresso comunitário.

O descobrir-se que a própria identidade é única, especial, em decorrência de muitos fatores, favorece a manutenção do bem-estar íntimo, impedindo fugas atormentantes e inúteis.

Quem foge da sua realidade, neurotiza-se, padecendo estados oníricos de pesadelos, que passam à área da consciência, em forma de ameaças de desditas por acontecer, com o mundo mental povoado de fantasmas que não consegue diluir.

Aceitando-se como se é, possui-se estímulos para autoaprimorar-se, superando os limites e desajustes por educação, disciplina e lutas empreendidas em favor de conquistas mais expressivas.

Somente através da aceitação da sua identidade, sem disfarces, o homem, por fim, adquire o amadurecimento psicológico que o capacita para uma existência ideal, libertadora.

A própria identidade é a vida manifestada em cada ser.


Joanna de Ângelis










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