Joanna de Ângelis - Livro Vidas Vazias - Divaldo P. Franco - Cap. 6
Convivência
O Evangelho de Jesus é o mais completo tratado para realizar a formação do caráter social do ser humano.
A convivência social constitui na Terra um desafio dos mais significativos, em razão da sua complexidade.
Cada criatura humana é um universo de experiências especiais, em face do seu estágio evolutivo e das possibilidades de crescimento que se lhe tornam possíveis. Em consequência, não existe uma forma de comportamento genérico, que facilite um intercâmbio equilibrado e saudável.
Pelo fato de viver as emoções que lhe são compatíveis, aquilo que propicia júbilo a alguns a outros se apresenta como provocação ou demérito.
Indispensável a compreensão natural de que o interesse de conviver é destituído de qualquer sentimento que transpire abuso ou exploração.
Atraídos ou recusados uns pelos outros, os indivíduos tornam-se simpáticos ou não pelas ondas vibratórias que os atraem ou os repelem, favorecendo a aproximação ou o afastamento responsável pelas reações afetivas desse comportamento decorrentes.
Não poucas vezes, a identificação de ideais e de sentimentos aproximam umas pessoas das outras, o que produz afeições significativas, que penetram nos escaninhos do ser, que pode perceber as dificuldades e problemas de que se revestem.
Por aguardar-se benefícios imediatos das relações, a afetividade inicial esfria, por uma espécie de decepção ao constatar-se a diferença entre o que se pensava e a realidade.
Cada ser humano é uma faixa de emoções e raciocínios diferentes, razão pela qual se produzem os choques afetuosos, por pensar-se que o tratamento feliz é aquele que se aplica, sem dar-se conta dos conflitos e sofrimentos que os tipificam.
O ego sempre dispõe de uma face, enquanto o Self tem outra identidade, quase sempre oculta. Portanto, o que agrada ao exterior nem sempre corresponde aos anseios do íntimo.
Não havendo um real sentimento de afeto, desfazem-se as amizades, e é muito comum surgirem ou apresentarem-se a animosidade, a desconfiança, as reações nefastas.
Todos os seres humanos necessitam de amparo e afeição. Ninguém existe completo, autossuficiente.
A tolerância, então, faz-se indispensável para a compreensão e a bondade, a fim de diminuir o choque de desidentidade, e auxilia com os recursos da lealdade mediante os impulsos de ascensão e de caridade.
Invariavelmente, porém, exige-se conduta irrepreensível daqueles que se fazem amigos, sem que, por sua vez, tenham-na ilibada.
Acredita-se melhor, que amigo e censura não se relacionam bem, sendo indispensável um comportamento equilibrado.
Na família inicia-se a aprendizagem dos relacionamentos que produzem convivência saudável, mediante o espírito de fraternidade real que deve viger entre os seus membros.
Mediante as diversas fases do desenvolvimento orgânico e emocional, adquirem-se hábitos mentais de cooperação como de reproche, que trabalham para as condutas posteriores no meio social.
A educação formal se encarrega da cultura e do entendimento com largueza para a socialização e convívio compensador.
O Evangelho de Jesus é o mais completo tratado para realizar a formação do caráter social do ser humano.
Todo ele trabalhado no esforço individual para a iluminação interior, proporciona-lhe os instrumentos hábeis para o crescimento intelecto-moral necessários à evolução.
Suas máximas, constituídas de diretrizes edificantes, em trecho algum propõem recusa de amor e de bondade em todas as circunstâncias.
As Suas parábolas, nascidas no cotidiano de todos, são histórias vivas e estuantes que ensinam e propiciam os tesouros da generosidade e da contribuição de exemplos ímpares em favor da harmonia e do crescimento moral.
São preciosas as conquistas proporcionadas pela Ciência e tecnologia, mas sem a vivência do amor fraterno o vazio existencial assinala a existência e leva-a à solidão, à soberba de considerar-se melhor, mais astuto, quando não mais lúcido, capaz de tudo fazer e imitar.
Considerando-se as conquistas intelectuais da tua marcha, não abandones ou desconsideres as excelentes lições da Boa-nova, que permanecem insuperáveis em confronto com as escolas filosóficas que parecem apaziguar o ser, mas que o anestesiam nos sentimentos e dão brilho exterior sem conteúdo de harmonia.
Conviver é uma ciência e arte do comportamento que se aprende a todo momento.
O tratamento que é dirigido a uma pessoa nem sempre funciona com êxito quando aplicado a outra.
A melhor maneira de identificar o que apraz a cada indivíduo é respeitar-lhe a individualidade, tornando-se agradável no conviver, de forma que o relacionamento seja edificante e frutífero.
Todos desejam melhorar-se e tornar-se especiais, o que é compreensível, por necessidade gregária.
Os melhores amigos são aqueles que ajudam a evoluir, que contribuem para a reforma íntima e, em consequência, para a iluminação espiritual.
Temas vulgares, conversações de censuras ou maledicências, assuntos que revelam orgulho e preconceito são prejudiciais sob todos os aspectos considerados, deixando patente que, de igual maneira, será também crucificado na crítica pertinaz quando se encontre afastado por qualquer razão.
A convivência feliz é um alimento para a alma, que se nutre de alegria e experimenta o calor do próximo, mesmo quando em dificuldade.
Jesus, em todos os tempos, desde quando esteve na Terra, modulou a canção do amor universal e tocou profundamente os Seus discípulos sinceros, as suas vidas, fazendo-as felizes.
Não te alijes das incomparáveis formulações do Evangelho e busca participar do banquete fecundo da convivência, em trabalho de renovação das paisagens humanas da atualidade com o pensamento fixado nos gloriosos dias do amanhã que te esperam.
Joanna de Ângelis
SELF: O ego é o centro da consciência, o Si ou Self é o centro da totalidade. Self, ou Eu superior, ou Si, equivale dizer a parte divina do ser.
NEFASTO: Que pode trazer dano, prejuízo; desfavorável, nocivo, prejudicial.
ILIBADO: Não tocado; sem mancha; puro.
PERTINAZ: Que tem muita tenacidade; persistente, pervicaz.
ALIJAR: Lançar fora; livrar(-se).
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