Joanna de Ângelis - Livro Conflitos Existenciais - Divaldo P. Franco - Cap. 4 - Medo
Diferentes manifestações do medo
Embora inconsciente, o medo da morte predomina na natureza humana, como se ele traduzisse o pavor do aniquilamento da vida.
Disso resultante, apresentam-se os inumeráveis medos: da perda de emprego, de objetos valiosos ou de grande estima, de afeições compensadoras, da confiança nos demais, de amar...
O medo do desconhecido, do escuro, de altura, de pessoas, de multidões, de animais e insetos, que se apresentam como condutas fóbicas, são outros desafios perturbadores.
Acrescente-se a esses o medo de adoecer, de sofrer, de morrer...
Cultivados esses sentimentos, a existência torna-se um contínuo sofrimento, exatamente o que o indivíduo muito teme.
Assumisse-se, no entanto, a atitude do amor e constatar-se-ia que ele é o grande eliminador de qualquer expressão de receio e inquietação, porque oferece resistência moral para os enfrentamentos, para os fenômenos que fazem parte do processo de evolução.
Transitando-se num corpo de constituição molecular que se altera a cada segundo, no qual as mudanças processam-se continuamente, não há como adquirir-se estrutura de permanência, exceto quando o Self assume o comando consciente das funções orgânicas que lhe dizem respeito conduzir.
Mesmo em referência aos automatismos fisiológicos e psicológicos, que aparentemente independem da vontade, esta exerce tal predomínio na organização celular que, bemdirecionada, pode gerar novos condicionamentos, sobre os quais se podem estruturar hábitos de saúde e de bem-estar.
A mente indisciplinada e invigilante, não se habilitando a planificações profundas e de alto significado em torno dos ideais da beleza, do conhecimento, da religião, da investigação científica, da solidariedade humana, tende a cultivar os pavores que se lhe transformam em verdadeira paisagem de apresentação masoquista.
Perdem-se as excelentes oportunidades de viver-se integralmente o momento existencial com as suas dádivas, mesmo algumas que fazem parte do processo humano de evolução, receando o que possa acontecer no futuro e que, certamente, não sucederá, ou que assim sendo, nunca se apresentará conforme se pensou.
As conjunturas nas quais se manifestam os mais diversos fenômenos da vida definem-lhes a profundidade, o valor que lhes devem ser atribuídos, os efeitos que ficam.
No caleidoscópio das mudanças biológicas e emocionais, cada ocorrência expressa-se de maneira muito própria, variando de um para outro indivíduo, tendo em vista a sua constituição emocional.
Eis por que nunca se deve ou se pode avaliar com segurança como seria enfrentada uma situação calamitosa num paralelo pela forma como outrem a tem suportado.
O momento é sempre o grande definidor de forças.
Pessoas frágeis e amorosas conseguem superar situações desastrosas com uma coragem e fé surpreendentes, enquanto outras consideradas fortes e resistentes baqueiam diante de sucessos de pequena monta.
Nutrindo-se de autoconfiança pela valorização das próprias energias, podem-se desmascarar os medos que se apresentam em forma de ciúme - filho doentio da insegurança emocional —, da inveja - tormento do mesmo conflito de insegurança -, do ódio incapacidade de compreender e de desculpar -, do despeito — ausência de critério de autovalorização —, todos provenientes de imaturidade psicológica, de permanência no período infantil...
Esse peculiar sentimento de medo destrutivo de forma alguma impede que sucedam os transtornos porvindouros, razão por que, entre outras, deve ser combatido com toda decisão, desde que retira o prazer de viver.
A mudança de ótica em torno do seu desenvolvimento na emoção produz a redução de máscaras sob as quais se oculta o danoso inimigo.
Considerar-se que se têm os mesmos direitos de todo ser humano de fazer-se o que aprouver, desde que não agrida os interesses alheios, de proceder-se a escolhas e tomar-se decisões, constitui um passo decisivo para a superação do medo.
Quando, por alguma razão, não sejam essas as melhores, e os resultados apresentem-se frustrantes, em vez de desencorajamento, concluir-se pelos lucros e a experiência da tentativa, ensejando-se maior campo de habilidades para futuras seleções e ações.
O terrível medo de amar, em face da possibilidade de sofrer-se a indiferença ou o desprezo da pessoa anelada ou mesmo do ideal elegido, que pode não ser compensador, de forma alguma proporciona satisfação, antes deixa tremenda angústia pelo não experimentado, pelo que ficará para sempre como desconhecido, que deveria ter sido vivenciado.
Pior do que amar e não receber resposta idêntica é o prejuízo de nunca haver amado.
Melhor que se haja vivido uma experiência cujos resultados não foram os mais agradáveis do que permanecer-se na incerteza de como seria tal realização.
Luta-se com o medo para evitá-lo, para contorná-lo, para superá-lo, mais do que se pensa conscientemente, gastando-se tempo valioso, que poderia ser aplicado em experiências que seriam exitosas, em forma de realizações não tentadas.
Fantasia-se a vida como uma viagem sem incidentes nem acidentes, o que não deixa de ser utópico e irreal.
O próprio ato de viver no corpo é firmado em processos desafiadores do organismo.
Na execução do programa de cada vida, todos tropeçam, sofrem decepções, insucessos, que são mestres hábeis no ensino dos mais eficientes meios para alcançar-se as metas a que se propõem.
Nada é fácil, sempre apresentando-se como recurso de aprendizagem e de evolução.
O medo, portanto, oculta-se na fantasia de tudo muito fácil, sem suores nem lágrimas, sem sofrimentos nem lutas, gerando incertezas em torno do ato de existir.
Não sendo superadas essas facetas do comportamento, podem-se enumerar outros medos, quais o de falar em público, de comunicar-se com pessoas desconhecidas, da solidão...
São medos perversos e traiçoeiros, porque se amontoam uns sobre os outros, cada vez mais complexos e difíceis de solucionados, caso não sejam enfrentados desde as primeiras manifestações.
Certamente, todos têm planos e objetivos de felicidade que o medo ensombra e dificulta a realização.
Convém, no entanto, enfrentá-lo enquanto é possível realizar esses projetos, porque momento chega em que os recursos disponíveis de tempo, de saúde e de oportunidade já não existem mais.
Joanna de Ângelis
Fonte: Conflitos Existenciais-pdf
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