terça-feira, 26 de setembro de 2023

Humberto de Campos - Livro Reportagens de Além-túmulo - Chico Xavier - Cap. 15 - A grande surpresa



Humberto de Campos - Livro Reportagens de Além-túmulo - Chico Xavier - Cap. 15

A grande surpresa


Quem poderia definir a perturbação do desventurado Léo Marcondes, confinado em tenebroso círculo de angústia? Seria difícil relacionar-lhe as lágrimas e padecimentos. Comerciante abastado, no Rio de Janeiro, nos derradeiros anos do século XIX, não pudera furtar-se ao portal escuro do suicídio. Temperamento fogoso e personalista, nunca se acomodara ao benefício da fé religiosa e, atirando-se às teorias do materialismo demolidor, dera-se aos mais estranhos distúrbios ideológicos, como quem se perde na sombra, caminhando a esmo pela noite a dentro. Sempre fizera questão de espalhar os princípios dissolventes. 

Em casa, na rua, nos cafés, tornara-se proverbial sua atitude iconoclasta e desrespeitosa. Saturado de conceitos dos filósofos pessimistas, destacava-se-lhe a palavra pelas afirmativas ingratas e impróprias, a respeito da Providência Divina. Longe de apreender nos escritores cépticos verdadeiros doentes intelectuais, interessados em seduzir atenções alheias ao catre de ideias enfermiças, internava-se, sem maior exame, no cipoal das mentiras brilhantes. Ao seu ver, o mundo era vasta casa de miséria e trevas sem limites. À menor contradita, desmanchava-se ele em considerações amargas e venenosas:

— Valores na Terra? Onde o desgraçado que poderia manter a perigosa ilusão? Não tivessem qualquer dúvida. Se existisse um Criador — e acentuava essas palavras ironicamente — deveria ser expulso da Natureza. Que viam na Humanidade infeliz senão loucura, desolação e sombra impenetrável? Tudo caminhava para a morte, para a eterna extinção. Flores apodrecidas disfarçam os túmulos, que escarnecem da esperança mais pura. A carne moça era fantasia ocultando caveiras de amanhã, nos mais belos rostos. Vemos cadáveres em toda a parte. Raia o dia para transformar-se em noite; cresce a árvore por sepultar-se na terra, ou para queimar-se em terrível desolação. Que é nosso destino senão a cópia burlesca desses movimentos viciosos e destruidores? Que seria a alegria humana senão a luz frágil que se apaga no vendaval das trevas? E que seria a existência senão jornada angustiosa para o continente de cinzas sepulcrais?

Era inútil qualquer esforço por subtraí-lo a semelhante estado mental. Léo reduzira-se à condição de cego voluntário, segregado em sombras, apesar da alvorada permanente de luz. Desprevenido de socorro íntimo, em vista da situação de miséria moral a que se votara, num momento de excitação profunda cometeu incompreensível homicídio, eliminando antigo companheiro da infância. Dominado de cegueira fatal, não resistiu ao remorso incoercível e suicidou-se pouco tempo depois.

Anos amargosos e escuros abateram-se-lhe sobre o espírito desventurado. Embalde chamava familiares queridos, invocando auxílio espiritual. Tinha a impressão de neblinas geladas cercando-lhe o caminho, no meio de trevas indevassáveis, caindo… caindo sempre.

No círculo de angústias em que se via algemado, recordava a Terra, experimentando revolta infinita. Atribuía ao Planeta a causa de todos os fracassos, a fonte de todas as amarguras.

Na sua desdita, jamais pôde, entretanto, esquecer a esposa, alma simples e generosa, inteiramente consagrada ao bem-estar dele, nos mínimos incidentes da jornada humana. Lembrava-lhe a figura humilde e meiga, com verdadeiros transportes de amor e reconhecimento. Essa recordação se convertera na única estrela a lhe brilhar no abismo de sombras indefiníveis.

Mais de cinquenta anos assim decorreram, de padecimentos incalculáveis, quando o mísero foi convocado a reorganizar caminhos, referentemente ao futuro.

Enfrentando o sábio instrutor que o atendia afetuoso, o infeliz exclamava, angustiado:

— Conscientemente, devo dizer que nunca fui homem perverso. A Terra, todavia, deprimiu-me e inutilizou minhas forças, com fatalidades tremendas e paisagens tenebrosas!

— Cala-te, amigo! — observou a entidade generosa — a queixa no serviço divino nem sempre será rogativa honesta. Por vezes, não passa de manifestação de revolta ou indolência de nossa escassa compreensão do dever sagrado. Aqui estou para atender-te, à face do porvir.

— Abomino a Terra!… — soluçou o desventurado.

 — Esclarece teus projetos quanto às oportunidades futuras. Não nos percamos em lamentos ou palavras ociosas.

Após meditar longos minutos; Léo interrogou hesitante:

— Magnânimo instrutor, poderei reencontrar a inolvidável companheira de luta?

— Por que não? Deus nunca nos fechou a porta da bondade infinita.

— Oh! — gemeu o infeliz, quase esmagado por um raio de júbilo — concedei-me a possibilidade de procurá-la no Paraíso que terá merecido pela imensa virtude; dai-me a ventura de esquecer, por momentos, os quadros escuros da Terra, a fim de acariciar a ideia do reencontro… Em que estrela maravilhosa permanecerá minha santa?

O venerável orientador contemplou-o, benigno, e explicou intencionalmente:

— Tua companheira se encontra numa escola de Esperança.

— Ah! informai-me relativamente às grandezas dessa paragem sublime! Poderei penetrar-lhe as estradas formosas?

Depois de um gesto afirmativo, que o desventurado recebeu com transportes de alegria, continuou o bondoso mentor:

— Trata-se de primorosa região de Esperança, onde Nosso Pai tudo preparou, facilitando a edificação das criaturas. Dias deslumbrantes enfeitam-lhe continentes e mares, repletos de vida sublime e vitoriosa. Árvores amigas lá estendem seus ramos pejados de frutos suculentos e saborosos. Água divina corre gratuitamente de mananciais cantantes, e na atmosfera embaladora a claridade e a melodia não encontram obstáculos… Lá se reveste a alma de fluidos adequados ao trabalho, qual operário a receber o traje de serviço, segundo as próprias necessidades, sem preocupação de retribuir a mão dadivosa e oculta que lhe concede o benefício. No aprendizado de todos os dias, ouvem-se risos infantis, observam-se esperanças da juventude, recebem-se bênçãos de anciães coroados de alvinitentes lírios. São manifestações sagradas de companheiros que ali permanecem, prosseguindo na grande romagem para Deus, cada qual representando nota de amor e trabalho no cântico universal…

Em razão da pausa mais ou menos longa que o mentor interpusera nas considerações, Marcondes, enlevado, solicitou, a demonstrar novo brilho nos olhos:

— Falai, falai ainda desse Plano prodigioso!…

— As noites nessa Esfera — continuou o benfeitor — são cariciosas estações, destinadas à prece e ao repouso. Astros luminosos povoam o céu, chamando os Espíritos a meditações divinas. Constelações fulgurantes passam no infinito em sublime silêncio. Luzes brandas dão novo colorido às paisagens. Ainda há, por lá, pobres e sofredores, pois que se trata duma escola de Esperança; ninguém, contudo, está abandonado por Deus, que manda distribuir as lições segundo as necessidades dos filhos bem-amados… Tudo ali é promessa de vida, caminhos de realização, oportunidades sacrossantas!…

— Benfeitor inesquecível, — rogou Léo Marcondes, agora sem lágrimas, — poderei, ao menos, visitar esse Plano divino?

— Não somente visitá-lo como também procurar a companheira, em seus caminhos, e unir-se novamente a ela, no trabalho de Deus, na elevação e resgate justo, — esclareceu o instrutor, mostrando carinhoso sorriso.

O mísero não sabia traduzir o próprio júbilo.

Tomando-lhe a destra, o amigo espiritual guiou-o carinhosamente através de sombras e abismos. Daí a algum tempo, divisavam larga Esfera que, embora sem claridade própria, se movimentava num oceano de luz. A essa altura, Marcondes prorrompeu em gritos de alegria:

— Salve planeta celeste, santuário de vida, celeiro das bênçãos de Deus!…

— Definiste com sabedoria, — acrescentou o mentor sorridente.

Mais alguns minutos e penetraram numa cidade alegre e bulhenta. Observou o pobre Léo que o local não lhe era de todo desconhecido. Os morros, o casario, o mar, identificavam a paisagem. Desapontado, hesitante, premiu a mão do generoso amigo e indagou:

— Será que estamos na Terra? Não é esta cidade o Rio de Janeiro?

— Justamente.

— Nunca observei antes tanta magnificência e beleza!…

— Eu bem o sabia, — disse o mentor bondosamente, — mas é que nunca procuraste a escola de Esperança que o Pai oferece às criaturas neste Plano. Escutaste os filósofos pessimistas, mas foste surdo aos cânticos da vida; observaste as letras envenenadas que embriagam o cérebro dos homens de teorias aviltantes, mas foste cego ao traço das charruas no solo. Porque preferias a indolência das almas rebeldes, o frio te incomodava, a chuva aborrecia, o calor sufocava, o trabalho constituía angústia constante. 

Em vez de localizar os próprios males, agradava-te identificar os males alheios. Voluntariamente enceguecido às lições diárias, tropeçaste no crime e na amargura; guardavas conceito irônico para o ignorante, repreensões ásperas para o infeliz, olvidando a disciplina de ti mesmo. À força de viver na contemplação dos defeitos e cicatrizes do próximo, nada mais viste em torno do coração, além de ruínas e trevas. 

Deus, porém, é infinitamente bom e te concede nova oportunidade de elevação no caminho da vida. Outras experiências te aguardam nos dias vindouros. Renascerás no mesmo lugar onde levantaste, inadvertidamente, o braço homicida. Transforma as algemas pesadas em laços de amor. Procura a companheira abnegada, que te seguirá os passos amorosamente, na senda redentora. Não olhes para trás. Acende a lâmpada generosa da fé e não temas o assédio das sombras.

Enquanto o interpelado o observava, reconhecidamente, surpreendido e silencioso, o magnânimo instrutor concluiu batendo-lhe afetuosamente no ombro:

— Vai, Marcondes! Recomeça a viagem, toma novamente o vagão da experiência humana, mas não atires o corpo pela janela do comboio em movimento e espera, resignado, a estação do destino.

O ex-comerciante agradeceu num gesto mudo.

Enquanto o mentor solícito voltava às Esferas elevadas, Léo Marcondes era conduzido por outras mãos a uma singela choupana, modestamente erguida num dos bairros mais pobres.


Humberto de Campos
(Irmão X)













segunda-feira, 25 de setembro de 2023

Neio Lúcio - Livro Colheita do Bem - Mensagens familiares do Prof. Arthur Joviano / Chico Xavier - Cap. 63 - A prece é um banho de luz



Neio Lúcio - Livro Colheita do Bem - Mensagens familiares do Prof. Arthur Joviano / Chico Xavier - Cap. 63


A prece é um banho de luz


26/10/1950

Meus caros filhos, Deus abençoe a vocês, conferindo-lhes muita saúde e paz no círculo das lutas redentoras em que procuramos o enriquecimento para a imortalidade.

Somos vários companheiros com vocês, mais atentos à prece, e agradeço a você, meu filho, a vibração impressa em suas palavras. Temos necessidade da oração para a alma, não só como louvor ou rogativa, mas também, digamos, como assepsia espiritual. A prece é um banho de luz interior. E partilhamos esses momentos de paz com enorme alegria nos corações!

Tenho estado junto de seus pensamentos, tanto quanto possível, nestes poucos dias de experiência tumultuária, mas observamos, para edificação nossa, que a vida em comum com a multidão é algo parecido a uma viagem por selva densa. A “flora” e a “fauna” dos pensamentos, por dizer assim, representam grandes fenômenos, sugerindo os mais amplos estudos em torno da inteligência encarnada. 

Mas estejam vocês convencidos de que todo bem vale o que custa e, desse modo, qualquer serviço espiritual no campo da massa é sempre mais nobre por representar dilatação de esforço e aumento da improvisação em favor de nossas próprias experiências. 

Quando o trabalho é mais difícil, é sempre mais agradável por mais precioso. Reporto-me a esses conceitos, meu caro Rômulo, anotando as suas conclusões rápidas ao redor de situações e pessoas que se revelam ao seu espírito, de inesperado, fornecendo-nos a impressão da distância em que se acha o “estado maior” da vida popular à frente das verdades divinas. 

Eu também, noutro tempo, me confiei a vastíssimas ilações, vendo belas formações intelectuais cristalizadas em atitudes que me pareciam inúteis ou destrutivas, e preciosos talentos mergulhados no campo fantasioso do dinheiro, mas o tempo me auxiliou a renovar ideias e a reajustar impressões. Creia, meu filho, que todas as pessoas, de acordo com o índice de aproveitamento da vida que demonstram, se demoram situadas nas posições em que possam servir ao progresso geral com mais segura eficiência.

Nada existe de impróprio na esfera de nossas lutas, a não ser a impropriedade criada por nós mesmos quando atrasamos a nossa marcha na evolução comum. Dou-lhe esses pensamentos, acerca do assunto, porque estimo transmitir a vocês todos os recursos valiosos à serenidade íntima que tenho encontrado. A arena de serviço humano é uma espécie de grande estabelecimento muito bem administrado. Aí dentro há de tudo — experimentos, admissões a título precário, fixações relativas no tempo, retardamento, melhoria, promoções, etc., etc. 

Se o homem quisesse acordar realmente para a noção de responsabilidade e de trabalho, abandonando o regime de “subnível” em que se movimenta, o aprimoramento individual e a glória coletiva surgiriam na Terra com sublime esplendor para a vida imperecível. Infelizmente, porém, os subchefes do trabalho, com a supervisão natural do Cristo, nosso Mestre e Senhor, são compelidos a esperar a melhoria de padrão interior de inúmeros mordomos e servos do patrimônio terrestre. 

Quando observamos um homem vigoroso e sagaz completamente entregue aos princípios do ganho material, estejamos certos de que o manuseio do dinheiro é a melhor colaboração que ele pode, por enquanto, prestar à Direção Divina do mundo e não estejamos menos certos de que o próprio material de sua predileção será, mais tarde, o instrumento de sua transformação para o Plano superior que ele possa alcançar. E nesse escalão podemos apreciar todas as demais classes de atitude nos círculos da vida comum. Demoramo-nos nas “situações magnéticas” mais agradáveis e nelas mesmas colheremos os recursos precisos à renovação.

Daí a grandeza de nossas oportunidades no presente, porquanto conhecemos agora, com relativa exatidão, o valor supremo do serviço individual em qualquer setor de luta. Cada homem é uma espécie de refletor direto da Divindade. Aprimoremos o instrumento, que somos nós mesmos, e o Senhor, através dos seus órgãos mais elevados de expressão e manifestação, nos utilizará para as obras mais altas. Até agora, meu filho, sabemos que o mais prudente e o mais seguro é aquele que aproveita a oportunidade, mas vamos aprendendo também que se o homem gasta o ensejo para o bem comum, torna-se ele o instrumento que a Divina Oportunidade aproveita na prosperidade de todos. Dessa maneira, reconhecemos que sabendo escolher seremos escolhidos.

Quanto ao mais, deixemos o comboio da existência humana com as suas rodas em movimento. Há muito que andar para essa locomotiva gigantesca, a impulsionar dois bilhões aproximados de espíritos humanos, em fluidos densos, com esmagadora percentagem de inclinação para a animalidade primitiva. Jesus nos ampare a todos e continuemos caminhando. Dentre os amigos que vieram repousar construtivamente em nossas orações desta noite, saliento o nosso companheiro Raphael, que lhes deixa um grande abraço.

Descansem tranquilos, com a satisfação dos deveres bem atendidos. A vida é um presente sublime que se revela sem passado e sem futuro quando sabemos encher o dia com a luz do serviço digno e santificante.

Esperando que os benefícios da nossa prece atinjam a todos os nossos amados, presentes no templo doméstico e ausentes dele, deixa-lhes um abraço muito carinhoso o papai que não os esquece,


Neio Lúcio
(Prof. Arthur Joviano)










terça-feira, 19 de setembro de 2023

Emmanuel - Livro Seguindo Juntos - Espíritos Diversos / Chico Xavier - Cap. 16 - Civilização e solidariedade



Emmanuel - Livro Seguindo Juntos - Espíritos Diversos / Chico Xavier - Cap. 16


Civilização e solidariedade


Numerosos os companheiros que se creem modelos acabados de humanismo. São repositórios vivos da cultura de todos os tempos. Descerram ilimitados horizontes à inteligência e, debruçados sobre publicações, falam de ciência e filosofia, dominando os mais altos conhecimentos.

Entretanto, não toleram o mínimo contato com os sofrimentos do próximo.

Nada sabem acerca das criaturas que se arrastam, em torno das peças primorosas que pronunciam.

Supõem-se líderes de educação e progresso, mas admitem como sendo indignidade para eles o trato pessoal com o homem calejado no trabalho que o alfabeto ainda não alcançou; julgam impropriedade, na altura em que se encontram, qualquer atenção caridosa para com as mães abandonadas em telheiros de angústia; acreditam que lhes é inconveniente assumir responsabilidade na proteção à criança que abordou o Plano físico pelo renascimento considerado ilegal e categorizam por marginais pobres irmãos que tombam na estrada, enfermos e subnutridos…

Emitem conceitos profundos, em matéria de espiritualidade e religião, mas desconhecem totalmente os desesperados, os ignorantes, os obsessos, os toxicômanos, as vítimas do aborto, os desempregados, os descrentes, os velhos banidos do lar, os recalcados quase sempre no rumo de penitenciárias ou manicômios, os párias sociais de todas as procedências…

Exaltemos a técnica e desenvolvamos o saber, sem os quais a vida terrena jazeria indefinidamente na selva, mas inclinemo-nos na direção dos que carregam fardos mais pesados do que os nossos, honorificando a solidariedade.

Penetremos os recessos da psicologia da nossa época, auscultemos os problemas, as aflições, as provas e as necessidades que nos rodeiam, oferecendo o concurso de que sejamos capazes à solução e ao amparo de que careçam nossos irmãos ainda infelizes.

Não somos chamados tão somente a viver e aprender, mas também a conviver e auxiliar.

Civilização sem amor é subida espetacular para salto nas trevas.

Cultura que não guia a retaguarda, por intermédio de compaixão e serviço, é comparável à indiferença do pastor que entrega o rebanho aos lobos da violência.


Emmanuel











segunda-feira, 18 de setembro de 2023

Miramez - Livro Filosofia Espírita Vol. 5 - João Nunes Maia - Cap. 15 - Conhecimento anterior



Miramez - Livro Filosofia Espírita Vol. 5 - João Nunes Maia - Cap. 15


Conhecimento anterior
 

O Espírito muda de corpo, como se muda de roupa, no entanto, o agente de luz é o mesmo, e a lei permite a variedade de instrumentos de carne, ou de corpos, para melhor desempenho da alma e enriquecimento das suas experiências, a caminho da Luz.

É de se notar grandes conhecimentos em criaturas sem nenhuma escolaridade naquela existência. Onde adquiriram tais verdades? Somente a reencarnação pode dizer que esses conhecimentos vieram do passado, em vidas sucessivas, de modo que eles afloram no presente para mostrarem, no silêncio da vida, que existe a reencarnação ou, pelo menos, para por os célicos a pensarem.

Esse fenômeno se vê em escritores chamados autodidatas, em oradores fluentes, em políticos fecundos, e mesmo em filósofos, enfim, em todos os ramos da ciência, da filosofia e da religião se encontram esses personagens que nos fazem meditar. A bagagem vem do passado, onde eles aprenderam todas essas coisas. Mesmo em uma existência, sem freqüentar escolas, o Espírito relembra o aprendizado, em muitos casos com a ajuda dos espíritos-guias.

Um exemplo valioso é o caso de Jesus. Ele não estudou nas escolas humanas e tinha todos os conhecimentos que os humanos todos juntos pudessem reunir e ainda muito mais, porque do que falou, e que alguma coisa ficou registrada nos Evangelhos, há dois mil anos, ainda se encontra atualizada, porque é a base da filosofia universal. Somente a ignorância nega esse poder do Mestre. Ele veio nos ajudar a viver melhor e foi expulso pelos pseudo-sábios. Se tornasse a voltar aos nossos dias, quando escrevemos essa página, é bem possível que os novos fariseus tornassem a crucificá-LO. A Sua grandeza era tamanha que, naquela época, já dizia o Mestre: Eles não sabem o que fazem. Não são maus, mas ignorantes.

Vamos escutar esses sábios inatos, pois eles trazem muitas coisas importantes para o nosso bem. Vários deles deram a própria vida na sustentação da verdade, como no caso de Sócrates, na Grécia. O passado está sempre ligado ao presente e, quando necessário, derrama neste o seu manancial de luzes em favor dos que vivem no mundo. Entretanto, é bom que observemos se o que nos vem à mente é realmente educativo. Não o sendo, é de bom alvitre que o recusemos, para não cairmos em novas tentações.

A Doutrina codificada por Allan Kardec é escola para todas as almas, de modo a instruí-las, preparando-as para a volta ao lar espiritual. Quanto tempo ganharemos com essa instrução? Sabemos que muito tempo.

Se algum dia surgirem em nossa mente pensamentos negativos, não precisamos nos preocupar com esse fenômeno. Isso é natural no ser humano. Procuremos corrigi-los sem culpar os outros pela infestação desse mal criado por nós mesmos. Comecemos a corrigir, que todo trabalho de iluminação tem o apoio de Deus, e as mãos invisíveis nos ajudam de todas as formas. Demos campo fértil às boas lembranças do passado, sufocando as más logo que surjam. Todos os grandes místicos passaram por esses processos de limpeza. Vejamos as palavras de Paulo: - "O que quero, não faço; e o que não quero, isso eu faço". (Paulo aos Romanos, 7:15) Eram pensamentos do passado que brotavam em sua mente vigorosa, induzindo-o ao mal, às contradições. Mas ele lutou e venceu a si mesmo, acendendo a luz no coração e instalando a harmonia na consciência.

O maior guerreiro é aquele que vence a si mesmo.


Miramez













Miramez - Livro Filosofia Espírita - Volume XIV - João Nunes Maia - Prefácio de Bezerra de Menezes



Miramez - Livro, Filosofia Espírita - Volume XIV - João Nunes Maia


Prefácio de Bezerra de Menezes


Voltamos a escrever um prefácio para a coleção Filosofia Espírita, que busca, na simplicidade, virtude cristã que todos perseguimos, recursos para nos ajudar no entendimento dos preceitos do Divino Mestre e da obra básica da Doutrina Espírita. Observando com o coração vibrando na faixa do Amor, notaremos que Jesus volta na forma de uma filosofia, donde se vêem claridades imortais de sabedoria.

Miramez, ao escrever estas páginas, desprende, algumas vezes, lágrimas de alegria, ao perceber a sintonia profunda entre "O Livro dos Espíritos" e os ensinamentos de Jesus. "Como é bom saber", diz ele, "que o Céu é uma unidade segura de leis que nos assistem e garantem a nossa vida!

Sentimos, neste livro, como se as letras de "O Livro dos Espíritos" se desdobrassem, e encontramos nele um manancial inesgotável, onde a luz é a água que Jesus ofertou à samaritana junto ao poço de Jacó.

"O Livro dos Espíritos", depois do Evangelho do Mestre, é a maior obra que surgiu na face da Terra; suas letras brilham mais que as estrelas no céu das consciências em despertamento para a vida. E, por isso, os irmãos empenhados em trabalhar na divulgação de suas mensagens serão, certamente, perseguidos, contestados e atormentados pelos que se comprazem na perda de tempo.

Certa feita, em conversação sobre o combate a novos discípulos, empenhados na difusão do Evangelho na dimensão espírita, Miramez afirmou:

- "Não nos deixemos levar pelos contraditores, pois eles são viciados nas discussões improfícuas e habituados às ofensas, desconhecendo a caridade no pão que mata a fome, na roupa que agasalha e no teto que conforta, na palavra que edifica e na escrita que orienta, esquecendo-se sempre daquele amor que não maltrata, não injuria e não persegue.

A resposta deve ser o silêncio cristão, envolvido no trabalho honesto, irradiando alegria pura, em benefício dos que sofrem. Todas as árvores carregadas de frutos são apedrejadas pelos famintos. Os incoerentes de hoje são os mesmos fariseus e escribas que, com a reencamação, trocaram de vestes, mas não mudaram ainda de sentimentos. Que o perdão possa contribuir, de alguma forma, para a elevação desses irmãos e que as bênçãos do tempo, no amanhã, os transformem em servidores do Cristo!"

Nosso desejo é que os trabalhadores do Bem não se esfriem no entusiasmo benfeitor em que se encontram envolvidos, e por isso os exortamos a seguirem avante, pois quem caminha com Jesus não erra o objetivo da Luz.

A Vida Maior, a tudo dirigindo no Universo, não esquece o bom trabalhador, que tem como assertiva constante o servir, sem especular. Usemos o perdão e não esqueçamos o amor que, em forma de caridade, salva e liberta a consciência de todas as agressões.

Se "O Livro dos Espíritos" é um livro-luz, eis aí diminuta partícula sua, pequena célula que pode brilhar em nossos caminhos. Estudemos juntos, porque nessa sintonia de princípios, o Senhor nos instrui e educa. A Doutrina Espírita avança com a humanidade, porque é o amor com a roupagem materializada, fazendo lembrar a caridade em todos os seus aspectos. Recordamos, mais uma vez, a fala de nosso irmão Miramez:

"Todas as árvores carregadas de frutos são apedrejadas pelos famintos..."

 
Bezerra de Menezes













Emmanuel - Livro Alma e Luz - Chico Xavier - Cap. 9 - Com um beijo



Emmanuel - Livro Alma e Luz - Chico Xavier - Cap. 9


Com um beijo


“E logo que chegou, aproximou-se Dele e disse-lhe: — Rabi, Rabi. E beijou-O”. — (Marcos, 14.45)


Ninguém pode turvar a fonte doce da afetividade em que todas as criaturas se dessedentam sobre o mundo.

A amizade é a sombra amiga da árvore do amor fraterno. 

Ao bálsamo de sua suavidade, o tormento das paixões atenua os rigores ásperos. 

É pela realidade do amor que todas as forças celestes trabalham.

Com isso, reconhecemos as manifestações de fraternidade como revelações dos traços sublimes da criatura.

Um homem estranho à menor expressão de afeto é um ser profundamente desventurado.

Mas, aprendiz algum deve olvidar quanta vigilância é indispensável nesse capítulo.

Jesus, nas horas derradeiras, deixa uma lição aos discípulos do futuro.

Não são os inimigos declarados de Sua Missão Divina que vêm buscá-Lo em Gethsemani. É um companheiro amado. 

Não é chamado à angústia da traição com violência. Sente-se envolvido na grande amargura por um beijo. 

O Senhor conhecia a realidade amarga. Conhecera previamente a defecção de Judas: “É assim que me entregas”? — Falou ao discípulo. O companheiro frágil perturba-se e treme.

E a lição ficou gravada no Evangelho, em silêncio, atravessando os séculos.

É interessante que não se veja um sacerdote do templo, adversário franco de Cristo, afrontando-lhe o olhar sereno ao lado das oliveiras contemplativas.

É um amigo que lhe traz o veneno amargo.

Não devemos comentar o quadro, em vista de que, quase todos nós, temos sido frágeis, mais que Judas, mas não podemos esquecer que o Mestre foi traído com um beijo.


Emmanuel












Emmanuel - Livro Cura - Espíritos Diversos / Chico Xavier - Cap. 12 - Nas relações humanas



Emmanuel - Livro Cura - Espíritos Diversos / Chico Xavier - Cap. 12


Nas relações humanas


Cristo nas relações humanas começará no homem com Cristo, ou a civilização genuinamente cristã não passará no mundo de fábula brilhante de nova mitologia.

Para isso é imprescindível que nos afeiçoemos, em verdade, ao Espírito dos Evangelhos, para consolidarmos na Terra o verdadeiro reinado do Espírito.

Não nos basta a mística do Templo organizado com todos os recursos para a exaltação do culto externo de nossa fé.

Nos santuários de pedra e ouro, o Mestre Divino jaz encerrado à maneira de um morto ilustre, cercado de frases fulgurantes no cenotáfio que lhe conserva os despojos.

Somos atualmente convocados, não mais à consagração do serviço religioso encarcerado no círculo da interpretação literal, mas à religião viva do exemplo, sentido e vivido com o nosso coração e com o nosso sangue, com o nosso ideal e com o nosso suor para que o hino espiritual do Evangelho, espraiando-se da nossa área individual de compreensão, se estenda a todas as criaturas, anunciando ao planeta um Novo Dia…

É por isso que o selo do sacrifício nos valoriza o caminho, é por esse motivo que a dor e a luta se transformam em clima incessante de todos os que abraçam na Boa Nova o roteiro da libertação que lhes é própria.

A descrucificação de Jesus é o nosso trabalho primordial, para que os braços do Celeste Amigo, usando os nossos, penetrem o coração da Humanidade, soerguendo-a aos níveis superiores que lhe cabe atingir.

Nossa estrada, em razão disso, se converte em respeitável indicação para aqueles que, ainda, não nos partilham o entendimento.

Nossas atitudes e nossas palavras, nossas dores superadas e nossas ansiedades vencidas constituem páginas de amor e luz que os outros leem, habilitando-se à grande e abençoada renovação.

Situemos o Senhor que buscamos, compreendendo o mundo, e servindo aos nossos semelhantes, através dos seus olhos e inspirados em seus padrões superiores, venceremos os desafios do tempo, reduzindo séculos e milênios na construção do Reino Divino que o antigo espaço da Terra aguarda de nossas mãos.


Emmanuel











Marco Prisco - Revista Presença Espírita - Janeiro, 1999 - Divaldo Franco - Dê-se oportunidade



Marco Prisco - Revista Presença Espírita - Janeiro, 1999 - Divaldo Franco

Dê-se oportunidade


Não se considere esquecido por Deus, somente porque as ocorrências não se dão conforme você gostaria.

Certamente você se deslocou do centro das reflexões corretas e tudo considera através de uma óptica emocional equivocada.

A sua vida tem um objetivo superior e um significado psicológico expressivo.

O conceito negativo que você estabeleceu a tal respeito é resultado do pessimismo que tem cultivado.

Tudo quanto você toma como prejudicial e infeliz na sua jornada é somente projeção do que acalenta no íntimo.

A mudança de atitude mental para melhor alterará completamente as ocorrências da sua existência.

As doenças que o acometem estão enraizadas no Espírito, e a rebeldia que você se permite somente irá piorar-lhe a situação.

O único antídoto para o desequilíbrio é a paz que se deriva da resignação dinâmica.

Você vê inimigos terríveis em todos e em tudo, porque se encontra de mal com você mesmo.

Tudo quanto lhe acontece no exterior é resultado da sua projeção íntima.

Não pense que a sua existência não tem utilidade para nada.

A lagarta rastejante ergue-se nas asas da borboleta e plana saudável no ar.

Você possui tesouros imarcescíveis que teima por esconder na morbidez da revolta que desenvolve.

Uma palavra edificante, um sorriso gentil, um gesto de bondade, um aperto de mão possuem valores mais altos em determinados momentos do que moedas reluzentes e posições relevantes.

A queixa que se lhe fez habitual comportamento envenena-o, após cegá-lo para a claridade do bem.

Há, sim, pessoas difíceis e perturbadoras, ignorantes e agressivas, sempre dispostas a prejudicar os outros. São almas insensatas, porém, que a si mesmas se infelicitam.

Você se habituou a ver somente o lado sombrio dos acontecimentos, a face mesquinha e desagradável do mundo.

Com um pouco de atenção, no entanto, você pode redescobrir o milagre da vida, no amanhecer radioso, no desabrochar de uma flor, no entardecer rubro, na fragilidade infantil, na alegria juvenil, na sabedoria do ancião...

Não se considere desafortunado porque se encontra distante do triunfo terreno.

Aquilo que você considere glória é somente maior peso da responsabilidade sobre alguém que talvez esteja ansioso para desembaraçar-se da situação que se lhe apresenta penosa e asfixiante.

Não se permita, sob hipótese alguma, guardar ressentimentos. Ficar à espreita para que o mal aconteça noutrem acumula azedume...

Esses tóxicos matam primeiro aqueles que os ingerem e conservam, destrambelhando lhes a maquinaria orgânica no começo, e fulminando-os, caso não mudem de atitude mental e emocional.

Seus pensamentos são sua existência.

Seus hábitos formam sua realidade interior.

Renove-se cada dia para melhor.

Sorria e desculpe sempre.

O infeliz não merece punição, e sim oportunidades novas até o despertamento para a vitória sobre si mesmo.

Seja você aquele que lhe dá novo ensejo de reparação, a pessoa que está construindo com amor o mundo ditoso pelo qual Jesus vem trabalhando há milênios, dando-se também oportunidades de triunfos.


Marco Prisco







Mensagem ditada pelo Espírito Marco Prisco, psicografada pelo médium Divaldo Franco em 29.12.1997 – publicada na Revista Presença Espírita do mês de janeiro de 1999, na seção Mensagem do Mês.

domingo, 17 de setembro de 2023

Léon Denis - Livro O Porquê da Vida - Cap. 3 - Espírito e matéria



Léon Denis - Livro O Porquê da Vida - Cap. 3


Espírito e matéria


Não há efeito sem causa; nada procede do nada. Esses são axiomas, isto é, verdades incontestáveis. Ora, como se constata em cada um de nós a existência de forças e de poderes que não podem ser considerados como materiais, há a necessidade, para explicar sua causa, de se chegar a uma outra fonte além da matéria, a esse princípio que chamamos alma ou espírito.

Quando, descendo ao fundo de nós mesmos, querendo aprender a nos conhecer, a analisar nossas faculdades; quando, afastando de nossa alma a borra que a vida acumula, o espesso envelope de preconceitos, erros e sofismas que têm revestido nossa inteligência; penetrando nos recessos mais íntimos de nosso ser, encontramo-nos face a face com esses princípios augustos sem os quais não haveria grandeza para a humanidade: o amor ao bem, o sentimento de justiça e de progresso. Esses princípios, que se encontram em diversos graus, tanto entre os ignorantes quanto entre os homens de gênio, não podem vir da matéria, desprovida que está de tais atributos. E se a matéria não possui essas qualidades, como poderia formar, sozinha, os seres que delas são dotados? O senso do belo e do verdadeiro, a admiração que sentimos pelas grandes e generosas obras, não poderia ter a mesma origem que a carne de nossos membros ou o sangue de nossas veias. Está lá, na sua maior parte, como os reflexos de uma luz sublime e pura que brilha em cada um de nós, da mesma forma que o sol se reflete sobre as águas, quer estejam perturbadas ou límpidas.

Em vão se pretende que tudo seja matéria. E apesar de que ainda que nos ressintamos de poderosos impulsos de amor e de bondade, já conseguimos amar a virtude, o devotamento, o heroísmo; o sentimento da beleza moral está gravado em nós; a harmonia das coisas e das leis nos penetra, nos arrebata. E, com tudo isso, nada nos distinguiria da matéria? Sentimos, amamos, possuímos consciência, vontade e razão e procederíamos de uma causa que não encerra essas qualidades em nenhum grau, de uma causa que não sente, não ama nem conhece nada, que é cega e muda? Superiores à força que nos produziu, seríamos mais perfeitos e melhores que ela! Uma tal maneira de ver não suporta um exame. O homem participa de duas naturezas. Por seu corpo, por seus órgãos, deriva da matéria; por suas faculdades intelectuais e morais, é espírito.

Dizendo ainda mais exatamente, relativamente ao corpo humano, os órgãos que compõem essa admirável máquina são semelhantes a rodas incapazes de agir sem um motor, sem uma vontade que as coloque em ação. Esse motor é a alma. Um terceiro elemento religa os dois outros, transmitindo aos órgãos as ordens do pensamento. Esse elemento é o perispírito, matéria etérea que escapa aos nossos sentidos. Envolve a alma, acompanha-a após a morte nas suas peregrinações infinitas, depurando-se, progredindo com ela, constituindo um corpo diáfano, vaporoso. Voltaremos, mais adiante, a comentar sobre a existência desse perispírito, chamado também de duplo fluídico (1).

O espírito jaz na matéria como um prisioneiro em sua cela; os sentidos são as aberturas pelas quais se comunica com o mundo exterior. Mas, enquanto a matéria, cedo ou tarde, declina, periclita e se desagrega, o espírito aumenta em poder, fortifica-se pela educação e experiência. Suas aspirações se engrandecem, se estendem para além da túmulo; sua necessidade de saber, de conhecer e de viver não tem limites. Tudo mostra que o ser humano pertence apenas temporariamente à matéria. O corpo não é senão uma vestimenta emprestada, uma forma passageira, um instrumento com a ajuda do qual a alma prossegue, nesse mundo, sua obra de depuração e de progresso. A vida espiritual é a vida normal, verdadeira, sem fim.


Léon Denis 







(1) Após alguns anos, uma certa escola se esforçou em substituir o dualismo da matéria e do espírito pela teoria da unidade de substância. Para ela a matéria e o espírito são estados diversos de uma só e mesma substância que, na sua evolução eterna, se afina, se depura, tornando­-se inteligente e consciente. Sem abordar aqui a questão de fundo, que necessita de longos desenvolvimentos, é preciso reconhecer que a ideia que até agora se fazia da matéria estava errada. Graças às descobertas de Crookes, Becquerel, Curie, Lebon, a matéria nos aparece hoje sob estados muito sutis e, nesses estados, reveste-­se de propriedades infinitamente variadas. Sua flexibilidade é extrema. A um certo grau de rarefação, transforma-­se em energia. G. Lebon pode dizer, com aparente razão, que a matéria não é mais que a energia condensada e a energia, a matéria dissociada. Quanto a deduzir desses fatos que a energia inteligente, em um momento dado de sua evolução, torna­-se consciente, é ainda uma hipótese. Para nós, há, entre o ser e o não ser, uma diferença de essência. Por outro lado, o monismo Haeckelien, recusando ao espírito humano uma vida independente do corpo e rejeitando toda noção de sobrevivência, termina logicamente nas mesmas conseqüências que o materialismo positivista e incorre nas mesmas críticas







segunda-feira, 4 de setembro de 2023

André Luiz - Livro Busca e Acharás - Emmanuel / André Luiz - Chico Xavier - Cap. 5 - Anotações preventivas



André Luiz - Livro Busca e Acharás - Emmanuel / André Luiz - Chico Xavier - Cap. 5


Anotações preventivas


Retome o seu dia, buscando olvidar as ocorrências infelizes da véspera.

A casa protegida, habitualmente, promove faxinas pela manhã.

Se alguém se lhe fixou na mente como sendo um ponto enfermiço, envolva a imagem desse alguém no bálsamo da prece.

Uma chaga no corpo exige recurso cicatrizante.

Lance boatos e injúrias ao cesto do esquecimento.

A moradia claramente limpa reclama a presença do esgoto.

Abstenha-se de entreter assuntos alusivos à delinquência.

Ninguém lava as mãos num vaso de lama.

Dissipe tentações no calor do trabalho.

As aranhas não resistem ao espanador em movimento.

Ganhe distância dos ambientes que lhe incitem a alma à distorção e ao desequilíbrio.

Não se lembraria você de banhar-se num pântano.

Evite comentários deprimentes.

Você não serviria um bolo envenenado aos amigos.

Resguardemos o coração nas fontes do bem, pensemos no bem e procuremos falar e agir para o bem, porque servir ao bem dos outros é a melhor forma de atividade preventiva contra enfermidade e perturbação nos domínios da nossa vida mental.


André Luiz












Fonte: Bíblia do Caminho † Testamento Xavieriano

André Luiz - Livro Nosso Lar - Chico Xavier - Cap. 18 - Amor, alimento das almas



André Luiz - Livro Nosso Lar - Chico Xavier - Cap. 18


Amor, alimento das almas


Terminada a oração, chamou-nos à mesa a dona da casa, servindo caldo reconfortante e frutas perfumadas, que mais pareciam concentrados de fluidos deliciosos. Eminentemente surpreendido, ouvi a senhora Laura observar com graça:

— Afinal, nossas refeições aqui são muito mais agradáveis que na Terra. Há residências, em “Nosso Lar” que as dispensam quase por completo; mas, nas zonas do Ministério do Auxílio, não podemos prescindir dos concentrados fluídicos, tendo em vista os serviços pesados que as circunstâncias impõem. Despendemos grande quantidade de energias. É necessário renovar provisões de força.

— Isso, porém, — ponderou uma das jovens, — não quer dizer que somente nós, os funcionários do Auxílio e da Regeneração, vivamos a depender de alimentos. Todos os Ministérios, inclusive o da União Divina, não os dispensam, diferindo apenas a feição substancial. Na Comunicação e no Esclarecimento há enorme dispêndio de frutos. Na Elevação o consumo de sucos e concentrados não é reduzido, e, na União Divina, os fenômenos de alimentação atingem o inimaginável.

Meu olhar indagador ia de Lísias para a Senhora Laura, ansioso de explicações imediatas. Sorriam todos da minha natural perplexidade, mas a mãe de Lísias veio ao encontro dos meus desejos, explicando:

— Nosso irmão talvez ainda ignore que o maior sustentáculo das criaturas é justamente o amor. De quando em quando, recebemos em “Nosso Lar” grandes comissões de instrutores, que ministram ensinamentos relativos à nutrição espiritual. 

Todo o sistema de alimentação, nas variadas Esferas da vida, tem no amor a base profunda [v. O alimento de Jesus]. 

O alimento físico, mesmo aqui, propriamente considerado, é simples problema de materialidade transitória, como no caso dos veículos terrestres, necessitados de colaboração da graxa e do óleo. 

A alma, em si, apenas se nutre de amor. Quanto mais nos elevarmos no plano evolutivo da Criação, mais extensamente conheceremos essa verdade. Não lhe parece que o amor divino seja o cibo [1] do Universo?

Tais elucidações confortavam-me sobremaneira. Percebendo-me a satisfação íntima, Lísias interveio, acentuando:

— Tudo se equilibra no amor infinito de Deus, e, quanto mais evolvido o ser criado, mais sutil o processo de alimentação. 

O verme, no subsolo do planeta, nutre-se essencialmente de terra. O grande animal colhe na planta os elementos de manutenção, a exemplo da criança sugando o seio materno.

O homem colhe o fruto do vegetal, transforma-o segundo a exigência do paladar que lhe é próprio, e serve-se dele à mesa do lar. 

Nós outros, criaturas desencarnadas, necessitamos de substâncias suculentas, tendentes à condição fluídica, e o processo será cada vez mais delicado, à medida que se intensifique a ascensão individual.

— Não esqueçamos, todavia, a questão dos veículos, — acrescentou a senhora Laura, — porque, no fundo, o verme, o animal, o homem e nós, dependemos absolutamente do amor. Todos nos movemos nele e sem ele não teríamos existência.

— É extraordinário! — Aduzi, comovido.

— Não se lembra do ensino evangélico do “amai-vos uns aos outros”?  — Prosseguiu a mãe de Lísias atenciosa, — Jesus não preceituou esses princípios objetivando tão somente os casos de caridade, nos quais todos aprenderemos, mais dia menos dia, que a prática do bem constitui simples dever. 

Aconselhava-nos, igualmente, a nos alimentarmos uns aos outros, no campo da fraternidade e da simpatia. 

O homem encarnado saberá, mais tarde, que a conversação amiga, o gesto afetuoso, a bondade recíproca, a confiança mútua, a luz da compreensão, o interesse fraternal, — patrimônios que se derivam naturalmente do amor profundo, — constituem sólidos alimentos para a vida em si. 

Reencarnados na Terra, experimentamos grandes limitações; voltando para cá, entretanto, reconhecemos que toda a estabilidade da alegria é problema de alimentação puramente espiritual. Formam-se lares, vilas, cidades e nações em obediência a imperativos tais.

Recordei instintivamente as teorias do sexo, largamente divulgadas no mundo; mas, adivinhando-me talvez os pensamentos, a senhora Laura sentenciou:

— E ninguém diga que o fenômeno é simplesmente sexual. O sexo é manifestação sagrada desse amor universal e divino, mas é apenas uma expressão isolada do potencial infinito. 

Entre os casais mais espiritualizados, o carinho e a confiança, a dedicação e o entendimento mútuos permanecem muito acima da união física, reduzida, entre eles, a realização transitória. 

A permuta magnética é o fator que estabelece ritmo necessário à manifestação da harmonia. Para que se alimente a ventura, basta a presença e, às vezes, apenas a compreensão.

Valendo-se da pausa, Judite acrescentou:

— Aprendemos em “Nosso Lar” que a vida terrestre se equilibra no amor, sem que a maior parte dos homens se aperceba. Almas gêmeas, almas irmãs, almas afins, constituem pares e grupos numerosos. Unindo-se umas às outras, amparando-se mutuamente, conseguem equilíbrio no plano de redenção. 

Quando, porém, faltam companheiros, a criatura menos forte costuma sucumbir a meio da jornada. É preciso muita identificação com a fé sobre humana para viver o homem, ou a mulher, solitários no mundo.

— Como vê, meu amigo, — objetou Lísias contente, — ainda aqui é possível relembrar o Evangelho do Cristo. “Nem só de pão vive o homem.” 

Antes, porém, de se alinharem novas considerações, tiniu a campainha fortemente.

Levantou-se o enfermeiro para atender.

Dois rapazes de fino trato entraram na sala.

— Aqui tem, — disse Lísias, dirigindo-se a mim gentilmente, — nossos irmãos Polidoro e Estácio, companheiros de serviço no Ministério do Esclarecimento.

Saudações, abraços, alegria.

Decorridos momentos, a senhora Laura falou sorridente:

— Todos vocês trabalharam muito, hoje. Utilizaram o dia com proveito. Não estraguem o programa afetivo, por nossa causa. Não esqueçam a excursão ao Campo da Música.

Notando a preocupação de Lísias, advertiu a palavra materna:

— Vai, meu filho. Não faças Lascínia esperar tanto. Nosso irmão ficará em minha companhia, até que te possa acompanhar nesses entretenimentos.

— Não se incomode por mim, — exclamei, instintivamente.

A senhora Laura, porém, esboçou amável sorriso e respondeu:

— Não poderei compartilhar das alegrias do Campo, ainda hoje. Temos em casa minha neta convalescente, que voltou da Terra há poucos dias.

Saíram todos, em meio do júbilo geral. A dona da casa, fechando a porta, voltou-se para mim e explicou sorridente:

— Vão em busca do alimento a que nos referíamos. Os laços afetivos, aqui, são mais belos e mais fortes. 

O amor, meu amigo, é o pão divino das almas, o pábulo [2] sublime dos corações.


André Luiz



[1] Cibo. — S. m. Alimento. Lat. cibus.
[2] Pábulo. — S. m. Alimento, sustento, comida, forragem, pasto. Lat. pabulum.




VÍDEO:


Nosso Lar - Cap. 18 - Amor, alimento das almas (Part.1/2/3) 
O Espírito da Letra

Apresentação: André Luiz Ruiz








O Espírito da Letra - Nosso Lar - Analisando a obra de André Luiz psicografia de Chico Xavier.