Joanna de Ângelis - Livro Autodescobrimento - Divaldo P. Franco - Cap. 8 - Sicários da Alma
O passado
Habitualmente, a pessoa que se equivocou lamenta a ocorrência, o passado, ou faz uma consciência de culpa, afligindo-se, perturbando-se.
O passado, porém, já aconteceu e os seus alicerces não podem ser ignorados, nem evitados. Cabe a cada um diluí-los, erradicá-los.
Uma análise tranquila das ocorrências infelizes desperta a consciência para encontrar meios de diminuir-lhes as consequências, criando condições propiciatórias para um futuro mais equilibrado, através das oportunidades e realizações presentes.
A cada instante se podem produzir fenômenos salutares, que se alongarão em cadeia de acontecimentos ditosos.
Qualquer indivíduo que se envolveu, no passado próximo, em problemas e erros, certamente gerou também simpatias e agiu corretamente. Agrediu e infelicitou pessoas, no entanto, simultaneamente, entendeu e amou outras, produzindo vínculos de afeição e cordialidade. Ninguém há destituído de valores positivos e conexões emocionais generosas.
Mesmo quando os conflitos decorrem como efeitos reencarnatórios, que se manifestam como psicopatologias de angústia, de medo, de insegurança, sob o aguilhão do remorso de algo inexplicável, a conscientização do bem que se haja feito, e ainda se poderá fazer, produz um lenitivo que suaviza os conflitos, facultando a disposição sincera para reabilitar-se.
No exame dos insucessos, uma atitude deve prevalecer - a do autoperdão - por considerar-se que aquela era a maneira que caracterizava o estado de evolução no qual se encontrava, porquanto, se houvesse mais conquistas, ter-se-ia agido de forma diferente, sem atropelos nem desaires.
O autoperdão é uma necessidade para luarizar a culpa, o que não implica em acreditar haver agido corretamente, ou justificar a ação infeliz. Significa dar-se oportunidade de crescimento interior, de reparação dos prejuízos, de aceitação das próprias estruturas, que deverão ser fortalecidas. Graças a essa compreensão, torna-se mais fácil o perdão dos outros, sem discussão dos fatores que geraram o atrito, com imediato, natural olvido do incidente.
Logo depois, faz-se inadiável trabalhar a culpa, corrigir o ressentimento, caso se haja sido a vítima ou o algoz. Na primeira situação, considerar que as circunstâncias de então fomentaram o acontecimento e agora elas estão alteradas, muito diferentes, portanto, exigindo um novo comportamento, que se coroará de resultados bons. A simples mudança mental propicia uma visão diversa do fato, mais favorável e benéfica. Na segunda, por haver desencadeado conflitos e prejudicado, o reconhecimento do erro é o próximo passo para a recuperação pessoal e apaziguamento com o ofendido. Em se tratando de ação pretérita, remota, a disposição psicológica para a renovação do comportamento influencia a Lei de Causa e Efeito, que proporciona respostas emocionais gratificantes. Quando próximo esse passado, mediante as visualizações que possibilitam o encontro mental com o prejudicado, encarnado ou não, a apresentação do arrependimento e os propósitos de não repetir o incidente, com sincero afeto, são precioso instrumento para o equilíbrio.
O acontecido não pode ser mais evitado, no entanto, deve ser considerado, dele se retirando os melhores resultados, sem gerar novos agentes prejudiciais.
Um homem sábio, que foi violentamente abalroado por outro, na rua, antes de recuperar-se, sofreu grosseira reação verbal do antagonista, que ficou enraivecido. Mantendo-se tranquilo, na primeira pausa, disse-lhe: - Infelizmente não tenho tempo para analisar quem atropelou quem. No entanto, se foi o senhor quem se chocou contra mim, eu o desculpo, e se foi o contrário, peço-lhe desculpas. E seguiu adiante, deixando o violento envergonhado de si mesmo.
Seria ideal que a vítima compreendesse a situação e desculpasse o agressor, porém, se isso não ocorre, não é de importância capital. O essencial é o gesto daquele que se arrepende, que se reequilibra e resgata os prejuízos causados.
Muitas vezes, deseja-se retornar ao passado com a experiência do presente, na expectativa de que se não cometeria os mesmos erros. Isso talvez ocorresse, no entanto, é provável que, se possuísse o conhecimento e não dispusesse das reservas de forças morais, a pessoa não agiria corretamente.
Todo conhecimento bem vivido e analisado transforma-se em patrimônio de experiência valiosa, ensinando, quando negativo, a técnica de como não se deve agir em determinadas situações.
Lição anotada, aprendizagem garantida.
A técnica da visualização, com o objetivo de recuperação, deverá ser repetida com frequência até o momento em que desapareça o fator conflitante, preponderando a autoconfiança em relação aos comportamentos futuros para com o desafeto.
Torna-se relevante a conquista da segurança íntima, de forma que a conduta esteja orientada pela consciência, mantendo-se sempre vigilante em todos os momentos, particularmente nas ações. Esse comportamento tornar-se-á habitual, passando a integrar a personalidade que fruirá de harmonia pelo bom direcionamento aplicado à existência. Será uma forma de unificar o ego ao Self, permitindo que o Eu profundo, o Espírito, comande o corpo, controle as reações e automatismos, heranças que são da agressividade animal, dos instintos primários ainda em predomínio.
A marcha é longa e enriquecedora. Cada degrau conquistado aproxima o ser do patamar almejado, que o aguarda.
Joanna de Ângelis
Fonte: Autodescobrimento
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