André Luiz - Livro Estude e Viva - Emmanuel / André Luiz - Chico Xavier / Waldo Vieira - Cap. 4
Consciência e conveniência
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO — Cap. V — Item 24 O LIVRO DOS ESPÍRITOS — Questão 918
As boas soluções nem sempre são as mais fáceis e as manifestações corretas nem sempre as mais agradáveis.
A trilha do acerto exige muito mais as normas do esforço maior que as saídas circunstanciais ou os atalhos do oportunismo.
Nos mínimos atos, negócios, resoluções ou empreendimentos que você faça, busque primeiro a substância “post-mortem” de que se reveste, porquanto, sem ela, seu tentame será superficial e sem consequências produtivas para o seu Espírito.
Hoje como ontem, a criatura supõe-se em caminho tedioso tão só quando lhe falta alimento espiritual aos hábitos.
Alegria que dependa das ocorrências do terra-a-terra não tem duração. Alegria real dimana da intimidade do ser.
Não há espetáculo externo de floração sem base na seiva oculta.
Meditação elevada, culto à prece, leitura superior e conversação edificante constituem adubo precioso nas raízes da vida.
Ninguém respira sem os recursos da alma. Todos carecemos de espiritualidade para transitar no cotidiano, ainda que a espiritualidade surja para muitos, sob outros nomes, nas ciências psicológicas de hoje que se colocam fora dos conceitos religiosos para a construção de edifícios morais.
À vista disso, criar costumes de melhoria interior significa segurança, equilíbrio, saúde e estabilidade à própria existência.
Debaixo de semelhante orientação, realmente não mais nos será possível manter ambiguidade nas atitudes.
Em cada ambiente, a cada hora, para cada um de nós, existe a conduta reta, a visão mais alta, o esforço mais expressivo, a porta mais adequada.
Atingido esse nível de entendimento, não mais é lícita para nós a menor iniciativa que imponha distinção indevida ou segregação lamentável, porque a noção de justiça nos regerá o comportamento, apontando-nos o dever para com todos na edificação da harmonia comum.
Estabelecidos por nós, em nós mesmos, os limites de consciência e conveniência, aprendemos que felicidade, para ser verdadeira, há de guardar essência eterna.
Constrangidos a encontrar a repercussão de nossas obras, além do Plano físico, de que nos servirá qualquer euforia alicerçada na ilusão?
De que nos vale o compromisso com as exterioridades humanas, quando essas exterioridades não se fundamentam em nossas obrigações para com o bem dos outros, se a desencarnação não poupa a ninguém?
Cogitemos de felicidade, paz e vitória, mas escolhamos a estrada que nos conduza a elas sob a luz das realidades que norteiam a vida do Espírito, de vez que receberemos de retorno, na aduana da morte, todo o material que despachamos com destino aos outros, durante a jornada terrestre.
Não basta para nenhum de nós o contentamento de apenas hoje. É preciso saber se estamos pensando, sentindo, falando e agindo para que o nosso regozijo de agora seja também regozijo depois.
Cerinto - Livro Vozes do Grande Além - Espíritos Diversos / Chico Xavier - Cap. 25
A prece de Cerinto
Quantos venham a ler a mensagem constante deste capítulo, decerto nem de longe experimentarão a surpresa de nosso grupo, em cuja intimidade Cerinto, [1] o amigo espiritual que no-la transmitiu, caminhou, pouco a pouco, da sombra para a luz.
A principio, era um Espírito atrabiliário e revoltado chegando mesmo a orientar vastas falanges de irmãos conturbados e infelizes, ainda enquistados na ignorância.
Discutia acerbamente. Criticava. Blasfemava.
De nossos entendimentos difíceis, manda a caridade nos detenhamos no silêncio preciso.
Surgiu porém o dia em que a influência de nossos Benfeitores Espirituais se revelou plenamente vitoriosa. Cerinto modificou-se e transferiu-se de Plano mental, marchando agora ao nosso lado, sedento de renovação e luz como nós mesmos.
Foi por isso com imensa alegria que lhe registramos a comovente rogativa, por ele pronunciada em nossa reunião da noite de 24 de novembro de 1955.
Senhor de Infinita Bondade.
No santuário da oração, marco renovador do meu caminho, não te peço por mim, Espírito endividado, para quem reservaste os tribunais de tua Excelsa Justiça.
A tua compaixão é como se fora o orvalho da esperança em minha noite moral e isso basta ao revel pecador que tenho sido.
Não te peço, Senhor, pelos que choram.
Clamo por teu amor, a benefício dos que fazem as lágrimas.
Não te venho pedir pelos que padecem.
Suplico-te a bênção para todos aqueles que provocam o sofrimento.
Não te lembro os fracos da Terra.
Recordo-te quantos se julgam poderosos e vencedores.
Não intercedo pelos que soluçam de fome.
Rogo-te amor para os que furtam o pão.
Senhor Todo-Bondoso!… Não te trago os que sangram de angústia.
Relaciono diante de ti os que golpeiam e ferem.
Não te peço pelos que sofrem injustiças.
Rogo-te pelos empreiteiros do crime.
Não te apresento os desprotegidos da sorte.
Depreco teu amparo aos que estendem a aflição e a miséria.
Não te imploro mercê para as almas traídas.
Exoro-te o socorro para os que tecem os fios envenenados da ingratidão.
Pai compassivo!… Estende as mãos sobre os que vagueiam nas trevas…
Anula o pensamento insensato.
Cerra os lábios que induzem à tentação.
Paralisa os braços que apedrejam.
Detém os passos daqueles que distribuem a morte…
Ajuda-nos a todos nós, os filhos do erro, porque somente assim, ó Deus piedoso e justo, poderemos edificar o paraíso do bem com todos aqueles que já te compreendem e obedecem, extinguindo o inferno daqueles que, como nós, se atiraram, desprevenidos, aos insanos torvelinhos do mal…
André Luiz - Livro Os Mensageiros - Chico Xavier - Cap. 40
Rumo ao campo
Quase todos os servidores espirituais puseram-se a caminho de tarefas variadas. Somente alguns amigos permaneceriam na residência de Dona Isabel, em missão de auxílio e vigilância.
Notei que Aniceto continuava distribuindo instruções diversas, dirigindo-se, em caráter confidencial, a determinados companheiros, a respeito da missão que lhe confiara Telésforo.
Antes do meio-dia, porém, convidou-nos a acompanhá-lo.
— Na oficina, — disse-nos, bondoso, — encontramos revigoramento imprescindível ao trabalho. Recebemos reforços de energia, alimentamo-nos convenientemente para prosseguir no esforço, mas convenhamos que, para muitos de nós, a noite representou uma série de atividades longas e exaustivas. Necessitamos de algum descanso. Voltaremos ao crepúsculo.
Aonde iríamos? Ignorava. Recordei que, de fato, se alguns haviam repousado no santuário doméstico, durante a noite, a maioria havia trabalhado intensamente, e concluí que, se muitos pela manhã haviam tomado rumo às obrigações, outros teriam buscado o repouso indispensável.
— Aonde vão? — Perguntou um companheiro da vigilância, que se fizera nosso amigo.
Antes que respondêssemos, Aniceto esclareceu:
— Vamos ao campo.
E, dirigindo-se especialmente a Vicente e a mim, considerou:
— Utilizemos a volitação, mesmo porque não temos objetivos imediatos no centro urbano. Notei que movimentava agora minhas faculdades volitantes com facilidade crescente.
A excursão educativa, com escala pelo Posto de Socorro de Campo da Paz, fizera-me grande bem. Melhorara em adestramento, sentia-me fortalecido ante as vibrações de ordem inferior, mobilizava os recursos próprios sem dificuldade.
Reparei, igualmente, que minhas possibilidades visuais cresciam sensivelmente. Volitando, não observara, até então, o que agora verificava, extremamente surpreendido.
Dantes, via somente os homens, os animais, veículos e edifícios chumbados ao solo. Agora, a visão dilatava-se. Reconhecia, de longe, o peso considerável do ar que se agarrava à superfície.
Tive a impressão de que nadávamos em alta zona do mar de oxigênio, vendo em baixo, em águas turvas, enorme quantidade de irmãos nossos a se arrastarem pesadamente, metidos em escafandros muito densos, no fundo lodoso do oceano.
— Estão vendo aquelas manchas escuras na via pública? — Indagava nosso orientador, percebendo-nos a estranheza e o desejo de aprender cada vez mais.
Como não soubéssemos definir com exatidão, prosseguia explicando:
— São nuvens de bactérias variadas. Flutuam, quase sempre também, em grupos compactos, obedecendo ao princípio das afinidades. Reparem aqueles arabescos de sombra…
E indicava-nos certos edifícios e certas regiões citadinas.
— Observem os grandes núcleos pardacentos ou completamente obscuros!… São zonas de matéria mental inferior, matéria que é expelida incessantemente por certa classe de pessoas.
Se demorarmos em nossas investigações, veremos igualmente os monstros que se arrastam nos passos das criaturas, atraídos por elas mesmas…
Imprimindo grave inflexão às palavras, considerou:
— Tanto assalta o homem a nuvem de bactérias destruidoras da vida física, quanto as formas caprichosas das sombras que ameaçam o equilíbrio mental.
Como veem, o “orai e vigiai” do Evangelho tem profunda importância em qualquer situação e a qualquer tempo.
Somente os homens de mentalidade positiva, na Esfera da espiritualidade superior, conseguem sobrepor-se às influências múltiplas de natureza menos digna.
Interessado, contudo, em maior esclarecimento, perguntei:
— Mas a matéria mental emitida pelo homem inferior tem vida própria como o núcleo de corpúsculos microscópicos de que se originam as enfermidades corporais?
O mentor generoso sorriu singularmente e acentuou:
— Como não? Vocês, presentemente, não desconhecem que o homem terreno vive num aparelho psicofísico. Não podemos considerar somente, no capítulo das moléstias, a situação fisiológica propriamente dita, mas também o quadro psíquico da personalidade encarnada.
Ora, se temos a nuvem de bactérias produzidas pelo corpo doente, temos a nuvem de larvas mentais produzidas pela mente enferma, em identidade da circunstâncias.
Desse modo, na esfera das criaturas desprevenidas de recursos espirituais, tanto adoecem corpos, como almas. No futuro, por esse mesmo motivo, a medicina da alma absorverá a medicina do corpo.
Poderemos, na atualidade da Terra, fornecer tratamento ao organismo de carne. Semelhante tarefa dignifica a missão do consolo, da instrução e do alívio. Mas, no que concerne à cura real, somos forçados a reconhecer que esta pertence exclusivamente ao homem-espírito.
— Deus meu! — Exclamou Vicente, espantado, — a que perigos está submetido o homem comum!
— Por isso, — tornou Aniceto, cuidadoso, — a existência terrestre é uma gloriosa oportunidade para os que se interessam pelo conhecimento e elevação de si mesmos.
E, por esta mesma razão, ensinamos a necessidade da fé religiosa entre as criaturas humanas.
Desenvolvendo essa campanha, não pretendemos intensificar as paixões nefastas do sectarismo, mas criar um estado positivo de confiança, otimismo e ânimo sadio na mente de cada companheiro encarnado. Até agora, apenas a fé pode proporcionar essa realização
As ciências e as filosofias preparam o campo; entretanto, a fé que vence a morte, é a semente vital. Possuindo-lhe o valor eterno, encontra o homem bastante dinamismo espiritual para combater até à vitória plena em si mesmo.
Compreendendo que precisaria completar o esclarecimento, exclamou, depois de pausa mais longa:
— Todos precisamos saber emitir e saber receber. Para alcançarem a posição de equilíbrio, nesse mister, empenham-se os homens encarnados e nós outros, em luta incessante. 7 E já que conhecemos alguma coisa da eternidade, é preciso não esquecer que toda queda prejudica a realização, e todo esforço nobre ajuda sempre.
As explicações recebidas não poderiam ser mais claras. Aquela visão, porém, de ruas repletas de pontos sombrios a se deslocarem vagarosos, atingindo homens e máquinas, nas vias públicas, assombrava-me.
Sequioso de ensinamentos, tornei ao assunto:
— A lição para mim tem valores incalculáveis. E quando penso no alto poder reprodutivo da flora microbiana…
Aniceto, contudo, não me deixou terminar. Conhecendo, de antemão, minha pergunta natural, cortou-me a frase, exclamando:
— Sim, André; se não fosse o poder muito maior da luz solar, casada ao magnetismo terrestre, poder esse que destrói intensivamente para selecionar as manifestações da vida, na Esfera da Crosta, a flora microbiana de ordem inferior não teria permitido a existência dum só homem na superfície do globo. 4 Por esta razão, o solo e as plantas estão cheios de princípios curativos e transformadores.
E, abanando significativamente a cabeça, concluiu:
Nada obstante esse poder imenso, recurso divino, enquanto os homens, herdeiros de Deus, cultivarem o campo inferior da vida, haverá também criações inferiores, em número bastante para a batalha sem tréguas em que devem ganhar os valores legítimos da evolução.
Jules Morin - Revista Espírita - Allan Kardec - Ano III - Novembro de 1860 - Dissertações espíritas
Os órfãos [1]
Meus irmãos, amai os órfãos. Se soubésseis quanto é triste ser só e abandonado, sobretudo em tenra idade! Deus permite que haja órfãos para nos induzir a lhes servir de pais. Que divina caridade ajudar uma pobre criaturinha abandonada, evitar que sofra fome e frio, dirigir sua alma, para que não se perca no vício! Quem estende a mão a uma criança abandonada é agradável a Deus, porque compreende e pratica a sua lei. Pensai ainda que muitas vezes a criança que socorreis vos tenha sido querida em outra vida, e se vos pudésseis lembrar, isto não seria caridade, mas dever. Assim, pois, meus amigos, todo ser sofredor é vosso irmão e tem direito à vossa caridade; não a essa caridade que fere o coração; não a essa esmola que queima a mão onde cai, porque os vossos óbolos são, por vezes, muito amargos. Quantas vezes elas seriam recusadas, se nas águas-furtadas não as esperassem a doença e a fome! Dai delicadamente, e juntai aos benefícios o mais precioso de todos: uma boa palavra, uma carícia, um sorriso amigo. Evitai esse tom de piedade e de proteção que revolve o ferro no coração que sangra e pensai que fazendo o bem, trabalhais por vós e pelos vossos.
Jules Morin
(Médium, Sra. Schmidt)
Observação: O Espírito que assina é completamente desconhecido. Podemos ver pela comunicação acima, e por muitas outras do mesmo gênero, que nem sempre é preciso um nome ilustre para obter belas coisas. É uma puerilidade prender-se ao nome. Deve-se aceitar o bem, de qualquer parte que venha. Aliás, o número de nomes ilustres é muito limitado; o dos Espíritos é infinito. Por que, pois, não os haveria também capazes entre os que não são conhecidos? Fazemos esta reflexão porque há pessoas que julgam nada poder obter de sublime, senão chamando celebridades. A experiência prova o contrário todos os dias, e nos mostra que podemos aprender alguma coisa com todos os Espíritos, se soubermos aproveitar as oportunidades.
Allan Kardec
[1] Em O Evangelho segundo o Espiritismo, Allan Kardec inseriu esta mensagem como item 18 do Capítulo XIII. (Nota da eq. Revisora)
Lancellin - Livro Cirurgia Moral - João Nunes Maia - Cap. 34
Não te Desfaças do teu Companheiro
Quem mora, anda ou trabalha contigo é peça importante em tua vida.
Não deves esquecer a tua cooperação na manutenção do mútuo entendimento espiritual. Se desejas quebrar o vínculo com as pessoas, simplesmente por meras distrações do respeito delas para contigo, estás deixando de aplicar a lei do perdão, de que tanto Jesus nos falava, em relação àqueles que nos ofendem.
Quantos irmãos se aproximam de nós bem intencionados e, por vezes, acabam nos criando problemas? Mas, no impulso do revide, aniquilamos ou tentamos aniquilar a nossa amizade para com eles. A ponderação passa desapercebida e vamos, cada vez mais, ficando distantes dos companheiros.
Quantas vezes durante o ano, durante uma semana, ou um mês, não recebes ofensas do cônjuge, filhos e outros parentes e, ao passar algum tempo, já te esqueceste de tudo, pela intervenção dos laços sanguíneos? Por que não fazes o mesmo com os outros que te cercam e te ajudam a viver nas lutas de cada dia?
A justiça nos manda perdoar sem distinção de classes. Ela é o amor na feição do equilíbrio emocional, que funciona como terapia nos distúrbios das irritações morais. Jamais desfaças as amizades por simples contrariedades.
Mesmo distantes um do outro, ora por todos que te ofendem e caluniam. Isso é regra cristã que não caiu em desuso, permanecendo límpida e vibrante, desafiando tempo e espaço, para ajudar os que dormem na ignorância das leis.
Nunca deves invalidar os direitos dos outros. As tentativas do aprendizado são numerosas, a fixação do ensino é demorada. É como que um despertar da luz no coração e na consciência e não se faz de um dia para outro. Se ignoras essa demora, e o teu passado?
Quantos não te toleraram para que pudesses conquistar o que já granjeaste nas tuas andanças pelo mundo? Existe escala até para o Amor. Vê e compara o homem das cavernas e a vida de um santo: as manifestações de amor de um e de outro são diferentes, como diferentes são os estados evolutivos de cada posição espiritual.
O homem alimenta o amor próprio, achando que isso é um dever; nutre o amor de família, como sendo compromisso e, com isso, deixa surgir o egoísmo e o orgulho, que têm as falsas aparências de manutenção da tranquilidade e da honra. Já a vida de um místico é completamente diferente: o seu amor é universal, semelhante aos braços da luz solar, acolhendo a todos com o mesmo calor; imita a água, saciando a sede de quem a toma, sem distinção; copia a terra que aceita quem nela pisa, do animal ao anjo.
Estamos caminhando para esse comportamento do amor sem fronteiras, que se torna luz no coração de quem ama no verdadeiro sentido da palavra Amor. Não tentes quebrar teu relacionamento com as pessoas em virtude de simples distrações delas para contigo. Quantas vezes não fizeste o mesmo com os outros? Cada perdão que a tua conduta fizer figurar em tua vida é um raio de luz que acendes em favor da harmonia universal e essa claridade te servirá nos caminhos que haverás de percorrer. Aproveita as oportunidades de desfazer incompreensões, criando entendimento por onde passares, que a tua consciência marcará a tua vitória no reino que escolheste para viver.
Quem destrói amizades, está desligando fios divinos que conduzem vida para o seu próprio coração.
Hammed - Livro La Fontaine e o Comportamento Humano - Francisco do Espírito Santo Neto
A rã e o boi - Ser o que se é
A Inveja
Invejar o outro é reconhecer ou declarar abertamente ser inferior a ele. A inveja evidencia a mediocridade; o invejoso não suporta os atributos, condições e qualidades alheias.
Há inúmeras expressões metafóricas utilizadas quando nos referimos a esse sentimento: roer-se de inveja, a inveja dói, contaminado pela febre da inveja, cego de inveja, a inveja queima ou envenena. Socialmente, existem muitas "rãs" que se arrebentam de inveja.
A inveja não está necessariamente associada a um objeto. Sua característica principal é a comparação desfavorável do status de uma pessoa em relação à outra. O invejoso sempre acha que o culpado pelo seu negativo estado de espírito é o sucesso do outro, e nunca ele mesmo.
É necessário apreciarmos o que somos. Quando sentimos inveja, supervalorizamos a figura do outro e subestimamos tudo que temos e conquistamos. É preciso ser o que se é. Nem colocarmos as criaturas num pedestal, nem nos rebaixarmos à condição de capachos.
Devemos ficar atentos à sensação de inveja, porque ela nos indica uma vocação inconsciente, um desejo reprimido.
A criatura invejosa ignora seu potencial, priorizando o crescimento alheio no lugar do próprio crescimento. Invejar não é somente querer ter o que o outro possui; é também tentar impedir que ele não tenha aquilo que conquistou.
A literatura psicanalítica diz que o sentimento de inferioridade existente na intimidade do invejoso é uma manifestação de conflito entre o "eu real" e o "eu ideal", entre o que a criatura é e o que ela gostaria de ser; entre o que a criatura faz ou sente e o que ela pensa que deveria fazer ou sentir.
Inveja é uma tendência de privar o outro daquilo que lhe dá prazer. É querer destruir em outrem o que ele tem de bom porque nós não temos igual.
Podemos transformar a inveja em admiração. É muito benéfico e útil a nós mesmos essa mudança. Em vez de cobiçarmos o outro pelo que ele é, tentemos encará-lo como uma meta ou padrão a ser seguido.
No complexo de inferioridade, há um reconhecimento de fraqueza e inadequação, pois as pessoas que se sentem inferiores geralmente partem para uma busca inglória, uma postura competitiva interminável. Tentam eliminar esses sentimentos desagradáveis mostrando superioridade, sem medir esforços ou custos emocionais.
"O mundo está cheio de pessoas insatisfeitas. Todo burguês quer construir um palácio. Qualquer principezinho tem embaixadores. Todo marquês quer ter pajens como o rei os tem. "
Certas "rãs" na vida social, por sentimento de inferioridade, quase sempre reagem diante do mundo exterior com atitudes de superioridade, acreditando serem "prima-donas" ou, no mínimo, pessoas portadoras dos melhores critérios de avaliação.
A inveja tende a produzir em nós a rebeldia. Pode ser entendida como um inconformismo à lei natural, como uma suposição falsa sobre nossa condição pessoal, como a impressão infundada de nos considerarmos "seres muito especiais", em vez de percebermos que podemos e devemos compartilhar com todos a diversidade existencial. É essa compreensão que nos proporcionará bons relacionamentos, sensação de completude e bem-estar.
Conceitos-chave:
A - Aceitação
Aceitação não é adaptar-se a um modo conformista e triste de como tudo vem acontecendo, nem suportar e permitir qualquer tipo de desrespeito à nossa pessoa; antes, é ter a habilidade necessária para admitir realidades, avaliar acontecimentos e promover mudanças ( ... )." (do livro "Renovando Atitudes", pág. 133, ditado por Hammed - Boa Nova Editora)
B - Complexo de inferioridade
A raiz do complexo de inferioridade é o vazio existencial que sentimos quando não somos aceitos pelos outros. Por isso, damos a mãos alheias o poder de decidir nossos caminhos e renunciamos inconscientemente à nossa capacidade natural de conduzir a própria vida.
C - Rebeldia
O rebelde está insatisfeito com o status quo e, por não saber como mudar o mundo íntimo, quer a todo custo mudar o mundo externo. Rebeldia sem direção, na melhor das hipóteses, é energia desperdiçada; na pior, pode tornar-se uma força autodestrutiva e socialmente perigosa.
Moral da história
Muitas vezes, esquecemo-nos de que a fonte para suprir as nossas necessidades está em nós, não nos outros. Cada criatura possui em si um continente de potenciais por descobrir.
Feliz daquele que age como um desbravador da própria alma. Todo ser vivo tem suas peculiaridades; aceitá-las é prova de sabedoria. Nós somos absolutamente sós no mundo.
Construímos e prosseguimos de modo contínuo, elaborando a cada nova encarnação um capítulo do livro de nossa existência. Só temos como referência as próprias experiências, ou seja, o acúmulo de nossos conhecimentos do presente e do pretérito.
Na verdade, nós não podemos copiar do outro uma forma certa de viver, porque somente temos a nós como bússola. Tudo o que fazemos, falamos e pensamos está revestido de nossas interpretações, clareadas sob o ponto de vista das vivências pessoais. Cada vida é única e extraordinariamente incomparável.
Reflexões:
"( ... ) Haverá maiores tormentos que aqueles causados pela inveja e o ciúme?
Para o invejoso e o ciumento não há repouso; estão perpetuamente em febre; o que eles não têm e o que os outros possuem lhes causam insônia; os sucessos dos seus rivais lhes dão vertigem ( ... )." (ESE, cap. V, item 23, Boa Nova Editora)
"O coração tranquilo é a vida da carne; a inveja, porém, é a podridão dos ossos." (Provérbios, 14:30.)
"A nossa inveja dura sempre mais tempo que a felicidade daqueles que invejamos." - La Rochefoucauld
Com base na fábula "A rã e o boi". Narração: Júlia Mattos.
Estudo sob a ótica espírita com base na obra "La Fontaine um estudo do comportamento humano", de Hammed e psicografada por Francisco do Espírito Santo Neto.
Ermance Dufaux - Livro Escutando Sentimentos - A atitude de amar-nos como merecemos - Wanderley Oliveira - Pag. 9
Oração pelo Amor
Senhor,
Estamos exaustos pelo descaminho por que optamos.
Escolhemos o desamor e tombamos na decepção e na revolta.
Assegura-nos rumos novos.
Ante o convite da ilusão, fortifica-nos para fugirmos dos atalhos e aderirmos à Verdade.
Falta-nos força e coragem para amar como deveríamos. Por isso te rogamos que supra nossas inibições.
Encoraja-nos a zelar com carinho por aqueles que deliberadamente não nos querem bem.
Amplia-nos o discernimento no uso do equilíbrio com quantos fortalecem com amor Tua participação em nossos passos.
Jesus, ensina-nos o amor para que vivamos no coração os sublimes sentimentos que há muito louvamos na palavra e esquecemos ou não sabemos como aplicar.
Permita-nos aprender a gostar da vida e amar a nós mesmos, enaltecendo o mundo com a cooperação na Obra Excelso do Pai e celebrando a dádiva da vida em nossos caminhos de cada dia.
Pela súplica sincera que brota de nossa alma nesta hora, de nós receba, hoje e sempre, a gratidão de quantos Te devem tanto por receber mais que merecemos do Teu inesgotável amor.
Ermance Dufaux - Livro Receitas para a Alma - Wanderley Oliveira
Foco Positivo
"Pois do que há em abundância no coração, disso fala a boca." Mateus, 12:34
Procure recolher na sua existência o foco positivo de todos e de tudo.
Agindo assim, não faz nenhum favor senão a si mesmo.
É que, quando você destaca o mal, está, em verdade, abrindo suas portas íntimas para que ele penetre em sua vida.
O estudo de si mesmo pode comprovar-lhe este princípio.
Quase sempre, quando você destaca o "lado ruim" da vida, é porque encontra-se nesse mesmo estado ou está prestes a adotá-lo, sem que perceba.
Valorize o bom e o belo em tudo e em todos.
Cultive esse hábito de autoamor e vibrará sempre na faixa otimista de Deus, atraindo para sua jornada somente a beleza, o bem estar e as forças do bem.
Adote sempre a oração como reorganizadora divina de suas forças, e segue seu caminho aguardando a hora exata, afim de avaliar com mais acerto as medidas e decisões que tomará frente aos caminhos a que foi chamado.
Recorde que as cicatrizes do coração são revigorantes defesas na aquisição dos mais nobres sentimentos vinculados ao amor.
Recorde: "O homem bom tira boas coisas do bom tesouro do seu coração."
Quando atravesses um instante considerado terrível, na jornada redentora da Terra, recorda que o desespero é capaz de suprimir-te a visão ou barrar-te o caminho.
Para muitos, esse minuto estranho aparece na figura da enfermidade; para outros, na forma da cinza com que a morte lhes subtrai temporariamente o sorriso de um ente amado.
Em muitos lugares, guarda a feição de crise espiritual, aniquilando a esperança; e, em outros ainda, ei-lo que surge por avalanche de provas encadeadas, baldando a energia.
Ninguém escapa aos topes de luta, que diferem para cada um de nós, segundo os objetivos que procuramos nas conquistas do Espírito.
Esse jaz atormentado de tentações, aquele padece abandono, aquele outro chora oportunidades perdidas e mais outro lamenta os desenganos da própria queda.
Se chegaste a instante assim, obscurecido por nuvens de lágrimas, arrima-te à paciência, ouve a fé, aconselha-te com a reflexão e medita com a serenidade, mas não procures a opinião do esmorecimento.
Desânimo é fruto envenenado da ilusão que alimentamos a nosso respeito. Ele nos faz sentir pretensamente superiores a milhares de irmãos que, retendo qualidades não menos dignas que as nossas, carregam por amor fardos de sacrifício, dos quais diminutas parcelas nos esmagariam os ombros.
Venha o desânimo como vier, certifica-te de que a forma ideal para arredar-lhe a sombra será compreender, auxiliar, abençoar e servir sempre.
Ainda que guardes o coração conturbado ou ferido, magoado ou desfalecente, serve em favor dos que te amparem ou desajudem, entendam ou caluniem.
Ainda que todos os apoios humanos te falhem de improviso, nada precisas temer. Tens contigo, à frente e à retaguarda, à esquerda e à direita, a força do companheiro invisível que te resolve os problemas sem perguntar e que te provê com todos os recursos indispensáveis à paz e à sustentação de teus dias. Ele que ama, trabalha e serve sem descanso, espera que ames, trabalhes e sirvas quanto possas.
Sem que o saibas, ele te acompanha os pequeninos progressos e se regozija com os teus mais íntimos triunfos, assegurando-te tranquilidade e vitória. Ele que te salvou ontem, salvará também hoje.
Em qualquer tempo, lugar, dia ou circunstância, em que te sintas à beira da queda na tentação ou na angústia, chama por Ele. Ele te atenderá pelo nome de Deus.
À porta de grande carpintaria, chegou um rapaz, de caixa às costas, à procura de emprego.
Parecia humilde e educado.
O diretor da instituição compareceu, atencioso, para atendê-lo.
— Tem serviço com que me possa favorecer? — Indagou o jovem, respeitoso, depois das saudações habituais.
— As tarefas são muitas, — elucidou o chefe.
— Oh! Por favor! — Tornou o interessado, — meus velhos pais necessitam de amparo. Tenho batido, em vão, à porta de várias oficinas. Ninguém me socorre. Contentar-me-ei com salário reduzido e aceitarei o horário que desejar.
O diretor, muito calmo, acentuou:
— Trabalho não falta…
E, enquanto o candidato mostrava um sorriso de esperança, acrescentou:
— Traz suas ferramentas em ordem?
— Perfeitamente, — respondeu o interpelado.
— Vejamo-las.
O moço abriu a caixa que trazia. Metia pena reparar-lhe os instrumentos.
A enxó se achava deformada pela ferrugem grossa.
O serrote mostrava vários dentes quebrados.
O martelo tinha cabo incompleto.
O alicate estava francamente desconjuntado.
Diversos formões não atenderiam a qualquer apelo de serviço, tal a imperfeição que apresentavam seus gumes.
Poeira espessa recobria todos os objetos.
O dirigente da oficina observou… observou… e disse, desencantado:
— Para o senhor, não temos qualquer trabalho.
— Oh! Por quê? — Interrogou o rapaz, em tom de súplica.
O diretor esclareceu, sem azedume:
— Se o senhor não tem cuidado com as ferramentas que lhe pertencem, como preservará nossas máquinas? Se é indiferente naquilo em que deve sentir-se honrado, chegará a ser útil aos interesses alheios?
Quem não zela atentamente no “pouco” de que dispõe, não é digno de receber o “muito”. Aprenda a cuidar das coisas aparentemente sem importância.
Pelas amostras, grandes negócios se realizam neste mundo e o menosprezo para consigo é indesejável mostruário de sua indiferença perniciosa. Aproveite a experiência e volte mais tarde.
Não valeram petitórios do moço necessitado.
Foi compelido a retirar-se, em grande abatimento, guardando a dura lição.
Assim também acontece no caminho comum.
Quem deseja o corpo iluminado e glorioso na espiritualidade, além da morte, cuide respeitosamente do corpo físico.
Quem aspira à companhia dos anjos, mostre boas maneiras, boas palavras e boas ações aos vizinhos.
Quem espera a colheita de alegrias no futuro, aproveite a hora presente, na sementeira do bem.
E quantos sonharem com o Céu tratem de fazer um caminho de elevação na Terra mesma.