Léon Denis - Livro Depois da Morte - Cap. 39 - pág. 238
Justiça, solidariedade e responsabilidade
Tanto no moral como no físico, tudo se encadeia e liga no Universo. Na ordem dos fatos, desde o mais simples ao mais complexo, tudo é regulado por uma lei; cada efeito se prende a uma causa e cada causa engendra um efeito que lhe é idêntico. Daí, no domínio moral, o princípio de justiça, a sanção do bem e do mal, a lei distributiva, que dá a cada um segundo as suas obras. Assim como as nuvens formadas pela vaporização solar se resolvem fatalmente em chuva, assim também as consequências dos atos praticados recaem inevitavelmente sobre seus autores.
Cada um desses atos, cada uma das volições do nosso pensamento, segundo a força que os impulsiona, executa sua evolução e volta com os seus efeitos, bons ou maus, para a fonte que os produziu. O mal, do mesmo modo que o bem, torna ao seu ponto de partida em razão da afinidade de sua substância. Há faltas que produzem seus efeitos mesmo no curso da vida terrena. Outras, mais graves, só fazem sentir suas consequências na vida espiritual e, muitas vezes até, nas encarnações ulteriores.
A pena de talião nada tem de absoluto, mas não é menos verdade que as paixões e malefícios do ser humano produzem resultados, sempre idênticos, aos quais ele não pode subtrair-se. O orgulhoso prepara para si um futuro de humilhações, o egoísta cria o vácuo ou a indiferença, e duras privações esperam os sensuais. É a punição inevitável, o remédio eficaz que deve curar o mal em sua origem. Tal lei cumprlr-se-á por si própria, sem haver necessidade de alguém constituir-se algoz dos seus semelhantes.
O arrependimento, em ardente apelo à misericórdia divina, pondo-nos em comunicação com as potências superiores, devem emprestar-nos a força necessária para percorrermos a via dolorosa, o caminho de provas delineado pelo nosso passado; porém, nada, a não ser a expiação, apagará as nossas faltas. Só o sofrimento, esse grande educador, poderá reabilitar-nos.
A lei de justiça não é mais que o funcionamento da ordem moral universal, as penas e os castigos representam a reação da Natureza ultrajada e violentada em seus princípios eternos. As forças do Universo são solidárias, repercutem e vibram unissonamente. Toda potência moral reage sobre aquele que a infringir e proporcionalmente ao seu modo de ação. Deus não fere a pessoa alguma; apenas deixa ao tempo o cuidado de fazer dimanar os efeitos de suas causas. O homem é, portanto, o seu próprio juiz, porque, segundo o uso ou o abuso de sua liberdade, torna-se feliz ou desditoso.
Às vezes, o resultado de seus atos faz-se esperar. Vemos neste mundo criminosos calcarem sua consciência, zombarem das leis, viverem e morrerem cercados de respeito, ao mesmo tempo que pessoas honestas são perseguidas pela adversidade e pela calúnia! Daí, a necessidade das vidas futuras, em cujo percurso o princípio de justiça encontra a sua aplicação e onde o estado moral do ser encontra o seu equilíbrio. Sem esse complemento necessário, não haveria motivo para a existência atual, e quase todos os nossos atos ficariam sem punição.
Realmente, a ignorância é o mal soberano donde procedem todos os outros. Se o homem visse distintamente a consequência do seu modo de proceder, sua conduta seria outra. Conhecendo a lei moral e sua aplicação inevitável, não mais tentaria transgredi-la, do mesmo modo que nada faz por opor-se à gravitação natural dos corpos ou a outra qualquer lei física.
Essas idéias novas ainda mais fortalecem os laços que nos unem à grande família das almas. Encarnadas ou desencarnadas, todas as almas são irmãs. Geradas pela grande mãe, a Natureza, e por seu pai comum, que é Deus, elas perseguem destinos análogos, devendo-se todas um mútuo auxílio. Por vezes, protegidas e protetoras, coadjuvam-se na marcha do progresso, e, pelos serviços prestados, pelas provas passadas em comum, fazem desabrochar em si os sentimentos de fraternidade e de amor, que são uma das condições da vida superior, uma das modalidades da existência feliz.
Os laços que nos prendem aos irmãos do espaço ligam-nos mais estreitamente ainda aos habitantes da Terra. Todos os homens, desde o mais selvagem até o mais civilizado, são Espíritos semelhantes pela origem e pelo fim que têm de atingir. Em seu conjunto, constituem uma sociedade, cujos membros são solidários e na qual cada um trabalhando pelo seu melhoramento particular participa do progresso e do bem geral.
A lei de justiça, não sendo mais que a resultante dos atos, o encadeamento dos efeitos e das causas, explica-nos por que tantos males afligem a Humanidade. A história da Terra é uma urdidura de homicídios e de iniquidade. Ora, todos esses séculos ensanguentados, todas essas existências de desordens reúnem-se na vida presente como afluentes no leito de um rio. Os Espíritos que compõem a sociedade atual nada mais são que homens de outrora, que vieram sofrer as consequências de suas vidas anteriores, com as responsabilidades daí provenientes.
Formada de tais elementos, como poderia a Humanidade viver feliz? As gerações são solidárias através dos tempos; vapores de suas paixões envolvem-nas e seguem-nas até ficarem completamente purificadas. Essa consideração faz-nos sentir mais intensamente ainda a necessidade de melhorar o meio social, esclarecendo os nossos semelhantes sobre a causa dos males comuns e criando em torno de nós, por esforços coletivos, uma atmosfera mais sã e pura. Enfim, o homem deve aprender a medir o alcance de seus atos, a extensão de sua responsabilidade, a sacudir essa indiferença que fecunda as misérias sociais e envenena moralmente este planeta, onde talvez tenha de renascer muitas vezes.
É necessário que um influxo renovador se estenda sobre os povos e produza essas convicções onde se originam as vontades firmes e inabaláveis. É preciso também todos saberem que o império do mal não é eterno, que a justiça não é uma palavra vã, pois ela governa os mundos e, sob o seu nível poderoso, todas as almas se curvam na vida futura, todas as resistências e rebeliões se anulam.
Da ideia superior de justiça dimanam, portanto, a igualdade, a solidariedade e a responsabilidade dos seres. Esses princípios unem-se e fundem-se em um todo, em uma lei única que domina e rege o Universo inteiro: o progresso na liberdade. Essa harmonia, essa coordenação poderosa das leis e das coisas não dará da vida e dos destinos humanos uma ideia maior e mais consoladora que as concepções niilistas ou do nada?
Nessa imensidade, onde tudo é regido por leis sábias e profundas, onde a equidade se mostra mesmo nos menores detalhes, onde nenhum ato útil fica sem proveito, nenhuma falta sem castigo, nenhum sofrimento sem compensação, o ser sente-se ligado a tudo que vive. Trabalhando para si e para todos, desenvolve livremente suas forças, vê aumentarem suas luzes e multiplicarem sua felicidade.
Comparem-se essas perspectivas com as insípidas teorias materialistas, com esse universo horrível onde os seres se agitam, sofrem e passam, sem afeições, sem rumo, sem esperança, percorrendo vidas efêmeras, como pálidas sombras, saídas do nada, para sumirem-se na noite e no silêncio eterno. Digam qual dessas concepções oferece mais possibilidades de sustentar o homem em suas dores, de modificar seu caráter, e de arrastá-lo para os altos cimos!
Léon Denis
Fonte: Depois da Morte-pdf
VÍDEO:
Depois da Morte - Estudo 45 - Cap. XXXIX - Justiça, solidariedade e responsabilidade
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