segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

Emmanuel - Livro Pão Nosso - Chico Xavier - Cap. 109 - Três imperativos




Emmanuel - Livro Pão Nosso - Chico Xavier - Cap. 109


Três imperativos


“E eu vos digo a vós: pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á.” — Jesus. (LUCAS, 11.9)


Pedi, buscai, batei…

Estes três imperativos da recomendação de Jesus não foram enunciados sem um sentido especial.

No emaranhado de lutas e débitos da experiência terrestre, é imprescindível que o homem aprenda a pedir caminhos de libertação da antiga cadeia de convenções sufocantes, preconceitos estéreis, dedicações vazias e hábitos cristalizados.

É necessário desejar com força e decisão a saída do escuro cipoal em que a maioria das criaturas perdeu a visão dos interesses eternos.

Logo após, é imprescindível buscar.

A procura constitui-se de esforço seletivo. O campo jaz repleto de solicitações inferiores, algumas delas recamadas de sugestões brilhantes. É indispensável localizar a ação digna e santificadora.

Muitos perseguem miragens perigosas, à maneira das mariposas que se apaixonam pela claridade de um incêndio. Chegam de longe, acercam-se das chamas e consomem a bênção do corpo.

É imperativo aprender a buscar o bem legítimo.

Estabelecido o roteiro edificante, é chegado o momento de bater à porta da edificação; sem o martelo do esforço metódico e sem o buril da boa vontade, é muito difícil transformar os recursos da vida carnal em obras luminosas de arte divina, com vistas à felicidade espiritual e ao amor eterno.

Não bastará, portanto, rogar sem rumo, procurar sem exame e agir sem objetivo elevado.

Peçamos ao Senhor nossa libertação da animalidade primitivista, busquemos a espiritualidade sublime e trabalhemos por nossa localização dentro dela, a fim de converter-nos em fiéis instrumentos da Divina Vontade.

Pedi, buscai, batei!…

Esta trilogia de Jesus reveste-se de especial significação para os aprendizes do Evangelho, em todos os tempos.


Emmanuel








Allan Kardec - Livro Obras Póstumas - 1ª Parte - Cap. 19 - O egoísmo e o orgulho




Allan Kardec - Livro Obras Póstumas - 1ª Parte - Cap. 19


O egoísmo e o orgulho
Suas causas, seus efeitos e os meios de destruí-los.


É bem sabido que a maior parte das misérias da vida tem origem no egoísmo dos homens. Desde que cada um pensa em si antes de pensar nos outros e cogita antes de tudo de satisfazer aos seus desejos, cada um naturalmente cuida de proporcionar a si mesmo essa satisfação, a todo custo, e sacrifica sem escrúpulo os interesses alheios, assim nas mais insignificantes coisas, como nas maiores, tanto de ordem moral, quanto de ordem material. Daí todos os antagonismos sociais, todas as lutas, todos os conflitos e todas as misérias, visto que cada um só trata de despojar o seu próximo.

O egoísmo, por sua vez, se origina do orgulho. A exaltação da personalidade leva o homem a considerar-se acima dos outros. Julgando-se com direitos superiores, melindra-se com o que quer que, a seu ver, constitua ofensa a seus direitos. A importância que, por orgulho, atribui à sua pessoa, naturalmente o torna egoísta.

O egoísmo e o orgulho nascem de um sentimento natural: o instinto de conservação. Todos os instintos tem sua razão de ser e sua utilidade, porquanto Deus nada pode ter feito inútil. Ele não criou o mal; o homem é quem o produz, abusando dos dons de Deus, em virtude do seu livre-arbítrio. Contido em justos limites, aquele sentimento é bom em si mesmo. A exageração é o que o torna mau e pernicioso. O mesmo acontece com todas as paixões que o homem frequentemente desvia do seu objetivo providencial. Ele não foi criado egoísta, nem orgulhoso por Deus, que o criou simples e ignorante; o homem é que se fez egoísta e orgulhoso, exagerando o instinto que Deus lhe outorgou para sua conservação.

Não podem os homens ser felizes, se não viverem em paz, isto é, se não os animar um sentimento de benevolência, de indulgência e de condescendência recíprocas; numa palavra: enquanto procurarem esmagar-se uns aos outros. A caridade e a fraternidade resumem todas as condições e todos os deveres sociais; uma e outra, porém, pressupõem a abnegação. Ora, a abnegação é incompatível com o egoísmo e o orgulho; logo, com esses vícios, não é possível a verdadeira fraternidade, nem, por conseguinte, igualdade, nem liberdade, dado que o egoísta e o orgulhoso querem tudo para si.

Eles serão sempre os vermes roedores de todas as instituições progressistas; enquanto dominarem, ruirão aos seus golpes os mais generosos sistemas sociais, os mais sabiamente combinados. É belo, sem dúvida, proclamar-se o reinado da fraternidade, mas, para que faze-lo, se uma causa destrutiva existe? É edificar em terreno movediço; o mesmo fora decretar a saúde numa região malsã. Em tal região, para que os homens passem bem, não bastará se mandem médicos, pois que estes morrerão como os outros; insta destruir as causas da insalubridade. Para que os homens vivam na Terra como irmãos, não basta se lhes deem lições de moral; importa destruir as causas de antagonismo, atacar a raiz do mal: o orgulho e o egoísmo.

Essa a chaga sobre a qual deve concentrar-se toda a atenção dos que desejem seriamente o bem da Humanidade. Enquanto subsistir semelhante obstáculo, eles verão paralisados todos os seus esforços, não só por uma resistência de inércia, como também por uma força ativa que trabalhará incessantemente no sentido de destruir a obra que empreendam, por isso que toda ideia grande, generosa e emancipadora arruina as pretensões pessoais.

Impossível, dir-se-á, destruir o orgulho e o egoísmo, porque são vícios inerentes à espécie humana. Se fosse assim, houvéramos de desesperar de todo progresso moral; entretanto, desde que se considere o homem nas diferentes épocas transcorridas, não há negar que evidente progresso se efetuou. Ora, se ele progrediu, ainda naturalmente progredirá. Por outro lado, não se encontrará homem nenhum sem orgulho, nem egoísmo? Não se veem, ao contrário, criaturas de índole generosa, em quem parecem inatos os sentimentos do amor ao próximo, da humildade, do devotamento e da abnegação? O número delas, positivamente, é maior do que o dos egoístas; se assim não fosse, não seriam estes últimos os fautores da lei. Há muito mais criaturas dessas do que se pensa e, se parecem tão pouco numerosas, é porque o orgulho se põe em evidência, ao passo que a virtude modesta se conserva na obscuridade.

Se, portanto, o orgulho e o egoísmo se contassem entre as condições necessárias da Humanidade, como a da alimentação para sustento da vida, não haveria exceções. O ponto essencial, pois, é conseguir que a exceção passe a constituir regra; para isso, trata-se, antes de tudo, de destruir as causas que produzem e entretêm o mal.

Dessas causas, a principal reside evidentemente na ideia falsa que o homem faz da sua natureza, do seu passado e do seu futuro. Por não saber donde vem, ele se crê mais do que é; e não sabendo para onde vai, concentra na vida terrena todo o seu pensar; acha-a tão agradável, quanto possível; anseia por todas as satisfações, por todos os gozos; essa a razão por que atropela sem escrúpulo o seu semelhante, se este lhe opõe alguma dificuldade. Mas, para isso, é preciso que ele predomine; a igualdade daria, a outros, direitos que ele só quer para si; a fraternidade lhe imporia sacrifícios em detrimento do seu bem-estar; a liberdade também ele só a quer para si e somente a concede aos outros quando não lhe fira de modo algum as prerrogativas. Alimentando todos as mesmas pretensões, têm resultado os perpétuos conflitos que os levam a pagar bem caro os raros gozos que logram obter.

Identifique-se o homem com a vida futura e completamente mudará a sua maneira de ver, como a do indivíduo que apenas por poucas horas haja de permanecer numa habitação má e que sabe que, ao sair, terá outra, magnífica, para o resto de seus dias.

A importância da vida presente, tão triste, tão curta, tão efêmera, se apaga, para ele, ante o esplendor do futuro infinito que se lhe desdobra às vistas. A consequência natural e lógica dessa certeza é sacrificar o homem um presente fugidio a um porvir duradouro, ao passo que antes ele tudo sacrificava ao presente. Tomando por objetivo a vida futura, pouco lhe importa estar um pouco mais ou um pouco menos nesta outra; os interesses mundanos passam a ser o acessório, em vez de ser o principal; ele trabalha no presente com o fito de assegurar a sua posição no futuro, tanto mais quando sabe em que condições poderá ser feliz.

Pelo que toca aos interesses terrenos, podem os humanos criar-lhe obstáculos: ele tem que os afastar e se torna egoísta pela força mesma das coisas. Se lançar os olhos para o alto, para uma felicidade a que ninguém pode obstar, interesse nenhum se lhe deparará em oprimir a quem quer que seja e o egoísmo se lhe torna carente de objeto. Todavia, restará o estimulante do orgulho.

A causa do orgulho está na crença, em que o homem se firma, da sua superioridade individual. Ainda aí se faz sentir a influência da concentração dos pensamentos sobre a vida corpórea. Naquele que nada vê adiante de si, atrás de si, nem acima de si, o sentimento da personalidade sobrepuja e o orgulho fica sem contrapeso.

A incredulidade não só carece de meios para combater o orgulho, como o estimula e lhe dá razão, negando a existência de um poder superior à Humanidade o incrédulo apenas crê em si mesmo; é, pois, natural que tenha orgulho. Enquanto que, nos golpes que o atingem, unicamente vê uma obra do acaso e se ergue para combatê-la, aquele que tem fé percebe a mão de Deus e se submete. Crer em Deus e na vida futura é, conseguintemente, a primeira condição para moderar o orgulho; porém, não basta. Juntamente com o futuro, é necessário ver o passado, para fazer ideia exata do presente.

Para que o orgulho o deixe de crer na sua superioridade, cumpre se lhe prove que ele não é mais do que os outros e que estes são tanto quanto ele; que a igualdade é um fato e não apenas uma bela teoria filosófica; que estas verdades ressaltam da preexistência da alma e da reencarnação.

Sem a preexistência da alma, o homem é induzido a acreditar que Deus, dado creia em Deus, lhe conferiu vantagens excepcionais; quando não crê em Deus, rende graças ao acaso e ao seu próprio mérito. Iniciando-o na vida anterior da alma, a preexistência lhe ensina a distinguir, da vida corporal, transitória, a vida espiritual, infinita; ele fica sabendo que as almas saem todas iguais das mãos do Criador; que todas têm o mesmo ponto de partida e a mesma finalidade, que todas hão de alcançar, em mais ou menos tempo, conforme os esforços que empreguem; que ele próprio não chegou a ser o que é, senão depois de haver, por longo tempo e penosamente, vegetado, como os outros, nos degraus inferiores da evolução; que, entre os mais atrasados e os mais adiantados, não há senão uma questão de tempo; que as vantagens do nascimento são puramente corpóreas e independem do Espírito; que o simples proletário pode, noutra existência, nascer num trono e o maior potentado renascer proletário.

Se levar em conta unicamente a vida planetária, ele vê apenas as desigualdades sociais do momento, que são as que o impressionam; se, porém, deitar os olhos sobre o conjunto da vida do Espírito, sobre o passado e o futuro, desde o ponto de partida até o de chegada, aquelas desigualdades se somem e ele reconhece que Deus nenhuma vantagem concedeu a qualquer de seus filhos em prejuízo dos outros; que deu parte igual a todos e não achanou o caminho mais para uns do que para outros; que o que se apresenta menos adiantado do que ele na Terra pode tomar-lhe a dianteira, se trabalhar mais do que ele por aperfeiçoar-se; reconhecerá, finalmente, que, nenhum chegando ao termo senão por seus esforços, o princípio da igualdade é um princípio de justiça e uma lei da Natureza, perante a qual cai o orgulho do privilégio.

Provando que os Espíritos podem renascer em diferentes condições sociais, quer por expiação, quer por provação, a reencarnação ensina que, naquele a quem tratamos com desdém, pode estar um que foi nosso superior ou nosso igual noutra existência, um amigo ou um parente. Se o soubesse, o que com ele se defronta o trataria com atenções, mas, nesse caso, nenhum mérito teria; por outro lado, se soubesse que o seu amigo atual foi seu inimigo, seu servo ou seu escravo, sem dúvida o repeliria. Ora, não quis Deus que fosse assim, pelo que lançou um véu sobre o passado. Deste modo, o homem é levado a ver, em todos, irmãos seus e seus iguais, donde uma base natural para a fraternidade; sabendo que pode ser tratado como haja tratado os outros, a caridade se lhe torna um dever e uma necessidade fundados na própria Natureza.

Jesus assentou o princípio da caridade, da igualdade e da fraternidade, fazendo dele uma condição expressa para a salvação; mas, estava reservado à terceira manifestação da vontade de Deus, ao Espiritismo, pelo conhecimento que faculta da vida espiritual, pelos novos horizontes que desvenda e pelas leis que revela, sancionar esse princípio, provando que ele não encerra uma simples doutrina moral mas uma lei da Natureza que o homem tem o máximo interesse em praticar. Ora, ele a praticará desde que, deixando de encarar o presente como o começo e o fim, compreenda a solidariedade que existe entre o presente, o passado e o futuro. No campo imenso do infinito, que o Espiritismo lhe faz entrever, anula-se a sua importância capital e ele percebe que, por si só, nada vale e nada é; que todos têm necessidade uns dos outros e que uns não são mais do que os outros: duplo golpe, no seu egoísmo e no seu orgulho.

Mas, para isso, é-lhe necessária a fé, sem a qual permanecerá na rotina do presente, não a fé cega, que foge à luz, restringe as ideias e, em consequência, alimenta o egoísmo. É-lhe necessária a fé inteligente, racional, que procura a claridade e não as trevas, que ousadamente rasga o véu dos mistérios e alarga o horizonte. Essa fé, elemento básico de todo progresso, é que o Espiritismo lhe proporciona, fé robusta, porque assente na experiência e nos fatos, porque lhe fornece provas palpáveis da imortalidade da sua alma, lhe mostra donde ele vem, para onde vai e por que está na Terra e, finalmente, lhe firma as ideias, ainda incertas, sobre o seu passado e sobre o seu futuro.

Uma vez que haja entrado decisivamente por esse caminho, já não tendo o que os incite, o egoísmo e o orgulho se extinguirão pouco a pouco, por falta de objetivo e de alimento, e todas as relações sociais se modificarão sob o influxo da caridade e da fraternidade bem compreendidas.

Poderá isso dar-se por efeito de brusca mudança? Não, fora impossível: nada se opera bruscamente em a Natureza; jamais a saúde volta de súbito a um enfermo; entre a enfermidade e a saúde, há sempre a convalescença. Não pode o homem mudar instantaneamente o seu ponto de vista e volver da Terra para o céu o olhar; o infinito o confunde e deslumbra; ele precisa de tempo para assimilar as novas ideias.

O Espiritismo é, sem contradita, o mais poderoso elemento de moralização, porque mina pela base o egoísmo e o orgulho, facultando um ponto de apoio à moral. Há feito milagres de conversão; é certo que ainda são apenas curas individuais e não raro parciais. O que, porém, ele há produzido com relação a indivíduos constitui penhor do que produzirá um dia sobre as massas. Não lhe é possível arrancar de um só golpe as ervas daninhas. Ele dá a fé e a fé é a boa semente, mas mister se faz que ela tenha tempo de germinar e de frutificar, razão por que nem todos os espíritas já são perfeitos.

Ele tomou o homem em meio da vida, no fogo das paixões, em plena força dos preconceitos e se, em tais circunstâncias, operou prodígios, que não será quando o tomar ao nascer, ainda virgem de todas as impressões malsãs; quando a criatura sugar com o leite a caridade e tiver a fraternidade a embalá-lo; quando, enfim, toda uma geração for educada e alimentada com ideias que a razão, desenvolvendo-se, fortalecerá, em vez de falsear? Sob o domínio destas ideias, a cimentarem a fé comum a todos, não mais esbarrando o progresso no egoísmo e no orgulho, as instituições se reformarão por si mesmas e a Humanidade avançará rapidamente para os destinos que lhe estão prometidos na Terra, aguardando os do céu.


Allan Kardec










Emmanuel - Livro Ceifa de Luz - Chico Xavier - Cap. 4 - Seres amados




Emmanuel - Livro Ceifa de Luz - Chico Xavier - Cap. 4


Seres amados


“Aquele que ama a seu irmão permanece na luz e nele não há nenhum tropeço.” — (1 João, 2:10)


Os seres que amamos!… Com que enternecimento desejaríamos situá-los nos mais elevados planos do mundo!… Se possível, obteríamos para cada um deles um nicho de santidade ou um título de herói!…

Entretanto, qual ocorre a nós mesmos, são eles seres humanos, matriculados no educandário da vida. E, nos círculos das experiências em que se debatem, como nos acontece, erram e acertam, avançam na estrada ou se interrompem para pensar, solicitando-nos apoio e compreensão.

Assim como estamos em luta a fim de sermos, um dia, o que devemos ser, aprendamos a amá-los como são, na certeza de que precisam, tanto quanto nós, de auxílio e encorajamento para a necessária ascensão espiritual.

Nunca exigir-lhes o impossível, nem frustrar-lhes a esperança.

Doemos a cada um a bênção da estima sem requisições descabidas, acatando as experiências para as quais se inclinem e respeitando os tipos de felicidade que elejam para si próprios.

Todos somos viajores do Universo com encontro marcado numa só estação de destino — a perfeição na imortalidade.

À face disso, e levando em consideração que nos achamos individualmente em marcos diferentes da estrada, se queremos auxiliar aqueles a quem amamos, e abençoá-los com o nosso afeto, cultivemos, à frente deles, a coragem de compreender e a paciência de esperar.


Emmanuel








domingo, 27 de fevereiro de 2022

Emmanuel - Livro Levantar e Seguir - Chico Xavier - Cap. 6 - José da Galileia




Emmanuel - Livro Levantar e Seguir - Chico Xavier - Cap. 6


José da Galileia


“E projetando ele isto, eis que em sonho lhe apareceu um anjo do Senhor, dizendo: José, filho de David, não temas receber a Maria.” — (Mateus 1:20)


Em geral, quando nos referimos aos vultos masculinos que se movimentam na tela gloriosa da missão de Jesus, atendemos para a precariedade dos seus companheiros, fixando, quase sempre, somente os derradeiros quadros de sua passagem no mundo.

É preciso, porém, observar que, a par de beneficiários ingratos, de ouvintes indiferentes, de perseguidores cruéis e de discípulos vacilantes, houve um homem integral que atendeu a Jesus, hipotecando-lhe o coração sem mácula e a consciência pura.

José da Galileia foi um homem tão profundamente espiritual que seu vulto sublime escapa às análises limitadas de quem não pode prescindir do material humano para um serviço de definições.

Já pensaste no Cristianismo sem ele?

Quando se fala excessivamente em falência das criaturas, recordemos que houve tempo em que Maria e o Cristo foram confiados pelas Forças Divinas a um homem.

Entretanto, embora honrado pela solicitação de um anjo, nunca se vangloriou de dádiva tão alta.

Não obstante contemplar a sedução que Jesus exercia sobre os doutores, nunca abandonou a sua carpintaria.

O mundo não tem outras notícias de suas atividades senão aquelas de atender às ordenações humanas, cumprindo um édito de César e as que no-lo mostram no templo e no lar, entre a adoração e o trabalho.

Sem qualquer situação de evidência, deu a Jesus tudo quanto podia dar.

A ele deve o Cristianismo a porta da primeira hora, mas José passou no mundo dentro do divino silêncio de Deus.


Emmanuel









André Luiz - Livro Entre a Terra e o Céu - Chico Xavier - Cap. 39 - Ponderações




André Luiz - Livro Entre a Terra e o Céu - Chico Xavier - Cap. 39


Ponderações


Decorrido um mês sobre os esponsais de Silva, certa noite, por solicitação de Odila, fomos em busca de Zulmira e Antonina para uma reunião íntima, no Lar da Bênção.

Ambas, alegres, revelavam-se enlevadas fora do corpo denso.

Enlaçadas e felizes, contemplavam a Terra e o Céu, tocadas de sublime esperança.

Reduzida assembleia de amigos aguardava-nos no domicílio de Blandina, em meio de cativantes manifestações de carinho e de apreço.

Dentre todas as afeições presentes, sobrelevava-se Irmã Clara, que viera igualmente ter conosco.

As duas excursionistas, ao contato daquele ambiente de genuína fraternidade, rendiam-se ao êxtase da paz e da alegria.

Afigurava-se-lhes haver encontrado o paraíso, tão pura se lhes desenhava no semblante a exaltação interior.

No recinto amplo que Blandina adornara de flores, permutavam-se frases amigas e consoladoras impressões.

Multiplicadas notas de beleza enriqueciam a conversação, quando Antonina, mais lúcida que a companheira, indagou pela razão do favor de que se viam aquinhoadas.

O reconhecimento transbordava-lhes do coração, à maneira do perfume a evadir-se do frasco.

Clara afagou-a, de leve, e explicou, maternalmente:

— Filhas, em nossa romagem na vida, atravessamos épocas de sementeira e fases de colheita. Na missão da mulher, até agora, vocês receberam do tempo os choques e os enigmas plantados a distância. Com a humildade e a fé, com o bom ânimo e o valor moral, venceram árduos conflitos que lhes fustigavam as melhores aspirações. Foram dias obscuros do pretérito refletidos no presente, contudo, agora, asserenou-se-lhes a estrada. A paciência a que se devotaram evitou a formação de nuvens da revolta e o céu se fez, de novo, claro e alentador. É como se o dia renascesse, resplendente de luz. O campo da existência exige mais trabalho e o tempo de semear ressurge alvissareiro.

A palestra em torno cessara de repente.

Os circunstantes buscavam ouvir a benfeitora, significando, com o silêncio, que nela se encarnava para nós a sabedoria.

Depois de ligeiro intervalo, nossa amiga continuou:

— Agora, que a oportunidade favorece a renovação, é preciso saber reconstruir o destino. Não olvidemos. A vida reduz-se a triste montão de trevas, quando não se faz plena de trabalho. Fujamos à velha feira da lamentação onde a inércia vende os seus frutos amargosos! Para levantar, porém, a escada de nossa ascensão, é imprescindível banhar o espírito, cada dia, na fonte viva do amor, do amor que recompensa a si mesmo com a alegria de dar! O Pai Celeste é onipresente, através do amor de que satura o Universo. O sentimento divino é a corrente invisível em que se equilibram os mundos e os seres. Do Trono Excelso nasce o eterno manancial que sustenta o anjo na altura e alimenta o verme no abismo. A mulher é uma taça em que o Todo-Sábio deita a água milagrosa do amor com mais intensidade, para que a vida se engrandeça. Irmãs, sejamos fiéis ao mandato recebido. Em muitas ocasiões, quando nos prendemos à lama do egoísmo ou ao visco do ódio, poluímos o líquido sagrado, transformando-o em veneno destruidor. Guardemos cautela. O preço da verdadeira paz reside no sacrifício de nossas existências. Não há sublimação sem renúncia no castelo da alma, como não há purificação no cadinho, sem o concurso do fogo que acrisola os metais!…

Clara fitou Antonina, de modo particular, e aduziu:

— Filha, nossa Zulmira compreende hoje, sem necessidade de maior incursão no passado, o santo dever de asilar o pequeno Júlio no santuário materno…

Percebemos que a instrutora, registrando o imperativo do descanso mental para a segunda esposa do ferroviário, que vinha de terminar longas refregas na preservação da própria saúde, buscava poupar-lhe exercícios mnemônicos.

— Nossa amiga — prosseguiu, indicando Zulmira com o olhar — está consciente de que a maternidade a espera de novo, em tempo breve… E você?

Com a irradiante bondade que habitualmente lhe marcava a expressão fisionômica, acentuou:

— Recorda-se das experiências antigas e permanece atenta às razões que lhe inspiraram o segundo matrimônio?

Ante a surpresa que se estampou no semblante da interpelada, a orientadora, num gesto que nos era conhecido, nas operações magnéticas de Clarêncio, acariciou-lhe a fronte, de leve, e repetiu:

— Lembre-se! lembre-se!…

Bafejada pelo poder de Irmã Clara, em determinados centros da memória, Antonina fez-se pálida e exclamou, controlando a própria emoção:

— Sim, sou eu a cantora! Revejo; dentro de mim, os quadros que se foram!… Os conflitos no Paraguai!… Uma chácara em Luque!… a família ao abandono!… José Esteves, hoje Mário… Sim, percebo o sentido de minhas segundas núpcias!…

Denotando aflição no olhar, acrescentou:

— E Leonardo? onde está Leonardo, o infeliz?

— Não precisa dilatar reminiscências — disse Clara, bondosa —; não nos achamos num gabinete de experimentos e sim numa reunião fraternal.

Fitando-a significativamente, ajuntou:

— Basta que você se recorde.

Em seguida, repartindo a atenção entre as duas, prosseguiu:

— Brevemente, vocês serão chamadas a novo esforço, no apostolado materno. Zulmira recolherá o nosso Júlio na concha do coração e você, Antonina, restituirá a Leonardo Pires, seu avô e associado de destino, o tesouro do corpo terrestre. No santuário doméstico, as afeições transviadas se recompõem, a fim de que possamos demandar o futuro, ao clarão da felicidade. Filhas, ninguém avança sem saldar as próprias contas com o passado. Paguemos, desse modo, os débitos que nos aprisionam aos Círculos inferiores da vida, aproveitando o tempo de detenção no resgate, em maior aprimoramento de nós mesmas. Amemos, aperfeiçoando-nos! Identifiquemos no lar humano o caminho de nossa regeneração! A família consanguínea na Terra é o microcosmo de obrigações salvadoras em que nos habilitamos para o serviço à família maior que se constitui da Humanidade inteira. O parente necessitado de tolerância e carinho representa o ponto difícil que nos cabe vencer, valendo-nos dele para melhorar-nos em humildade e compreensão. Um pai incompreensivo, um esposo áspero ou um filho de condução inquietante, simbolizam linhas de luta benéfica, em que podemos exercitar a paciência, a doçura e o devotamento até ao sacrifício!… Especialmente, no tocante aos filhos, não nos esqueçamos de que pertencem a Deus e à vida, acima de tudo!… Na Esfera carnal, a Providência Divina nos sela a memória, no favor do renascimento, envolvendo-nos com o sopro renovador de abençoada esperança! Por isso mesmo, não nos cabe olvidar que os filhos são sempre laços preciosos da existência, requisitando-nos equilíbrio e discernimento em todas as decisões… Para desobrigar-nos da grande tarefa que a maternidade nos impõe, é imprescindível entender-lhes o psiquismo diferente do nosso, a exigir, muitas vezes, um tipo de felicidade que não se harmoniza com o nosso modo de ser. Saibamos, assim, prepará-los, sem egoísmo, para o destino que lhes compete! O carinho escravizante assemelha-se a um mel envenenado, enredando-nos na sombra. Conservemos nosso espírito arejado pela justiça, para que a nossa afetividade seja uma bênção com a possibilidade de educar os que nos cercam, na escola do trabalho salutar!…

Na pausa que surgiu, espontânea, Zulmira indagou com simplicidade:

— Abnegada benfeitora, como agir para solucionar os problemas com segurança?

— Vocês superaram dias alarmantes de crise espiritual — informou a orientadora, prestimosa — e conquistaram o ensejo de reestruturação do próprio destino. Agora, repitamos, é tempo de semear. Valorizemos a oportunidade de reaproximação. São vocês dois núcleos de força, suscetíveis de operar valiosas transformações nos grupos domésticos a que se ajustam. Façamos da amizade o entendimento fraterno que tudo compreende e tolera, movimenta e ajuda, na extensão do Sumo Bem. A vizinhança e a convivência, no fundo, são dons que o Senhor nos concede a benefício de nosso próprio reajuste.

Porque Zulmira e Antonina ensaiassem perguntas novas, Clara acentuou:

— Não temam. A prece é o fio invisível de nossa comunhão com o Plano Divino e, à luz da oração, viveremos todos juntos. Em todas as dúvidas, prefiramos para nós a renunciação construtiva, Situar a responsabilidade de nosso lado é facilitar a solução dos problemas.

Sorridente, rematou:

— Não nos esqueçamos do privilégio de servir. Logo após, o pequeno Júlio foi trazido ao recinto por vasto cortejo de gárrulas crianças.

Risos e lágrimas se misturaram no louvor à Bondade Divina.

Depois de algumas horas consagradas ao reconforto, escoltamos, de novo, as duas mães, reconduzindo-as ao campo físico para o sublime labor no lar terrestre.


André Luiz






Fonte: Bíblia do Caminho † Testamento Xavieriano



VÍDEO:

Entre a Terra e o Céu - Cap. 39 - Ponderações
O Espírito da Letra

Apresentação: André Luiz Ruiz






O Espírito da Letra - Analisando a obra de André Luiz Entre a Terra e o Céu - Psicografia de Chico Xavier 


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Allan Kardec - O Livro dos Espíritos - 3ª Parte - Das leis morais - Cap. VI - 5. Lei de destruição - Guerras - Questão 743 (Miramez)




Allan Kardec - O Livro dos Espíritos - 3ª Parte - Das leis morais - Cap. VI - 5. Lei de destruição


Guerras 


743. Da face da Terra, algum dia, a guerra desaparecerá?

“Sim, quando os homens compreenderem a justiça e praticarem a lei de Deus. Nessa época, todos os povos serão irmãos.”


Allan Kardec 



O Livro dos Espíritos comentado pelo Espírito Miramez
Questão 743 comentada


As guerras desaparecerão certamente da face da Terra, quando os homens nela estagiados compreenderem o amor e passarem a amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmos. Esse dia deve chegar pelo somatório de todos os esforços das almas de boa vontade. É
o mar de virtudes que está surgindo gota a gota e a esperança nos faz sentir a sua realidade.

Devemos anotar um trecho de "O Livro dos Espíritos", nos Prolegômenos, que diz:

A vaidade de certos homens, que julgam saber tudo e tudo querem explicar a seu modo, dará nascimento a opiniões dissidentes. Mas, todos que tiverem em vista o grande princípio de Jesus, se confundirão num só sentimento: o do amor do bem e se unirão por um laço fraterno, que prenderá o mundo inteiro.

Quando os homens chegarem a esse tempo, não existirão mais guerras, nem discórdia entre os povos. A força que deverá unir todos os povos é a força do Amor. É nesse empenho que se encontra a Doutrina dos Espíritos, mostrando a todos os povos, de todas as nações do mundo, que somente o Cristo de Deus tem condições de ajudar a estabelecer a paz no mundo, porque as formas, que são inúmeras, dos seres humanos se modificarem e reencontrarem o paraíso perdido, estão dentro de cada um.

Quem ainda não encontrou o céu dentro de si, que o procure, pois ele não se encontra em outro lugar. Por enquanto, mesmo os homens que são pastores de ovelhas, ainda carecem das bênçãos da vivência do que pregar, porque somente vivendo o amor é que poderão dirigir os que os acompanham para a libertação espiritual.

Mateus, no capítulo vinte e três, versículo três, anotou, reforçando o que queremos dizer:

Fazei e guardai, pois, tudo quanto eles vos disserem, porém, não os imiteis nas suas obras, porque dizem e a não fazem.

Eis porque a situação na Terra se encontra calamitosa, por existirem muitos pretensos da verdade; no entanto, na hora de eles mesmo darem prova desta verdade que pregam, eles não o fazem, e a pregação mais eficiente é quando se estende pelo exemplo.

Da face da Terra as guerras desaparecerão, mas só quando os homens limparem o interior dos sentimentos inferiores, quando as paixões deixarem de existir, quando todos os seres respeitarem a lei de justiça, para que o amor possa se estender e dominar todos os corações. As guerras têm utilidade para os seres inferiores; para os que já aprenderam a lição do sofrimento, elas não têm mais razão de ser.

A conjunção da verdade vai entrar em completa conexão com o amor, e as almas que trabalharam para tal advento, essas herdarão a Terra, quando o paraíso interior dos Espíritos deverá refletir para fora, em tudo o que se expressar no mundo. Aí, os seres humanos passarão a beber o Evangelho na água que mata a sede, nos alimentos que matam a fome, e no próprio ar que lhes dá a vida. A Boa Nova do Cristo se abrirá como uma bandeira na própria natureza, mostrando que serviu de canal para a libertação de todas as criaturas de Deus. Em vez de guerras, só haverá paz

 
Miramez



Filosofia Espírita - Volume XV - João Nunes Maia
Cap. 29 - Desaparecimento da guerra




Allan Kardec - O Livro dos Espíritos - 3ª Parte - Das leis morais - Cap. VI - 5. Lei de destruição - Guerras - Questão 742 (Miramez)




Allan Kardec - O Livro dos Espíritos - 3ª Parte - Das leis morais - Cap. VI - 5. Lei de destruição


Guerras 


742. Que é o que impele o homem à guerra?

“Predominância da natureza animal sobre a natureza espiritual e transbordamento das paixões. No estado de barbaria, os povos um só direito conhecem: o do mais forte. Por isso é que, para tais povos, o de guerra é um estado normal. À medida que o homem progride, menos frequente se torna a guerra, porque ele lhe evita as causas. E, quando se torna necessária, sabe fazê-la com humanidade.”


Allan Kardec



O Livro dos Espíritos comentado pelo Espírito Miramez
Questão 742 comentada


A fonte de onde emanam as idéias de guerras é a predominância da natureza animal sobre a espiritual. É a ignorância do ser humano, que ainda desconhece as leis do Criador.

Os povos belicosos são os mais atrasados espiritualmente; eles desconhecem a fraternidade, que faz ligar todos os povos uns amparando os outros, pelos fios do amor, em nome da caridade.

As guerras, porém, são como que operações de socorro em tumor maligno das sociedades. Somente por elas alguns povos acordam para a vida melhor. O mundo espiritual inferior junta-se aos homens para instigar essas idéias de ódio e de violência. Entretanto, Deus sempre acode aos que sofrem e dá assistência aos ignorantes. Por trás de todos os movimentos belicosos, os benfeitores espirituais estão agindo, mudando idéias e fazendo com que as nações em litígio aproveitem as lições pelo aguilhão da dor. É a lei do semelhante curando o semelhante.

Observemos que as guerras são filhas do primitivismo; os homens primitivos viviam em guerra constante com os outros. Com o perpassar do tempo, as guerras vão se espaçando cada vez mais, para depois desaparecem do planeta, onde a vida será somente de paz.

Os homens são tão acostumados às guerras que criaram os "Ministérios da Guerra" ao invés de "Ministério da Paz". Condicionaram-se em tais pensamentos inferiores e o descondicionamento lhes custará muito caro.

O homem, infelizmente, só conhece um direito, que sempre prevalece: o do mais forte em armas e dinheiro. Ele deixa de pensar na fortaleza da moral e no amor, e os mais fortes tomam as primeiras cadeiras nas decisões, quando as ações se reúnem para tal empreendimento.

Os povos que dirigem os destinos do mundo, como eles alegam, gostam dos primeiros lugares, bem como de se exaltarem ante aos pequeninos. Entrementes, é bom que escutemos o Evangelho neste sentido, anotado por Mateus no capítulo vinte e três, versículo doze:

Quem a si mesmo se exaltar, será humilhado; e quem a si mesmo se humilhar, será exaltado.

Quantas nações no passado se exaltaram e hoje se encontram de cabeças baixas, humilhadas? E outras tantas que foram humilhadas e se encontram em posição de destaque? A vida é uma roda; o sol banha a Terra em todos os lugares e cada região recebe seu hálito benfeitor em determinado momento. Todos têm a sua vez; assim será, igualmente, com os homens, pois a reencarnação é o processo de mudanças, dando oportunidades a todas as almas.

Sabes onde residem as causas das guerras? É nos sentimentos; com os pensamentos reformados, desaparecerão os efeitos. A melhor guerra, à qual deveremos nos alistar para o melhor combate, é a guerra interna, contra os piores inimigos que existem, que são os defeitos morais. Assim as guerras fratricidas deixam de existir por força da lei de amor.

À medida que os homens progridem espiritualmente, as guerras e tudo que provém delas como sofrimento, vão desaparecendo como por encanto. E as bênçãos de Deus, pelos canais de Jesus, ficarão mais visíveis para a nossa paz.

 
Miramez



Filosofia Espírita - Volume XV - João Nunes Maia
Cap. 28 - Guerras




quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

Allan Kardec - O Livro dos Espíritos - Das esperanças e consolações - Cap. I - Das penas e gozos terrestres - Felicidade e infelicidade relativas - Questão 926 (Miramez)




Allan Kardec - O Livro dos Espíritos - Das esperanças e consolações - Cap. I - Das penas e gozos terrestres - Felicidade e infelicidade relativas


Questão 926 


A civilização criando novas necessidades, não é a fonte de novas aflições? 

- Os males deste mundo estão na razão das necessidades artificiais que criais para vós mesmos. Aquele que sabe limitar os seus desejos e ver sem cobiça o que está fora das suas possibilidades, poupa-se a muitos aborrecimentos nesta vida. O mais rico é aquele que tem menos necessidades.

Allan Kardec


O Livro dos Espíritos comentado pelo Espírito Miramez

Questão 926 comentada


A moderna civilização é fonte de novas aflições que torturam o homem cada vez mais, pelas necessidades fictícias que ele próprio cria e que o perseguem nos seus caminhos. Nós criamos as nossas aflições, e elas nos servem como escolas, porque a vida, a natureza, aproveita tudo e transforma em experiências valiosas.

Quantas reencarnações já tivemos em variados países, onde recolhemos ensinamentos que servem hoje de alicerce para a nossa paz? Tudo é de tal modo comum, que devemos perguntar a todos quais os Espíritos que passaram pela Terra, e que não criaram novas aflições em seu aprendizado. Eis aí um sistema de despertamento espiritual que nunca foi mudado. Somente acordamos pelo método das aflições. Queiramos ou não, passamos por elas. Este é um processo de acordar que usa a espiritualidade maior, a qual também passou pelos mesmos caminhos.

Se hoje os Espíritos elevados vivem na plenitude da consciência imperturbável, como eram ontem? é neste sentido que os benfeitores espirituais, em relação a nós outros, têm muita tolerância com as nossas faltas. Se assim podemos dizer, eles passaram pelas mesmas aflições, mas Deus é sempre Pai amoroso e santo, bom e justo, que não dá pedra a quem pede peixe. Não deves invejar aos outros em situação bem melhor que a tua, porque não sabes o que se encontra reservado para eles, nem tão pouco para ti.

As situações são mutáveis em todos os campos do crescimento e as escalas são variadas, sendo necessário que subamos todos os degraus. Não invejes os gozos dos que te parecem felizes. Cada um tem necessidades diferentes, por estarmos em diferentes estados espirituais. Cada um recebe somente o de que precisa, para a sua paz espiritual.

Deus, às vezes, permite que o homem ignorante prospere e se mostre feliz. Não invejes seu lugar na vida; ele pode estar passando ou começando a entrar por duras provas. O aprendizado tem variações. Cuida da tranqüilidade de consciência, da riqueza espiritual e deixa fluir pelo teu coração a paz que Jesus sempre te dá. Se os gozos que cobiças forem pessoais, isso é fonte do egoísmo que precisa ser mudado.

Sê cauteloso na análise dos sentimentos, para que não venhas a cair em novas tentações. Se restringes as tuas necessidades, os desenganos começam a desaparecer como por encanto. Existem muitas ilusões, que devem ser extirpadas pela simplicidade. Convém a todas as criaturas viver mais modestamente, para não criarem embaraços nos próprios caminhos.

Deves olhar sem inveja o rico, se és pobre, e não maltrates o pobre, se és rico. Todas as duas posições são extremos que devem ser reparados. Certo sábio da antiguidade aconselhou, para o bem dos corações, o caminho do meio. Deus permite que passemos por todos os caminhos, por sermos todos iguais, de modo a alcançarmos todas as experiências na seqüência da vida.

Quando um justo é feliz, a sua felicidade é verdadeira, porque ele já passou por todas as tribulações que educam e instruem.

Quando Jesus disse: "Bem-aventurados os que sofrem", é porque todos os sofrimentos levam à criatura a paz de consciência, se não em uma reencarnação, mas nas quantas forem necessárias. Deus não tem pressa, mas não pára de ajudar.

Deves suportar tudo com coragem, mesmo as duras provas, pelas forças que já alcançaste, que alguém invisível vem te ajudar a carregar a tua cruz, no silêncio peculiar aos que já aprenderam a amar.

As novas aflições são para os que ainda dormem, não para os que acordaram para a luz do amor e da caridade. Se tu tens necessidade de sentir Deus para o teu bom andamento na vida, deves procurar a Jesus.

E quem me vê a mim, vê aquele que me enviou. (João, 12:45)

Procurar a Jesus é encontrar a Deus, porque o Mestre trouxe para os homens todas as respostas das perguntas feitas para a felicidade das almas.


Miramez



Filosofia Espírita – Volume XIX. (João Nunes Maia)
Cap. 8 - Novas aflições



Fontes: O ConsoladorO Livro dos Espíritos comentado pelo Espírito MiramezKardecpedia

terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

Emmanuel - Livro Roteiro - Chico Xavier - Cap. 9 - O Grande Educandário




Emmanuel - Livro Roteiro - Chico Xavier - Cap. 9


O Grande Educandário


(O Livro dos Espíritos — 172-188)


De portas abertas à glória do ensino, a Terra, nas linhas da atividade carnal, é, realmente, uma universidade sublime, funcionando, em vários cursos e disciplinas, com dois bilhões de alunos, aproximadamente, matriculados nas várias raças e nações.

Mais de vinte bilhões de almas conscientes, desencarnadas, sem nos reportarmos aos bilhões de inteligências subumanas que são aproveitadas nos múltiplos serviços do progresso planetário, cercam o domicílio terrestre, demorando-se noutras faixas de evolução.

Para a maioria dessas criaturas, necessitadas de experiência nova e mais ampla, a reencarnação não é somente um impositivo natural mas também um prêmio pelo ensejo de aprendizagem.

Assim é que, sob a iluminada supervisão das Inteligências Divinas, cada povo, no passado ou no presente, constitui uma seção preparatória da Humanidade, à frente do porvir.

Ontem, aprendíamos a ciência no Egito, a espiritualidade na Índia, o comércio na Fenícia, a revelação em Jerusalém, o direito em Roma e a filosofia na Grécia. Hoje, adquirimos a educação na Inglaterra, a arte na Itália, a paciência na China, a técnica industrial na Alemanha, o respeito à liberdade na Suíça e a renovação espiritual nas Américas:

Cada nação possui tarefa específica no aprimoramento do mundo. E ainda mesmo quando os blocos raciais, em desvario, se desmandam na guerra, movimentam-se à procura de valores novos no próprio engrandecimento.

Nos Círculos do Planeta, vemos as mais primitivas comunidades dirigindo-se para as grandes aquisições culturais.

Se é verdade que a civilização refinada de hoje voa, pelo mundo, contornando-o em algumas horas, caracterizando-se pelos mais altos primores da inteligência, possuímos milhões de irmãos pela forma, infinitamente distantes do mundo moral. Quase nada diferindo dos irracionais, não conseguiram ainda fixar a mínima noção de responsabilidade.

Os anões docos da Abissínia, sem qualquer vestuário e pronunciando gritos estranhos à guisa de linguagem, mais se assemelham aos macacos.

Os nossos irmãos negros de Kytches passam os dias estirados no chão, à espera de ratos com que possam mitigar a própria fome.

Entre grande parte dos africanos orientais, não existe ligação moral entre pais e filhos.

Os latucas, no interior da África, não conhecem qualquer sentimento de compaixão ou dever.

Remanescentes dos primitivos habitantes das Filipinas erram nas montanhas, à maneira de animais indomesticáveis.

E, não longe de nós, os botocudos, entregues à caça e à pesca, são exemplares terríveis de bruteza e ferocidade.

No imenso educandário, há tarefas múltiplas e urgentes para todos os que aprendem que a vida é movimento, progresso, ascensão.

Na fé religiosa como na administração dos patrimônios públicos, na arte tanto quanto na indústria, nas obras de instrução como nas ciências agrícolas, a individualidade encontra vastíssimo campo de ação, com dilatados recursos de evidenciar-se.

O trabalho é a escada divina de acesso aos lauréis imarcescíveis do espírito.

Ninguém precisa pedir transferência para Júpiter ou Saturno, a fim de colaborar na criação de novos céus. A Terra, nossa casa e nossa oficina, em plena paisagem cósmica, espera por nós, a fim de que a convertamos em glorioso paraíso.


Emmanuel









Emmanuel - Livro Busca e Acharás - Emmanuel / André Luiz - Chico Xavier - Cap. 9 - Resposta




Emmanuel - Livro Busca e Acharás - Emmanuel / André Luiz - Chico Xavier - Cap. 9


Resposta


Que fazemos no mundo?
Tantas vezes perguntas.

Fita o Céu ocupado
Em dar campo às estrelas.

Olha a fonte mais simples
Amparando a quem passa.

Não te detenhas. Serve
À Terra em construção.

Auxilia, abençoa,
Suporta, ajuda e passa.

Ama e segue: Não temas,
Deus te espera e te vê.


Emmanuel









Hilário Silva - Livro Almas em Desfile - Chico Xavier / Waldo Vieira - Cap. 19 - Os vira-latas




Hilário Silva - Livro Almas em Desfile - Chico Xavier / Waldo Vieira - Cap. 19


Os vira-latas 


Desaparecera Nelito, o filhinho do industrial Sérgio Luce.

A família viera da cidade passar o fim de semana no apagado burgo madeireiro. E Manoel, o pequeno Nelito, de quatro anos, embrenhara-se na mata enorme que circundava a localidade.

Duas horas longas de expectativa.

A senhora Luce chorava ao pé do marido preocupado. Amigos chegando. Servidores em movimento. Lá estavam as pessoas mais salientes da vila. O médico, o sacerdote, o juiz, alguns professores e o antigo advogado, Dr. Nascimento Júnior, muito conhecido pela sua intransigência religiosa.

Humilde, apareceu também Florêncio Gama, o diretor do templo espírita recém-fundado. Misturava-se, em sua roupa surrada, à turba palradora, no grande portão da entrada, sustendo dois cães arrepiados, em corda curta.

- Florêncio! Florêncio, venha cá!

Era o Dr. Nascimento a chamá-lo. O operário simples, de chapéu na mão e segurando os cachorros mansos, foi atender.

Talvez desejando humilhá-lo, o causídico pronunciou grande sermão.

Não estimava saber que um templo espírita se erguera.

Respeitava em Florêncio um homem de bem. Trabalhador correto. Ordeiro. Entretanto, não queria vê-lo nas fileiras espíritas. E acrescentava que os espíritas não eram cristãos tradicionais. Não tinham classe. Discutiam livremente o Evangelho do Senhor. E isso lhe parecia desrespeito.

A Doutrina Espírita, a seu ver, constituía desordenado movimento do povo. Sem pastor visível. Sem qualquer linha aristocrática na direção. Que o amigo lhe desculpasse. A hora de inquietude não comportava o assunto; contudo, não conseguia furtar-se ao ensejo.

Florêncio ouviu calado. Explicou que desejava simplesmente cooperar na busca. E pediu uma roupa usada pela criança. A senhora Luce atendeu.

Em seguida, solicitou a presença dos cães que habitavam a casa. Vieram à sala quatro buldogues solenes, cinco dinamarqueses fidalgos, dois “fox-terriers” e uma cadelinha “bassé”.

Florêncio deu-lhes a roupa da criança a cheirar, mas não se moveram.

A seguir, repetiu a operação com os dois cãezinhos que o acompanhavam. Latiram, impacientes. E libertos correram para a mata, voltando, daí a alguns minutos, ladrando alegremente.

- “Sigamo-los — disse Florêncio —, tudo indica que a criança foi encontrada.”

Todo o grupo avançou.

Com efeito, em pouco tempo, seguindo os cães, surpreenderam a criança dormindo num monte de palha seca.

Os animais ganiam, felizes, como quem havia cumprido agradável dever.

Júbilo geral.

Florêncio recolheu os companheiros para a volta, e, dirigindo-se, bem-humorado, ao Dr. Nascimento, disse-lhe:

- Olhe a lição, doutor. O senhor, decerto, enganou-se ao dizer que a Doutrina Espírita não possui representantes respeitáveis. Temos, sim. E muitos. Agora, quanto a sermos uma religião do povo, lembre-se de que os cães de raça, embora valiosíssimos, ficaram em casa emproados e preguiçosos. Nossos cachorros anônimos, porém, não hesitaram…

- E terminou, contente:

- Conforme o senhor disse, os espíritas podem ser os vira-latas do canil terrestre, segundo o seu conceito, mas procuram trabalhar, aprendendo a servir…


Hilário Silva








Psicografia: Waldo Vieira
Fonte: 
Bíblia do Caminho † Testamento Xavieriano