sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

Elisabeth de França - Revista Espírita - Allan Kardec - Ano V, Março de 1862 - Ensinos e dissertações espíritas - Caridade para com os criminosos - Problema moral




Elisabeth de França - Revista Espírita - Allan Kardec - Ano V, Março de 1862 - Ensinos e dissertações espíritas - Caridade para com os criminosos


Problema moral


A verdadeira caridade é um dos mais sublimes ensinamentos dados por Deus ao mundo. Deve existir entre os verdadeiros discípulos de sua dou­trina uma fraternidade completa. Vós deveis amar os infelizes, os criminosos, como criaturas de Deus, às quais o perdão e a misericórdia serão concedidos se se arrependerem, como a vós mesmos, pelas falhas que cometerdes contra a sua lei. Pensai que sois mais repreensíveis e mais culpados que aqueles a quem recusais o perdão e a comiseração, pois muitas vezes eles não conhecem Deus como o conheceis e lhes será pedido menos do que a vós.

Não julgueis. Oh! Não julgueis, minhas caras amigas, porque o julgamento que fizerdes vos será aplicado ainda mais severamente, e necessitais de indulgência para os pecados que incessantemente cometeis. Não sabeis que há muitas ações que são crimes ante os olhos do Deus de pureza e que o mundo nem considera faltas leves?

A verdadeira caridade não consiste apenas na esmola que dais, nem mesmo nas palavras de consolo com que a acompanhais. Não. Não é somente isso que Deus exige de vós. A caridade sublime ensinada por Jesus Cristo também consiste na benevolência concedida sempre e em todas as coisas ao vosso próximo. Podeis, ainda, exercer essa virtude sublime para com muitas criaturas que não necessitam de esmola, mas que palavras amorosas e consoladoras encorajarão e as conduzirão ao Senhor.

Os tempos estão próximos, eu ainda vos digo, nos quais reinará a grande fraternidade neste globo. A lei do Cristo é a que regerá os homens. Só ela será o freio e a esperança, e conduzirá as almas às moradas da bem-aventurança.

Amai-vos, pois, como filhos de um mesmo pai. Não façais diferença entre os outros infelizes, porque Deus quer que todos sejam iguais. Assim, a ninguém desprezeis. Deus permite que grandes criminosos estejam em vosso meio, a fim de que vos sirvam de ensinamento. Em breve, quando os homens forem conduzidos pelas verdadeiras leis de Deus, não haverá mais necessidade desses ensinamentos, e todos os Espíritos impuros e revoltados serão espalhados por mundos inferiores, em harmonia com as suas inclinações.

A esses, de quem vos falo, deveis o auxílio das vossas preces: é a verdadeira caridade. Não se deve dizer de um criminoso: “É um miserável; deve-se expurgar de sua presença a Terra; a morte que lhe infligem é muito suave para um ser de sua espécie”. Não. Não é assim que deveis falar. Olhai o vosso modelo, Jesus. Que dizia ele ao ver o malfeitor ao seu lado? Ele o lamentava; considerava-o um doente muito infeliz e estendia-lhe a mão. Na realidade, tal não podeis fazer, mas ao menos podeis orar por esse infeliz e assistir o seu Espírito nos momentos que ainda deve passar na Terra. O arrependimento pode tocar o seu coração se orardes com fé. Ele é vosso próximo, tanto quanto o melhor dos homens. Sua alma transviada e revoltada foi criada, como a vossa, à imagem de Deus perfeito. Assim, orai por ele. Não o julgueis, pois não o deveis. Só Deus o julgará.


Elisabeth de França
Havre, 1862




Escrevem-nos que logo depois de uma conversa a respeito do assassino Dumollard, o Espírito da Sra. Elisabeth de França, que já havia dado várias mensagen.:

Seu nome era Elisabeth-Philippine-Marie-Helène. Nasceu no palácio de Versailles em 1764, tendo sido a última filha do Delfim Louis e de Marie Josephine de Saxe e, portanto, irmã de Luís XVI. Ficou órfã aos três anos de idade. Subindo ao trono, Luís XVI lhe deu o Castelo de Montreuil, mas viveu sempre junto ao rei, sobre o qual exerceu influência benéfica. Recusou casar-se com o Infante de Espanha e com o Duque de Aosta. Foi aprisionada com a família real. Depois da execução de sua cunhada, a rainha Maria Antonieta, cuidava da sobrinha. Separada desta, foi encerrada na Conciergerie, levada ao tribunal revolucionário a 9 de maio de 1794 e decapitada no dia seguinte.

Dissertação inserida no Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XI, item 14, com o título “Caridade para com os criminosos.”

Paris. Tipografia de Cosson & Cia. Rua do Four-St-Germain, 43.





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