Caminhos para a Cessação do Sofrimento
Considerando-se que os sofrimentos são causados pelos desconcertos do Espirito, que desarmonizam o fluxo da energia, permitindo a instalação das enfermidades físicas, mentais e morais, a forma eficaz para que cessem deve atingir o seu fulcro gerador, graças a cujo comportamento será interrompida a onda perturbadora. Na mente lúcida surgirá então a tranqüilidade, encarregada de produzir a saúde, que se irradiará por todo o organismo, produzindo o equilíbrio. Assim, os caminhos constituirão o seu remédio eficiente.
Enquanto não houver uma consciência de saúde real, o ser transitará de um para outro sofrimento.
Há pessoas que, embora sem conhecimento das regras que promovem a harmonia intima, gozam de saúde, apresentando-se bem dispostas e fortes.
São esses, no entanto, fenômenos automáticos do organismo, que se contaminará ou não durante a existência, de acordo com a conduta moral e mental que se lhe imprima, permanecendo ou não saudáveis.
A antiga sabedoria budista estabeleceu um sistema de meditação, pelo qual a saúde se instala e o sofrimento desaparece.
Jesus, portador de equilíbrio pleno, considerava o amor como a causa única para a realização ideal do ser. A mutilação ou ausência do amor a Deus, ao próximo ou a si mesmo, produz a insatisfação, o desajuste, o desequilíbrio da energia, tornando-se fator causal de doenças, de sofrimentos.
O desamor é, em realidade, uma doença, cuja manifestação se dá de imediato ou posteriormente, assinalando o ser com processos degenerativos da personalidade, que instalam no organismo os vírus e bacilos agressivos.
A somatização dos problemas emocionais que decorrem da insegurança e do medo, da mágoa e do ódio, do rancor e do ciúme é responsável por graves patologias orgânicas, assim como as diversas enfermidades físicas, produzindo distonias emocionais e perturbações psíquicas lamentáveis.
Quando o amor, conforme o conceito de Jesus, assenhoreia-se do ser humano, vitaliza-o e irradia paz, gerando uma psicosfera rica de vibrações de equilíbrio, graças às quais a saúde se exterioriza de forma positiva, inundando a vida de esperança, de altruísmo e de realizações edificantes.
O indivíduo saudável em espirito faz-se elemento útil no concerto geral, tornando-se peça indispensável ao conjunto social, que progride com os seus esforços em contributos grandiosos, dignificadores.
O recolhimento interior, mediante análise profunda dos recursos ao alcance, favorece o homem para que encontre os meios que fazem cessar o sofrimento.
Partindo de uma outra etapa lógica, ele avança na harmonização interior, propiciando à energia que preserva a saúde um curso sem bloqueio, portanto, uma irradiação em todos os sentidos, intercambiando com a vibração divina, razão essencial da vida.
Inicialmente, deve o homem reconhecer todos os seres como se fossem a manifestação dos seus próprios pais, que lhe facultaram a vida física, especialmente a mãe, pelos sacrifícios que se impôs durante a gestação, o parto e a alimentação preservadora da vida, nascida nas suas entranhas.
Mesmo quando esta não haja sabido cumprir com os deveres livremente assumidos e aceitos, o fato de haver permitido que a vida se manifestasse, concede-lhe crédito para ser exemplo a ser considerado.
Transferir para todos os seres vivos a imagem materna, certamente sem a visão psicanalítica dos tormentos da libido, porém com sentimentos de respeito e de ternura, constitui o primeiro passo para uma auto-realização pessoal, para o equilíbrio da emoção, liberando-se interiormente de quaisquer reminiscências amargas ou perturbadoras, que são matrizes ocultas de muitos distúrbios comportamentais geradores de sofrimentos.
O homem renasce para ser livre, a fim de poder crescer e alcançar o seu fanal maior, que é a realização plena. Toda amarra emocional negativa, com a retaguarda do seu processo de evolução, torna-se-lhe uma carga constritora, responsável por inúmeros problemas afligentes.
A imagem da mãe, de alguma forma respondendo por muitos conflitos, é também criadora de saudáveis estímulos. Seus sacrifícios e dedicação, as horas infindáveis de vigília e de renúncia de si mesma em favor da prole, as melodias que cantou nos ouvidos dos recém-nascidos e todas as promessas que se foram tornando realidade merecem ser levadas em conta, repensadas e transferidas para todo ser senciente.
Diante de agressões ou submetido a dificuldades pelo seu próximo, irritado ou cínico, perverso ou escravocrata, enfermo em qualquer hipótese, deve-se considerá-lo como se fosse a mãe em um instante de fraqueza ou cansaço, carente de carinho e amizade. Ao invés da reação também agressiva, do repúdio ou indiferença vingadora, a paciência generosa, a oportunidade para reflexão, a desculpa sincera, nenhum ressentimento, nem amargura. Esse comportamento libera-o do azedume, do ódio e do rancor, responsáveis por enfermidades que se infiltram com facilidade e que são difíceis de ser erradicadas.
Num prolongamento da afetividade, a consideração pela mãe-Natureza ressalta como de importância fundamental para o equilíbrio ecológico, por conseqüência, de todos quantos contribuem para a sua harmonia.
Ver, portanto, em todos os seres vivos a projeção materna positiva, agradável, proporciona forças para a preservação ou restauração da saúde, para a liberação dos sofrimentos e do bem estar, que são condições essenciais para a felicidade.
De imediato, após a reflexão-vivência desse postulado, descobrir a bondade que dorme em todos os seres e necessita ser despertada, estimulada, a fim de que frondeje, enflorescendo e produzindo frutos bons.
Além e acima das nuvens sombrias há espaços transparentes infinitos, que os limites das borrascas não alcançam.
No interior do diamante bruto, escuro e informe, fulgura uma estrela que aguarda ser arrancada a golpes de cinzel e laminas lapidadoras.
Não há ninguém que não possua bondade interior. Há, nos refolhos da alma, a presença de Deus como luz coagulada, aguardando os estímulos de fora a fim de brilhar com alta potência.
Pessoas agressivas, que se comprazem em atormentar, produzindo sofrimentos, são portadoras de muitas dores intimas, que buscam disfarçar sob a máscara da violência, da falsa superioridade, da alucinação.
Mesmo os animais selvagens, sob domesticação, tornam-se amigos, e recebendo a vibração do amor alteram a constituição do instinto agressivo, mudando de comportamento, o que atesta a presença do psiquismo divino em germe, em tudo e todos.
Trata-se de uma conquista de sabedoria poder penetrar na bondade latente dos seres, buscando sintonizar com esse estado de vida, ao invés de vincular-se apenas as manifestações exteriores, as suas reações defensivas-agressivas, que são portadoras de vibrações morbíficas, portanto, desencadeadoras de muitos males que respondem pelos sofrimentos.
Da experiência de identificar a bondade nos seres em geral vem a extraordinária conquista de descobrir a presença de Deus em toda parte, em todas as criaturas, estabelecendo vínculos emocionais de intercâmbio se torne lúcido é empreendimento válido que faculta o progresso dos homens, desenvolvendo aptidões mais eloquentes e expressivas.
A vida é um permanente desafio, rica de oportunidades de crescimento e penetração nos seus profundos arcanos, que se revelam cada vez mais fascinantes e valores intelecto-morais do Espirito na sua faina de evoluir.
A dor e o sofrimento em geral são estágios mais primitivos do processo de desenvolvimento que, mediante as sensações e emoções afligentes, propelem o ser para outros planos, patamares mais elevados, nos quais os estímulos se apresentam de maneira diversa, mais nobremente convidativos.
Em tudo e em todos jazendo a presença de Deus, é necessário saber descobrir neles a bondade que expressa a sua essência, a sua origem, igualmente presente em todas as vidas.
Nesse estágio, cumpre acentuar o desejo de retribuir essa bondade, essa presença divina.
A harmonia universal resulta da diversidade de formas, de expressões, de apresentações, em sutis processos de sintonia, de similaridade.
Da mesma forma, ao ser identificado qualquer valor relevante, especialmente a bondade em pessoas e animais, nos elevados objetivos da vida vegetal, é preciso planejar retribuir esse sentimento.
Partindo da intenção, deixar crescer o desejo de devolver, por natural fenômeno de retribuição, a bondade, já então mais desenvolvida no seu mundo interior.
Do pensamento à palavra, à ação, passo a passo se agiganta a intenção que se converte em realidade criadora, retributiva, desenvolvendo recursos de alta magnitude em derredor. Essa movimentação de energia positiva é saudável esforço para evitar-se o sofrimento ou dele liberar-se.
A bondade é um pequeno esforço do dever de retribuir com alegria todas as dádivas que o homem frui, sem dar-se conta, sem nenhum esforço, por automatismo - como o sol, a lua e as estrelas, o firmamento, o ar, as paisagens, a água, os vegetais, os animais - e que, inadvertidamente, o homem vem consumindo, poluindo com alucinação, matando com impiedade...
A vida cobra aos seus agressores o preço da interferência negativa na sua ordem e estrutura.
Assim, devolver-lhe a bondade é respeitar-lhe os códigos da existência, da sobrevivência, fomentando-lhe o aumento, a continuidade, a própria vida, onde quer que ela se expresse. Essa bondade que se pode denominar como dever retributivo, abre espaço ao hábito para outras formas de manifestá-la.
Os sentimentos nobres que não são estimulados à ação por largo período embotam-se, debilitam-se, quase desaparecem. Desse modo, a bondade cresce por meio do exercício, tornando-se um hábito de vida ou desaparecendo por falta de ação.
Optar por agir ou não com bondade é atitude da mente e produzir o bem é do coração.
Há em todos os seres o instinto de conservação da vida e uma natural inclinação para o bem, em razão de serem herdeiros de Deus em aprendizagem, na forma da utilização dos recursos à sua disposição.
A escolha do rumo a seguir depende do interesse imediato de resultados ou da lúcida preferência de frutos posteriores duradouros, mediante a renúncia do momento.
A ascese longa e, às vezes, difícil, será lograda fatalmente, em face da destinação assinalada para todos os seres. Torná-la iluminada e agradável deve ser a opção de todos quantos pensam e anelam por fazer cessarem os próprios sofrimentos.
O exercício da bondade faculta campo para a vigência do amor, cuja conquista plena coroa a vida, libertando-a de todas as algemas que a retêm. O amor é a vibração do Pai expandindo-se na direção do filho e dele se exteriorizando em todas as direções. Mesmo nos indivíduos mais cruéis, nos verdugos mais insensíveis, vigem os lampejos do amor em ondas de ternura, gestos de carinho, expressões de sacrifício...
Preservando a vida da prole, as feras se expõem por instinto, traindo a presença imanente do amor em forma irracional.
No homem, o amor esplende e cria o heroismo, o holocausto, o sacrifício com que a vida se engrandece e triunfa sobre a morte, qual dia perene sobre a noite transitória.
O exercício do amor, dilatando o sentimento que se harmoniza com a alma da vida em tudo pulsando, favorece a cessação do sofrimento, acaso existente.
É o antídoto mais poderoso para quaisquer fenômenos degenerativos, em forma de dor ou ingratidão, agressividade ou desequilíbrio, crime ou infâmia. Ele possui os ingredientes que diluem o mal e favorecem o surgimento do bem oculto.
Onde viceja o progresso, o amor se manifesta. Há exceções, como no caso do crescimento horizontal, em que o interesse e a ganância fomentam o desenvolvimento econômico, tecnológico e social... Mesmo aí, o amor se encontra presente, embora direcionado para o egoísmo, a satisfação dos próprios sentidos, de onde partirá para os gestos altruísticos, que proporcionam a alegria de outrem, o bem-estar geral...
Sem o passo inicial, ninguém vence as distâncias. O egoísmo é a estaca zero, ás vezes perniciosa, para ensejar os primeiros movimentos no rumo da solidariedade, do bem comum. Pior que ele é o desinteresse, a morbidez da indiferença, deixando transparecer que o amor está morto, não obstante se encontre dormindo, aguardando o estimulo correspondente para despertar.
A vida é impossível sem o amor. Da mesma forma que o crime se disfarça e os sentimentos inferiores se escamoteiam sob máscaras diversas, há várias expressões positivas que surgem no homem refletindo o amor de que ele ainda não se deu conta. A medida que se agiganta, neutraliza o sofrimento e a sua vigência contribui para que cessem as causas degenerativas que facultam o sofrimento. Quando atinge elevada qualidade, em somente uma pessoa, anula a fúria e o ódio com suas incontáveis vitimas, bem como dos seus fomentadores.
Irradiando-se, à semelhança da luz, domina todos os escaninhos e tudo arrasta na direção do fulcro gerador da energia.
Amor é sinônimo de saúde moral e quem o possui elimina as geratrizes envenenadas que se expandem produzindo sofrimento.
O amor é sutil e sensível, paciente e constante, não se irritando nem se impondo nunca. No entanto, quem lhe experimenta o mimetismo, jamais o esquece. Mesmo que momentaneamente lhe interrompa o fluxo, ele sempre volve.
Na raiz de toda ação enobrecida está a seiva do amor, produzindo vida e sustentando-a.
Usar essa energia vital constitui dever e, com a consciência lúcida de sua magnitude, aplicá-la em prol da harmonia faz cessar o sofrimento. Ela é vibração positiva, que enseja entusiasmo e otimismo, dando colorido à existência. Reverdece a terra cansada do coração e drena o charco, no qual a pestilência das paixões deixou que se descompusessem a esperança e a alegria.
Ninguém ama inerte. Dinâmico, o amor induz à ação construtiva, responsável pelo progresso.
Objetivando sempre o bem, concentra suas forças nele e não desiste enquanto não lobriga a meta. Ainda aí permanece solidário, de modo a evitar que o ser depereça e tombe no desânimo.
Como o sofrimento decorre da insatisfação, da distonia, da degeneração dos tecidos e dos fenômenos biológicos desajustados, o amor age sobre as moléculas como onda vitalizante e, restaurando-lhes o equilíbrio, vence o sofrimento, interrompendo-lhe o fluxo causal.
Quando, porém, perseveram as dores físicas, efeitos dos desarranjos orgânicos, a resignação e a coragem do amor amortecem-lhes os efeitos, tornando-os suportáveis e produzindo os heróis do sofrimento, cujo martírio de qualquer procedência, deles fazem modelos que dão força e dignidade às demais criaturas, assim embelezando a vida moral e humana na Terra.
Sob a ação do amor, são processados novos mecanismos cármicos positivos, que interrompem aqueles de natureza perniciosa, porquanto o bem anula o mal e suas conseqüências, liberando os infratores das leis, quando eles as recompõem e corrigem os mecanismos que haviam desarticulado.
É o amor que leva à piedade fraternal, à compaixão, induzindo o homem à solidariedade e mesmo ao sacrifício.
Há um tipo de compaixão que, não resultando da ação dinâmica do amor profundo, pode ser perniciosa e até deprimente. Trata-se daquela que lamenta o sofrimento e descoroçoa quem o experimenta, como uma forma de aureolá-lo de desdita e abandono, de falta de sorte e desgraça. Essa atitude transparece e resulta de uma óptica equivocada sobre o sofrimento, deixando a perspectiva de que o mesmo é punição arbitrária, injustiça perturbadora.
A compaixão junta-se ao companheirismo, que comparte dos sentimentos alheios, sem enfraquecer-lhes as resistências morais, incitando o indivíduo à perseverança nos ideais e postulados relevantes, que o impulsionam ao incessante avanço, sem possibilidade de retrocesso.
Compaixão pelo bem, fruto do amor, o ser age adequadamente, mudando a estrutura do sofrimento, do qual o cinzel da ternura arranca as asperezas e anfractuosidades. Esse sentimento é semelhante à suavidade do luar em noite escura espraiando luz tênue e confortadora sobre a paisagem. Faculta uma visão propiciadora de ações úteis, onde predominavam as sombras do desalento, do medo e do desespero em crescimento.
A paixão pelo serviço de elevação irradia piedade construtiva, que estimula à beneficência e da calor à filantropia, aureolando-a de vigor fraternal, graças ao qual os sentimentos solidários expressam o amor em sua multiface.
A ausência de compaixão envilece o homem e a falta de paixão pelo bem torna o ser revel, quando não o mantém apenas na indiferença mórbida, qual observador mumificado diante dos acontecimentos do cotidiano.
O serviço do bem, com a correspondente paixão de sustentado, transforma-se em caridade que plenifica aquele que recebe o socorro e quem o propicia. Enseja ação de dupla via: a satisfação que faculta aquele a quem é dirigida e a que retorna como resposta interior da consciência tranqüila pela emoção experimentada.
A vida sempre responde de acordo com a maneira como é inquirida. A cada ação resulta uma equivalente reação, desencadeando sucessivos efeitos que se tornam conseqüências desta última, por sua vez geradora de novos resultados.
Para que seja interrompido o ciclo, quando pernicioso, a compaixão por si mesmo e pelo próximo induz o homem às ações construtivas, nas quais se instalam os mecanismos que desencadeiam resultados favoráveis ao progresso, assim interrompendo a onda propiciadora de sofrimento.
A paixão de Cristo por todas as criaturas é um estimulo constante a que se compadeçam os indivíduos uns pelos outros, sustentando-se nas dores e dificuldades, jamais piorando as suas necessidades ou afligindo-se mais por meio dos instintos agressivos, por acaso prevalecentes em sua natureza animal.
É de vital importância a compaixão no comportamento humano. Ela conduz à análise a respeito da fragilidade da existência corporal e de todos os engôdos que a disfarçam.
Sendo a ilusão um fator responsável por incontáveis sofrimentos, a compaixão desnuda-a.
Porque se fantasia a existência terrena com quimeras e sonhos, a realidade, desfazendo essa imagem infantil, leva ao sofrimento todos aqueles que, imaturos, confiaram em demasia na transitoriedade das formas e da apresentação física, das promessas de afeto imorredouro e de fidelidade perpétua, de alegria sem tristeza e meio dia sem crepúsculo no fim da jornada.
Assim, a morte da ilusão fere aqueles que lhe confiaram a existência, entregando-se-lhe sem reserva, sem precaução.
A ilusão é, pois, anestésico para o Espirito. Certamente, algo de fantasia emoldura a vida e da-lhe estimulo.
Entretanto, firmar-se nos alicerces frágeis da ilusão, buscando aí construir o futuro, é pretender trabalhar sobre areia movediça ou solo pantanoso coberto por água tranqüila apenas na superfície.
Há quem postergue a realidade, evitando-a, para não sofrer... E existem aqueles que pretendem apoiar-se no realismo rude, que não passa, muitas vezes, de outra forma errônea de ilusão.
A consciência da realidade resulta da observância dos acontecimentos diários, da transitoriedade do chamado mundo objetivo e de uma análise tranqüila e lúcida a respeito do que é verdadeiro em relação ao aparente, do essencial ao secundário, e sucessivamente.
A compaixão por si mesmo - amor a si próprio - faculta a visão realista, sem agressão, dos objetivos da existência terrena, impulsionando a compaixão pelo seu irmão - amor ao próximo - solidarizando-se com a sua luta e dando-lhe a mão amiga, a fim de sustentá-lo ou erguê-lo para que prossiga na marcha.
Essa atitude, ao invés de produzir uma postura pessimista, cética, amargurada, resultante da morte da ilusão, alenta e engrandece, dando sentido e significado a todos os acontecimentos.
Por isso, a compaixão se torna fator que faz cessar os sofrimentos, como resultado natural dos outros passes, partindo da emoção para a ação.
Apresenta-se, então, no painel do comportamento, a necessidade de agir com inteireza, com abnegação, enobrecedora.
Todas as experiências humanas constituem formas de amadurecimento da criatura. Algumas decorrem dos deveres imediatos e são comuns atados, constituindo a sua vivência um fenômeno natural, sem o qual se experimenta inevitável alienação com todas as suas conseqüências perniciosas.
O fato de participar do contexto social, mesmo que sem gestos incomuns ou de arrebatamento, equipa o indivíduo com recursos emocionais que lhe trabalham a existência, aformoseando-a com estímulos crescentes para o seu prosseguimento.
No que tange aos meios para facultarem a cessação do sofrimento, as ações meritórias, conforme já enfocadas, são preponderantes, destacando-se aquelas inabituais, que caracterizam os temperamentos nobres, os sentimentos abnegados.
Distinguir-se por meio dos gestos incomuns, desconhecidos, é forma de buscar a iluminação mediante o concurso da realização de tudo quanto internamente se conjuga para esse fim.
Quem acumula um tesouro tem em mente aplicá-lo em finalidades especificas. Se portador de sabedoria, pensa em multiplicá-lo ao tempo em que o investe, escolhendo os empreendimentos mais rentáveis, seja do ponto de vista econômico, assim como de retribuição emocional. Com essa atitude promove o progresso, gera oportunidades de serviço e dignifica as vidas que antes estavam sob a ameaça do desespero e da inutilidade.
Da mesma forma, os recursos espirituais e emocionais elevados devem ser canalizados para as atividades incomuns, superiores, as quais nem todos se atrevem a realizar.
As ações incomuns variam desde os contributos materiais valiosos, irrigados de amor e de ternura até os gestos extraordinários do silêncio ante as ofensas, do perdão as agressões e do esquecimento do mal.
Todo aquele que dilui as forças negativas que teimam por obstruir-lhe o avanço, utilizando-se do detergente do amor, evita contaminar-se, e se já visitado por elas, liberta-se, fazendo com isso que cessem as causas e desapareçam os sofrimentos.
O campo mental indefeso faculta que as farpas do mal aí proliferem, infestando a área com resíduos pestíferos, responsáveis por males incontáveis.
A defesa, em relação aos fatores perniciosos, é somente possível quando a irradiação de energias saudáveis vitaliza a organização psíquica, que reflete as aspirações do Espirito, resguardando-a das agressões externas.
Não gerando pensamentos destrutivos nem acumulando vibrações perturbadoras de ódio, medo, ciúme, rancor, mágoa, concupiscência, não se faz vitima dos conteúdos internos degenerativos.
Esse estado interior impulsiona aos atos incomuns superiores, passo próximo da iluminação.
Somente iluminando-se, o homem supera todas as dores; erradicando-lhes as causas, resguarda-se de agressões destrutivas.
A iluminação resulta do esforço da busca intima do ser profundo, opção de sabedoria que é, em relação ao ego que prevalece no mapeamento das aspirações humanas mais imediatas, portadoras de distúrbios vitais e fragorosas derrotas na luta, que é a breve existência corporal.
O desenvolvimento da chama divina imanente em todos os seres merece todos os sacrifícios e empenhos, a fim de que arda em todo o seu esplendor, vencendo as teimosas sombras, que são a herança demorada das experiências nas faixas primitivas do processo inicial da evolução.
A verdadeira iluminação promove o homem que, superando as contingências-limites da estância carnal, anula todas as causas de sofrimentos, fazendo-as cessar. Já não necessita da dor para alcançar metas, pois o amor lhe constitui a razão única do existir, em sintonia com o pensamento divino que o atrai cada vez com mais vigor para a meta final.
Joanna de Ângelis
Fonte: Plenitude -pdf
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