quarta-feira, 10 de junho de 2020

Hammed - Livro A Imensidão dos Sentidos - Francisco do Espírito Santo Neto - Pág. 25 - Ser Bom



Hammed - Livro A Imensidão dos Sentidos - Francisco do Espírito Santo Neto - Pág. 25


Ser Bom


"É preciso convir, também, que o orgulho, frequentemente, é estimulado no médium por aqueles que o cercam.  Se tem faculdades um pouco transcendentais, é procurado e louvado; crê-se indispensável, e logo toma ares de suficiência e de desdém quando presta seu concurso." (2a. parte - cap XX, item 228)


Ser bom é olhar as coisas e as pessoas com os "olhos do amor".  A criatura que aprendeu a ver tudo com bons olhos consegue perceber que todas as ocorrências da vida estão caminhando para uma renovação enriquecedora.  No Universo nada acontece que não tenha uma finalidade útil e providencial.

As grandes dificuldades não significam castigo ou punições, mas caminhos preparatórios para se alcançar dentro em breve um bem maior.

O bondoso é sustentado por sua autoconfiança e estimulado por um impulso forte e desinibido a fim de concretizar ou construir ações altruístas.  Possui uma aura de vitalidade que reúne uma preciosa e rara combinação de ternura e destemor.

A criatura bondosa domina a arte da sinceridade, pois, acima de tudo, é fiel consigo mesma.   Por ter desenvolvido uma natureza benevolente, tem aspecto jovial e sociável, demonstra carinho pelas crianças, aprecia a fauna e a flora, enfim gosta das coisas da Natureza.  Em sua relação com os outros, é uma boa ouvinte, sempre disposta quando pode ser útil, solidária e cordial.

Há uma diferença entre bondade e desatenção às necessidades pessoais.  Ser bom não é ter uma vida associada à autonegação ou autonegligência, nem mesmo ajustar-se obsessivamente às exigências e necessidades dos outros.  Acima de tudo, o bondoso conhece e defende os próprios direitos, ou seja, sabe cuidar de si mesmo.

Entretanto, cuidar de si não quer dizer eu antes de tudo, mas com certeza significa eu também.  A expressão "cuidar de si" não deriva do egoísmo ou do orgulho, mas traduz o dever de amar a criatura que temos responsabilidade de amparar - nós mesmos.

"É preciso convir, também, que o orgulho, frequentemente, é estimulado no médium por aqueles que o cercam."

Uma das características marcantes de nossa sociedade é fazer constantes solicitações e exigências à outras pessoas.  Um indivíduo que aprendeu a ver com os bons "olhos do amor" tem a habilidade de não se deixar "estimular orgulhosamente" pelas pessoas que o rodeiam, porque aprendeu a amar ou a desempenhar sua tarefa na Terra sem expectativas alheias.

A incapacidade de dizer "não posso", "não concordo", "não sei", "não quero" acarreta ao ser humano a perda de controle da própria vida.  Isso, no entanto, não significa que dizer "não" a tudo, mas ter o direito de responder com franqueza quando lhe perguntam se gosta ou não de alguma coisa; em outras palavras, deixar o outro saber como ele sente e pensa.  Declarar de forma positiva e direta seus valores e propósitos é preservar sua dignidade e auto-respeito.  Se uma pessoa não for capaz de pronunciar essa simples palavra "não" quando bem quiser, permitirá que outras pessoas a explorem sem parar, afastando-a daquilo que realmente pode e quer fazer.

"Aqueles que nos cerca" podem nos levar a elogios desmedidos.  Não se pode confiar nos aplausos.   Eles podem ser retirados a qualquer momento, não importa qual tenha sido nosso desempenho passado.  A inconstância é um vício peculiar da massa comum.

Quando a criatura "crê-se indispensável, e logo toma ares de suficiência e de desdém quando presta seu concurso", deveria conscientizar-se de que, com essa atitude, não está ajudando os outros.   O orgulho se precipita em satisfazer vontades caprichosas; o bondoso estimula a aprendizagem, porque sabe que é pelo caminho dos erros e acertos que vem o conhecimento e, por consequência, o crescimento espiritual.

Aprender a ser uma pessoa saudavelmente generosa pode estar ligado a uma longa aventura na área da perseverança.  Ser bom não quer dizer que devemos interferir ou ficar presos nos problemas dos outros. Muitos de nós ficamos envolvidos numa generosidade compulsiva - atos de bondade motivados por sentimentos de culpa, obrigação, pena e de suposta superioridade moral.

Disse o Divino Amigo diante da população sofredora:  "tenho compaixão da multidão".(1) Para adquirir a dádiva do conhecimento das virtudes, é preciso elevar o entendimento e engrandecer o raciocínio com Jesus Cristo.

Compaixão é um ato de elevada compreensão, em que reina a fidelidade consigo mesmo, o auto-respeito, o perdão e a bondade. Ser bom, em sua exata definição, é fazer escolhas ou tomar atitudes com compaixão, lançando mão da própria dignidade e, ao mesmo tempo, promovendo a dignidade alheia.


Hammed 







(1) Marcos, 8:2 

Fonte: A Imensidão dos Sentidos -pdf

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