segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Léon Denis - Livro Depois da Morte - Cap. XLIX - O Amor




Léon Denis - Livro Depois da Morte - Cap. XLIX


O Amor



O amor é a celeste atração das almas e dos mundos, a potência divina que  liga os Universos, governa-os e fecunda; o amor é o olhar de Deus!  

Não se designe com tal nome a ardente paixão que atiça os desejos carnais.  Esta não passa de uma imagem, de um grosseiro simulacro do amor. O amor é o  sentimento superior em que se fundem e se harmonizam todas as qualidades do  coração; é o coroamento das virtudes humanas, da doçura, da caridade, da  bondade; é a manifestação na alma de uma força que nos eleva acima da  matéria, até alturas divinas, unindo todos os seres e despertando em nós a  felicidade íntima, que se afasta extraordinariamente de todas as volúpias  terrestres.  

Amar é sentir-se viver em todos e por todos, é consagrar-se ao sacrifício, até  à morte, em benefício de uma causa ou de um ser. Se quiserdes saber o que é  amar, considerai os grandes vultos da Humanidade e, acima de todos, o Cristo, o  amor encarnado, o Cristo, para quem o amor era toda a moral e toda a religião.  Não disse ele: “Amai os vossos inimigos”?  

Por essas palavras, o Cristo não exige da nossa parte uma afeição que nos  seja impossível, mas sim a ausência de todo ódio, de todo desejo de vingança,  uma disposição sincera para ajudar nos momentos precisos aqueles que nos  atribulam, estendendo-lhes um pouco de auxílio.  

Uma espécie de misantropia, de lassidão moral por vezes afasta do resto da  Humanidade os bons Espíritos. É necessário reagir contra essa tendência para o  insulamento; devemos considerar tudo o que há de grande e belo no ser  humano, devemos recordar-nos de todos os sinais de afeto, de todos os atos  benévolos de que temos sido objeto. Que poderá ser o homem separado dos  seus semelhantes, privado da família e da pátria? Um ente inútil e desgraçado.  Suas faculdades estiolam-se, suas forças se enfraquecem, a tristeza invade-o.  Não se pode progredir isoladamente. É imprescindível viver com os outros  homens, ver neles companheiros necessários, O bom humor constitui a saúde da  alma. Deixemos o nosso coração abrir-se às impressões sãs e fortes. Amemos  para sermos amados! 

Se nossa simpatia deve abranger a todos os que nos rodeiam, seres e coisas,  a tudo o que nos ajuda a viver e mesmo a todos os membros desconhecidos da  grande família humana, que amor profundo, inalterável, não devemos aos  nossos genitores: ao pai, cuja solicitude manteve a nossa infância, que por muito  tempo trabalhou em aplanar a rude vereda da nossa vida; à mãe, que nos  acalentou e nos reaqueceu em seu seio, que velou com ansiedade os nossos  primeiros passos e as nossas primeiras dores! Com que carinhosa dedicação não  deveremos rodear-lhes a velhice, reconhecer-lhes o afeto e os cuidados  assíduos!  

À pátria também devemos o nosso concurso e o nosso sacrifício. Ela recolhe  e transmite a herança de numerosas gerações que trabalharam e sofreram para  edificar uma civilização de que recebemos os benefícios ao nascer. Como guarda  dos tesouros intelectuais acumulados pelas idades, ela vela pela sua  conservação, pelo seu desenvolvimento; e, como mãe generosa, os distribui por  todos os seus filhos. Esse patrimônio sagrado, ciências e artes, leis, instituições,  ordem e liberdade, todo esse acervo produzido pelo pensamento e pelas mãos  dos homens, tudo o que constitui a riqueza, a grandeza, o gênio da nação, é  compartilhado por todos. Saibamos cumprir os nossos deveres para com a pátria  na medida das vantagens que auferimos. Sem ela, sem essa civilização que ela  nos lega, não seríamos mais que selvagens.  

Veneremos a memória desses que têm contribuído com suas vigílias e com  seus esforços para reunir e aumentar essa herança; veneremos a memória dos  heróis que têm defendido a pátria nas ocasiões criticas, de todos esses que têm,  até à hora da morte, proclamado a verdade, servido à justiça, e que nos  transmitiram, tingidas pelo seu sangue, as liberdades, os progressos que agora  gozamos.  

O amor, profundo como o mar, infinito como o céu, abraça todas as  criaturas. Deus é o seu foco. Assim como o Sol se projeta, sem exclusões, sobre  todas as coisas e reaquece a natureza inteira, assim também o amor divino  vivifica todas as almas; seus raios, penetrando através das trevas do nosso  egoísmo, vão iluminar com trêmulos clarões os recônditos de cada coração  humano. Todos os seres foram criados para amar. As partículas da sua moral, os  germes do bem que em si repousam, fecundados pelo foco supremo, expandirse-ão algum dia, florescerão até que todos sejam reunidos numa única  comunhão do amor, numa só fraternidade universal. 

Quem quer que sejais, vós que ledes estas páginas, sabei que nos  encontraremos algum dia, quer neste mundo, nas existências vindouras, quer  em esfera mais elevada ou na imensidade dos espaços; sabei que somos  destinados a nos influenciarmos no sentido do bem, a nos ajudarmos na  ascensão comum. Filhos de Deus, membros da grande família dos Espíritos,  marcados na fronte com o sinal da imortalidade, todos somos irmãos e estamos  destinados a conhecermo-nos, a unirmo-nos na santa harmonia das leis e das  coisas, longe das paixões e das grandezas ilusórias da Terra. Enquanto  esperamos esse dia, que meu pensamento se estenda sobre vós como  testemunho de terna simpatia; que ele vos ampare nas dúvidas, vos console nas  dores, vos conforte nos desfalecimentos e que se junte ao vosso próprio  pensamento para pedir ao Pai comum que nos auxilie a conquistar um futuro  melhor.



Léon Denis 


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