sábado, 23 de novembro de 2019

Emmanuel - Livro A Caminho da Luz - Chico Xavier - Cap. 8 - A China milenária





Emmanuel - Livro A Caminho da Luz - Chico Xavier - Cap. 8


A China Milenária

(Sumário)


A China

Depois de nossas divagações a respeito da raça branca, que se constituía dos antigos árias no ambiente da Terra, é cabível examinarmos a árvore mais antiga das civilizações terrestres, a fim de observarmos a assistência carinhosa e constante do Divino Mestre para com todas as criaturas de Deus.

Inegavelmente, o mais prístino foco de todos os surtos evolutivos do globo é a China milenária, com o seu espírito valoroso e resignado, mas sem rumo certo nas estradas da edificação geral.

Quando se verificou o advento das almas proscritas do sistema da Capela, em épocas remotíssimas, já a existência chinesa contava com uma organização regular, oferecendo os tipos mais homogêneos e mais selecionados do planeta, em face dos remanescentes humanos primitivos.

Suas tradições já andavam de geração em geração, construindo as obras do porvir. Daí se infere que, de fato, a história da China remonta a épocas remotíssimas, no seu passado multimilenário, e esse povo, que deixa agora entrever uma certa estagnação n nos seus valores evolutivos, sempre foi igualmente acompanhado na sua marcha por aquela misericórdia infinita que, do Céu, envolve todos os corações que latejam na Terra.

A cristalização das ideias chinesas

A cristalização das ideias chinesas advém, simplesmente, desse insulamento voluntário que prejudicou, nas mesmas circunstâncias, o espírito da Índia, apesar da fascinante beleza das suas tradições e dos seus ensinos.

É que a civilização e o progresso, como a própria vida, dependem das trocas incessantes.

O Universo, na sua constituição maravilhosa, não criou nem sanciona leis de isolamento na comunidade eterna dos mundos e dos seres.

A existência é uma longa escada, na qual todas as almas devem dar-se as mãos, na subida para o conhecimento e para Deus.

Enquanto a família indo-europeia pervagava no desconhecido, assimilando as expressões das tribos encontradas — em longas iniciativas de construção e trabalho —, os arianos da Índia estacionaram no repouso de suas tradições, desenvolvendo-se, no curso do tempo, as mais prestigiosas lições de experiência para a alma dos povos. 6 E agora, quando os israelitas são chamados por forças poderosas ao deslocamento no seio das nações, a fim de aprenderem mais intimamente a doce lição da fraternidade e do amor universal, renovando a fibra da sua fé a caminho da perfeita compreensão do Cristo, a China é também convocada, pelas transformações do século, à grande lição do entrelaçamento da comunidade planetária, a fim de ensinar as suas virtudes e aprender as virtudes dos outros povos.

Foi pela sua obstinada resistência que a ideia chinesa estagnou-se na marcha do tempo, embora, nestas despretensiosas observações, sejamos dos primeiros a reconhecer a grandeza de suas elevadas expressões espirituais.

Fo-Hi

Jesus, na sua proteção e na sua misericórdia, desde os tempos mais distantes enviou missionários àqueles agrupamentos de criaturas que se organizavam, econômica e politicamente, entre as coletividades primárias da Terra.

As raças adâmicas ainda não haviam chegado ao orbe terrestre e entre aqueles povos já se ouviam grandes ensinamentos do Plano Espiritual, de sumo interesse para a direção e solução de todos os problemas da vida.

A História não vos fala de outros, antes do grande Fo-Hi, que foi o compilador de suas ciências religiosas, nos seus trigramas duplos, que passaram do pretérito remotíssimo aos estudos da posteridade.

Fo-Hi refere-se, no seu “Y-King” [Ver também: Y-King, o Livro das Mutações], aos grandes sábios que o antecederam no penoso caminho das aquisições de conhecimento espiritual.

Seus símbolos representam os característicos de uma ciência altamente evolutiva, revelando ensinamentos de grande pureza e da mais avançada metafísica.

Em seguida a esse grande missionário do povo chinês, o Divino Mestre envia-lhe a palavra de Confúcio ou Kong-Fo-Tsé, cinco séculos antes da sua vinda, preparando os caminhos do Evangelho no mundo, tal como procedera com a Grécia, Roma e outros centros adiantados do planeta, enviando-lhes elevados Espíritos da ciência, da religião e da filosofia, algum tempo antes da sua palavra mirífica, a fim de que a Humanidade estivesse preparada para a aceitação dos seus ensinos.

Confúcio e Lao-Tsé

Confúcio, na qualidade de missionário do Cristo, teve de saturar-se de todas as tradições chinesas, aceitar as circunstâncias imperiosas do meio, de modo a beneficiar o país na medida de suas possibilidades de compreensão.

Ele faz ressurgir os ensinamentos de Lao-Tsé, que fora, por sua vez, um elevado mensageiro do Senhor para as raças amarelas

Suas lições estão cheias do perfume de requintada sabedoria moral.

No “Kan-Ing”, de Lao-Tsé, eis algumas de suas afirmações que nada ficam a dever aos vossos conhecimentos e exposições do moderno pensamento religioso: — “O Senhor dos Céus é bom e generoso, e o homem sábio é um pouco de suas manifestações. Na estrada da inspiração, eles caminham juntos e o sábio lhe recebe as ideias, que enchem a vida de alegria e de bens.”

Lao-Tsé, de cujos ensinamentos Confúcio fez questão de formar a base dos seus princípios, viveu seis séculos antes do advento do Senhor, e, em face dessa filosofia religiosa, avançada e superior, somos obrigados a reconhecer a prodigalidade da misericórdia de Jesus, enviando as seus porta-vozes a todos os pontos da Terra, com o objetivo de fazer desabrochar no espírito das massas a melhor compreensão do seu Evangelho de Verdade e de Amor, que o mundo, entretanto, ainda não compreendeu, não obstante todos os seus sacrifícios.

O Nirvana

Para fundamentar devidamente a nossa opinião relativa à estagnação do espírito chinês, examinemos ainda as suas interessantes e elevadas concepções religiosas.

De um modo geral, é o culto dos antepassados o princípio da sua fé. Esse culto, cotidiano e perseverante, é a base da crença na imortalidade, porquanto de suas manifestações ressaltam as provas diárias da sobrevivência.

As relações com o Plano Invisível constituem um fenômeno comum, associado à existência do indivíduo mais obscuro.

A ideia da necessidade de aperfeiçoamento espiritual é latente em todos os corações, mas o desvio inerente à compreensão do Nirvana é aí, como em numerosas correntes do budismo, um obstáculo ao progresso geral.

O Nirvana, examinado em suas expressões mais profundas, deve ser considerado como a união permanente da alma com Deus, finalidade de todos os caminhos evolutivos; nunca, porém, como sinônimo de imperturbável quietude ou beatífica realização do não ser.

A vida é a harmonia dos movimentos, resultante das trocas incessantes no seio da natureza visível e invisível. Sua manutenção depende da atividade de todos os mundos e de todos os seres.

Cada individualidade, na prova, como na redenção, como na glória divina, tem uma função definida de trabalho e elevação dos seus próprios valores.

Os que aprenderam os bens da vida e quantas os ensinam com amor, multiplicam na Terra e nos Céus os dons infinitos de Deus.

A China atual

A falsa interpretação do Nirvana disturbou as elevadas possibilidades criadoras do espírito chinês, cristalizou-lhe as concepções e paralisou-lhe a marcha para as grandes conquistas.

É certo que essas conquistas não consistem nas metralhadoras e nas bombardas da civilização do Ocidente, cheia de comodidades multifárias, mas aqui me refiro à incompreensão geral acerca da lição sublime do Cristo e dos seus enviados.

A China, como os outros povos do mundo, tem de esmar neste século os valores obtidos na sua caminhada longa e penosa.

Destas palavras, não há inferir que a invasão japonesa, na sua incrível agressividade, esteja tocada de uma sanção divina. O Japão poderá realizar, na grande república, todas as conquistas materiais; usando a psicologia dos conquistadores, poderá melhorar as condições sanitárias do povo, rasgar estradas e multiplicar escolas; mas não amortecerá a energia perseverante do espírito chinês, valoroso e resignado, que poderá até ceder-lhe as próprias rédeas do governo, enchendo-o de fortuna, de suntuosidade e de honrarias, sem desprestígio do seu próprio valor, porquanto a China milenária sabe que os espíritos de rapina embriagam-se facilmente com o vinho de sangue do triunfo, e tão logo o luxo lhes amoleça as fibras da desesperação, todas as vitórias voltam, automaticamente, à reflexão, ao raciocínio, à cultura e à inteligência.

O que se faz necessário examinar é o estado de estagnação da alma chinesa nestes últimos séculos, para concluirmos pela sua necessidade imperiosa de comungar no banquete de fraternidade dos outros povos.

A edificação do Evangelho

É verdade que a palavra direta do Cristo, consubstanciada no seu Evangelho, ainda não chegou até lá de um modo geral, aclarando o caminho de todos os corações, mas um sopro de vida romperá as sombras milenárias que caíram sobre a república chinesa, onde milhões de almas repousam, indevidamente, na falsa compreensão do Nirvana e do Absoluto.

Mãos valorosas erguerão o monumento evangélico naquele mundo de dolorosas antiguidades, e um novo dia raiará para a grande nação que se tornou em símbolo de paciência e de perseverança, para os outros povos.

Esperemos a providência d’Aquele que guarda em suas mãos augustas e misericordiosas a direção do mundo.

“Bem-aventurados os pacíficos, os aflitos, os humildes.” E as suas palavras mansas e carinhosas nos fazem lembrar a China milenária, que, amando a paz, sofre agora o insulto das forças tenebrosas da ambição, da injustiça e da iniquidade.




Emmanuel


[1] Este livro foi escrito em 1938, antes, portanto, do atual surto evolucionário da nação chinesa.




VÍDEO:
A Caminho Da Luz - Francisco Cândido Xavier
Canal Metanoia





Objetivando orientar o homem de acordo com os desígnios da Misericórdia divina, essa obra é merecedora de leitura e estudo para os que buscam compreender nosso mundo. Emmanuel narra a história da humanidade sob a luz do Espiritismo, apresentando-nos acontecimentos e experiências que vão desde a gênese planetária até as perspectivas para o futuro da Humanidade, elucidando-nos a posição e a importância do Evangelho do Cristo diante da ciência, das religiões e das filosofias terrenas.



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