sábado, 4 de janeiro de 2025

Emmanuel - Livro Busca e Acharás - Emmanuel / André Luiz - Chico Xavier - Cap. 37 - Aceitar e renovar



Emmanuel - Livro Busca e Acharás - Emmanuel / André Luiz - Chico Xavier - Cap. 37


Aceitar e renovar


Aceitarás a dificuldade, não por fardo de aflição que te arrase as energias, mas por ensinamento que te habilite à mais ampla aquisição de experiência.

Não te rebelarás contra a enfermidade…

Saberás, no entanto, afastá-la com os recursos curativos de que disponhas, imitando o devotamento do lavrador que protege a enxada em cuja cooperação encontra o pão de cada dia.

Entenderás os seres amados que te apresentem lamentáveis quadros de provação, tolerando-lhes, com serenidade, até mesmo as injúrias…

Ainda que seja à distância, porém, não só farás o possível para desculpá-los, como também te empenharás a auxiliá-los na melhoria de espírito.

Suportarás a preterição e o menosprezo nas áreas da atividade profissional…

Não renunciarás, contudo, ao dever de aprimorar-te, a fim de ser mais útil à comunidade à qual te vinculas.

Até mesmo em nós próprios, admitiremos certas falhas de extinção difícil, chegando a medir com sinceridade, a extensão de nossas deficiências…

Mas prosseguiremos, fazendo o melhor de nós, até que nos sintamos curados das imperfeições que nos caracterizem, com o esmeril do trabalho, ao calor da responsabilidade constante.

Paciência é compreensão.

Compreensão é luz de amor.

Aceitemos os obstáculos por testes de resistência, e as provas por lições…

Entretanto, saibamos acolhê-los, agindo sempre por superá-los na expansão do bem, de vez que estamos todos na forja da luta evolutiva, com a certeza de que degraus para cima é que configuram a estrada de elevação.


Emmanuel









Fonte: Bíblia do Caminho † Testamento Xavieriano

sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

Emmanuel - Livro Antologia Mediúnica do Natal - Espíritos Diversos / Chico Xavier - Cap. 27 - Meditando o Natal



Emmanuel - Livro Antologia Mediúnica do Natal - Espíritos Diversos / Chico Xavier - Cap. 27


Meditando o Natal


Na exaltação do Natal do Senhor, acalentemos nossa fé em Jesus, sem nos esquecermos da fé que Jesus deposita em nós.

Não desceria o Senhor da comunhão com os Anjos, sem positiva confiança nos homens.

É por isso que, da Manjedoura de Simplicidade e Alegria à Cruz da Renunciação e da Morte, vemo-lo preocupado na recuperação das criaturas.

Convida pescadores humildes ao seu ministério salvador e transforma-os em advogados da redenção humana.

Vai ao encontro de Madalena, possuída pelos adversários do bem, e converte-a em mensageira de luz.

Chama Zaqueu, mergulhado no conforto da posse material, e faz dele o administrador consciente e justo.

Não conhece qualquer desânimo, ante a negação de Pedro, e nele edifica o apóstolo fiel que lhe defenderia o Evangelho até ao martírio e à crucificação.

Não se agasta com as dúvidas de Tomé e eleva-o à condição de missionário valoroso, que lhe sustenta a Causa, até ao sacrifício.

Não se sente ofendido aos golpes da incompreensão de Saulo, o perseguidor, e visita-o, às portas de Damasco, investindo-o na posição de emissário de Sua Graça, coroado de claridades eternas…

A fé e o otimismo do Cristo começaram na descida à estrebaria singela e continuam, até hoje, amparando-nos e redimindo-nos, dia a dia…

Assinalando, assim, os júbilos do Natal, recordemos a confiança do Mestre e afeiçoemo-nos à sua obra de amor e luz, tomando por marco de partida a nossa própria existência.

O Senhor nos conclama à tarefa que o Evangelho nos assinala…

Nos primeiros três séculos de Cristianismo, os discípulos que lhe ouviram a Celeste Revelação levantaram-se e serviram-no com sangue e sofrimento, aflição e lágrimas.

Que nós outros estejamos agora dispostos a consagrar-lhe igualmente as nossas vidas, considerando o crédito moral que a atitude d’Ele para conosco significa….

Aprendamos, trabalhemos e sirvamos, até que um dia, qual aconteceu ao velho Simeão, da Boa Nova, possamos exclamar ante a Presença Divina:

— “Agora, Senhor, despede em paz o teu servo, segundo a tua palavra, porque, em verdade, meus olhos já viram a salvação.”


Emmanuel













André Luiz - Livro Agenda Cristã - Chico Xavier - Cap. 2 - Princípios redentores



André Luiz - Livro Agenda Cristã - Chico Xavier - Cap. 2


Princípios redentores


Não se esqueça de que Deus é o tema central de nossos destinos.

Deseje o bem dos outros, tanto quanto deseja o próprio bem.

Concorde imediatamente com os adversários.

Respeite a opinião dos vizinhos.

Evite contendas desagradáveis.

Empreste sem aguardar restituição.

Dê seu concurso às boas obras, com alegria.

Não se preocupe com os caluniadores.

Agradece ao inimigo pelo valor que ele lhe atribui.

Ajude as crianças.

Não desampare os velhos e doentes.

Pense em você, por último, em qualquer jogo de benefícios.

Desculpe sinceramente.

Não critique a ninguém.

Repare seus defeitos, antes de corrigir os alheios.

Use a fé e a prudência.

Aprenda a semear, preparando boa ceifa.

Não peça uvas ao espinheiro.

Liberte-se do peso de excessivas convenções.

Cultive a simplicidade.

Fale o menos possível, relativamente a você e a seus problemas.

Estimule as qualidades nobres dos companheiros.

Trabalhe no bem de todos.

Valorize o tempo.

Metodize o trabalho, sabendo que cada dia tem as suas obrigações.

Não se aflija.

Sirva a toda gente sem prender-se.

Seja alegre, justo e agradecido.

Jamais imponha seus pontos de vista.

Lembre-se de que o mundo não foi feito apenas para você.

As ciências sociais de hoje apresentam semelhantes princípios como novidades. No entanto, são antigos. Chegaram à Terra, com o Cristo, há quase vinte séculos.

Nós outros, porém, Espíritos atrasados no entendimento, somos ainda tardios na aplicação.


André Luiz









Fonte: Bíblia do Caminho † Testamento Xavieriano

Emmanuel - Livro Na Hora do Testemunho - Espíritos Diversos - Chico Xavier / J. Herculano Pires - Cap. 8 - Problemas da evolução - Autorrenovação



Emmanuel - Livro Na Hora do Testemunho - Espíritos Diversos - Chico Xavier / J. Herculano Pires - Cap. 8 - Problemas da evolução


Autorrenovação


Atualmente, na Terra, todos ouvimos, com frequência, a afirmativa geral — “eis que o mundo se transforma”.

Efetivamente, no Plano Físico, em apenas um quartel de século, alteraram-se basicamente quase todos os setores da vida em si.

Robôs específicos, quais sejam tratores ou máquinas de lavar, poupam imensidade de trabalho e os processos de intercâmbio, os mais rápidos, converteram o Planeta em casa grande com grande família entreunida nas mesmas realizações e nas mesmas dificuldades.

A criatura humana, porém, conquanto se extasie perante os avanços do progresso e, por vezes, se veja constrangida a súbitos deslocamentos emocionais, em vista das novas orientações psicológicas, observa, dentro de si própria, que as ocorrências do espírito continuam as mesmas.

O amor genuíno não sofreu qualquer modificação;

a atração dos sexos, do ponto de vista da coletividade, não experimentou mudança alguma;

o sofrimento moral é absolutamente semelhante àquele que devastava civilizações de há muito desaparecidas;

o imperativo da educação não abandonou o lugar que lhe compete na vida comunitária;

a ordem social não passou por alienação nenhuma, a fim de que a segurança comum se faça resguardada nos alicerces da justiça;

e a morte prossegue em toda parte, como sendo uma força que se impõe no mundo à custa de lágrimas.

Consideremos tudo isso e não te permitas abater se lutas, porventura te assediem a estrada.

Ante a perspectiva de mais mudanças no plano exterior, no imo da alma, sejamos mais nós mesmos.

Por mais complexa se mostre a moldura do quadro em que vives, no mundo, nele transitas, à feição de viajor, no hotel das facilidades materiais, com vinculações de trânsito e compromissos de tempo certo.

A Terra se renova, substancialmente, oferecendo reconforto em todas as direções; entretanto — ponderamos com respeito — é preciso saibas o que fazes de ti para que o carro da evolução não te colha sob as suas rodas inexoráveis.

Ampara-te na fé em Deus, seja qual seja o campo religioso em que estagies, construindo resistência íntima com os recursos do conhecimento e do amor.

Desvincula-te das preocupações improdutivas para que te não afastes do essencial.

Usa os bens que a vida te empresta atendendo ao bem dos outros, sem permitir que os bens dos quais te fizeste usufrutuário te acorrentem ao poste das aflições inúteis.

Serve sem apego. Ama sem escravizar o próximo ou a ti mesmo.  E ilumina-te, seguindo adiante.

É da Lei Divina que o mundo se transforme independentemente de nossa vontade, mas é igualmente da Lei do Senhor que a nossa renovação, sejam quais forem as influências exteriores, dependa sempre e exclusivamente de nós.


Emmanuel







*No início da nossa reunião pública de ontem, o Livro dos Espíritos deu-nos para estudo a sua questão 782. Os comentaristas teceram valiosas considerações em torno da nossa época de agitado progresso material. Muitos ângulos do assunto foram examinados. Ao término das nossas atividades, nosso caro Emmanuel escreveu a página que lhe envio (acima), no propósito de recebermos sua valiosa contribuição, em apontamentos que nos auxiliem no estudo doutrinário, como sempre, agradecendo, desde já, o que possa fazer em favor da continuidade das nossas reflexões sobre a renovadora doutrina.

Nota da Redação. — A mensagem foi recebida na noite de 7 do corrente, e a carta de Chico Xavier é datada de 9, dia da reunião da USE em São Paulo.




Allan Kardec - Livro A Gênese - A Gênese Segundo o Espiritismo - Cap. 2 - Deus - A Providência - Item 24



Allan Kardec - Livro A Gênese - A Gênese Segundo o Espiritismo - Cap. 2 - Deus


A Providência 


24. Seja ou não assim no que concerne ao pensamento de Deus, isto é, quer o pensamento de Deus atue diretamente, quer por intermédio de um fluido, para facilitarmos a compreensão à nossa inteligência, figuremo-lo sob a forma concreta de um fluido inteligente que enche o universo infinito e penetra todas as partes da criação: a Natureza inteira mergulhada no fluido divino. Ora, em virtude do princípio de que as partes de um todo são da mesma natureza e têm as mesmas propriedades que ele, cada átomo desse fluido, se assim nos podemos exprimir, possuindo o pensamento, isto é, os atributos essenciais da Divindade e estando o mesmo fluido em toda parte, tudo está submetido à sua ação inteligente, à sua previdência, à sua solicitude. Nenhum ser haverá, por mais ínfimo que o suponhamos, que não esteja saturado dele. Achamo-nos então, constantemente, em presença da Divindade; nenhuma das nossas ações lhe podemos subtrair ao olhar; o nosso pensamento está em contacto ininterrupto com o seu pensamento, havendo, pois, razão para dizer-se que Deus vê os mais profundos refolhos do nosso coração. Estamos nele, como ele está em nós, segundo a palavra do Cristo.

Para estender a sua solicitude a todas as criaturas, não precisa Deus lançar o olhar do alto da imensidade. As nossas preces, para que ele as ouça, não precisam transpor o espaço, nem ser ditas com voz retumbante, pois que, estando de contínuo ao nosso lado, os nossos pensamentos repercutem nele. Os nossos pensamentos são como os sons de um sino, que fazem vibrar todas as moléculas do ar ambiente. 


Allan Kardec











Fonte: ipeak.net

quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

Emmanuel - Livro Alma e Luz - Chico Xavier - Cap. 15 - A torre



Emmanuel - Livro Alma e Luz - Chico Xavier - Cap. 15


A torre


“Pois qual de vós, querendo edificar uma torre, não se assenta primeiro a fazer as contas dos gastos para ver se tem com que a acabar?” — JESUS (Lucas, 14.28)


Constitui objeto de observação singular as circunstâncias do Mestre se referir, à essa altura dos ensinamentos evangélicos, à uma torre, quando deseja simbolizar o esforço de elevação espiritual por parte da criatura.

A torre e a casa são construções muito diversas entre si.

A primeira é fortaleza, a segunda é habitação.

A casa proporciona aconchego, a torre dilata a visão.

Um homem de bem, integrado no conhecimento espiritual e praticando-lhe os princípios sagrados está em sua casa, edificando a torre divina da iluminação, ao mesmo tempo.

Em regra vulgar, porém, o que se observa no mundo é o número espontâneo de pessoas que nem cuidaram ainda da construção da casa interior e já falam calorosamente sobre a torre, de que se acham tão distantes.

Não é fácil o serviço profundo da elevação espiritual, nem é justo apenas pintar projetos sem intenção séria de edificação própria.

É indispensável refletir nas contas, nos dias ásperos de trabalho, de autodisciplina.

Para atingir o sublime desiderato, o homem precisará gastar o patrimônio das velhas arbitrariedades e só realizará esses gastos com um desprendimento sincero da vaidade humana e com excelente disposição para o trabalho da elevação de si mesmo, a fim de chegar ao término, dignamente.

Queres construir uma torre de luz divina?

É justo. Mas não comeces o esforço, antes de haver edificado a própria casa íntima.


Emmanuel











Emmanuel - Livro Escrínio de Luz - Chico Xavier - Cap. 4 - Dinamismo



Emmanuel - Livro Escrínio de Luz - Chico Xavier - Cap. 4


Dinamismo


A criatura humana permanece no mundo a cercar-se por bilhões de vidas inferiores, que se lhe rendem às determinações por existências escravas.

Quem fala em trabalho reporta-se a dinamismo e basta uma vista de olhos na esfera da natureza para observar miríades de seres que mantemos em servidão.

Comecemos pelo laboratório do corpo.

O aparelho gastrintestinal recebe o bolo alimentício e, embora atendendo à pessoa reconhecidamente ociosa, passa, de imediato, ao esforço da digestão, sem necessidade de aviso prévio.

Os anticorpos fiscalizam os distritos orgânicos, opondo barreiras à invasão de agentes estranhos para assegurar a saúde, sem reclamarem lições de química.

Fora do carro fisiológico, vemos a Terra, o magneto gigante que, há milênios, nos serve de domicílio, girando sem repouso no espaço cósmico, a fim de equilibrar os fenômenos da vida, sem exigir sinais de trânsito.

A semente lançada ao solo, dentro de condições justas, medra e produz por si, independentemente de noções de botânica.

Não nos propomos comparar o homem ao fagócito ou ao pessegueiro. Apreciamos o dinamismo dentro da evolução.

À medida que o ser se desenvolve, transpondo as fronteiras do instinto a caminho da razão, as leis divinas integram a individualidade na luz do discernimento, através de estímulos considerados dolorosos mas necessários, para que a consciência adote a cooperação espontânea na execução dos propósitos do Senhor, a benefício dela mesma.

É assim que surpreendemos os animais superiores nas disciplinas da domesticação e as criaturas iniciantes em burilamento moral, crivadas de lutas educativas que as arranquem das carapaças da inércia para a plenitude da vida.

Se o Espiritismo te beneficia o roteiro, trazes contigo a doutrina que clareia a razão. Não desconheces, desse modo, que o dinamismo constante é a nota dos que se elevam.

Podes agir, construtivamente, por ti mesmo, quando, como, onde e quanto desejes, sem esperar por advertências dispensáveis.

Trabalha e serve sempre, porque já sabes que se na Terra somos conhecidos pelos informes exteriores, nos Reinos do Espírito, apenas o mérito em serviço faz a diferença de cada um.


Emmanuel











Emmanuel - Livro Segue-me - Chico Xavier - Cap. 72 - Força



Emmanuel - Livro Segue-me - Chico Xavier - Cap. 72


Força


“O meu mandamento é este: que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei.” — JESUS (João, 15.12)


Existem na vida força e força.

A força da gravitação se exerce entre todas as partículas do Universo e conquanto equilibre os mundos na Imensidade Cósmica não cria o menor vínculo de compreensão fraternal na intimidade do ser.

A força elétrica move guindastes de grande porte, mas, embora sustente máquinas de assombroso poder transportando toneladas, não diminui, nem mesmo de leve, o peso da angústia no coração.

A força executiva determina obediência aos textos legais, e se logra, muitas vezes, influenciar milhares de destinos, nem sempre consegue modificar no espírito essa ou aquela íntima decisão.

A força física preside campeonatos de habilidade e robustez conseguindo subjugar adversários até mesmo no terreno da agressão e da violência, mas não clareia o menor dos distritos no campo do sentimento.

A força das forças, porém, aquela que sublima os astros e alimenta motores para o bem, que dirige para o bem, que encaminha a autoridade para a misericórdia e aciona os braços no serviço aos semelhantes — a única que penetra a alma e lhe orienta os impulsos na direção da felicidade e da paz, da elevação e do entendimento — é a força do amor.


Emmanuel








(Reformador, maio 1970, p. 100)

Emmanuel - Livro Bênção de Paz - Chico Xavier - Cap. 18 - Ante a força do bem



Emmanuel - Livro Bênção de Paz - Chico Xavier - Cap. 18


Ante a força do bem


“… Deus é caridade; e quem está em caridade está em Deus e Deus nele.” — (1 João, 4.16)


Muitos acreditam simplesmente na força e agem sob o domínio da imposição.

A força, no entanto, comanda apenas coisas e corpos, e tudo o que ela faça, em matéria de condução ou vivência, depende de mais força para continuar.

No reino da alma somente o amor, fonte da vida, consegue estabelecer verdadeiro apoio ao equilíbrio e à governança.

A força não resolve um cálculo aritmético nem compõe leve trecho de melodia; entretanto, pelo amor ao estudo o homem prevê a movimentação das estrelas e pelo amor à arte produz a sinfonia que tange os sentimentos da multidão.

Em qualquer departamento da vida é necessário amar para entender e construir.

Se forçamos a posse disto ou daquilo, tão somente reteremos a sombra ou a casca daquilo ou disto, porquanto, escoada a energia que mantém o processo de violência, perdemos de imediato o domínio da posição que intentamos assegurar.

A força tiraniza.

O amor reina.

“Deus é caridade”, afirma o Evangelho. Consequentemente, Deus está no bem verdadeiro que é, mais propriamente, o bem de todos.

Auxiliando, compreendemos.

Dando, possuímos.

Quanto mais baixo nas Esferas da Natureza, mais intensamente se mostra o bem da força, e quanto mais alto, nos Planos do Espírito, mais pura se revela a força do bem.


Emmanuel









Reformador, dezembro 1965, p. 268.

Emmanuel - Livro Bênção de Paz - Chico Xavier - Cap. 58 - Doações



Emmanuel - Livro Bênção de Paz - Chico Xavier - Cap. 58


Doações


“…O cumprimento da lei é o amor.” — PAULO (Romanos, 13.10)


Milhares de dádivas transitam na Terra diariamente.

Vemos aquelas que se constituem do dinheiro generoso que alimenta as boas obras; as que se definem por glórias da arte enriquecendo a mente popular; as que se erigem sobre os louros da palavra traçando caminhos para o encontro fraternal entre as criaturas; e aquelas outras, inumeráveis, que consubstanciam a amizade de quem as oferece ou recolhe. 

Todas elas, demonstrações da bondade humana, são abençoadas na Vida Superior. Entretanto, uma existe, inconfundível entre todas, da qual nós, os seres em evolução no Orbe Terrestre, não conseguimos prescindir…

Ao alcance de todos ela se expressa por exigência inarredável do caminho de cada um. Desejamos referir-nos ao amor, sem o qual ninguém logra subsistir.

Além disso, o amor é a força que valoriza qualquer dádiva, tanto quanto a maneira de dar.

Muitos de nossos irmãos necessitados, junto de quem praticamos o ideal da beneficência, decerto agradecem o concurso materializado que lhes possamos ofertar, mas quantas vezes estimariam, acima de tudo, receber uma bênção de solidariedade e otimismo que lhes restaure a alegria de viver e o conforto de trabalhar!

Reflitamos de igual modo nos companheiros temporariamente apresados no cárcere das paixões e reconheceremos que o mundo tem tanta necessidade de amor quanto de luz.

Meditemos nisso, e, diante da parte de trabalho que nos compete, na construção do Reino de Deus entre os homens, seja à frente dos felizes ou dos imperfeitamente felizes, dos justos ou dos menos justos, comecemos por estender com as dádivas de nossas mãos aquelas outras que nos é lícito nomear como sendo o favor do sorriso fraterno, o benefício da boa palavra, o empréstimo da esperança e o donativo do entendimento.


Emmanuel










(Reformador, setembro 1966, página 194)

Emmanuel - Livro Seara de Fé - Espíritos Diversos / Chico Xavier - Cap. 23 - Diante do auxílio



Emmanuel - Livro Seara de Fé - Espíritos Diversos / Chico Xavier - Cap. 23


Diante do auxílio


Não apenas a cortesia é a força de base que se pede aos outros, a fim de que possamos auxiliar.

Roga-se também o entendimento de profundidade.

Para extinguir a necessidade de natureza física é indispensável ceder daquilo que se possui, mas para suprimir a perturbação, é imperioso doar daquilo que se é.

A incompreensão gera doenças da alma, como sejam o desespero e o azedume, a ira e o desânimo, a inconformação e a rebeldia.

Para quantos se propõem a evitar semelhantes calamidades individuais, é justo saibam encontrar os caminhos adequados para faze-lo.

Entretecer a simpatia, onde o antagonismo apareça; dissolver o gelo da indiferença nos corações enquistados no egoísmo; diminuir ou sanar a tensão nos temperamentos irritadiços; promover a união entre pessoas que se acreditam mutuamente incompatibilizadas; estimular amigos à prática da solidariedade ou garantir a harmonia entre familiares portadores de tendências diversas reclama espírito de renúncia que a autoridade convencional ou o dinheiro, a influência ou o poder transitório, só por si, não conseguem transmitir, nem improvisar.

Usando a luz da compreensão, examinemos as situações difíceis para descobrir o meio de liquidá-las ou contorná-las para o bem que nos decidamos a realizar.

Nunca ferir ou acusar, desprimorar ou deprimir.

Amar sempre aos companheiros de trabalho, tais quais são e aceitá-los no que possam fazer de bom, em louvor do grupo de serviço a que pertençamos.

Em suma, a caridade, no ato de auxiliar, é comparável à moeda que se caracteriza por duas faces distintas: em uma delas, é natural que busquemos identificar o valor da humildade e na outra é preciso que se veja o brilho tranquilizante do amor.


Emmanuel









quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

Lancellin - Livro Iniciação Viagem Astral - João Nunes Maia - Cap. 36 - Valores imortais



Lancellin - Livro Iniciação Viagem Astral - João Nunes Maia - Cap. 36


Valores imortais


Neste mundo de Deus, não existe alguém perdido; todos temos valores espirituais a desenvolver, como herança da divindade em nossos corações.

Quem vê o que nós assistimos nos planos inferiores, tem a impressão imediata de que não existe solução para aquele quadro, onde Espíritos se ajustam, por afinidade, no mal, tomando formas incríveis. O amor, porém, modifica tudo. Ele é verdadeiramente Deus que se faz presente, a nos mostrar a esperança na felicidade.

O Espírito, quando contempla o universo, principalmente fora do corpo, pela visão mais ampla, nota a sua própria insignificância em se comparando à criação; no entanto, o progresso faz dele um sol, sobremaneira singular, onde ele pode transformar muita coisa e se fazer respeitado até pela própria natureza. Ele pode comandar estrelas e sóis, grupos e astros, e até galáxias. Nós ainda estamos nos rudimentos do amor e da sabedoria, mas, como todos temos de começar, busquemos agora conhecer a vida, para que essa vida, sendo verdade, nos liberte.

Fiquei admirado com aquela senhora: os seus valores ultrapassavam meus conhecimentos. Como pode uma criatura daquela viver na carne e sofrer no meio dos ignorantes? A viagem astral, para ela, é um acontecimento natural. Não tem medo, não tem acanhamento no nosso meio, trabalha com todo amor!... Reconcilia-se com feras e beija as mãos de carrascos, e ainda ama a quem permanece alto grau de ódio e de vingança. Quem és tu, criatura, a quem não conheça queria perguntar. Eu queria saber tudo a respeito daquela verdadeira dama da caridade. Miramez, ao meu lado, parece que me ouvia por fora e por dentro nas minhas indagações. Mas, ele nem sempre gostava de se manifestar respondendo nossos pensamentos, para que a gente não sentisse os seus valores, para que a vaidade não aparecesse junto aos dons. Então, eu perguntei:

— Irmão Miramez quem é essa irmã Quatorze, na qual vejo tantas virtudes juntas? Ela ainda precisa de reencarnação na Terra?

Ele respondeu com interesse:

— Lancellin, não se deve julgar nem para o bem nem para o mal. Julgamento implica dúvidas, e quem duvida deve esperar, a fim de encontrar a realidade. Essa nossa irmã é merecedora do nosso maior respeito, no tocante à sua conduta diante dos trabalhos nos quais coopera conosco; entretanto ela ainda está ligada a um passado a corrigir, e a lei é lei para todos. Certamente que, para ela, no seu caso particular, tudo se alivia, por ter ela muito a seu favor. Esta reencarnação dela foi de urgência, implorada por ela mesma para combater duas fraquezas que a perturbavam há muito tempo: o apego com excesso aos bens terrenos, e demasiadamente à família. Já falamos alhures, que a perfeição é um conjunto de virtudes vividas retamente, e isso não existe na Terra. Contudo, que Deus a abençoe sempre, para que ela vença os seus inimigos internos desta vez, embora achemos um pouco difícil, pois ela já passou dos cinquenta anos, e ainda não acordou para esse tipo de conserto. A tesoura da vontade está encontrando dificuldades para cortar as arestas que o engano fez crescer. Somente o tempo pode amolar essa ferramenta, para que no amanhã, que desejamos seja breve, ela fique livre desse fardo que incomoda a sua consciência. 

Eu estava engasgado com a revelação de Miramez. Como pode uma pessoa daquela, com tantas virtudes, embaraçar-se em coisas que muitas pessoas já fizeram? E tornei a formular perguntas:

— Não seria melhor que ela ficasse aqui no mundo espiritual para corrigir essas faltas, e que alguém sempre lhe chamasse a atenção, como ao aluno nas escolas, que recebe informações úteis do professor?

— A melhor escola que conhecemos, meu filho, é a escola da carne. Aqui são expostos todos os problemas, como sendo teorias; lá, na Terra, está a vivência. Não podemos pressionar ninguém, porque a violência é condenada pelo amor. Cada um tem que descobrir seus próprios erros e corrigi-los. O máximo que podemos fazer em benefício de quem está se autoeducando, que está se esforçando para conhecer a si mesmo, é o que Jesus já fez por intermédio do Evangelho. O trabalho nosso e de todos aqueles que O acompanham é fazer conhecida a Boa Nova do reino de Deus às criaturas, em variadas feições, para que os Espíritos possam despertar para a luz da Verdade. Os Espíritos superiores nunca se admiram com o bem que as criaturas, por vezes fazem; esse é o dever de cada um, e deve ser a vida natural em mundos superiores. Quem mais ganha com o amor e a caridade é quem os pratica. Para bem dizer, é quem ganha tudo, pois está fazendo benefícios a si mesmo. Nós ficamos entusiasmados quando encontramos alguém se esforçando para abandonar alguns defeitos e os deixa. Quem não sente alegria, sendo cristão, com a felicidade dos outros? E, fica sabendo, a caridade maior é aquela que fazemos com nós mesmos, de iluminação interior, no silêncio da vida. A vida material é, pois, consequência desta. E a mostra de que somos alunos da reforma, para alcançar os valores internos do coração. Todos somos candidatos à tranquilidade imperturbável, à consciência pura irradiando o bem-estar. 

Comecei a sentir-me um nada, dentro do tudo criado por Deus. Quando Miramez notou o meu desamparo interior, acrescentou bem-humorado:

— Lancellin, todos temos valores imortais em crescimento. Isso não é uma glória? Não nos mostra uma grande esperança para o futuro? Basta fazermos a nossa parte para a conquista destes dons que vibram no nosso mundo interior. 

Senti-me criança novamente, lembrando-me dos meus tempos como tal. E enxergava cada vez mais as minhas deficiências, o quanto eu tinha de fazer dentro de mim. A minha consciência pedia plantio que pudesse fecundar mais amor, mais caridade, mais educação, mais alegria pura. Se existe um universo por fora de nós, do qual Deus cuida com todo carinho, igualmente existe um microuniverso dentro de cada um de nós, nos pedindo cuidados, copiando o trabalho de Deus. 

Tive vontade de perguntar mais para alicerçar a minha paz, e olhei para Miramez com respeito:

— O senhor poderia me dizer se existem muitas pessoas de aparente grande elevação com essas mesmas deficiências, como as citadas há pouco, em se referindo à nossa irmã Quatorze?

Ele respondeu com benevolência:

— Inúmeras, Lancellin, em todas as épocas da humanidade. Vamos citar um exemplo para que possas compreender os demais: nos anos de 1545 a 1563 houve um concilio em Trento para condenar a Lutero, Zunglio e Calvino. Ora, é sabido de todos que os bispos do Colégio não eram homens analfabetos, e conheciam o Evangelho na sua profundidade. Somente os condenaram por ciúme e muitos deles sabiam o bem que aqueles irmãos estavam fazendo, e iam fazer à humanidade, como de fato o fizeram: libertaram a Bíblia das mãos gananciosas do Catolicismo, e ainda deram lugar ao nascimento de outras religiões para, no futuro fazer fracassar a ideia de religião oficial, que não deixaria outra nenhuma nascer. E esses homens que assinaram esse atestado de ignorância, onde estiverem devem ter vergonha de si mesmos pois eles eram homens que cultivavam muitas virtudes. Em 1869/1870, houve outro concilio no Vaticano, que proclamou o dogma da infalibilidade do Papa, inspiração das trevas, no seio de homens religiosos e certamente, virtuosos mas, mesmo assim, que tinham muitas arestas a cortar. Até o Papa nesta época, que era Pio IX, mesmo ficando infalível com o dogma, faliu ao aceitar essa heresia. E o pior é que, se é dogma, não pode ser mudado, na convicção dos sacerdotes. Por que, se os infalíveis papas são mudados, não os podem ser as leis transitórias dos homens que os cercam? Muitos outros concílios assinaram o atestado de incompetência espiritual, porque eles somente reuniram os bispos para condenar, esquecendo que Jesus Cristo, que eles mesmos dizem ser o Guia do catolicismo, nunca reuniu Seus primeiros discípulos, a não ser para ajudar, para servir, para instruir, para aperfeiçoar cada vez mais os dons que todos temos.

Miramez parou, respirou profundamente, e disse:

— Bem, Lancellin, vamos trabalhar, para não cairmos nas mesmas tentações, porque quem anda com o Cristo não deve ter desculpas, dizendo: "errei porque não sabia".

Fiquei pensando: na verdade, às vezes estamos de posse de grandes qualidades, e ao lado mantemos um defeito que empana o brilho de muitas dessas qualidades. Temos de procurar o conjunto dos valores, para que surja a libertação. Pude notar, nestas conversações, a bondade de Deus sempre a nos enviar socorro, renovando as nossas convicções. Ainda assim, a nossa ignorância investe contra as bênçãos d'Ele, ele continua a nos amar. A minha razão me fez crer, que depois da reforma iniciada por Lutero, surgiu o campo propício para vir o Consolador prometido pelo próprio Cristo, quando os homens estivessem preparados. E mesmo esse Consolador, com uma bandeira inteiramente inspirada no amor e na caridade, foi terrivelmente perseguido. Como havia passado o tempo de queimar os homens, condenados por leis e bulas, por concílios e conchavos, decidiram queimar os livros do Prometido pelo Mestre, obras essas que vieram para ajudá-los, vieram para alertar os que dormem nas letras, para acordarem em espírito, amando a Deus e a toda a criação. 

Ouvimos algumas melodias inspirativas e partimos renovados para o trabalho, na paz de Deus.

Saímos mais cedo desta vez. Quando íamos passando sobre uma grande capital, escutamos, pela nossa percepção mais aguda, aquele volume de barulho em forma de vibrações alteradas e notamos logo que provinha de um estádio onde estavam concentradas mais de cem mil pessoas, em uma algazarra ensurdecedora. Seguindo o nosso guia espiritual, baixamos rumo ao campo de esporte.

Confundimo-nos entre os torcedores. Eu ainda não tinha tido a curiosidade de observar o fenômeno espiritual neste ambiente de distração. Mais de um milhão de entidades, segundo ficamos sabendo pelos diretores espirituais do estádio, ali compareciam. Eram Espíritos de todos os tipos, de todas as escalas evolutivas. Fiquei ainda mais espantado ao observar na direção que Miramez me apontou: uma espécie de presídio volante, um verdadeiro milagre da engenharia espiritual, de forma a recolher ali os Espíritos perturbadores da ordem que, depois de uma longa triagem feita por Espíritos capacitados, eram soltos, depois de advertidos. Esse presídio era estruturado em uma matéria cuja composição, mesmo depois de longa observação, não pude compreender direito e que não tirava a visão dos Espíritos retidos, do campo de futebol. Construído com técnica perfeita, toda ressonância de gritos e vibrações alteradas têm convergência interna e não externa: quem grita, por exemplo, não pode suportar o seu próprio barulho, ouvido com ecos ensurdecedores. Já com a mente condicionada, os que já conhecem esse processo, quando vão presos, emudecem, pois já aprenderam a lição.

Esse recinto foi feito de maneira que cada preso tenha o seu lugar, no entanto, para manter-se em uma posição favorável de visão, ele tem de fazer um grande esforço. Somente o fanatismo os incentiva para tal esforço. E, ainda mais, do presídio volante sai uma espécie de túnel sugador elástico, de maneira que pode capturar qualquer Espírito malfeitor em qualquer parte do campo ou na assistência. É algo semelhante a uma tromba de elefante. Ele é invisível aos olhos dos perturbadores espirituais, e no seu terminal ficam dois operadores, também invisíveis, que obedecem a um comando. Espalhados em todo o campo, existem vigilantes transmitindo as ocorrências.

Fiquei intrigado com tamanha assistência espiritual. Como dão trabalho aos outros, os homens e Espíritos, que não descobriram a necessidade do respeito e do dever de um cidadão de bem! Procurei imediatamente Miramez que, diante da minha inquietação, respondeu com presteza:

— Lancellin, tudo que vês é necessário para a evolução dos que se reúnem na Terra, como sendo alunos para o grande aprendizado. Porém, a massa usa as possibilidades divinas, para escândalos humanos. E Deus é tão bom, que os suporta com paciência e procura todos os meios de educá-los, em favor deles mesmos. Esse espetáculo a que assistimos também, poderia ser um grande acúmulo de energia superior, se todos fossem educados e as emoções disciplinadas. Na matemática espiritual são desperdiçadas toneladas e toneladas de energias nervosas de força vital, que são desprendidas pelos processos emotivos, neste ambiente de divertimento. Por isso, bandos de entidades de todos os tipos se aproximam daqui com fome deste alimento divino, que os homens jogam fora pela ignorância. 

E ajuntou com sabedoria: 

— Se essa multidão tivesse ciência disso, seja sentisse o amor no coração e respeitasse os direitos dos outros, se cada um se comportasse como cristão, abrindo canais pelas emoções ao suprimento espiritual inesgotável, poderiam vir até aqui enfermos de todos os tipos, que seriam curados pela quantidade de fluidos atraídos pelas disposições psíquicas afinadas com a harmonia de Deus. No entanto, em vez de atraírem essas bênçãos referidas, desperdiçam as que têm, que muitas vezes lhes foram dadas com muitos esforços da parte dos benfeitores espirituais. O Evangelho, Lancellin, cabe em qualquer lugar, ajudando a manter a paz e a própria felicidade.

Fiquei embriagado ao conhecer os caminhos sombrios da ignorância, a sublime bondade da luz e o esforço descomunal de Espíritos altamente evoluídos, recompondo estragos que as trevas propõem a fazer por prazer que lhes dá a maldade. Eles, os Espíritos encarregados da ordem, têm recursos para expulsá-los definitivamente do ambiente terreno, mas não o fazem por amor, esperando que eles aprendam as lições da fraternidade.

"Meu Deus"!, pensei comigo mesmo... "e em toda a Terra, o quanto existe de Espíritos brincalhões, obsessores, doentes, enfim, de todos os tipos, que não ajudam na ordem das coisas e se perturbam, carecendo de vigilância constante, para vigiá-los e instruí-los! É muito trabalho!"

Depois desta pequena observação, Kahena e Miramez nos chamaram para trabalhar.

Reunimo-nos em torno de um encarnado que vociferava palavrões de todos os tipos aos jogadores adversários. Era de se notar que as veias da sua cabeça se avolumavam injetando muito sangue de baixo teor para irrigação do cérebro. As pequenas veias dentro do crânio estavam estufadas, sem suportar o volume sanguíneo. Elas, sendo elásticas, espichavam-se, mas, em alguns pontos sua estrutura já se notava que os tecidos se rasgavam, pedindo proteção. E o moço, envolvido naquele ódio sem comparação, porque o juiz marcava uma penalidade que ele achava que não fora cometida, corria perigo.

Acercamo-nos dele, insuflando-lhe pensamentos de paz e de concórdia. Miramez colocou as mãos em sua cabeça e transmitiu uma faixa de luz nas suas áreas mais sensíveis, acomodando-lhe o entusiasmo exagerado. Pensei logo: "Por que não deixá-lo passar pelas consequências dos seus próprios atos?" Miramez, percebendo meus pensamentos, acudiu-me dizendo:

— Há situações que podem mais que a razão, e ser juiz, neste caso, querendo justiça, é bem perigoso. Esse homem é um homem de bem, tem oito filhos e esposa dedicada. Ele precisa de mais um pouco de vida, para alicerçar a sua própria vida em favor dos que vieram por seu intermédio. Mas, o fanatismo pelo esporte pode levá-lo a desencarnação; por isso o estamos ajudando, e é com muito prazer. E rematou com simplicidade:

— Lancellin, as emoções desregradas, mesmo as do bem, destroem o equilíbrio orgânico, quando tudo na vida pede harmonia. Se nos faltar isso, estamos correndo para o abismo.

Perguntei novamente, para aproveitar a oportunidade:

— O nosso caro irmão está se esquecendo de reparar os tecidos da cabeça do torcedor, que foram rompidos pelas emoções? Isso é necessário, para que ele tenha segurança de vida?

— Não foi esquecimento, Lancellin!... Vamos deixar para a própria natureza cuidar disso, desde quando ele não insista nos seus desregramentos emotivos. E, para tanto, estamos falando com ele mentalmente, e tudo está gravado na sua consciência. Ao seu lado, ainda está o seu guia espiritual, reforçando o que por vezes falamos. Ele mesmo tem que cuidar de si.

Tirei a vista um pouco deste cidadão que focalizamos, e pude observar a fila de Espíritos entrando na tromba do elefante em direção ao presídio. Estavam sendo sugados por uma força desconhecida para eles e, alguns ao caírem lá, na grande cela, silenciavam, por experiência da prisão. Aproximamo-nos de uma senhora encarnada muito alterada, que já estava de mão em uma garrafa para jogar na cabeça de outro torcedor. Abeiramo-nos dela com muito carinho e falamos ao seu ouvido espiritual:

— Não faças isso, minha irmã. Procura asserenar-te. Pensa nas consequências que te podem advir deste fato. Aqui é um lugar de diversões, onde todos se alegram e esquecem as inúmeras preocupações. Não piores a tua vida, que já não é muito boa. O teu time perde hoje e ganha amanhã. Isso é uma brincadeira agradável para todos, e os que aqui estão são teus irmãos em Jesus. Pensa nisto e não faças o mal a ninguém.

Ela acolheu a ideia e deixou a garrafa onde estava, na sua bolsa.

Passamos mais adiante, e o negócio era outro: dois Espíritos discutiam agarrados, lutando e proferindo palavrões. Logo a tromba veio em direção a eles e os aspirou, levando-os para a cela flutuante. Já com a mente a esquentar perguntamos a Miramez:

— Será que na Terra não existe um lugar que tenha paz, que tenha harmonia? 

Ele, jovialmente, respondeu:

— Somente vai existir harmonia na Terra e nas esferas que a circulam quando houver harmonia dentro dos corações de seus moradores encarnados e desencarnados. O que está por fora é, verdadeiramente, o reflexo do que está por dentro. Todos nós manifestamos o que somos.

E continuou:

— Nós temos que lutar permanentemente, sem descanso, em favor do bem, para que ele se organize, e nessa organização do bem, o mal vai se afastando. Se parares um pouco e pensares, com sinceridade, notarás que existe desarmonia em ti, também a reparar. A vida é assim, mas graças a Deus, o Senhor nos mostra os recursos, por intermédio de Jesus Cristo, para nos educarmos e instruirmos.

Tive imensa vontade de entrar na cadeia volante, e Miramez, notando, me disse:

— Satisfaze teu desejo e tira disso bom proveito.

Avancei para junto de alguns vigilantes, expondo minhas ideias. Logo fui treinado por um deles e, sem perceber, já me encontrava dentro do gaiolão. Aproxime-me de dois Espíritos que estavam conversando e pude observar a conversa neste tom:

— Veja, disse o primeiro. Aquele juiz é ladrão! Eu o conheço. Não é a primeira vez que ele faz isso com o nosso time! Certa feita, ele também roubou do Corinthians em São Paulo. Daquela vez foram dois pênaltis, que ele marcou sem haver falta. Fizeram o bolo e ele se aproveitou da situação. Esse malandro deve estar ganhando algum dinheiro, porque juiz de futebol não tem time, nem lealdade. O único time deles é esse aqui (esfregou significativamente os dois dedos, o polegar no indicador). A conta dele no banco deve estar gorda, mas, qualquer dia desses eu pego ele.

E o outro, com a mesma ideia, continuou:

— Nesse dia eu quero estar presente, porque quero tirar também a minha casquinha.

Participei dessa conversa; no entanto interessava-me a matéria de que fora feito aquele presídio volante. Toquei a mão de leve, e pude perceber que era uma espécie de fluidos condensados, de alta sensibilidade. Pela sua alta vibração, podíamos até ouvir um zumbido. Experimentei falar alto, ajudando pelo pensamento, e senti a repercussão dentro de mim. É uma coisa terrível, tal experiência. Os outros que estavam presos ali conversavam sempre em grupos, todavia, baixinho sem nenhuma irritação. Eu não estava sendo visto por eles, e pelos mesmos processos que entrei, saí. Quis sair pela "tromba", por onde os Espíritos perturbados eram sugados, mas, confesso, tive medo; a vibração por dentro do canal é muito pior. Cá fora, experimentei uma sensação agradável, bênção que faltava no gaiolão.

Dali, partimos em outra direção, em busca de outras atividades espirituais que nos pudessem enriquecer as experiências.

Miramez, em plena viagem nos falou, espontaneamente:

— Meus irmãos, a nossa luta é muito grande. Jesus nos confiou a tarefa de ajudar, por ser esse o meio mais fácil de nos corrigirmos. Não existe nada no mundo que seja desprezível; tudo tem a sua utilidade, na grande lavoura do Senhor. Nós, como os homens, pertencemos a grupos e usamos coisas com as quais nos afinamos, por sintonia, ao lugar que pertencemos. Somos julgados, sem que ninguém use da razão para nos julgar e cada qual está no lugar que lhe pertence, por direito evolutivo. Os degraus são inúmeros e a escala é infinita, porém, a vida espera de todos nós que subamos sem interrupção no gráfico do progresso. Jesus é pois, um Sol que desceu das alturas para instruir-nos acerca da nossa subida, no entanto, essa elevação nos pertence. Cada criatura tem condições e deve fazer o seu próprio esforço para alcançar o topo do seu calvário.

Respirou profundamente, e falou com alegria:

— Graças a Deus, já sabemos disso. Compete a nós outros, trabalharmos igualmente dentro de nós, limpando os canais por onde devem passar, por bênção dos céus, as inspirações referentes aos nossos deveres.

Descemos em um dos bairros da capital mineira, em uma casa sobremodo confortável. Era de madrugada. Em uma pequena sala, encontrava-se uma moça de cerca de 30 anos que estava estudando. Pilhas de livros ao lado e vários outros abertos; ela se entregava à pesquisa da História das Américas.

Por vezes, as histórias das nações do mundo nos fascinam, por serem os acontecimentos, fenômenos que vêm guiando a humanidade, pelo processo da dor, a fatos melhores para o amanhecer do terceiro milênio.

Ficamos em torno da moça, que passamos a chamar de Dezenove. Ela estava profundamente concentrada em seus estudos, sem que pelo menos pudesse sentir a nossa presença. Algumas entidades estavam ao seu lado, igualmente uma delas pôde nos identificar, cumprimentou-nos e pediu proteção para a Dezenove. Essa entidade fora sua mãe, quando encarnada, e as outras duas eram Espíritos que ainda não compreendiam o verdadeiro estado em que se encontravam. A sua mãe abeirou-se de Miramez, rogando-lhe: 

— O senhor poderia nos ajudar, em nome de Jesus, para afastar essas entidades de junto da minha filha? Elas perturbam o progresso da Dezenove no seu campo de trabalho, e até mesmo os casamentos que ela arranja são desfeitos por influência dessas almas, que não sabem o que pensam e sentem e alimentam ódio por esta criatura de Deus. Ela vive para o trabalho, é uma santa menina! 

O nosso guia espiritual meditou instantes, e retrucou com habilidade: 

— Minha filha, vamos ver o que podemos fazer para sua filha e nossa irmã em Cristo. Aqui estamos para tirá-la do corpo conscientemente, adestrando-a neste exercício, a fim de que ela se esclareça com mais certeza da vida no além, vendo o seu próprio corpo, na saída espiritual, fortalecendo assim, a sua fé. Quanto à irmã, deves nos ajudar universalizando mais o teu amor, porque amor somente entre familiares mostra algo de egoísmo que devemos combater. O amor deve ser extensivo à humanidade toda, principalmente quando já estamos em espírito. 

Nesse momento, começaram a agir Fernando, Celes, Kahena e Abílio. Os dois Espíritos que estavam dentro do lar dificultando a vida de Dezenove já tinham saído por processos que os nossos companheiros usam com habilidade. Dezenove começou a bocejar com sono. Espreguiçou-se e foi ao chuveiro, tomar o costumeiro banho antes de dormir. Mais tarde, quando se acomodou nos travesseiros, Padre Galeno emitiu esses pensamentos em direção à sua mente: 

— Dezenove, esqueceste de orar, minha filha, para dormir melhor. Ela tonta de sono, respondeu semiacordada: 

— Ora por mim, padre. 

O Padre respondeu, pelos mesmos processos que a advertira: 

— Não posso orar por ti. Esse ato divino é dever individual, porque cada um de nós gera um tipo de energia, que nos faculta o bem-estar de que precisamos, exteriorizando o bem em direção a todas as criaturas. 

Ela, meio tonta, abriu os olhos denunciando cansaço, ajustou os pensamentos e murmurou, admirada: 

— Meu Deus! Parece que eu estava conversando com um padre! Será possível? Acho que é o sono. 

Balbuciou, então, uma oração com dificuldade, pediu a bênção a Deus e aos guardiões, a assistência; fechou os olhos, adormecendo. 

Miramez entrou em operação. Ela dormia, mas sentia dificuldades em sair do corpo, por medo, pois quase todas as noites ao sair do físico, já se encontravam, esperando-a do lado de cá, essas duas entidades, que a faziam sofrer muito no baixo astral. E esse medo a prendia mais tempo no corpo físico, por vezes levando-a até à perda do sono, obrigando-a a ler livros e mais livros à noite. Entretanto, Dezenove estava fichada nos nossos trabalhos para as viagens astrais, que lhe deveriam servir de amparo contra aquelas entidades. 

Dezenove começou a vibrar, deslocando-se devagarinho do físico; foi subindo e quando quis voltar, foi impedida; subiu uns cinquenta centímetros e começou a se posicionar verticalmente. O corpo físico estava suando e de vez em quando estremecia, como se estivesse levando pequenos choques elétricos. Ela ficou de pé, abriu os olhos, mas nada viu; virou-se para olhar o corpo carnal e sentiu uma emoção que a impulsionava de volta a ele, mas foi de novo impedida. Passou a admirar os dois corpos, e começou a relembrar do que já tinha lido sobre o duplo astral, sobre o Espírito, e pensou: "Então é verdade o que tenho lido sobre isso! Será que quem escreveu passou por essas experiências, que agora observo? Provavelmente sim!"

Passeou dentro da casa, tocando os objetos, quis entrar na biblioteca e encontrou-a fechada; no entanto, a sua vontade a transportou para dentro, como por encanto. Ficou contentíssima e deu um "graças a Deus" apaixonado. Passou os olhos nos livros, foi em direção a uma cadeira de balanço, assentou, imprimiu seu peso para frente e para trás, como de costume; todavia, a cadeira permaneceu no mesmo lugar. Viu que era falta de peso, pensou em Deus, e veio em seus pensamentos a ideia de orar. Parou em frente de um crucifixo e ajoelhou-se com humildade, exteriorizando os seus mais puros sentimentos. Lembrou-se fortemente de sua mãe e de tantos outros parentes que já se encontravam na pátria espiritual. Pensou em Deus e em Cristo e, mesmo em espírito, as lágrimas desceram nas suas faces, como energia divina liberada pelo coração. Quando se levantou, agradecida pela paz interior que lhe ofereceu a oração, viu-nos nitidamente em torno dela, cumprimentando-a com satisfação. Ela avançou para Padre Galeno, abraçou-o com todo carinho, beijou suas mãos benfeitoras, e disse, quase sem voz pela emoção:

— Padre, abençoa-me, que não sou digna desta felicidade. Pede a Jesus por mim, para que eu suporte sem desequilíbrio essa influência que não sei traduzir. De tanta paz que recebo, a esperança invade meu ser e sinto-me confusa. Ajuda-me, por favor!...

O sacerdote com serenidade, impôs a sua destra na cabeça de Dezenove, esclarecendo:

— Minha filha!... Isso que sentes e vês, neste momento, é a herança legada aos filhos de Deus, estendidos por toda a criação. O facho de felicidade contorna a Terra, com mil mãos para ajudar e servir e a alegria pura está ao alcance das mãos de toda a humanidade. Jesus nunca esteve distante do Seu rebanho; somente o que falta é, realmente, a maturidade do coração. As coisas divinas parecem distantes daqueles que se distanciam dos valores espirituais e encontram prazeres nos instintos inferiores. A ignorância é o entrave da felicidade. O Espírito encarnado, e mesmo desencarnado, pode encontrar o céu e Deus dentro dele; só depende de descobrir os canais da sua própria vida. Os maiores inimigos da alma não moram fora dela; estão por dentro, se manifestando pelos sentimentos alterados, e os seus nomes são bastante conhecidos: ciúme e inveja, medo e dúvida, vingança e ódio, egoísmo e orgulho, tristeza e melancolia, preguiça e esmorecimento, vaidade e covardia. Tudo isso gera desequilíbrio e se converte em um verdadeiro inferno interior. Quem teme a si mesmo, está em vias de recuperação. Ninguém pode nos causar danos, se não encontrar em nós o ambiente favorável. Eis porque Jesus fazia tanto empenho em se referir à Fé. A fé nos ajuda a superar muitas deficiências, colocando-nos na vanguarda do bem e do amor, desfrutando dessa grandiosa luz.

Dezenove chorava, e Padre Galeno silenciou, aguardando. Passados alguns instantes, ele rematou sorrindo:

— Não sou eu quem o diz, mas Jesus: Levanta-te e anda. Somente posso acrescentar: vamos andar no bem, sem exigências e onde ele estiver nos convocando, para que possamos ajudar na harmonia da vida!

Pegou sua mão com delicadeza, fazendo a moça ficar de pé, e apresentou-a aos companheiros, que não se fizeram de rogados, conversando animadamente a respeito do trabalho.

A moça, no nosso plano, perdeu o acanhamento e o medo, e já se encontrava disposta a sair para onde o destino a levasse, desde quando fosse em companhia de Jesus, o Cristo de Deus. Fomos com alegria, como os pássaros, e a diferença é que as nossas asas eram mentais, e a nossa velocidade estava ligada aos poderes conquistados por intermédio do tempo.

Daí a pouco, demos entrada em um matadouro de gado bovino, ambiente turvado de um magnetismo deprimente, mas, antes, o nosso guia espiritual nos reuniu e falou com sabedoria:

— Meus irmãos, nunca são demais as advertências. Hoje não trouxemos mais companheiros encarnados por ser o ambiente muito inferior. É preciso pois, muito equilíbrio emocional para que possamos ajudar sem ferir, ajudar sem julgamento, ajudar sem desprezar as coisas de Deus. Cada fato se processa no lugar certo, e o que vamos contemplar agora, estudando, existe na Terra pelo que ela é. A escala que o nosso planeta atingiu até agora, requer essa violência com as vidas inferiores. Caso um de vós altere as emoções, tornar-se-á visível a determinados Espíritos vampirizadores, o que irá dificultar os nossos trabalhos. Vamos nos lembrar do Mestre, quando advertiu desta maneira: Vigiai e orai. 

Penetramos em um lugar assustador; estavam em círculo vinte vampiros, cuja descrição preferimos omitir. Com o chefe, formavam um magote de vinte e um. O que estava chefiando, vestia-se de vermelho encarnado, com uma espécie de capuz bipartido atrás e tendo nas pontas duas bolas pretas, no alto da cabeça, duas saliências o destacavam dos outros. Os bois estavam em filas obrigatórias, devido às cercas laterais que os prendiam, sem que eles pudessem ao menos se mexer. Ao passarem em determinado ponto, caía em suas nucas uma lâmina mortal. Logo adiante, um homem carrancudo fazia escorrer o sangue do animal já ajoelhado e exteriorizando suas dores.

Eu sentia reações profundas, sem que as deixasse passar para as emoções. Confesso, estava encontrando dificuldades para me manter em equilíbrio. Procurei a Dezenove e não a vi. Fiquei inquieto, e como Miramez sentiu que as minhas perguntas íntimas poderiam perturbar os trabalhos que requeriam muito silêncio, aproximou-se de mim e falou baixinho:

— Lancellin, não viste que ela começou a desmaiar, não suportando a visão do ambiente? Foi levada às pressas para o corpo de carne, pelo Padre Galeno.

Cortei as minhas indagações e passei a prestar atenção no meu dever, o dever de informar pelas minhas anotações, com o cuidado que exigem a moral e a paz dos encarnados, transmitindo somente o que pode ser dito. Parece que Miramez deixou que os vampiros iniciassem sua ação, para que pudéssemos ter uma ideia de como as coisas acontecem nos frigoríficos. Quando o magarefe enterrou a lâmina no pescoço do animal, cortando-lhe as veias, o vampiro-chefe avançou em primeiro lugar e sorveu, de mais ou menos uma distância de trinta centímetros, o fluido do plasma sanguíneo com uma habilidade espetacular. O plasma etérico se dividia, pela vontade dele, em dois jatos de energia que entravam pelas narinas e por sua boca, posicionada em forma de bico. Era grande a satisfação. Depois que sugou de uns três animais, ante a inquietação dos outros, ele deu um sinal para o primeiro. Esse veio e fez o mesmo, sugando as energias vitais do animal. Quando chegou a vez do quinto Espírito, senti que para mim um sacrifício imputado aos meus sentimentos. Era demais! Então, pude observar que vampiro e magarefe eram uma coisa só. Miramez segredou-me, mesmo estando eu com a emoção um pouco alterada:

— Vê, Lancellin! A mediunidade se processa em toda a parte. Este irmão está servindo de instrumento para os Espíritos da sua mesma faixa se alimentarem com as energias do animal. E o pior é que essa classe de Espíritos recebe o magnetismo inferior do animal, fortalecendo seus instintos mais baixos, e transmitem para o mesmo animal, ou seja, para a sua carne e ossos, outro tipo de fluidos pesados na mesma frequência, com os quais os homens, depois, vão inundar seus organismos. É por isso que os comedores de carne dos animais, mostram, de vez em quando, no cotidiano, algo que lembra esses Espíritos. Os espíritas se livram deste magnetismo inferior com os recursos dos passes, da água fluidificada e, por vezes, de prolongadas leituras espirituais; os evangélicos e também alguns católicos se libertam dele nos ambientes das igrejas, mas sempre fica alguma coisa para se transformar em doenças perigosas. A medicina tem quase a idade do planeta, se buscarmos sua origem, e quanto mais descobre remédios, mais surgem doenças, por lhe faltar um senso profundo, um entendimento mais correto sobre as causas. Ela trata, infelizmente, somente dos efeitos. Todas as causas são morais, na extensão desta palavra. O mundo todo se preocupa só em instruir a humanidade, esquecendo que o melhor é Educar, mostrar-lhe o valor do bem. A salvação da humanidade encarnada e desencarnada está na descoberta do Amor, mas, o amor universal.

Senti grande bem-estar com a conversa de Miramez. Ele nos convidou para uma oração. "O quê?"... pensei logo, "oração aqui, neste ambiente aterrador?" Reunimo-nos todos.

Retifico: faltava um, o Padre Galeno, que não havia regressado. Fiquei pensando sobre o porquê do sacerdote não ter voltado, mas desliguei meus pensamentos disso. O Padre Galeno era senhor das suas faculdades e sabia bem desempenhar seu papel de orientador. Antes que os vampiros continuassem seus exercícios das trevas, de sugar energias dos animais abatidos, Miramez fez algumas evoluções com as mãos, cortando as suas atividades, a contra gosto deles, e passou a orar deste modo:

Deus de eterna bondade!... Tem compaixão destes nossos irmãos, que não sabem o que fazem. Ajuda-nos a ajudá-los, no ponto que eles carecem desta assistência, sem violentá-los, colocando em suas mentes estacionadas no mal, algumas advertências e tendências para o bem. Que a influência do amor possa constituir uma verdade, uma luz, sem que se desfaça no regime de inferioridade. Compadece-Te deles!...

Não queremos alterar nada que seja da Tua vontade, mas faze, Senhor, o que deve ser feito e convoca-nos para os trabalhos que devem e podem ser mudados. Pedimos para esses animais sacrificados, na linha evolutiva a que pertencem; que os anjos possam cuidar deles, como filhos também do Teu amor, na sequência da Luz e do despertar.

Cria, Senhor, em nós, um ambiente de serenidade, para assistir a tudo como sendo a Tua vontade, porque se assim não fosse, nada disso aconteceria. Novamente dizemos: faça-se a Tua vontade e não a nossa. Pedimos para a nossa companheira Dezenove, que não suportou a visão que teve a oportunidade de contemplar, neste recinto de morte.

Assim seja.

Ouvi o chefe dos vampiros dizer:

— Tem alguma coisa no ar que não nos interessa, pois o ambiente mudou. De vez em quando se dá isso. Vamos embora! Pode ser uma traição da Luz, para nos prender. Não vamos ser escravos de ninguém, queremos a nossa independência! Vamos!

Os que não puderam sugar a vitalidade dos animais saíram contrariados, blasfemando contra as ordens.

Os animais, depois da oração de Miramez, enfrentavam o corredor da morte com serenidade. Entregavam-se aos rudes processos de evolução, tendo como instrumentos os homens, ou vampiros encarnados, servindo de motivo de escândalo. Miramez nos mostrava no ar a nuvem negra voando, dizendo:

— Olhai lá os vampiros dos matadouros volitando sob o comando do chefe vermelho. O Espírito que os dirige é mago negro, e os domina a todos, tendo alguns poderes um tanto ou quanto desenvolvidos.

Percebemos, entristecidos, que na faixa em que eles volitavam ia ficando um odor repugnante. Finalizou Miramez:

— Ali o egoísmo se petrificou. Eles somente sentem e veem as suas próprias necessidades. Mas, graças a Deus, a qualquer hora dessas surgirá a dor, que começa no centro da consciência e se derrama para a mente, de forma insuportável, de modo a anular todos os seus movimentos no mal. Ela os obrigará a pedir socorro a quem passar, como prenuncio de arrependimento ou vestígio de oração. Surgirá o momento em que a Luz aproveitará para levá-los às devidas corrigendas. O Senhor, meus filhos, não criou ninguém sem os recursos de melhorar. O ar, as chuvas, o sol luz, as águas, e por fim, o amor, tudo isso existe porque está na Sua vontade. Tudo foi feito por Deus e se move n'Ele, obedecendo à Sua magnânima vontade.

Miramez notou a demora de Padre Galeno, e fomos em seu encalço.

Descemos na residência de Dezenove. Padre Galeno estava conversando com ela, ainda fora do corpo, dentro do seu quarto. Nossa irmã ainda estava alterada, e ele já tinha tentado levá-la ao corpo; no entanto, o medo e a ansiedade tornavam difícil a sua respiração. Ela gritava, pedindo socorro.

Miramez foi ao encontro do corpo de Dezenove, e passou a aplicar passes em sua cabeça, descendo pela espinha, onde podíamos notar grande quantidade de energias gastas, enrascadas nas linhas espinhais. A mente foi se asserenando, e o corpo físico parou de estremecer. O cordão fluídico estava igualmente agitado. Parecia um cabo agitado por alta corrente elétrica. Aproximei-me dele e deu para ouvir um ruído forte e o próprio cheiro do matadouro a exalar. Pensei comigo: "Meu Deus! Como o pensamento pode transladar tudo isso para a sua sede?"

Neste mesmo instante, Miramez veio ao meu auxílio dizendo:

— Lancellin, não ignoras que os pensamentos nascem na sede da vida. E eles, instruídos e iluminados, têm o poder de trazer o céu para a sua moradia. Outrossim, os pensamentos desequilibrados carreiam para o seu convívio os mesmos desequilíbrios que os ajustaram por sintonia. É por esse motivo que estamos estudando os fenômenos do pensamento, para que possamos encontrar maior força de educá-los em nós. Ninguém encontra a felicidade por fora, sem primeiro conquistá-la por dentro, no reino
do coração.

Fiquei pasmado pelas verdades ouvidas e observadas.

Dezenove foi ficando serena, ganhou novamente a paz, e começou a pedir desculpas pelo fracasso. Disse ter perdido a razão, não suportando o ambiente de falta de respeito pela vida, e a degradação daqueles Espíritos, que mais pareciam vestidos de sangue.

Depois de tudo em ordem, Miramez falou a Dezenove:

— Minha filha, pensa firmemente em teu corpo como uma roupa que estás vestindo, para que voltes tranquila para o teu mundo de células. Nele irás encontrar o que te falta neste momento. Que Deus te abençoe.

Ela obedeceu e acordou, passando as mãos nos olhos, fazendo grande esforço para se lembrar de algo que estava escondido nas dobras da mente, mas não conseguia direito. Surgiu em sua cabeça a ideia de orar, e foi o que fez com humildade. Nós também oramos em seu quarto, para o conforto dela e de seus familiares.

Encerrada a tarefa, tomamos altura serenamente, em plena volitação, quando a luz do sol já escondia as estrelas dos olhos humanos.


Lancellin