André Luiz - Livro Agenda Cristã - Chico Xavier - Cap. 9
Nas conversações
Não se irrite com o interlocutor, se não lhe corresponde à expectativa.
Talvez não tenha sido você suficientemente claro na expressão.
Se o interpelado não atende, de pronto, cale as reclamações.
É provável que ele seja gago e, se o não for, a descortesia é uma infelicidade em si mesma.
Quando alguém não lhe der a informação solicitada, com a presteza que você desejaria, não se aborreça.
Recorde que a surdez pode atacar a todos.
Evite os assuntos desconcertantes para o ouvinte.
Todos temos zonas nevrálgicas no destino, sobre as quais precisamos fazer silêncio.
Não pergunte a esmo.
Quem muito interroga, muito fere.
Cultive a delicadeza com os empregados de qualquer instituição ou estabelecimento, onde você permaneça de passagem.
Sua mente, quase sempre, está despreocupada em semelhantes lugares e ignora os problemas de quem foi chamado a servi-lo.
Seja leal, mas fuja à franqueza descaridosa.
A pretexto de ser realista, não pretenda ser mais verdadeiro que Deus, somente de cuja Autoridade Amorosa recebemos as revelações e trabalhos, de cada dia.
Se o companheiro lhe fere o ouvido com má resposta, tenha calma e espere o tempo.
Possivelmente já respondeu com gentileza noventa e nove vezes a outras pessoas, ou, talvez, acabe de sofrer uma perda importante.
Ajude, conversando. Uma boa palavra auxilia sempre.
Lembre-se de que o mal não merece comentário em tempo algum.
Emmanuel - Livro Nascer e Renascer - Chico Xavier - Cap. 13
Burilamento
Diante da Vida Universal, pontilhada de constelações, cuja grandeza nos escapa, por agora, à compreensão, imaginemos o homem primitivo a contemplar da insipiência de sua taba uma cidade superculta, povoada de escolas e santuários, oficinas e monumentos.
Decerto que semelhante visão lhe encorajaria o estímulo ao progresso, mas não o exoneraria do dever de aprimorar-se na própria educação, antes de qualquer arrancada às eminências entrevistas.
Indispensável, estejamos alertas no aperfeiçoamento que nos é necessário, antes de tentar a ascensão à Espiritualidade Superior.
A Terra, em seus múltiplos círculos de ação, simboliza para nós, desencarnados e encarnados, a universidade preciosa, congregando variados cursos de evolução.
A dor e a dificuldade, o trabalho e a provação, em suas esferas de serviço, representam matérias abençoadas em cuja assimilação, ser-nos-á possível, efetuar o próprio burilamento, à feição do diamante que, aprisionado ao cascalho, reclama o esmeril que o dilacera, convertendo-se, por fim, na pedra formosa e rara, suscetível de refletir as magnificências da luz.
Nosso problema essencial, por enquanto, é o de nossa própria adaptação às Leis Divinas, de que Jesus Cristo, ainda e sempre, é o nosso exemplo maior.
Semelhante adaptação se constitui de humildade e de amor, para que a Sabedoria Celeste encontre em nós a justa ressonância.
Contemplando as estrelas e indagando acerca dos mundos sublimes, não nos esqueçamos da própria sublimação, a fim de que, transformados, um dia, em estrelas conscientes no campo da vida, possamos em qualquer parte retratar o Eterno Bem, realizando com a nossa simples presença a exaltação do Senhor.
“Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras e as pratica, assemelhá-lo-ei ao homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha.” — Jesus. (MATEUS, 7.24)
Os grandes pregadores do Evangelho sempre foram interpretados à conta de expressões máximas do Cristianismo, na galeria dos tipos veneráveis da fé; entretanto, isso somente aconteceu, quando os instrumentos da verdade, efetivamente, não olvidaram a vigilância indispensável ao justo testemunho.
É interessante verificar que o Mestre destaca, entre todos os discípulos, aquele que lhe ouve os ensinamentos e os pratica. Daí se conclui que os homens de fé não são aqueles apenas palavrosos e entusiastas, mas os que são portadores igualmente da atenção e da boa vontade, perante as lições de Jesus, examinando-lhes o conteúdo espiritual para o trabalho de aplicação no esforço diário.
Reconforta-nos assinalar que todas as criaturas em serviço no campo evangélico seguirão para as maravilhas interiores da fé. Todavia, cabe-nos salientar, em todos os tempos, o subido valor dos homens moderados que, registrando os ensinos e avisos da Boa Nova, cuidam, desvelados, da solução de todos os problemas do dia ou da ocasião, sem permitir que suas edificações individuais se processem, longe das bases cristãs imprescindíveis.
Em todos os serviços, o concurso da palavra é sagrado e indispensável, mas aprendiz algum deverá esquecer o sublime valor do silêncio, a seu tempo, na obra superior do aperfeiçoamento de si mesmo, a fim de que a ponderação se faça ouvida, dentro da própria alma, norteando-lhe os destinos.
Miramez - Livro Cura-te a Ti Mesmo - João Nunes Maia
Paciência - O alimento que ingeres
O alimento que ingeres é de grande utilidade quando bem orientado para o equilíbrio da saúde, conseguindo a paz interior. É bom que não te esqueças da escolha dos alimentos, consultando bons livros, em se referindo à comida.
Precisamos de muita paciência na especulação da alimentação, fornecendo ao complexo orgânico as coisas naturais e às forças da natureza, empregadas no amparo as nossas forças, para o bem da nossa própria vida. A resignação em relação ao que aparece como problema no correr da existência é de grande utilidade, desde quando não faltem o amor e o bem-estar, que surge da alegria.
Procura alimentar-te nos moldes em que se mostra o equilíbrio, sem estimular a vontade exagerada; devemos comer para viver, e não viver para comer. Não te deixes viciar no que tange à alimentação; procura triturar com perseverança a comida, retirando dela as substâncias da paz orgânica, buscando sempre, onde existem mais experiências, o que falta para enriquecer as tuas. Alguns dizem que religião nada tem com a alimentação; como se enganam! Tem, e muito! Devemos cuidar do corpo e do Espírito, para o equilíbrio interno. Tudo o que aprendemos de bom é útil à vida, como exemplos aos outros. É justo que tenhamos constância em tudo o que é bom, favorecendo a harmonia, sendo porta aberta para a luz do entendimento.
Sejamos pacíficos em tudo o que venhamos a fazer, porque essa tranquilidade nos faz aceitar o amor e vivê-lo, nos faz aceitar a caridade e vivê-la, nos faz aceitar o perdão e vivê-lo. E esse conjunto de virtudes forma em nossa intimidade a paz, bem como estimula o coração, senão a consciência. Compete a cada um esforçar-se para alcançar o estágio da benevolência que alegra e nos faz crescer na luz de Deus. O que se chama alimento para que possamos viver não é somente o pão de cada dia; a água é alimento, o ar o é também, como igualmente o amor. Esses últimos se fazem diretamente sustento para a alma, como também para o corpo e as suas funções entre os dois mundos.
Sejamos ordeiros nas investidas do corpo para a alma e da alma para o corpo, meditando no que ocorre, no sentido de aprender a nos comportar, para melhor tirar proveito das lutas que sempre nos trazem um bom rendimento. Tenhamos paciência no desenrolar do tempo, que somente assim nós crescemos, deixando fulcros de exemplos para os outros, colhendo os frutos da paz, aquela que o mundo não pode dar.
As nossas vidas significam luta permanentemente, porque é no intenso trabalho para aprender que nós instruímos e enriquecemos as qualidades do coração. Verificamos que, em tudo na vida, estamos nos alimentando; e a escolha é de grande utilidade, sendo que podemos viver bem ou mal, de acordo com o que escolhemos para nos alimentar. Apaziguar o que vem a nós é o nosso dever, para que surja disso o maior dos ambientes da vida - o Amor.
Emmanuel - Livro Cartas do Alto - Espíritos Diversos / Chico Xavier - Cap. 55
Buscando mais luz
Ergue-se o caminho da fé por subida incessante. Jornada de quem demanda os cimos, buscando mais luz e ampliando os horizontes da própria visão.
Qual ocorre em qualquer viagem para o Alto, dificuldades e riscos surgem à mostra. Em semelhante escalada, a queda é conhecida por desilusão, a tempestade é o tempo de angústia, o frio se expressa como sendo negação ambiente e o cansaço traz, frequentemente, a chancela de tristeza ou monotonia.
Os degraus da fé, porém, são nomeados por perseverança e serviço. Perseverança no trabalho e serviço aos semelhantes.
Apoia-te ao corrimão da esperança e eleva-te constantemente, auxiliando e construindo, compreendendo e amando sempre.
De furnas distantes chegarão as vozes daqueles que pararam no início ou a meio do caminho, incitando-te a descanso indébito por se referirem à crueldade e abandono, discórdia e incompreensão. Não te detenhas. Todos os que se interromperam na estrada tornarão à marcha.
Com a fé, procura a luz da verdade e todos se voltarão para a luz da verdade, agora, hoje, amanhã ou no grande futuro.
Se ocorrências amargas te constituem a cruz da provação nos ombros frágeis, prossegue mesmo assim.
Se tropeças e cais, não desesperes. Levanta-te e continua.
Triunfar não quer dizer avançar sem erros ou falhas, mas sim reconhecer que, apesar de nossas falhas e erros, é preciso seguir adiante, de coração inflamado na confiança, com a certeza de que a Divina Justiça a todos nos observa e nos retribuirá, a cada um, segundo as nossas próprias obras. Sejam quais sejam os obstáculos, prossegue à frente, estendendo o bem.
Na essência, a coragem da fé significa chama viva no próprio coração, clareando o caminho. E quem jornadeia com a bênção da luz não deve e nem necessita amedrontar-se à face das sombras. Recordemos, nesse sentido, que todas as trevas da noite, se forem condensadas e arremessadas de um só jato, não conseguirão apagar a simples irradiação de uma vela. [1]
Emmanuel
Reformador — Março de 1975.
[1] Segundo consta do original, a página foi recebida em reunião pública da Comunhão Espírita Cristã, na noite de 04/08/1972, em Uberaba, Minas Gerais.
Emmanuel - Livro Vinha de Luz - Chico Xavier - Cap. 159
Brilhar
“Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai que está nos Céus.” — Jesus. (MATEUS, 5.16)
Admitem muitos aprendizes que brilhar será adquirir destacada posição em serviços de inteligência, no campo da fé.
Realmente, excluir a cultura espiritual, em seus diversos ângulos, da posição luminosa a que todos devemos aspirar, seria rematada insensatez.
Aprender sempre para melhor conhecer e servir é a destinação de quem se consagra fielmente ao Mestre Divino.
Urge, no entanto, compreender, no imediatismo da experiência humana, que se o Salvador recomendou aos discípulos brilhassem, à frente dos homens, não se esqueceu de acrescentar que essa claridade deveria resplandecer, de tal maneira, que eles nos vejam as boas obras, rendendo graças ao Pai, em forma de alegria com a nossa presença.
Ninguém se iluda com os fogos-fátuos do intelectualismo artificioso.
Ensinemos o caminho da redenção, tracemos programas salvadores onde estivermos; brilhe a luz do Evangelho em nossa boca ou em nossa frase escrita, mas permaneçamos convencidos de que se esses clarões não descortinam as nossas boas obras, seremos invariavelmente recebidos no ouvido alheio e no alheio entendimento, entre a expectação e a desconfiança, porque somente em fundido pensamento, verbo e ação, no ensinamento do Cristo Jesus, haverá em torno de nós glorificação construtiva ao Nosso Pai que está nos Céus.
Joanna de Ângelis - Livro Florações Evangélicas - Divaldo P. Franco - Cap. 42
Lâmpadas, receptores e transmissor
“Os fariseus, tendo-se retirado, entenderam-se entre si para enredá-lo com as suas próprias palavras". (Mateus 22:15)
“Sem levar em conta as vicissitudes ordinárias da vida, a diversidade dos gostos, dos pendor es e das necessidades, é esse também um meio de vós aperfeiçoardes, exercitando-vos na caridade. Com efeito, Só a poder de concessões e sacrifícios mútuos, podeis conservar a harmonia entre elementos tão diversos". Espírito Protetor (O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. 11º — Item 13, 2)
Recebem o raio luminoso e se inebriam de imediato com as impressões visuais transformadas em imagens que se gravam nos recônditos da memória, impressas em cor para serem evocadas logo se acionem os mecanismos próprios capazes de selecioná-las e retirá-las dos arquivos neuroniais.
Penetrados pela sonora vibração, que deambula através da câmara acústica, classificam os ruídos e os discriminam para gravá-los em sutil engrenagem, na qual perduram as impressões transformadas em mensagens inapagáveis nos fulcros profundos do espírito.
Acionada pelo mecanismo automático dos centros especializados, converte ideias em música e dispara dardos orais ou veludosa melopeia que faculta comunicação, gerando singular meio de entendimento ou desgraça, conforme a direção aplicada.
Lâmpadas são os olhos derramando claridade pela senda por onde correm os rios dos dias, acionando as alavancas do movimento humano na extensão do progresso.
Receptores são os ouvidos, por cujos condutos as vozes da vida atingem o espírito eterno, momentaneamente revestido pela matéria, de forma a ajudá-lo no crescimento e na evolução.
Transmissor eficaz é a boca encarregada de exteriorizar as impressões que transitam dos centros pensantes ao comércio exterior da vida.
Aparelhos preciosos de que se encontram investidos os homens são inestimáveis tesouros da concessão divina, cuja valorização merece a cada instante maior soma do capital de amor para que, através deles, o espírito aprenda a ver e a marchar, saiba ouvir e guardar, disponha-se a sentir e expressar consubstanciando os ideais enobrecedores na elaboração da paz íntima.
Nem todos porém que vêem, conseguem com elevação selecionar o que enxergam e assimilar o que devem.
Muitos que ouvem não se comprazem ainda em fixar o que é nobre, olvidando o que é espúrio e vulgar para construir sabedoria pessoal.
Poucos apenas falam, na multidão dos que usam a palavra, de forma eficiente, sem conspurcarem os lábios, macularem a própria ou a vida alheia, derrapando, não raro, para as figurações deprimentes da censura e da crítica indevida, aspirando em decorrência os vapores tóxicos da impiedade e da insensatez.
Mantém acesas as lâmpadas dos olhos e contempla tudo com amor, a fim de que as belezas povoem as paisagens do teu pensamento.
“A candeia do corpo são os olhos".
Liga os receptores somente quando as convenientes mensagens sonoras produzam vibrações de nobres sinfonias nos teus painéis mentais, de modo a possuíres permanente festa no espírito, não obstante as tormentas exteriores que te cerquem “Quem tiver ouvidos ouça".
Externa apenas o que possa ajudar e silencia tudo aquilo que aguilhoa e martiriza, pois o homem superior é considerado não pelo muito que diz, mas pelo conteúdo enobrecedor do que carregam suas palavras.
“Porque a boca fala o de que está cheio o coração".
O olhar de Jesus dulcificava as multidões, Seus ouvidos atentos descobriam o pranto oculto e identificavam a aflição onde se encontrava, e Sua boca bordada de misericórdia somente consolou, cantando a eterna sinfonia da Boa Nova em apelo insuperável junto aos ouvidos dos tempos, convocando o homem de todas as épocas à epopeia da felicidade.
Procura fazer o mesmo com a tua aparelhagem superior.
Emmanuel - Livro Alma e Luz - Chico Xavier - Prefácio
Alma e Luz
Questionados que temos sido por vários companheiros reencarnados nas áreas do campo físico, com respeito ao binômio “alma e corpo”, desejamos afirmar, preliminarmente, que sabemos que o assunto será esclarecido, nos termos justos, por autoridades da Vida Superior, no tempo próprio.
Diante, porém, da sinceridade dos nossos irmãos, que permanecem transitoriamente na Terra, ousamos enfileirar aqui algumas deduções simbólicas, capazes de auxiliar-nos o raciocínio na solução dos problemas profundos que a questão envolve em si mesma.
A alma é comparável ao motor.
O corpo é o veículo.
A alma é o livre-arbítrio.
O corpo é a matéria que se organiza afim de resguardá-la.
A alma é o timoneiro.
O corpo é a embarcação.
A alma é a raiz.
O corpo é o tronco.
A alma [1] é a tela que detém os nossos desejos.
O corpo é a realidade, em que se manifesta.
A alma é a sublimidade da música.
O corpo é a câmara na qual o compositor procura os recursos para reproduzir ou inspirar-se ante a melodia dos anjos.
A alma é a lógica nos acontecimentos da vida.
O corpo é instrumento em que se aprende a respeitá-la.
A alma é a inspiração da Vida Maior.
O corpo é a matéria densa em que nós outros manipulamos as formas dos anseios que os nossos sentimentos acalentam no dia a dia.
A alma é o plano.
O corpo é a inteligência instintiva que o executa.
A alma é o campo.
O corpo é a enxada que obedece ao lavrador.
A alma é o oleiro.
O corpo é o elemento que o obedece na formação de vasos diversos.
A alma é o ambiente.
O corpo é a forma que nos define os pensamentos.
A alma é a fonte dos nossos ideais.
O corpo é o buril de trabalho com que nos conduzimos, pela própria vontade, às atividades do bem ou do mal, conforme nossas escolhas.
A alma é a diretriz.
O corpo é o território em que viajamos com a possibilidade de nutrir a saúde ou as provações da doença.
A alma é o amor de que nos alimentamos para a vida.
O corpo é a atitude que nos tutela a independência própria para assumir as nossas preferências das quais teremos os resultados respectivos.
A alma é a lanterna da paz.
O corpo é o refletor de nossas disposições íntimas para servi-la ou conturbá-la.
A vida é semelhante à mina de ouro.
Tomando o corpo físico, que lembra o uniforme do trabalhador que se esforça para encontrar e deter alguma parcela do precioso metal, na reencarnação, simbolizamos desta forma a presença ou a busca da luz em que todos vivemos.
É necessário remover toneladas de cascalho para achar alguma quantidade da preciosidade referida.
Aqueles que se devotam às boas obras e se desenvolvem no autoconhecimento levam consigo alguma luz ao Plano Espiritual; isso, porém, por vezes, determina grande número de existências, na Crosta Terrestre.
Os amigos que se consagram à ociosidade ou à revolta, ao desânimo ou ao ódio, devem voltar ao mesmo padrão de existência, nas áreas físicas do Planeta, tantas vezes quantas foram as romagens no ambiente das provas que não quiseram vencer.
Conduzindo à Vida Superior apenas cascalho improdutivo, às vezes necessitam regressar às dificuldades que desprezaram, demorando-se no mundo material.
E isso acontece com muitos amigos que apenas conduziram consigo o cascalho da inutilidade, sem possibilidade de partilhar o trabalho nas Legiões do Bem.
Lamentam-se, em vão, porque em verdade recusaram sistematicamente as oportunidades de serviço e elevação que lhes foram concedidas.
Conduzindo às Esferas Superiores unicamente cascalho, sem qualquer resquício de luz de que se acham necessitados, são constrangidos a retornar às tarefas que menosprezaram no mundo.
Saibamos procurar a luz nas pedras da existência, estudando e aprendendo, amando ao próximo como sendo nós mesmos e sublimando os ideais de elevação que adquirimos, com a realização de nossos princípios.
Eis porque este livro simples e despretensioso recebeu o nome de: Alma e Luz.
Um rápido olhar do homem, através do Plano em que evolui, revelar-lhe-á o Amor Divino, que lhe assegura a existência.
A gota d’água, aparentemente esquecida nas entranhas do solo, alimenta o manancial.
O manancial preserva a fonte.
A fonte adere ao grande rio.
O grande rio coopera no equilíbrio do mar.
O mar produz a nuvem.
A nuvem garante a chuva.
A chuva nutre o verme.
O verme aduba a terra.
A terra protege a semente.
A semente mantém a floresta.
A floresta, com a sua riqueza, desdobra-se em utilidades, para a vida.
Para o Homem todas as forças da Natureza trabalham espontaneamente, reconhecendo-o por senhor da inteligência que lhes cabe reverenciar e servir.
O homem, no entanto, em laborioso processo de adaptação às Leis Divinas, ainda não soube aprender com as forças mais simples que o cercam a felicidade de se doar em serviço ao mundo para retomar a si mesmo em nível mais alto, algemado qual se encontra ainda às cristalizações do egoísmo, que dele fazem um rei mendigo, prisioneiro no cárcere das próprias limitações.
Atingindo a razão, o Espírito humano, em milênios de luta, sofre a hipertrofia da intelectualidade mal conduzida, e, desequilibrado em si próprio, pela carência de sentimento e pelo excesso de raciocínios transviados, mais se lhe acentua agora, com os eventos da nova civilização, a forma esfingética em que se confundem nele as fulgurações do anjo e os instintos da besta.
Urge aceitar com Jesus a tarefa de convocar as criaturas ao Amor, sentido, crido, e profundamente vivido, ao preço de nossa própria renunciação, para que os novos tempos nos encontrem sob feições novas.
Outros mundos nos acenam a mais amplos recursos evolutivos e outras humanidades nos convidam à exaltação da consciência cósmica…
A Terra de hoje marcha para a Terra de Amanhã…
Ajustemo-nos à Lei que nos recomenda o Amor a Deus, através do nosso devotamento a todos os seres da Criação e, aprendendo com a Natureza que nos sustenta e socorre, sob os ditames desse mesmo Amor, em nome do próprio Deus, atingiremos o ponto de junção com os nossos irmãos mais evoluídos que já se sublimaram nas Esferas da angelitude.
Joanna de Ângelis - Livro Filho de Deus - Divaldo P. Franco - Cap. 8
Perdoa-te
A palavra evangélica adverte que se deve ser indulgente para com as faltas alheias e severo em relação às próprias.
Somente com uma atitude vigilante e austera no dia-a-dia o homem consegue a autorrealização.
Compreendendo que a existência carnal é uma experiência iluminativa, é muito natural que diversas aprendizagens ocorram através de insucessos que se transformam em êxitos, após repetidas, face aos processos que engendram.
A tolerância, desse modo, para com as faltas alheias, não pode ser descartada no clima de convivência humana e social.
Sem que te acomodes à própria fraqueza, usa também de indulgência para contigo.
Não fiques remoendo o acontecimento no qual malograste, nem vitalizes o erro através da sua incessante recordação.
Descobrindo-te em gravame, reconsidera a situação, examinando com serenidade o que aconteceu, e regulariza a ocorrência.
És discípulo da vida em constante crescimento.
Cada degrau conquistado se torna patamar para novo logro.
Se te contentas, estacionando, perdes oportunidades excelentes de libertação.
Se te deprimes e te amarguras porque erraste, igualmente atrasas a marcha.
Aceitando os teus limites e perdoando-te os erros, mais facilmente treinarás o perdão em referência aos demais.
Quando acertes, avança, eliminando receios.
Quando erres, perdoa-te e arrebenta as algemas com a retaguarda, prosseguindo.
O homem que ama, a si mesmo se ama, tolerando-se e estimulando-se a novos e constantes cometimentos, cada vez mais amplos e audaciosos no bem.
Joanna de Ângelis - Livro Filho de Deus - Divaldo P. Franco - Cap. 7
Ordem de Deus
Há em tudo uma ordem divina. Embora não a detectes, ei-la manifesta em tudo, expressando a sua origem no Criador.
Em ti também se encontra presente: no corpo, na mente e na alma, regulando-te a vida e fomentando-a.
Se consegues identificar-te com essa vibração que dimana de Deus, haverá harmonia em tua existência, em tudo que realizas e com quem estejas.
Tens que buscá-la, caso não a percebas e notes apenas insucessos, atrasos, desafios desanimadores.
Todos estes aparentes percalços, todavia, trabalham juntos para o teu bem, o teu progresso.
Não obstante se apresente o caminho por onde segues pejado de abrolhos, aferra-te à certeza de que Deus é responsável por tudo, e assim mesmo, a ordem, esse equilíbrio divino, te conduzirá ao bem.
Conscientizando-te de que não segues ao léu, mas te movimentas na correnteza da ordem superior, superarás tensões e amarguras, ansiedades e desgostos, porque esse hálito de Deus, que a tudo e a todos vitaliza, manifesta-se em ti e através de tudo aquilo que te diz respeito.
Não te permitas resistir a essa energia envolvente e condutora.
Coopera com o estatuído pelas Soberanas Leis, facultando que elas cooperem contigo, trazendo-te paz e abençoando as tuas horas.
Dos obreiros que se te fizeram colaboradores e amigos, no campo do bem, conhecerás muitos deles na condição de representantes de faixas diversas da evolução humana:
aqueles que começam entusiasticamente, na trilha da obra, lançando arrojados planos de ação, e abandonam o apostolado nos alicerces, com receio do sacrifício;
os que chegam otimistas, louvando as perspectivas do trabalho, e deixam a tarefa, assim que lhe observam a complexidade e a extensão;
os que recolheram benefícios da seara e regressam a ela, prometendo auxílio e reconhecimento, mas largam-na, às vezes de improviso, tão logo se vejam chamados a aprender quanto custa o esforço da sementeira;
os que formulam projetos avançados de renovação, sob o pretexto de se atender ao progresso, e retiram-se quando observam quanto suor e quanta distância existem sempre entre a teoria e a realização;
os que supõem na gleba um filão de recursos fáceis e fogem dela logo que tomam pessoalmente o peso da charrua de obrigações que lhes compete movimentar.
Entretanto, ao lado desses cooperadores, sem dúvida respeitáveis, mas ainda inabilitados para os compromissos de longa duração, encontrarás aqueles outros, os que conhecem a importância da paz de espírito e não se arredam da empreitada que lhes coube, prosseguindo no desempenho dos deveres que abraçaram, ainda mesmo quando isso lhes custe o pão amassado com lágrimas, nos testemunhos de fé e abnegação, dia por dia.
Forma entre esses que se mostram decididos a pagar o preço da própria ascensão e reconhecerás para logo que o obreiro digno do salário da felicidade e da paz, nos erários da vida eterna, será sempre aquele que caminha para a frente com a obra no pensamento e no coração, a pleno esquecimento de si mesmo, trabalhando e servindo, compreendendo e auxiliando, amando e construindo, a serviço do bem de todos, até ao fim.
André Luiz - Livro Nosso Lar - Chico Xavier - Cap. 27
O trabalho, enfim
Nunca poderia imaginar o quadro que se desenhava agora aos meus olhos. Não era bem o hospital de sangue, nem o instituto de tratamento normal da saúde orgânica. Era uma série de câmaras vastas, ligadas entre si e repletas de verdadeiros despojos humanos.
Tão angustiosas foram minhas primeiras impressões que procurei os recursos da prece para não fraquejar.
Tobias, imperturbável, chamou velha servidora, que acudiu atenciosamente:
— Vejo poucos auxiliares, — disse admirado, — que aconteceu?
— O Ministro Flácus, — esclareceu a velhinha em tom respeitoso, — determinou que a maioria acompanhasse os Samaritanos [1] para os serviços de hoje, nas regiões do Umbral.
— Há que multiplicar energias, — tornou ele sereno, — não temos tempo a perder.
— Irmão Tobias!… Irmão Tobias!… Por caridade! — Gritou um ancião, gesticulando, agarrado ao leito, à maneira de louco, — estou a sufocar! Isto é mil vezes pior que a morte na Terra… Socorro! Socorro! Quero sair, sair!… quero ar, muito ar!
Tobias aproximou-se, examinou-o com atenção e perguntou:
— Por que teria o Ribeiro piorado tanto?
— Experimentou uma crise de grandes proporções, — explicou a serva, — e o Assistente Gonçalves esclareceu que a carga de pensamentos sombrios, emitidos pelos parentes encarnados, era a causa fundamental desse agravo de perturbação. Visto achar-se ainda muito fraco e sem ter acumulado força mental suficiente para desprender-se dos laços mais fortes do mundo, o pobre não tem resistido, como seria de desejar.
Enquanto o generoso Tobias acariciava a fronte do enfermo, a serviçal prosseguia esclarecendo:
— Hoje, muito cedo, ele se ausentou sem consentimento nosso, a correr desabaladamente. Gritava que lhe exigiam a presença no lar, que não podia esquecer a esposa e os filhos chorosos; que era crueldade retê-lo aqui, distante do lar.
Lourenço e Hermes esforçaram-se por fazê-lo voltar ao leito, mas foi impossível. Deliberei, então, aplicar alguns passes de prostração. Subtraí-lhe as forças e a motilidade, a benefício dele mesmo.
— Fez muito bem, — acentuou Tobias, pensativo, — vou pedir providências contra a atitude da família. É preciso que ela receba maior bagagem de preocupações, para que nos deixe o Ribeiro em paz.
Fixei o doente procurando identificar-lhe a expressão íntima, verificando a legítima expressão de um dementado. Chamara Tobias, como a criança que conhece o benfeitor, mas acusava profundo alheamento de quanto se dizia a seu respeito.
Notando-me a admiração, o novo orientador explicou:
— O pobrezinho permanece na fase de pesadelo, em que a alma pouco mais vê e ouve que as aflições próprias. O homem, meu caro, encontra na vida real o que amontoou para si mesmo. Nosso Ribeiro deixou-se empolgar por numerosas ilusões.
Eu quis indagar da origem dos seus padecimentos, conhecer-lhes a procedência e o histórico da situação; entretanto, recordei as criteriosas ponderações da mãe de Lísias, relativas à curiosidade, e calei.
Tobias dirigiu ao enfermo generosas palavras de otimismo e esperança. Prometeu que iria providenciar recurso a melhoras, que mantivesse calma em benefício próprio e que não se aborrecesse por estar preso à cama. Ribeiro, muito trêmulo, rosto ceráceo, esboçou um sorriso muito triste e agradeceu com lágrimas.
Seguimos através de numerosas filas de camas bem cuidadas, sentindo a desagradável exalação ambiente, oriunda, como vim a saber mais tarde, das emanações mentais dos que ali se congregavam, com as dolorosas impressões da morte física e, muita vez, sob o império de baixos pensamentos.
— Reservam-se estas câmaras, — explicou o companheiro bondosamente, — apenas a entidades de natureza masculina.
— Tobias! Tobias… Estou morrendo à fome e sede! — Bradava um estagiário.
— Socorro, irmão!… — Gritava outro.
— Por amor de Deus!… Não suporto mais!… — Exclamava ainda outro.
Coração alanceado ante o sofrimento de tantas criaturas, não contive a interrogação penosa:
— Meu amigo, como é triste a reunião de tantos sofredores e torturados! Por que este quadro angustioso?
Tobias respondeu sem se perturbar:
— Não devemos observar aqui somente dor e desolação. Lembre, meu irmão, que estes doentes estão atendidos, que já se retiraram do Umbral, onde tantas armadilhas aguardam os imprevidentes, descuidosos de si mesmos.
Nestes pavilhões, pelo menos, já se preparam para o serviço regenerador. Quanto às lágrimas que vertem, recordemos que devem a si próprios esses padecimentos. A vida do homem estará centralizada onde centralize ele o próprio coração.
E depois de uma pausa, em que parecia surdo a tantos clamores, acentuou:
— São contrabandistas na vida eterna.
— Como assim? — Atalhei, interessado.
O interlocutor sorriu e respondeu em voz firme:
— Acreditavam que as mercadorias propriamente terrestres teriam o mesmo valor nos Planos do Espírito. Supunham que o prazer criminoso, o poder do dinheiro, a revolta contra a lei, a imposição dos caprichos atravessariam as fronteiras do túmulo e vigorariam aqui também, oferecendo-lhes ensejos a disparates novos.
Foram negociantes imprevidentes. Esqueceram de cambiar as posses materiais em créditos espirituais. Não aprenderam as mais simples operações de câmbio no mundo.
Quando iam a Londres, trocavam contos de réis por libras esterlinas; entretanto, nem com a certeza matemática da morte carnal se animaram a adquirir os valores da espiritualidade. Agora… que fazer? Temos os milionários das sensações físicas transformados em mendigos da alma.
Realíssimo! Tobias não podia ser mais lógico.
Meu novo instrutor, após distribuir conforto e esclarecimento a granel, conduziu-me a vasta câmara anexa, em forma de grande enfermaria, notificando:
— Vejamos alguns dos infelizes semimortos.
Narcisa, a servidora, acompanhava-nos, solícita. Abriu-se a porta e quase cambaleei ante a surpresa angustiosa. Trinta e dois homens de semblante patibular permaneciam inertes em leitos muito baixos, evidenciando apenas leves movimentos de respiração.
Fazendo gesto significativo com o indicador, Tobias esclareceu:
— Estes sofredores padecem um sono mais pesado que outros de nossos irmãos ignorantes. Chamamos-lhes crentes negativos.
Ao invés de aceitarem o Senhor, eram vassalos intransigentes do egoísmo; ao invés de crerem na vida, no movimento, no trabalho, admitiam somente o nada, a imobilidade e a vitória do crime.
Converteram a experiência humana em constante preparação para um grande sono e, como não tinham qualquer ideia do bem, a serviço da coletividade, não há outro recurso senão dormirem longos anos, em pesadelos sinistros.
Não conseguia externar meu espanto.
Muito cuidadoso, Tobias começou a aplicar passes de fortalecimento, sob meus olhos atônitos. Finda a operação nos dois primeiros, começaram ambos a expelir negra substância pela boca, espécie de vômito escuro e viscoso, com terríveis emanações cadavéricas.
— São fluidos venenosos que segregam, — explicou Tobias, muito calmo.
Narcisa fazia o possível por atender prontamente à tarefa de limpeza, mas debalde. Grande número deles deixava escapar a mesma substância negra e fétida. Foi então, que, instintivamente, agarrei-me aos petrechos de higiene e lancei-me ao trabalho com ardor.
A servidora parecia contente com o auxílio humilde do novo irmão, ao passo que Tobias me dispensava olhares satisfeitos e agradecidos.
O serviço continuou por todo o dia, custando-me abençoado suor, e nenhum amigo do mundo poderia avaliar a alegria sublime do médico que recomeçava a educação de si mesmo, na enfermagem rudimentar.
André Luiz
[1] Organização de Espíritos benfeitores em “Nosso Lar”. — Nota do autor espiritual.