terça-feira, 4 de novembro de 2025

Ermance Dufaux - Livro Prazer de Viver - Wanderley S. de Oliveira - Cap. 1 - Sob a luz da esperança



Ermance Dufaux - Livro Prazer de Viver - Wanderley S. de Oliveira - Cap. 1


Sob a luz da esperança


"Muito se pedirá àquele a quem muito se houver dado e maiores contas serão tomadas àquele a quem mais coisas se haja confiado". (S. Lucas, 12:47 e 48.) O Evangelho Segundo o Espiritismo - capítulo XVIII - item 10.

É lastimável o contingente de seguidores do Cristo tombados no derrotismo por conta de crenças, que estabelecem uma vida psicológica atormentada.

Verificam-se, com certa frequência, algumas crenças que ganharam popularidade na comunidade doutrinária, acerca da definição de verdadeiros espíritas, tais como: "almas com conhecimento bastante para não se deprimir", "criaturas que só podem acertar", "pessoas que devem agradar a todos", "espíritos que não podem perder tempo" e "devem ser rápidos".

Claro que essas crenças, quando utilizadas com sensatez, podem se tornar aspirações educativas.

Entretanto, raros conseguem se enquadrar, espontaneamente, nesses modelos éticos elegidos como referenciais de autenticidade espírita.

Aliás, muitos dos que procuram atender a esses imperativos de fora para dentro, tombam na negação de seus sentimentos, causando danos a seu equilíbrio.

A colocação evangélica é clara: "muito se pedirá", entretanto, a mente derrotista nutre-se de mensagens inconscientes de cobrança e condenação, que fazem as fibras do sentimento interpretarem essa colocação dessa forma: "muito será cobrado".

Imperioso acender a luz da esperança no coração humano, abandonar imposições e cobranças.

Não existe queda nem falência nas Leis Universais.

Existem resultados, efeitos das escolhas e ações.

Tudo é preparo, impermanência e misericórdia.

Muito será pedido! De fato, a vida pede constantemente o tributo de amor e cooperação.

Somente para o Espírito que não aprende com seus equívocos, é que existe a frustração, o vazio e a sensação de fracasso.

Discípulos do Espiritismo: procurem atentar para o foco em que depositam suas esperanças de felicidade e plenitude, a fim de não se enredarem nos climas psicológicos do martírio voluntário.

Inúmeros corações sinceros e motivados pelo ideal de servir e aprender, se rendem às suas provas e dores particulares, acreditando que somente no além-túmulo encontrarão a libertação.

Transferem para a vida dos espíritos uma expectativa de alívio e salvação em razão do sofrimento que lhes assinala a marcha de cada dia.

Toleram provas acerbas na condição passiva, sem a mínima iniciativa que os pudesse defender ou restaurar as energias, ante os golpes lacerantes dos testes.

Asseveram que resgatam carmas e prosseguem contando os dias para que algo ou alguém venha extinguir-lhes os dramas.

Desacreditam totalmente da possibilidade de solução e novos caminhos, onerando-se de exigências e obrigações.

Descrêem, enfim, que possam ser felizes tanto quanto possível ainda na Terra.

Sofrer por sofrer não redime.

Tolerar por tolerar não educa.

Não será a intensidade dolorosa das provas, por si só, que transformará as inclinações e nos libertará das algemas conscienciais.

A dor que redime não é aquela que tolera com revolta, mas a que suporta com constante busca pelo melhor a cada instante. Jamais desistindo de encontrar a solução em si mesmo para as lutas do caminho.

Sem isso, é a morte da esperança.

Amigo querido do Espiritismo com o Cristo, o gesto sublime da reencarnação é um atestado de que foste matriculado na escola do livre-arbítrio para o recomeço, distanciando-te da influência dominadora dos processos de sintonia e atração que vigem fora do corpo.

Essa a primeira condição para talhar a singularidade que te é peculiar.

Não transfiras para o mundo dos espíritos livres da matéria, tuas aspirações mais nobres de realização e alegria.

Ante o momento que a Terra atravessa, e devido ao nível espiritual de seus habitantes, quase todos os que reencarnam levam aproximadamente metade de sua vida para iniciar o processo de descoberta de seu real valor perante a vida, recriando a autoimagem para o campo da realidade, e definindo-se em suas particularidades subjetivas.

Nesse momento rico da alma, o autoamor determina o clima emocional de sua vida, estimulando a construção de sentimentos enobrecedores que sirvam de morada refazedora, ante os percalços do aprendizado.

Acredite na felicidade possível e edifique a crença lúcida em tuas aspirações de harmonia.

Não é o parente que te atormenta, mas como gerências o mundo das emoções em face dos seus gestos de agressão ou descaso.

Não é o corpo abençoado que desanima, no entanto os sentimentos de baixa autoestima que te consomem até a exaustão.

Não é a profissão singela que te sobrecarrega, entretanto a forma como conduzes teus anelos íntimos de crescimento nas conquistas materiais.

Não são as perdas que te preocupam, todavia o hábito contumaz de posse que causa a sensação de segurança em teus passos.

Não é a crítica que te fere; é como reages a ela.

As provas, em si mesmas, são circunstâncias da vida aferindo-te o valor.

A forma como reages é a tua nota de aproveitamento.

Confia na tua decisão de ser feliz e zele com perseverança por esse ideal de paz.

Mereça ser feliz pelo cultivo de teus valores.

Fecha os ouvidos às mensagens externas e internas que profetizam sobre quedas e tropeços nos dias vindouros.

Mereça ser feliz nutrindo teu sistema mental com ideias e projetos luminosos que constituam sonhos de ventura e desejo de harmonia.

Recorda: a vida pede, não cobra.

A crença, para ser sólida e verdadeira, requer trabalho e construção ativa na intimidade.

A crença na felicidade é um trabalho árduo de conquista da autonomia, realização incansável no bem e humildade nas corrigendas necessárias.

Proceda a uma avaliação cristalina à luz da consciência.

Toma por base o princípio universal: recolhemos da vida somente aquilo que precisamos e merecemos.

A partir desse foco, entreveja tua parcela íntima e individual nas dificuldades que te atormentam.

Investigue com persistência a natureza da petição que as Leis naturais te endereçam.

Descoberto esse "lugar psicológico", encontrarás uma mina abundante de respostas e horizontes.

Ninguém e nenhuma situação te podem prejudicar e fazer infeliz sem teu consentimento.

Na vida espiritual, muitos corações que desistiram de seus sonhos enquanto na Terra, alimentando expectativa de descanso e pausa em suas lutas após a morte, colheram o amargo fruto da decepção ao perceberem que a vida terrena é o solo fértil para a semeadura do bem e das conquistas imorredouras, e não um fórum de quitações impostas pela dor.

O fim útil das provas é a melhoria, e não o padecimento.

E melhoria significa aprender a amar a ti mesmo cuidando de defender-te da descrença que rouba de ti a armadura da alegria e, sobretudo, da esperança com a qual, a cada minuto, poderás sustentar o clima interior do otimismo e da certeza na vitória.


Ermance Dufaux











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