quarta-feira, 3 de março de 2021

Vinícius - Livro Em torno do Mestre - Pedro de Camargo - Pág. 24 - Felicidade




Vinícius - Livro Em torno do Mestre - Pedro de Camargo - Pág. 24


Felicidade


Existe a felicidade? Será ficção ou realidade? Se não existe, porque tem sido essa a aspiração de todas as gerações através dos séculos e dos milênios? Já não seria tempo de o homem desiludir-se? Se existe, porque não a encontram os que a buscam com tanto empenho?

Que nos responda o poeta: 

"A felicidade está onde nós a pomos; e nunca a pomos onde nós estamos". 

Eis a questão. A felicidade é um fato desde que a procuremos onde realmente ela está, isto é, em nós mesmos.

O desapontamento de muitos com relação à felicidade, desapontamento que tem gerado incredulidade e pessimismo, origina-se de a terem procurado no exterior, onde ela não está; origina-se ainda de a suporem dependendo de condições e circunstâncias externas, quando todo o seu segredo está em nosso foro íntimo, no labirinto dos refolhos de nosso ser.

O problema da felicidade é de natureza espiritual. Circunscrito à esfera puramente material, jamais o homem o resolverá. O anseio de felicidade que todos sentimos vem do Espírito, são protestos de uma voz interior.

O erro está em querermos atender a esses reclamos por meio das sensações da carne e da gratificação dos sentidos. Daí a insaciabilidade, daí a eterna ilusão! O fracasso vem da maneira como pretendemos acudir ao clamor do Espírito. Ao rufiar de asas, respondemos com o escarvar de patas.

A ideia da felicidade é tão real como a da imortalidade: aquela, porém, como esta, diz respeito à alma, não ao corpo. Ao Espírito cumpre alcançar a felicidade que está, como a imortalidade, - em si mesmo, na trama da própria vida, dessa vida que não começa no berço nem termina no túmulo. 

A felicidade, neste mundo onde tudo é relativo, não exclui o sofrimento. Mesmo na dor, a felicidade legítima permanece atuando como lenitivo. 

De outra sorte, sofrer durante certo tempo e ver-se, depois, livre do sofrimento, já não será felicidade? O doente que recupera a saúde e o prisioneiro que alcança a liberdade já não se sentem, por isso, felizes? A saudade que nos crucia, não se transforma em gozo quando, novamente, sentimos palpitar, bem junto ao nosso, o coração amado? 

Não é bom sofrer para gozar? E' assim que, muitas vezes, a felicidade surge da própria dor como a aurora irrompe da noite caliginosa. 

O descanso é um prazer após o trabalho; sem este, que significação tem aquele? Assim a felicidade. Ela representa o fruto de muitos labores, de muitas porfias e de acuradas lutas. Vencer é alcançar a felicidade. Podemos, acaso, conceber vitória sem refregas? Quanto mais árdua é a peleja, maior será a vitória, mais saborosos os seus frutos, mais virentes os seus louros. 

Para a felicidade fomos todos criados. "Quero que o meu gozo esteja em vós, e que o vosso gozo seja completo." As graças divinas estão em nós, mas não as percebemos. A vida animalizada que levamos ofusca o brilho da luz íntima que somos nós mesmos. Vivemos como que perdidos, insulados, ignorando-nos a nós próprios. Encontrarmo-nos e nos reconhecermos como realmente somos — eis a felicidade. Fugirmos da espiritualidade é fugirmos de nós mesmos. Querendo fruir prazeres sensuais, adulteramos nossa íntima natureza, resvalando para o abismo da irracionalidade. Desse desvirtuamento vem a dor, dor que nos chama à realidade da vida e nos conduz à felicidade. 

A alegria de viver é conseqüência natural de um certo estado de alma, e significa viver profundamente .

"Eu vim para terdes vida e vida em abundância". A verdadeira vida é sempre cheia de alegria; é um dia sem declínio, um sol sem ocaso. O céu é a região da luz sempiterna. A ele não iremos pela estrada ensombrada de tristezas, luto e melancolia. O caminho que conduz à felicidade, resolvendo os problemas da vida, é estreito: não é escuro, nem sombrio. Estreito, no caso, significa difícil, mas não lúgubre. 

A alegria de viver nasce do otimismo, o otimismo nasce da fé. Sem fé ninguém pode ser feliz. Sem fé e sem amor não há felicidade. 

As virtudes são suas ancilas. Haverá felicidade maior que nos sentirmos viver no coração de outrem? "Pai, quero que eles (os discípulos) sejam um em mim, como eu sou um contigo." A fusão de nossa vida em outra vida é a máxima expressão da ventura. O egoísmo é o seu grande inimigo. Alijá-lo de nós é dar o primeiro passo na senda da felicidade. 

Sendo a felicidade resultante de uma série de conquistas, é, por isso mesmo, obra de educação. Através da auto-educação de nosso Espírito, lograremos paulatinamente a felicidade verdadeira. O reino de Deus — que é o do amor, da justiça e da liberdade — está dentro de nós, disse Jesus com o peso de sua autoridade. Descobri-lo, torná-lo efetivo, firmar em nós o império desse reino, vencendo os obstáculos e os embaraços que se lhe opõem — tal é a felicidade. 

Para finalizar, concedamos a palavra a Leon Denis, o grande apóstolo da Nova Revelação: 

Como a educação da alma é o senso da vida, importa resumir seus preceitos em palavras: Aumentar tudo quanto for intelectual e elevado. Lutar, combater, sofrer pelo bem dos homens e dos mundos. Iniciar seus semelhantes nos esplendores de verdadeiro e do belo. Amar a verdade e a justiça praticar para com todos a caridade, a benevolência tal é o segredo da FELICIDADE , tal é o Dever, tal é a Religião que o Cristo legou a Humanidade.


Vinícius








Pedro de Camargo (Vinícius)

Nascido em 07 de maio de 1878, na cidade de Piracicaba, Estado de São Paulo, e desencarnado em 11 de outubro.

Entusiasta dos estudos bíblicos, tornou-se uma das maiores autoridades no trato da exposição evangélica.

Em 1905, Pedro de Camargo interessou-se pelo Espiritismo, uma vez que nele encontrou a solução para tudo aquilo que constituía incógnitas em seu Espírito.

Foi um dos maiores educadores e evangelizadores espíritas de nosso tempo. Na tribuna, na imprensa, no rádio e pelos seus livros, aliava o conhecimento intelectual e a bondade que o fazia respeitado por todos.

Participou ativamente da Unificação do Movimento Espírita e do Pacto Áureo em 1949. Dedicou-se ao estudo do Evangelho à Luz do Espiritismo e seus livros demonstram tal carinho até pelos títulos: "Em torno do Mestre", Na Seara do Mestre", "Nas Pegadas do Mestre", "Na Escola do Mestre".

Conhecia profundamente as Escrituras e dos Evangelhos tirou ensinamentos sublimes que o nortearam em toda a sua vida.


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