sábado, 22 de agosto de 2020

Hammed - Livro Renovando Atitudes - Francisco do Espírito Santos Neto - Cap. 48 - Os olhos do amor



Hammed - Livro Renovando Atitudes - Francisco do Espírito Santos Neto - Cap. 48


Os olhos do amor


“Ainda quando eu falasse todas as línguas dos homens, e mesmo a língua dos anjos, se não tivesse caridade não seria senão como um bronze sonante...”

“... A caridade é paciente; é doce e benfazeja; a caridade não é invejosa; não é temerária e precipitada; não se enche de orgulho; não é desdenhosa; não procura seus próprios interesses; não se melindra e não se irrita com nada...” (ESE - Cap. 15, Item 6.)


Quando Paulo de Tarso definiu a verdadeira caridade, deixando implícito ser a “reunião de todas as qualidades do coração”, isto é, o “amor”, diferenciou-a completamente da prestação de serviços aos outros, da distribuição de esmolas, da assistência social, da ajuda patológica aos dependentes afetivos, de compensações de baixa estima, ou de tudo que se referia a atitudes exteriores, sem qualquer envolvimento do amor verdadeiro.

Reforçou seu conceito acrescentando que: “E quando tivesse distribuído meus bens para alimentar os pobres, e tivesse entregue meu corpo para ser queimado, se não tivesse caridade, tudo isso não me serviria de nada”.

Muitas vezes, “doamos coisas” ou “favorecemos pessoas”, a fim de proporcionar a nós mesmos, temporariamente, uma sensação de bem-estar, de poder íntimo ou de vaidade pessoal, como que compensamos nossos desajustes emocionais e complexos de inferioridade.

São sentimentos transitórios e artificiais que persistem entre as criaturas, que, por não se encontrarem satisfeitas consigo mesmas, trazem profunda desconsideração e desgosto, e super-valorizou-se fazendo “algo para o próximo”, para provar aos outros que são boas, importantes e merecedoras de atenção.

Na realidade, caridade é amor, e amor é a divina presença de Deus em nós. Raio com que Ele modela tudo, o amor é considerado a real estrutura da vida e a base de toda a Lei Universal.

É imprescindível esclarecermos que há inúmeras formas de focalizar a caridade, e nós nos reportaremos a ela como o “amor-essência” - energias que emergem de nossa natureza mais profunda: a Onipresença Divina que habita em tudo.

Minerais, vegetais, animais e seres humanos, ao mesmo tempo que vibram também recebem essa “vitalidade amorosa”, num fenômeno de trocas incessantes. Um mineral de rocha permanecera como tal, enquanto a “atração” e a “tendência” de seus átomos e moléculas se mantiverem atraídos e integrados uns aos outros. Tais “atrações” constituem os primeiros estágios dessa energia do amor nos seres primitivos. Semelhante “poder atrativo” prospera e se movimenta em cada fase da vida, de conformidade com o grau evolutivo em que se encontram os elementos e as criaturas em ascensão.

Observemos a Natureza: propensões, gostos e identificações com as quais se particularizam cada ser do Universo, inclusive a própria criatura humana, são movimentações dessa “força de predileção”, nomeada comumente por “aspiração amorosa”.

Segundo o apóstolo João, “Deus é Amor: aquele que permanece no amor permanece em Deus e Deus permanece nele”. [1] Conseqüentemente, nós, herdeiros e filhos Dele, somos Amor, criados por esse plasma divino; portanto, somos oriundos do “Amor Incomensurável”, que sustenta e dirige suas criaturas e criações universais.

Todos nós estamos nos descobrindo no processo dinâmico da evolução, que se assemelha a um gradativo despetalar de camadas e mais camadas; inicia-se pelas mais densificadas até atingir “o cerne” − nosso âmago amoroso.

“Deus fez os homens à sua imagem e semelhança”[2] e, dessa forma, somente conheceremos o verdadeiro sentido da caridade como amor criativo, integrador e generoso, quando tivermos uma clara consciência de nós mesmos.

No momento em que passamos a identificar nos outros a mesma essência de amor da qual eles e nós somos feitos, seremos capazes de discernir o que é o sentimento de caridade. Seja jovens, velhos, crianças, sadios ou doentes, seja homens ou mulheres, se passarmos a amá-los incondicionalmente, como nos exemplificou Jesus, Nosso Mestre e Senhor, aí estaremos completamente integrados na caridade.

Caridade não consiste em assumir e comandar sentimentos, decisões, bem-estar, problemas, evolução e destino das pessoas, aquilo, enfim, que elas podem e devem fazer por si mesmas, porque quando tentamos reduzir as dificuldades delas, responsabilizando-nos por seus atos, estamos também impedindo seu real crescimento e amadurecimento, somente alcançados através das experiências que precisam enfrentar. Assim, distorcemos a genuína mensagem da caridade, do amor ou da doação verdadeira.

Encontramos ainda na 1ª Epístola de João: “Não escrevo um novo mandamento, mas sim aquele que tivemos desde o princípio: que amemos uns aos outros”. [3] 

Quanto mais limitada e particularizada for a maneira de viver o amor, menor será nossa consciência de que todos os seres humanos têm uma capacidade ilimitada de amar ao mesmo tempo muitas pessoas. Quanto mais o amor for compartilhado com os outros, mais nos desenvolveremos e nos plenificaremos na vida.

Olhar os outros com os olhos do amor é a grande proposta da caridade. O verdadeiro sentido da palavra caridade, como a entendia Jesus, era: “Benevolência para com todos, indulgência para com as imperfeições alheias, perdão das ofensas”. [4] 

Caridade é amor, e não há amor onde não houver “profundo respeito” aos seres humanos.

Se substituirmos na conceituação de perdão” por Jesus as palavras “benevolência”, “indulgência e “amor-respeito”, compreenderemos realmente esse sentimento incondicional do Mestre por todas as criaturas.

“Amor-respeito para com todos”, “Amor-respeito para com as imperfeições alheias”, “Amor-respeito aos ofensores”: aqui estão as regras básicas da conduta do Cristo.

Não olvidemos, porém, que respeitar os outros não quer dizer “ser conivente” ou “manter cumplicidade”.

Concluímos ajustando o texto de Paulo ao nosso melhor entendimento: “Ainda que eu falasse a língua dos homens e também a dos anjos; ainda que eu tivesse o dom da profecia e penetrasse todos os mistérios; ainda que eu dominasse a ciência e tivesse uma fé tão grande que removesse montanhas, tudo isso não me serviria de nada se não tivesse amor-respeito aos seres humanos”.


Hammed




[1] 1º João 4:16
[2] Gênesis 1:26.
[3] 1º João 3:11.
[4] Questão 886, O Livro dos Espíritos.


Fonte: Renovando Atitudes -pdf

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