sábado, 29 de agosto de 2020

Ermance Dufaux - Livro Prazer de Viver - Wanderley S. Oliveira - Prefácio - Nada ficará oculto em nossas vidas



Ermance Dufaux - Livro Prazer de Viver - Wanderley S. Oliveira - Prefácio


Nada ficará oculto em nossas vidas


"Pois nada há secreto que não haja de ser descoberto, nem nada oculto que não haja de ser conhecido e de aparecer publicamente." S.Lucas, 8:16 e 17. (O Evangelho Segundo o Espiritismo - Cap. XXIV, item 2)


Jesus, o cuidador de almas por excelência, teve ensejo de indagar-nos: "Sois Deuses?"(1). Que indagação mais educativa pode pronunciar alguém dirigida ao reino consciencial de cada um de nós? Eis algumas interpretações para a pergunta do Mestre: Sentimo-nos capazes? Queremos a vitória? Estamos usando nossos potenciais divinos? Acreditamos na força pessoal de transformação? Quando nos apropriaremos do patrimônio celeste em nossa intimidade? 

Indagando sobre nossa divindade potencial, em verdade, Ele recorda outro de Seus belíssimos ensinos sobre o inconsciente, anotado em Marcos, capítulo 4, versículo 22: "Porque nada há encoberto que não haja de ser manifesto; e nada se faz para ficar oculto, mas para ser descoberto".

É da Lei Divina o processo revelador de nossa individualidade. Queiramos ou não, a vida submersa no inconsciente é um constante clamor em direção à luz da perfeição. Nada pode, pois, permanecer eternamente encoberto, como pontua Jesus.

Retomamos o patrimônio das vidas anteriores em plena infância, depois de alguns anos de hipnose cerebral. Na juventude fazemos os primeiros contatos com a sombra estruturada em vidas sucessivas. É o período das turbulências e instabilidades. Muitas vezes, à custa de elevada dose de recalques diante de frustrações e desapontamentos, construímos a fortaleza defensiva do ego.

Assim, o Espírito, com raríssimas variações, entrega-se aos deveres da reencarnação trazendo a alma oprimida por velhas bagagens morais de sua trajetória. E somente na metade da vida carnal, a criatura retoma de forma mais incisiva e amadurecida o contato com todas as suas pendências eternas. A meia-idade, estudada com atenção por Jung, constitui mais um ciclo revelador da vida mental. Para muitos, será a última estação de parada antes da morte, a fim de que os conteúdos do inconsciente possam sacudir as mais enraizadas crenças e concepções da existência. Sem dúvida, tal etapa da vida vem acompanhada de severas ameaças à nossa "zona de conforto" e segurança. Tomar contato com os conteúdos velados da vida íntima é um desafio doloroso de desilusão. É o momento da ousadia que pede paciência para não tombar na irresponsabilidade. É o instante da coragem que vai solicitar o desapego da vida ideal - aquela do jeito que queríamos - para assumirmos a vida real.

Como atravessar a ponte das concepções e projetos pessoais? Como fazer essa caminhada tornar-se um passo decisivo para a verdadeira felicidade? Como reconstruir nossas crenças? Que ações tomar para que o nosso querer não seja apenas mais uma ilusão? Que decisões tomar para que as escolhas não sejam apenas uma rota de fuga? Aliás, como distinguir o que é fuga, quando brota do inconsciente o convite para o contato com todo o conjunto de expressões afetivas? A infelicidade, a depressão, o vazio existencial e tantas outras manifestações de tédio interior não serão, igualmente, mensagens da vida íntima atestando fugas de nossas necessidades mais esquecidas no aprimoramento espiritual?

Companheiros queridos, iluminados com o conhecimento doutrinário, assumiram para si mesmos o sublime compromisso de erguimento consciencial. Todavia, um rastro de descuido tem permeado as lições de muitos aprendizes neste tema. O primeiro deles é a aceitação da dor como único instrumento de redenção. O segundo é a nociva negação do dinamismo de nossa vida interior. No primeiro temos a crença derrotista, um ato de desamor. No segundo o medo do confronto, uma manifestação sutil da rebeldia em não aceitar quem somos. No primeiro deles, a ausência de autoamor. No segundo, um efeito do orgulho.

É necessário elevado discernimento para distinguir o ato responsável da fuga orgulhosa.

O foco do prazer de viver é este: A perda de quem achávamos que éramos, o falso eu, e o encontro com o eu real. A busca da autenticidade. A identidade psicológica do Ser.

Cuidemos, com vigilância, para que o espiritismo, essa ferramenta de evolução, não se torne mais um instrumento de tortura em nossa vida. Em nossas casas de amparo na erraticidade, muitos corações sinceros e exemplares no desprendimento e na ação do bem encontraram pela frente a aflição e a angústia, tombando em lamentáveis crises de descrença e revolta. A razão? Descuidaram de si próprios. Negaram o contato com sua realidade interior. Deixaram de pedir ajuda. Acreditaram em uma personalidade mentalmente projetada e perderam o contato com suas emoções mais profundas. Alguns deles se renderam confiantes a conceitos e estruturas organizacionais reconhecidas e consagradas na comunidade, e somente aqui puderam aferir a extensão da ilusão que cultivaram.

Hipnotizaram-se com cargos, mediunidades, talentos verbais, ações beneficentes e outras tantas iniciativas abençoadas. Esqueceram-se do mais importante, esqueceram a humanidade da qual somos portadores. Negaram a condição de criaturas simplesmente humanas.

No fundo de suas mais espinhosas decepções estava um sentimento nuclear em assuntos de aprimoramento espiritual, o medo. O medo do confronto com os próprios sentimentos.

O espiritismo é um convite à vida consciente e responsável. Conhecer a sombra não significa adotá-la. Entretanto, a título de responsabilidade, muitos amigos da caminhada de espiritualização equivocam-se em relação ao ensino oportuno de Jesus que recomenda negar a si mesmo, conforme se lê em Lucas, capítulo 9, versículo 23. Adotam a fuga silenciosa, postergando para o desencarne a incursão no seu mundo interior.

Cuidemos melhor de nossas vidas. Olhar para os pendores e tendências, entrar em contato com o que sentimos, admitir o que gostaríamos da vida, essas são três das muitas ações a que somos chamados na trilha solitária do autodescobrimento. Após essas iniciativas, perguntemos a nós mesmos: o que fazer com todo o patrimônio que identifica meu ser espiritual? Logo a seguir, adote um projeto de vida que contenha os seguintes ingredientes morais: paciência, humildade para pedir ajuda, oração para visualizar o futuro, coragem para fazer escolhas.

A tormenta na vida espiritual depois da morte não tem raízes apenas nas ações que são registradas nos sagrados fóruns da consciência, mas, igualmente, na sensação infeliz de vazio em razão de não fazer o que já tínhamos condições para fazer, de descobrir o que já estamos prontos para descobrir e de sondar o lado oculto de nós mesmos que, inevitavelmente, há de ser revelado algum dia.

Coragem! O Pai não permitirá carregarmos fardos mais pesados do que possamos suportar.

A esperança de meu coração repousa na intenção de ser útil e consolidar ainda mais a amizade sincera com os amigos e leitores na vida física.

Que as anotações contidas neste livro sejam quais pequenos lampejos de luz que auxiliem no erguimento de um mundo melhor e dias mais venturosos e ricos de prazer de viver.

Pelo carinho que tenho recebido de todos, recebam a minha bênção de gratidão e amor eterno.

O foco do prazer de viver é este: A perda de quem achávamos que éramos, o falso eu, e o encontro com o eu real. A busca da autenticidade. A identidade psicológica do Ser.


Ermance Dufaux




(1) João, 10:34.




Fonte: Prazer de Viver 

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