Ausência de limites
Suponhamos agora a faculdade medianímica completamente desenvolvida; que o médium escreve com facilidade; que seja, em uma palavra, o que se chama um médium feito, seria um grande erro, de sua parte, crer-se dispensado de qualquer outra instrução; não venceu senão uma resistência material, e é agora que começam, para ele, as verdadeiras dificuldades, e tem, mais do que antes, necessidade de conselhos da prudência e da experiência, se não quiser cair nas mil armadilhas que lhe vão ser armadas. (O Livro dos Médiuns - 2ª Parte, Cap. XVII, item 216.)
Ter limites é pensar e agir de forma que se possa defender os verdadeiros direitos pessoais. E o ato de concretizar nossos sentimentos e pensamentos sem subtrair os direitos dos outros, ou seja, é escolher atividades e tomar atitudes com respeito pelas pessoas e por nós mesmos.
No exercício da mediunidade, o ato de servir amorosamente é a maior tarefa que podemos desenvolver na escola da vida. Amar é tudo de que necessitamos para melhorar nossa existência. Porém, em nome do amor, não devemos usar a faculdade medianímica como um meio de consertar o mundo de forma precipitada, desrespeitando o nível de amadurecimento espiritual em que se encontram as criaturas. Podemos cooperar com o processo da Vida, nunca forçá-lo.
Para muitos, a expressão “dedicação ao próximo” tem o significado de “ajuda ilimitada”, na qual a pessoa sente necessidade imperiosa de dedicar-se ao socorro dos outros, afirmando para si mesma ser uma forma de resgatar sua parcela de contribuição junto à humanidade.
Geralmente, a atitude de proteger e auxiliar a todos, ansiosamente, se baseia numa relação insana de superproteção. Muitos de nós, apesar de conhecermos a lei das vidas sucessivas e as diferentes faixas de conhecimentos evolutivos, tentamos competir com o fluxo da própria Natureza, com a personalidade básica das criaturas, esquecidos de que, quando estamos maduros, a evolução acontece de forma espontânea e prodigiosa.
Outros afirmam que estão apenas amparando as pessoas, quando, na verdade, estão impondo sentimentos e gostos, atitudes e tendências que não condizem com o grau evolutivo delas.
Mediunidade é um portal esplêndido que nos abre o entendimento para a realidade transcendental. No entanto, os médiuns não devem nutrir como “obrigação” a salvação dos sofredores do mundo. A única pessoa que podemos “salvar” é a nós mesmos, pois cada um é responsável apenas por si. Não é preciso nos martirizar; simplesmente, confiemos que o crescimento espiritual só acontece quando estamos convictos de agir de maneira diferente, decididos a buscar novos caminhos e a assumir o controle de nossa própria vida.
O indivíduo equilibrado e amadurecido sabe, antes de tudo, que não precisa ficar no encalço de redenção de almas ou viver só pensando nos outros, exaltando o esforço e o sacrifício. Não deve subestimar a lei de progresso que existe em germe em cada indivíduo, produto genuíno de sua filiação divina. Compreende perfeitamente que a aprendizagem espiritual é relativa em cada indivíduo e que ninguém poderá fazê-la por nós nem pelos outros. Dar assistência a alguém e ensiná-lo a crescer é diferente de constrangê-lo e obrigá-lo ao crescimento. Quando o comportamento exibe amabilidade excessiva e auxílio exagerado, na maioria das vezes esconde uma sensação íntima de inferioridade.
Os limites são vitais nas relações humanas. Estabelecer para nós fronteiras saudáveis está relacionado com: crescer com autoestima, saber lidar com sentimentos e aprender a amar verdadeiramente, dando-nos, assim, segurança interior. Eles determinam o equilíbrio das relações pessoais, um eficiente intercâmbio de valores imortais, nunca um relacionamento de abuso ou de exploração. Limites facilitam o bom senso, para que possamos perceber quando devemos ou não dar, de nós mesmos, de nosso tempo, de nossos dons espirituais. Ao determinarmos divisas à nossa vida, saberemos para onde iremos e até onde permitiremos a outros virem conosco. Somente uma pessoa desonesta diz “poder fazer o que não pode” ou “possuir o que não tem”.
Limites são pré-requisitos para demarcar nossas fronteiras energéticas. Quando abrimos mão de tudo, impensadamente, não identificamos onde nós terminamos e onde o outro começa. Não somente fica fragilizado nosso território magnético, mas também o corpo físico e o astral, o campo emocional e o mental, além de nossos bens e direitos.
A “ausência de limites” na mediunidade cria fendas, onde penetram miasmas e outras contaminações negativas. Seremos presas fáceis de influências danosas, até que restauremos e fortifiquemos esses pontos frágeis que danificam nossas defesas/fronteiras invisíveis.
Indivíduos descontrolados não possuem limites. Não respeitam as possibilidades, tampouco a individualidade dos outros. Invadem, de forma constante, nossa privacidade e transgridem nossos territórios emocionais, acreditando estar no direito de fazer isso.
Desenvolver limites saudáveis nos dá uma percepção exata de até onde nos permitimos ir, em relação com os outros e com nós mesmos. Precisamos aprender a “dizer sim”, ou a “dizer não”, quando necessário.
Não devemos permitir que os outros nos controlem, ou mesmo, nos desrespeitem. Não podemos ser responsáveis pelos desatinos dos adultos infantilizados e inseguros.
Em geral, as pessoas estão acostumadas a que os médiuns tomem conta de seus problemas, de suas sensações íntimas, e se dediquem a controlar e tentar mudar seus comportamentos inadequados. Estão habituadas a que os medianeiros se sacrifiquem por seus caprichos e incoerências. Exigem que resolvam milagrosamente suas dificuldades, sem perceberem que elas existem exatamente porque tais pessoas não tomaram as decisões ou atitudes imprescindíveis à solução de sua problemática existencial.
(...) agora que começam, para ele, as verdadeiras dificuldades, e tem, mais do que antes, necessidade de conselhos da prudência e da experiência, se não quiser cair nas mil armadilhas que lhe vão ser armadas.
As “verdadeiras dificuldades”, os “conselhos da prudência e da experiência” e as “mil armadilhas” aqui referenciadas estão diretamente relacionadas com a perda de controle ou com a “ausência de limites”. Quando queremos que os outros pensem e ajam pelos nossos padrões existenciais, desrespeitamos seus limites emocionais, mentais e espirituais, atraindo fatalmente pessoas que agirão da mesma forma para conosco. Somente se dá aquilo que se possui. Como, pois, exigir limites de alguém, se ainda não sabemos estabelecer nossos próprios limites?
Enquanto os indivíduos abrirem mão de seu poder pessoal, dado por Deus, de sentir, pensar, agir e de conduzir-se no agora com o melhor de si, e permitirem que os outros determinem quando devem ficar alegres ou tristes, o que devem dizer ou fazer, ou como lidar com determinada situação, serão como folhas perdidas no solo durante uma tempestade: conduzidas aleatoriamente para onde o vento levar...
Hammed
Fontes: A Imensidão dos Sentidos-pdf, O Livro dos Médiuns
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