quinta-feira, 11 de junho de 2020

Joanna de Ângelis - Livro Plenitude - Divaldo P. Franco - Cap. VI - Altruísmo



Joanna de Ângelis - Livro Plenitude - Divaldo P. Franco - Cap. VI


Altruísmo


O altruísmo, que é lição viva de caridade, expressão superior do sentimento e amor enobrecido, abre as portas à ação, sem a qual não teria sentido a sua existência.

Dilatação da solidariedade, alcança o seu mais significativo mister quando reparte bênçãos e comparte aflições. Trabalhando por minimizar-lhes os feitos, erradicando-lhes as causas.

É o próprio amor ensinado por Jesus, que esquece de si mesmo para concentrar-se no bem do seu próximo, olvidando todo o mal para agigantar-se no bem do seu próximo, olvidando todo mal para agigantar-se nas aspirações do progresso, da ordem e da felicidade.

Antítese do egoísmo, cicatriza as lesões da alma, que este produz, fomentando a vigência da saúde integral.

Estrela luminar, irradia paz envolvente, que alcança e vence as grandes distâncias emocionais e preconceituosas que separam os homens. Arrasta os corações que se deixam impregnar pela sua irradiação, assinalando, indelevelmente, os períodos das vidas com a sua presença.

O desejo de posse, de gozo, de superioridade, que tipifica o egoísmo, na área libertadora do altruísmo, se converte em anelo de doação, de felicidade, de fraternidade.

O próprio desejo muda de conteúdo, perdendo a face tormentosa de jogo de prazeres, para constituir-se numa aspiração de serviço.

Os impulsos da carne, que buscam satisfazer os instintos e as paixões mais fortes, mais primárias, transformam-se em arrebatamentos de bondade e compreensão humana.

O próximo deixa de ser usado para ser dignificado.

Todos os estímulos são conduzidos para o seu crescimento e triunfo sobre as falsas necessidades, trabalhando-lhe as virtudes em despertamento, a fim de que o homem espiritual sobreponha a sua à natureza dominante do homem animal.

A existência do altruísmo revela-se por diversos sentimentos de grandeza moral, que dão dignidade à vida.

Entre esses, a generosidade assume papel de destaque, por ser-lhe a primeira manifestação prática, portanto, a sua forma inicial de exteriorizar-se na ação.

Costuma-se afirmar que, aquele que não abre a mão, mantém fechado o coração. E com fundamento, porquanto a generosidade tem início no sentimento que ama e deseja ajudar, a fim de concretizar-se na ação que socorre.

Abrir a mão é o gesto de deixar verter do coração ao mundo exterior o fluxo generoso em forma de doação, a fim de alcançar, no futuro, as grandiosas formas de abnegação. A generosidade, portanto, doa, de início, coisas, objetos e utensílios, roupas e alimentos, agasalhos e teto, para depois brindar sentimentos, aprimorando a arte de servir até poder doar.

Somente quem se exercita na oferta material, predispõe-se às dádivas transcendentes, aquelas que não tem preço, “não enferrujam” nem “os ladrões roubam”.

A generosidade mais se enriquece quanto mais distribui, mais se multiplica quanto mais divide, pois que tudo aquilo que se oferece possui-se, não obstante, qualquer valor que se retenha passa-se a dever. A felicidade, desse modo, resulta da ação de dar, dos benefícios dela decorrentes.

O homem generoso irradia simpatia e gera bem-estar onde se encontra.

Visceral adversária do egoísmo, a generosidade arranca, pela raiz, as tenazes desse responsável pela causalidade dos sofrimentos.

Jesus, na cruz, padecendo a ingratidão dos homens, ainda atendeu o ladrão que lhe rogou socorro, generosamente prometendo-lhe o reino dos céus, que já se lhe instalava na mente e no coração, a partir daquele momento.

O altruísmo, no processo de expansão, apresenta-se, também, com uma formulação ética.

Entendamos essa ética, na condição de serenidade que respeita todos os comportamentos, sem impor a sua forma de ser, de encarar a vida, de manifestar-se.

Além de uma ética moral, tem um caráter moral, tem um caráter universal, superando os interesses e convenções geográficas, que estabelecem conceitos e limites, estatuídos em leis transitórias, às vezes, necessárias, mas que não objetivam o bem comum.

Assim, observamos éticas que apoiam estados escravocratas, limitam a liberdade de movimento, freiam a procriação, perseguem os que discordam dos seus códigos, punem a dizimam a seu bel-prazer.

A ética da generosidade centraliza suas atenções na lei natural ou de amor, que respeita a vida em todos os seus estágios e ampara todos os seres sencientes, facultando-lhes a expansão.

Allan Kardec recebeu dos Benfeitores da Humanidade as diretrizes éticas perfeitas, oriundas da lei natural, porque procedente de Deus, a irradiar-se em várias outras, que fomentam o progresso, preservam a vida e dignificam a todos, promovendo o homem por meio do trabalho, igual ao seu irmão na origem e diferente nas conquistas intelecto-morais, sem privilégios, porém, ao alcance de todos.

Essa ética faculta discernir o correto do equivocado, impulsionando a criatura à aquisição de uma consciência elevada, resultado da eleição dos valores positivos, que tornam a vida digna de ser fruída.

A sua moral é centrada na generosidade, sem a falácia da anuência ao erro ou qualquer atentado aos códigos da ordem, do dever da justiça.

Toda a sua estrutura de responsabilidade visa à promoção dos seres e do seu habitat, ao considerar a interdependência que existe entre eles.

Não elege uns seres em detrimento de outros, embora a sua expressão de amor varie de acordo com as respostas afetivas, o que não invalida a necessidade de superar a pertinácia dos maus e tê-los em conta como necessitados também da generosidade, que pode e lhes deve ser dispensada.

Normalmente, sob a ação do desejo, as demais pessoas são classificadas de acordo com o interesse que fomentam, com o lucro que proporcionam, tornando-as afáveis e amigas, antipáticas ou inimigas, insignificantes ou indiferentes. Manifestam-se, então, os sentimentos do amor possessivo, do desamor e do ódio, e de desinteresse ou indiferença. A ética da generosidade propõe a conquista de valores que permanecem escondidos nos últimos, e a compreensão, quando os primeiros não correspondem ao modelo ao qual foram submetidos.

Não é castradora, por apresentar-se destituída de caráter punitivo; não obstante, o seu senso crítico analisa tudo e todos de modo a produzir o melhor.

A ética da generosidade é tranquila e, nesse conceito, pode ser considerada como a conquista da serenidade, conforme o seu significado profundo em sânscrito.

Como efeito, é paciente, não antecipando apressadamente realizações, nem buscando resultados imediatos.

A paciência é o próximo passo na execução do programa altruístico.

Há um inter-relacionamento entre os vários requisitos para a integral vivência do altruísmo, que erradica as causas dos sofrimentos. Um fator depende do outro, que são conquistas do Espírito na sua busca de perfeição.

Tornando-se saudável exercício de elevação moral, cada um promove a área do sentimento, desenvolvendo o intelecto na arte de compreender para servir, de crescer para libertar-se, de entesourar conhecimentos para os distribuir.

A paciência, em razão disso, é relevante, pelo significado de criar condições no tempo próprio para cada realização. Nem a postergação do labor, tampouco, pressa, irreflexão, que não conduzem aos resultados que se esperam.

Ela harmoniza as aspirações humanas, elucidando sobre o valor a ação contínua, bem elaborada, que atende a cada tarefa no momento oportuno.

Faculta repetir qualquer labor malogrado com o mesmo entusiasmo, ensinando como realizá-lo da maneira mais eficiente, sem o cansaço que induz ao pessimismo, ao abandono da realização. Sabe que tudo quanto hoje não pode ser feito sê-lo-á depois, desde que se persevere no tentame.

A vida se agiganta, molécula a molécula, em clima de harmonia, em paciente e incessante movimentação.

A paciência estimula a coragem, que se esforça para colimar os resultados. Essa coragem é fruto do conhecimento das leis que propiciam a insistência no programa do altruísmo.

A coragem é valor moral para enfrentar a luta e persevera nela, nunca a abandonando sob qualquer pretexto. O esforço contínuo permite o prosseguimento da ação, que realiza o programa estabelecido.

A erradicação das causas geradoras do sofrimento somente é possível através do esforço com que se empreende a tarefa, a ela dedicando-se com empenho, sem o que se malogra, adiando a oportunidade.

O esforço bem direcionado caracteriza o grau de evolução do ser, porquanto, mais expressivo nuns do que noutros, distingue-os, demonstrando as conquistas já logradas, ao tempo em que faculta a percepção do muito a conseguir.

Insistir, portanto, com seriedade, pela conquista do altruísmo, encetando atividades que devem ser concluídas etapa a etapa, constitui passo de segurança para a libertação do sofrimento.

Mede-se, desse modo, o caráter de um homem, pelo esforço que compreende para crescer, para melhorar-se, a fim de enfrentar as reações que o seu ideal e empreendimento provocam.

Aquele que cede ante o obstáculo, que desiste diante da dificuldade já perdeu a batalha sem a ter enfrentado. Não raro, o obstáculo e a dificuldade são mais aparentes que reais, mais ameaçadores do que impeditivos. Só se pode avaliá-los após o enfrentamento. Ademais, cada vitória conseguida se torna aprimoramento da forma de vencer e cada derrota ensina a maneira como não se deve tentar a luta. Essa conquista é proporcionada mediante o esforço de prosseguir sem desfalecimento e insistir após cada pequeno ou grande insucesso. O objetivo deve ser conquistado, e, para tanto, a coragem do esforço contínuo é indispensável.

Muitas vezes, será necessário parar para refletir, recuar para renovar forças e avançar sempre. É uma salutar estratégia aquela que faculta perder agora o que é de pequena monta para ganhar resultados permanentes e de valor expressivo depois.

O esforço estimula desenvolvimento dos recursos que dormem no próprio homem, agigantando-se, à medida que realiza. A canalização correta do esforço dinamiza-o, já que o arrastamento para o vício, que quebra as resistências morais, é também uma forma de força arrebatadora, que poderia ser direcionada em sentido superior.

O altruísmo não vige sem o esforço para a sua manifestação, considerando-se que parece haver uma conspiração por parte do egoísmo, a fim de impedir-lhe a presença e o predomínio na área da emoção.

O computador, como outro engenho qualquer que ora fascina o homem, guardando milhões de dados, resulta do esforço daqueles que o engendraram e digitaram as informações, sinal por sinal.

Sem esforço a vida perece. Os membros não movimentados perdem a flexibilidade, entibiam-se e morrem.

Outro fator essencial ao altruísmo é a concentração nele, sem cujo contributo a mente se desvia, abrindo brechas para que se instalem ideias pessimistas, desanimadoras.

Centralizar o pensamento na ação altruística permite o estabelecimento de um programa eficiente, graças ao qual se delineiam técnicas e se logram recursos para executá-la.

A concentração amplia os horizontes enquanto fortalece o íntimo, por facultar o intercâmbio de energias superiores que passam a vitalizar o indivíduo, renovando-lhe as forças quando em exaurimento, especialmente no mister altruístico.

Desacostumados aos gestos de elevação, os homens reagem contra eles, tornando-se agressivos e ingratos, para reconhecerem os resultados positivos e ingratos, para reconhecerem os resultados positivos só posteriormente. Essa atitude não poucas vezes desanima as pessoas abnegadas e menos preparadas, que recuam ou desistem, porque não buscaram o apoio da meditação e deixaram-se intoxicar pelo bafio pestilento em expansão.

Meditando-se, percebe-se a necessidade de maior contribuição altruística sacrificial, compreendendo-se que a imensa carência de amor responde pela dureza dos sentimentos, e a agressividade predominante atesta a gravidade das doenças morais em desenvolvimento nas criaturas.

A meditação amplia a visão a respeito do mal, ao tempo em que equipa o homem de lucidez, fornecendo-lhe os instrumentos próprios para cuidar desse adversário cruel. 

A arte da concentração é uma conquista valiosa e demorada, que exige cultivo e exercício, a fim de responder de maneira eficiente às necessidades emocionais do homem.

Habituado a concentrar-se nos fenômenos que decorrem das paixões ou sensações mais fortes, tais como o desejo, o ciúme, o ódio, o ressentimento, a sensualidade, a gula, os vícios em geral, quando se trata das aspirações mais elevadas e sutis, o indivíduo justifica-se com escusas de que não consegue concentrar-se, que lhe falta capacidade para deter-se no assunto, exclusivamente por comodidade mental ou porque prefere fugir às responsabilidades que advêm da mudança de programa.

Sem o contributo da concentração quaisquer atividades perdem o brilho e são mal executadas. É ela que propicia o enriquecimento dos detalhes, a visão particular e geral do empreendimento, revigorando o indivíduo, concedendo-lhe lucidez e inspiração.

Todos os grandes realizadores devem à concentração, ao esforço e à paciência o êxito que alcançaram. Esqueciam-se de tudo, quando fixados no propósito de algo realizar.

Certamente, a tenacidade com que se mantinham era resultado da experiência que se alongava no tempo, propiciando-lhes a capacidade crescente de se afastarem mentalmente de quaisquer outros objetivos, fixando-se na ação a que se entregavam.

A concentração ilumina o altruísmo e revigora-o nos momentos difíceis, por facultar compreender as circunstâncias dos acontecimentos e os problemas nos quais as pessoas se emaranham. Capacita-o com energia especial e irradia-se em ondas de bem-estar, que impregnam todos quantos se aproximam da pessoa que a exercita. E quanto mais o faz, tanto maior se lhe torna a capacidade de exteriorização. É, portanto, essencial ao altruísmo, propiciando a anulação das causas do sofrimento, por facultar a vigência dos sentimentos elevados da vida em plena realização de bem.

Por fim, após a vivência desses variados itens, a sabedoria se instala na mente e no coração do homem, libertando-o da ignorância, apontando-lhe o objetivo real da existência corporal, impulsionando-o para novos tentames, cada vez mais sedutores e agradáveis, brilhando à frente.

Confunde-se a sabedoria com o conhecimento intelectual, o burilamento da mente, a fixação da cultura que, apesar de valiosos, são uma conquista horizontal.

Torna-se indispensável que, ao lado dessa importante aquisição, o sentimento lúcido e profundo do amor se torne a grande vertical do processo evolutivo.

Essa conquista vertical é responsável pelo discernimento de como agir, facultando os recursos lógicos para tal, ao mesmo tempo suavizando pelo afeto a aspereza ocasional do processo de execução.

A sabedoria faz que o amor seja prudente e um sentimento generoso, doador, altruístico, evitando que se entorpeça com as manifestações do pieguismo, que disfarça os esquemas do ego enfermo. Simultaneamente, proporciona ao intelecto a serena percepção de que à razão se deve unir o sentimento humano, sereno e afável, responsável pelo arrastamento das pessoas.

O sábio reconhece a área extensa que tem diante dele para ser conquistada, e vive pelo arrastamento das pessoas.

O sábio reconhece a área extensa que tem diante dele para ser conquistada, e vive mais do que fala, ensina mais pelo exemplo do que pelas palavras.

Quando são desenvolvidos os passos que contribuem para o altruísmo e se adquire sabedoria, ilumina-se o Espírito, e a vida ganha sentido, superando-se os limites do tempo e espaço, em face da grande meta que se deve conquistar.

Os sofrimentos cedem, então, lugar à paz, porque desaparecem os fatores cármicos, vencidos pelas novas libertadoras, e, porque não sejam geradas causas atuais negativas, o futuro não se desenha sombrio nem ameaçador. Assim, o altruísmo viceja na mente e no coração, já não sendo mais o homem quem vive e sim o Cristo que nele passa a viver, conforme acentuou Paulo e o sentiram outros mártires, heróis e sábios de todos os tempos, que se entregaram o altruísmo em favor da Humanidade.

Joanna de Ângelis 










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