Joanna de Ângelis - Livro Autodescobrimento Uma Busca Interior - Divaldo Franco - Cap. 03
Consciência e Sofrimento
O desabrochar da consciência é um trabalho lento e contínuo, que constitui o desafio do processo da evolução.
Inscrevendo no seu âmago a Lei de Deus, desenvolve-se de dentro para fora a esforço da vontade concentrada, como meta essencial da vida.
Da mesma forma que, para atingir a finalidade, a semente deve morrer para libertar o vegetal que lhe dorme em latência, a consciência rompe a obscuridade na qual se encontra (a inconsciência), para conseguir a plenitude, a potencialidade do Si espiritual a que se destina.
Nesse desenvolvimento inevitável - que se dá durante a existência física nas várias etapas reencarnacionistas - o sofrimento apresenta-se como o meio natural da ocorrência evolutiva, constituindo o processus de maturação e de libertação do Espírito, o ser imortal. Enquanto esse fenômeno não ocorrer, o indivíduo permanecerá mergulhado em um estado de consciência coletiva amorfa, perdido no emaranhado dos instintos primitivos, das paixões primárias, em nível de sono sem sonhos, sem autoidentificação, sem conhecimento da sua realidade espiritual.
Para que possa refletir a luz, a gema experimenta a lapidação, que a princípio lhe arrebenta a aspereza, facultando-lhe a liberação da ganga até o âmago onde jaz toda pureza e esplendor.
Em face à sensibilidade de que é constituído, o ser humano também experimenta a purificação mediante a dor, que gera os sofrimentos psicológicos, físicos e morais, que o propelem ao aceleramento do esforço de sublimação na qual conseguirá a plenificação.
Diante da ignorância da necessidade de evoluir (estágio de adormecimento da consciência) o sofrimento se lhe apresenta agressivo e brutal, gerando revolta e alucinação.
A medida que aprimora a sensibilidade, ele se faz profundo, sutil, fomentador de crescimento e transformação interior.
Mergulhado na sombra da desidentificação de si mesmo, o ser (embrutecido) não sabe eleger as aspirações éticas e estéticas para a felicidade, perturbando-se na contínua busca do atendimento às necessidades fisiológicas (sensações) em detrimento das emoções psicológicas, que o capacitam para a conquista do belo, do nobre e do bom.
O despertar da consciência, saindo da obscuridade, do amálgama do coletivo, para a individuação, é acompanhado pelo sofrimento, qual parto que proporciona o desabrochar da vida, porém, sob o guante ainda inevitável da dor.
Nesse mecanismo da evolução, cada ato gera um efeito equivalente, que interage em novos cometimentos de que ninguém se pode eximir.
Por ser parte do grupo social, no qual se movimenta e se desenvolve, influencia-o, querendo ou não, e com este produzindo um envolvimento coletivo, que responde pelo seu estacionamento ou progresso, conforme favorável ou perturbador seja o conteúdo da sua atividade.
Como efeito, temos os sofrimentos sociais, dos grupamentos humanos que transitam na mesma faixa de aspirações e interesses.
A reencarnação é lei da vida, impositiva, inevitável, recurso de superior qualidade para o desenvolvimento do Espírito, esse arquiteto de si mesmo e do seu destino.
Dispondo da livre opção ou arbítrio, ele trabalha em favor da rápida ou lenta ascensão, conforme o comportamento a que se entrega.
Como luz nos refolhos da consciência adormecida o que deve ou não fazer, cabe-lhe aplicar com correção os impulsos que o propelem ao avanço de acordo com o que deve ou não realizar, de forma a conseguir a harmonia (ausência de culpa). Toda vez que se equivoca ou propositadamente erra, repete a experiência até corrigi-la (provação) e, se insiste teimosamente no desacerto, expunge-o em mecanismos de dor sem alternativa ou escolha (expiação).
O sofrimento estrutura-se, portanto, nos painéis da consciência, conforme o nível ou patamar de lucidez em que se expressa. Do asselvajado, automático, ao martírio por abnegação; desde o grosseiro e instintivo ao profundo, racional, as tecelagens da noção de responsabilidade trabalham a culpa, que imprime o imperativo da reparação como recurso inalienável de recuperação.
Instalam-se então os conflitos - quando há consciência de culpa - que se transferem de uma para outra reencarnação, dando surgimento aos distúrbios psicológicos que aturdem e infelicitam; ou desarticulam as sutis engrenagens do corpo perispiritual - o modelo organizador biológico - propiciando as anomalias congênitas - físicas e psíquicas -, as enfermidades mutiladoras; ou se instalam no ser profundo, favorecendo com as rudes aflições morais, sociais, financeiras, em carmas perturbadores, que dilaceram com severidade o ser.
Nesse complexo de acontecimentos, o amor é o antídoto eficaz para todo sofrimento, prevenindo-o, diminuindo-o ou mudando-lhe a estrutura.
A fatalidade da Lei Divina é a perfeição do Espírito.
Alcançá-la é a proposta da vida. Como conseguir é a opção de cada qual.
O amor é o sentimento que dimana de Deus e O vincula à criatura, aproximando-a ou distanciando-a de acordo com a resposta que der a esse impulso grandioso e sublime.
Nas suas manifestações iniciais, o amor confunde-se com os desejos e as paixões, tornando-se fisiológico ou do queixo para baixo. É egoístico, atormentante, imprevisível, apaixonado...
A medida que a consciência se desenvolve, sem que abandone as necessidades, torna-se psicológico - do queixo para cima -, mantendo os idealismos, diminuindo a posse, os arrebatamentos, e superando os limites egoístas. Lentamente ascende à escala superior, tornando-se humanitarista, libertador, altruísta...
Graças à sua ingerência nas ações, o que favorece o progresso constitui-lhe recurso para alterar as paisagens cármicas do Espírito, modificando os painéis dos sofrimentos futuros - prevenindo-os, diminuindo-os ou liberando-os - conforme a intensidade da sua atuação. Entretanto, à medida que o ser desperta para a sua realidade interior, o sofrimento muda de expressão e pode tornar-se um instrumento do próprio amor, ao invés de manter o caráter reparador, qual ocorreu com Jesus Cristo, Francisco de Assis e outros que, sem quaisquer débitos a ressarcir, aceitaram-no, a fim de ensinarem coragem, resignação e valor moral...
Uma atitude mental afável, amorosa é a melhor receita para o sofrimento, porquanto rearmoniza a energia espiritual que vitaliza o corpo, e desconecta as engrenagens das doenças, que nelas se instalam como efeito dos distúrbios da consciência de culpa, defluente dos atos pretéritos.
A postura amorosa desperta a consciência de si mesmo, anulando os fluidos perniciosos que abrem campo à instalação das doenças incuráveis, portanto, dos sofrimentos dilaceradores.
A energia gerada por uma consciência em paz, favorável ao desdobramento do sentimento de amor profundo, é responsável pela liberação do sofrimento. Mesmo que, momentaneamente, as suas causas permaneçam, ele se torna um estímulo positivo para maior crescimento íntimo, não se fazendo afligente, embora um espinho na carne, como asseverou o apóstolo Paulo, advertindo e guiando os movimentos na direção da meta final.
Desse modo, diante dos carmas extremos, o amor é o recurso exato para trabalhar a Lei de Compensação ou de Causa e Efeito, alterando-a para melhor ou dando-lhe o sentido da felicidade.
Joanna de Ângelis
Fonte: Autodescobrimento Uma Busca Interior - pdf
Nenhum comentário:
Postar um comentário