Joanna de Ângelis - Revista Reformador de Agosto de 2004 - Divaldo P. Franco
Conquista da Sabedoria
A sabedoria é bênção que não chega total e completa para ninguém.
No transcurso das diversas existências cada Espírito desenvolve a escala de valores morais que lhe cumpre atender, harmonizando o conhecimento com o sentimento, o intelecto com a emoção, a razão com a bondade.
Trata-se de um empreendimento de longo e demorado curso, que se origina interiormente e se expande preenchendo os espaços mentais e emocionais do ser.
Ninguém é o que aparenta.
A sabedoria encontra-se em germe em todos os indivíduos, aguardando os fatores que lhe propiciem a exteriorização das possibilidades latentes, que se transformarão em atitudes e comportamentos superiores.
Semelhante a uma semente, é invisível o seu fanal, que o tempo desvela e permite agigantar-se, alcançando a finalidade essencial.
Quem contemple uma semente, jamais poderá perceber o milagre que oculta.
Ninguém vê o vegetal em que se transformará, as flores que espocarão perfumadas, os frutos saborosos ou não que se apresentarão multiplicados, as futuras sementes…
Imprescindível esperar que os fatores mesológicos e a intimidade do solo façam brotar a plântula que oculta, a fim de tornar-se a realidade que se encontra adormecida.
Na juventude, quando irrompem as energias dominadoras, a arrogância predomina em a natureza humana, tornando o indivíduo, não raro, exigente, intolerante, agressivo. À medida que as experiências exornam o caráter com paciência, a sabedoria se apresenta nas suas primeiras manifestações, que podem ser identificadas como humildade, gentileza, compreensão, tolerância…
Essa operação ocorre no ser interior, que se torna compassivo e generoso, por compreender que as criaturas são diferentes e transitam em níveis de desenvolvimento intelecto-moral muito diversificados.
Muitas vezes, é dolorosa, porque exige humildade e coragem para reconhecer-se quando se está errado e se deve pedir desculpas.
Todos erram, aprendendo por meio das experiências perturbadoras como não reincidir no desequilíbrio.
A imaturidade psicológica, porém, tem dificuldade em reconhecer os próprios equívocos e teimosamente busca defendê-los mediante recursos pouco lisonjeiros.
Quando se vai despojando das injunções da ignorância e da presunção, descobre a felicidade de ser autêntico, de poder identificar os enganos e repará-los, não se afligindo com a aparência, que é sempre secundária no seu processo de crescimento interior.
A sabedoria aumenta na razão direta em que a consciência humanista se desenvolve e percebe a finalidade da sua existência no mundo.
O verdadeiro sábio ignora-se, enquanto o ignorante exorbita na exibição do pretenso conhecimento, que não passa de superficialidade.
Mediante a conquista da sabedoria, o indivíduo faz-se mais simples e acessível, gentil e compassivo.
Conhecendo os desafios que teve de enfrentar e os que ainda surgirão pelo seu caminho evolutivo, não exige transformações morais nos outros, nem se esquiva de crescer sempre.
A existência humana é rica de surpresas, de acontecimentos não previstos, que exigem sabedoria a fim de os enfrentar e administrar, quando negativos ou perturbadores.
Ninguém nasce sábio, mas apenas portador da sua semente.
Fixando experiências, umas depois de outras, reúne o cabedal de conhecimentos e de vivências que o tornam mais lúcido.
Valorizando o tempo e suas lições preciosas, o homem e a mulher que ambicionam o desenvolvimento da semente que conduzem no íntimo, utilizam-se bem de cada instante que lhes é concedido para aprender, para ensinar, para melhorar a própria condição, bem como a qualidade de vida a que se entregam.
Narra-se que, ao retornarem do santuário de Delfos, após consultarem o deus Apolo, a respeito de quem seria o homem mais sábio da Grécia, alguns filósofos atenienses buscaram Sócrates e perguntaram- lhe com certa ironia:
– Tu foste indicado por Apolo como o homem mais sábio da Grécia. Tens algo a dizer?
Ao que ele teria respondido:
– Talvez isso seja verdade, porque sou, possivelmente, em Atenas, o único homem que sabe que nada sabe.
Não havia qualquer presunção nem espírito de exibicionismo na resposta, senão um gesto de nobre humildade diante da grandeza da Vida e de todos os dons que a permeiam.
A sabedoria sorri, enquanto a vacuidade e o conhecimento estulto se exibem, porque superficiais, logo se esvanecendo diante das questões profundas da existência humana e da realidade do ser.
Felizmente, mesmo ignorando esse processo de crescimento, que é natural e automático, as criaturas humanas dão-se conta da necessidade de buscarem o aperfeiçoamento moral e espiritual, a fim de se tornarem plenas.
A plenitude é meta que se deve alcançar e que se encontra ínsita em todos os seres pensantes.
Quando se tem coragem de receber as injunções difíceis sem reclamações nem conflitos, abrindo-se às experiências da evolução, estão em desenvolvimento os pródromos da sabedoria que terminará por predominar no comportamento mental, moral e emocional do ser.
A sabedoria busca sempre horizontes mais amplos até perder-se na infinitude, sem afastar-se da realidade em que se deve fixar.
O amor desempenha um papel fundamental para a conquista da sabedoria. Por meio dele os sentimentos se ampliam, abraçando os demais seres sencientes que encontra pela frente e não deixando pegadas de amargura ou de ressentimento pelos caminhos percorridos.
Logo depois, o conhecimento que decorre do estudo, da observação, dos diálogos, da reflexão e do aprofundamento no contexto das informações encarrega-se de ilustrar o indivíduo que, amoroso, empreende a marcha do saber para ser livre, encontrando a verdade.
Sabedoria é uma experiência feliz em favor do tornar-se, permitindo que o Deus interno domine todas as paisagens do ser externo.
Joanna de Ângelis
Página recebida pelo médium Divaldo Pereira Franco, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em 1/1/2003, em Salvador, Bahia, Brasil.